31 de outubro de 2008

d.

  1. Sempre do mesmo. Eu. Pouca gente que passa. Um ou outro pra quem se dá bom dia. Ser egoísta é a solução pra viver em paz. Mas paz também cansa. Tudo cansa. Si mesmo cansa.
  2. Eu quero gostar de você. É uma cisma. Quero gostar porque sua história é boa e sua máscara é simples. Quero gostar por aquilo que você esconde. Minha mania é desconfiar de tudo. E isso é ruim e bom. No seu caso, é bom. Repito: quero gostar de você.
  3. O dia quase cheio. Eu, quase útil. Todos nós sonhando. Todos. Deveria ter um documentário sobre isso: os idiotas de editais que postam no Rio-Sul. Seria um documentário engraçado. Todos nós sonhando. Novo sonhozinho à vista! Estamos no páreo! Cavalo que paga bem é azarão! As conhecidas gracinhas do mundo. Nunca se sabe.
  4. A única coisa é auto-controle. Não sei ser mais claro do que isso. Auto-controle. O mundo vem e vai, tudo acontece independente da gente, mas mesmo assim, eu repito: auto-controle. São essas coisas raras que me importam. Tento sempre ser honesto, fui educado pra isso. Prefiro o mundo que depende de mim.

29 de outubro de 2008

Fidelidade.

Tinha beleza e loucura naquilo tudo. É tão difícil explicar. Uma delicadeza que transbordava e quase irritava. Não sei ser claro quando lembro disso. Minha memória é idiota e meu delírio de grandeza mais me prejudica do que me salva. É o que Aramis diria com aquele sorriso estúpido e familiar - o lábio superior segurando a boca em "v": Uma sinuca de bico!
É que eu tenho minhas manias e, embora seja graças a elas que eu sou quem eu sou, são elas mesmas que me fodem. Porque algum dia - não sei quando, mas é sempre em algum dia que as coisas ocorrem. Porque nesse dia eu decidi que seria do contra e que ia querer sempre mais e mais. Mais tudo, fosse o que fosse. E todo idiota sabe que querer mais é justamente a causa da insatisfação e do sofrimento. Blá-blá-blá. Sou mesmo um falador de merda.
Mas seja como for fico me perguntando se eu mesmo sou capaz de me transformar. Sabe como é: mudar tudo, virar outro, deixar tudo pra trás, viver o presente, não pensar, curtir mais, esquecer o futuro, ser só desejo, gostar das coisas simples, ser menos sério, ter mais amigos, sair mais, beber menos, fazer mais comida em casa, fumar menos, comedir a pornografia disponível na rede, ser mais condescendente, sorrir pra desconhecidos, mudar o nome do próprio blogue, ter mais ambição, desistir do que se é, virar viado, comer mais legumes, dançar nas festas, telefonar pros amigos no dia de aniversário, não se levar à sério, prestar concurso público, desenvolver a espiritualidade, ver menos House, fumar menos, ignorar a morte, pagar as contas em dia, abrir um negócio próprio, ir à praia, etc, etc, etc.
Mas isso também não me agrada e ainda me soa como fraqueza:. mudar quem você é para tentar viver melhor. Vive melhor: quem não pensa, quem não se leva à sério, quem apenas brinca sempre, quem esquece as mágoas, quem perdoa como se fosse simples, quem ignora a própria desgraça, quem tem sacadinhas prontas pros constrangimentos, quem vive o presente, quem sonha com melhoras, quem espera as soluções, quem faz exercícios diários, quem casa com a 1° namorada(o), quem não saiu do próprio quintal, quem esquece a própria morte, quem crê que todos são iguais, quem acha que todos são diferentes, quem vê o jornal da globo e dorme depois, quem acorda todos os dias no mesmo horário, quem quer a vida como ela é, quem se satisfaz apenas por ver o bem alheio, quem cora com piadas sexuais, quem acredita em Deus, quem faz sopas às sextas, etc, etc, etc.
E como essa merda é um blogue e não um livro eu posso acreditar que eu escrevo bem.
É simples. É idiota. E causa bem estar.
Conclusão: ter um blogue é a vaidade mais recalcada que pode existir.

