29 de abril de 2010

benzinho.

Sofrer não é virtude, meu benzinho. Então não sofra assim para tentar comover os idiotas. Os idiotas são idiotas, meu benzinho. Eles querem ganhar tempo, eles acham que eles ganham tempo. Idiotas, meu benzinho.
Minha dica é: use o telefone. Mas se quiser mesmo ser eficiente, meu benzinho, eu digo: afaste as pernas devagar, ainda com a calcinha, olhe nos olhos dele e diga sem ser vulgar ou infantil: - me c-o-m-e.
E dê pra ele sem pressa, meu benzinho.
É claro que eu vou morrer de ciúmes. Eu sempre morro de ciúmes. Sou possessivo, benzinho. Meu pau só fica duro quando escuta: - sou sua.
Sabe, benzinho? Fiquei pensando nas coisas. Achei tanta resposta triste, benzinho. Até imaginei você mentindo pra mim, vê só. Absurdo, absurdo.
Mas, benzinho, entenda que hoje tá chovendo e que, por isso, senti uma saudades enorme. A chuva lá fora, benzinho, me fez lembrar de quando você, cheia de remelas nos olhos, dizia enquanto encaixava seu quadril no meu: - vamô fazê naninha, vamô?

veneninho

Imagino ela me procurando no sábado de manhã. Está sozinha em casa porque seu marido foi pra Trilha. Isso mesmo: Trilha. Todo sábado ele faz Trilha. Vai ele e seus amigos. Todos machos, todos muito machos. Todos eles usam boné. Todos têm mais de 30 e usam boné. Usam boné não por causa do sol, mas por falta de senso de ridiculo mesmo. Como machos que são, levam também mate e água quente. Machos que usam boné, tomam chimarrão e fazem Trilhas todos os sábados. "Mesmo em baixo de chuva, bro."
Ela, na verdade, gosta disso. Gosta de ter um marido que faz Trilha aos sábados. Isso desperta certa melancolia nela. Ela não sabe explicar. Acorda junto com ele apenas para dar tchau na porta. Ela tem essas delicadezas. Depois que ele vai, ela pensa no que fará para o almoço e liga o computador com uma xícara cheia de café. "Adoro xícara grande pra beber café."
Ela vê suas coisas e deixa recados para as amigas. Ela anda satisfeita. Tem aquilo que queria e vive em paz. Olha pra própria casa e sente um orgulho besta e legítimo. "Minha casa, minha casinha."
Então ela lembra. Vai no google. Não resiste. Nem há porque resistir. Fica 10 ou 15 min. assim. Depois lembra umas coisas, mas abana a cabeça e esquece. "Era divertido, mas não era pra ser."
Olha pro relógio. Seu marido deve estar no topo da montanha agora. Com boné, chimarrão e macheza. A casinha é uma beleza. Se fosse mais quente seria perfeito. "Mas perfeição não existe..."
Lembra de novo e abana a cabeça. Franguinho temperado com cerveja. Delícia. Em meia horinha fica tudo pronto. Olha o relógio e vê que dá tempo prum cigarrinho escondido. "Tão bom fazer fumacinha."
Lava bem as mãos e deixa tudo preparadinho. Põe até flor na mesa. Daqui a pouco ele volta. "De boné, mas volta".