20 de novembro de 2008

o nome dela era Paula.

A louca dos cigarros morreu. Se matou pra ser mais exato. Era uma figura da Rua da Passagem. Nunca gostei dela. Ela era louca e folgada e não apenas louca. Pedia cigarros pra todos. Sem parar. As vezes guardava um cigarro que tinha acabado de ganhar. Parei de dar cigarro pra ela quando, depois de dar 1, ela pediu outro pra guardar. Nunca mais lhe dei cigarros.
Observei, de longe, seu processo de auto destruição. É um direito que se tem: querer se destruir. Um direito tão legítimo quanto qualquer outro. Despedida em Las Vegas.
Na primeira vez que a vi cheguei até a achar bonita. Não tinha 30 anos. Depois vi quando ela circulava com um namorado tão esquisito quanto ela. Sempre achei que ela fosse louca de farmácia e, se não me engano, um dia o Coimbra me disse que ela era filha de médica. Deduzi que a mãe fosse psiquiatra e somei dois e dois.
Louca de farmácia.
Hoje o Coimbra falou que ela tinha brincado de super homem, que tinha se jogado. Ele ainda disse graças a Deus que ela foi sozinha. Ele também não gostava dela. Tinha lá seus motivos. E, afinal, não é o fato dela se matar que a fará melhor. Eu não gostava dela também, sempre que podia eu era grosso com ela.
- Dá um cigarro?
- Não.
- Mas você tem cigarro.
- Eu sei.
- Por que não me dá?
- Porque eu não quero.
E ela me olhava feio e saia.
O Sorriso, um fudido que quer ser corredor de bicicleta, disse que quando ela tinha dinheiro ela pagava tudo pra todo mundo. Achei isso legal e surpreendente.
Eu não gostava dela, mas não queria que ela tivesse se matado. Se jogou do 5° andar pela área interna do prédio e conseguiu morrer. Os suicidas nem sempre são bem sucedidos. Ela foi.
Eu não gosto que as pessoas morram. Eu não gosto da idéia de que eu vou morrer. A morte é uma coisa que não tem nada de legal. Eu sei que a vida nem é tão fantástica assim, mas prefiro saber disso estando vivo. É mais simples e mais honesto. Mesmo a morte dessa desgraçada não é justa. Morrer é uma puta sacanagem, mas é isso aí. Dos que podiam morrer ela era das que menos me doem.
Mas de qualquer maneira é uma pena. Uma pena.