27 de fevereiro de 2010

delíriozinho na tarde cinza.

Noite de pipoca e filme. Guaraná ou Mate. Muito gelo nos copos e play no aparelho. Daria um jeito de me recostar nos seios. Brincar de almofada no corpo alheio. Ouvir a respiração e, com sorte, perceber a pulsação. Ficar sem pensar. Filme simples, nem cabeçudo nem babaca. Woddy Allen talvez. Notar os pedaços do filme que mudam ali: nos seios, na respiração e na pulsação. Encaixar um beijo na hora certa. Sem língua só boca. Mudar de posição, descobrir um outro encaixe. Roçar a pele lenta, notar o sangue fluindo e os créditos que começam a surgir na tela. Mais pele roçada e um silêncio bom. Encaixa-se melhor, beija-se mais. Língua agora e língua lá. Entrar e sentir o risco. Os riscos. A aventura dos corpos, os sons sem sentido, o excesso de ar, a morte e seu arrepio. A boa derrota, a derrota de quem se entregou. Mais silêncio. Vontade de falar, mas não se sabe o que. Um sono, um soninho bom e o nariz grudado na nuca.

- boa noite.
- durma bem.

2° Coimbra do Ano.

Deve confessar que fico muito satisfeito em dizer que é a 2° vez que vou naquela decadência chamada "Bar do Coimbra" nesse ano.
Não estou, de modo algum, negando minhas raízes. Sei, e jamais duvidaria, da importância que o Coimbra e sua turma tiveram praquilo que eu posso chamar de "minha formação no RJ".
Acontece que esse boteco decaiu muito. Antes até jantava/almoçava lá. Havia o Bigode, o Sassá, o Sorriso e sempre, como o copo d'água que melhora a imagem da TV, o Coimbra.
Ele, o Coimbra, ainda está lá. Mas, na prática, só ele. Jamais comeria as iscas de frango que ele, ele mesmo, prepara. Ainda mais quando só ele tá no bar e sabendo do fascínio que a TV exerce sobre ele.
Tenho bom senso.
E agora o Coimbra tá dez anos mais velho e fica sentado com o pé esticado e uma faixa amarrada. Uma veia do pé dele estourou fazem dois anos e, bem, é o tipo de coisa que nunca teve e nunca terá cura prum cara como o Coimbra.
Não entro numas.
Vou lá por praticidade. É em frente da minha casa e posso trazer garrafas pra cá sem ter que me preocupar com os cascos. Se eu tiver sem dinheiro posso até fazer fiado. Se eu tiver sem dinheiro e com uma mulhézinha na fita posso até pedir dinheiro emprestado.
- pô, Coimbra, descola vintão...
- ...
- to com essa mulhézinha aí e tá foda...o banco tá fechado...
Ele olha a mulher. Faz cara de quem come muitas mulheres e solta.
- tranquilo, conheço você.
E por essas ainda vou lá.
Mesmo quando não é o caso como hoje.
Hoje nem precisava de cervejas e nem tinha mulhézinha.
Bebi duas no balcão e vi o mundo.
Agora, pelo bem/mal da lei anti fumo, fico no balcão da frente. Sem me esconder lá dentro e sem livro pra ler. Já li um bucado no Coimbra, mas isso não vem ao caso agora.
O caso são as duas garrafas do balcão e as coisas que eu vi.
  • o jogo dos caras é pif-paf, descobri. é um jogo simples que conheço. 9 cartas, vale trincas e sequências de 3. se se compra o descarte tem que mostrar. descobri que eles apostam alto. um ganhou 150. se fosse aposta mais baixa me arriscava com os canalhas. por 2 pilas o bate, eu toparia. mas não entendi quanto vale cada rodada. melhor assim, né não?
  • uma menina do outro lado no ponto de ônibus. eu sou um cara que usa óculos e que está no balcão de um pé sujo. ela me nota. eu noto que ela me nota. eu a julgo: semi gostosa e semi bonita com sandália e meia que espera o ônibus. divertido. olho pra ela de um jeito vulgar e estúpido. quero que ela fique sem graça e consigo. me sinto bem e vital. quando ela entra no ônibus levanto meus óculos pra dizer adeus. ela vê e enfia a cabeça no chão. eu me divirto. eu me acho "o cara".
  • a filha sapatão da dona da padaria imita a mãe. a mãe nem é sapatão, mas é como se fosse. a filha deve ter 13 anos e me causa medo. é dessas sapatões bem macho, que são grandes e debochadas. já vi ela discutindo com o pai que sabe, mesmo negando, que a filha é mais macho que ele. deus, eu me impressiono. é macheza demais pra uma garota que começou a menstruar no máximo há 4 anos.
  • a guria bonita do meu prédio mora ou no 2° ou no 3 ° andar. digo porque ela vai de escada. quer dizer: pode ser dessas que vai de escada pra se exercitar. mas daí, sei lá, meu preconceito já não a achará tão bonita. seja como for, adorei ver que ela parou na escada pra me olhar. e sou desconfiado. e digo sem margem de dúvida. ela parou pra me olhar. no canto da escada vi ela, achando que não era vista, parando e virando pra trás. meu ego gosta e meu pau se mexe dentro da cueca.
  • terminei uma histórinha aí. da Angélica. to com uma euforia boa e estranha. sou quase uma bicha, penso ao reler isso. mas a histórinha cola e é o que eu queria. final melhor do que eu imaginava. viva a Angélica que não existe. que é só minha porque eu que a inventei. Angélica é, agora, a única mulher que importa.