28 de outubro de 2008

-

a bunda pra lua com o cu na reta.
Tem que ter tomada de postura e decisão. Não é nada abstrato, é direto e definitivo. Mesmo que sem a obrigação de ser fiel a si mesmo. Tem aquela merda que te revira, aquela merda que é a mola e que te faz falar de várias coisas. Mas que é uma só, uma de cada vez pelo menos.
Tem que ter obsessão. E obsessão não pode durar meses ou estações, tem que durar pelo menos 2 anos.
Há certas defesas que se devem fazer: das suas ideias, das suas taras, dos seus preconceitos. Gente sem preconceito não presta e quem aceita tudo não morre. E quem não morre não pode entender a merda da vida.
A merda. A mesma merda que te revira. A merda que é mola. A boa merda.
E tem mais: você tem que querer ser grande, não pode se bastar com pouco. Claro que pode, mas não deve, não se você tem a pretensão de ser artista. Porque ser artista é uma pretensão. Sempre será. E se essa é a sua pretensão, você tem que ter uma merda bem grande te revirando e te sujando por dentro.
Aqueles caras que você admira tinham essa merda, se remoíam por essa merda e alguns deles até morreram por essa merda. Por isso que aqueles caras eram aqueles caras, por isso que eles continuam por aí, invadindo a cabeça dos outros, espalhando a merda póstuma deles. E isso que faz deles gênios. Isso e outras coisas mais, mas que não vêm ao caso agora.
E é por essas que posso falar mal de quem faz teatro. Teatro tem sido a minha merda. É onde tenho, melhor ou pior, revirado minha merda-mola por dentro. E que fique claro que não estou falando de qualidade ou competência, mas de ambição e pretensão artística. É claro que a gente nem sempre emplaca e que quem muito fala pouco faz, mas dane-se. Minha merda também se manifesta assim.

27 de outubro de 2008

+

Você não vai ser a minha vítima. Não adianta fazer essa cara de lamentação quando me vê. Eu não me comovo, não por isso certamente. Suas desgraças são apenas suas e é assim que deve ser.
Nada demais, apenas o mundo funcionando.
Eu não lhe conheço e você me conhece mal, não há porque partilhar segredos com quem nos é indiferente. Questão de estilo e de zelo pela própria privacidade. Eu zelo pela minha e acho que isso é bem claro. Gosto apenas de quem quero gostar e não assumo amizades em conversas de bar.
Sou simples e óbvio.
Ser livre, pra mim, é poder lhe mandar a merda e, mesmo assim, não o fazer.

26 de outubro de 2008

'

o sentido da insistência.

tremor e desespero,
o mundo quase belo,
quase completo.
a cadência aumentando
lenta e compassada,
a força pra baixo -
a imbatível força pra baixo.
mais força e mais pressão.
a abertura maior do que o costume,
a velha sensação
de que uma buceta
pode mesmo engolir.
o choro convulsivo,
o riso histérico:
o equilíbrio combinado
entre dois extremos.


24 de outubro de 2008

a gratuidade pelo meu cu.

meu caralho não é grande, mas eu tenho lá algum vigor. é claro que eu reclamo, é claro que eu sofro, é claro que devo fazer exercícios físicos e cuidar da minha saúde. todos os idiotas têm. e eu estou entre eles, infelizmente. idiotas saem dos ralos e são como formigas perto do açúcar: sentem o cheiro e se aproximam. óbvio. os idiotas abusam do óbvio. por isso, e só por isso, sofro pela minha idiotez. sofrer disso é o óbvio, afinal. a tristeza é que caminhamos de mãos juntas para o abismo abaixo. a tristeza é que a queda é mais longa do que pensávamos.

23 de outubro de 2008

1 X 1

Maravilha.
A mesma estratégia, mas eu estava esperto.
Ele ameaça, fuxicando a pochete: - olha aqui, é bom você...
Não deixo ele nem terminar: - então mostra, porra, não fala, mostra...
Continuo andando e ele olha pra mim sem reação, me ameaça sem nenhuma crença, resmunga.
Eu, já distante, arrebato com os punhos em riste: - perdeu, filho da puta, perdeu! ou vai querer sair na porrada?
Céus! O mundo é bom! Mais um desse e saio do empate! Oiés, eu digo!!!

-

o bar estava extremamente triste hoje.
uma puta que dizia que pensar era ruim.
um casal de bêbados com um filho que brincava sozinho com 2 bonequinhos.

21 de outubro de 2008

diga 33.

Os inocentes morrem cedo
de câncer ou de doença cardíaca.
Eles rondam a própria vida
crendo que estão acertando,
assim como a maioria de nós.

Os inocentes se parecem com o seu vizinho
e até com você mesmo.
Eles têm os mesmos olhos
e a mesma esperança tola
que desde que cada um faça a sua parte
o mundo inteiro vai melhorar.
Como você.

Eles acreditam nas esperanças do amor,
na continuidade da especíe
e na tecnologia como meio
de rendeção sincera e possível da humanidade.
Os inocentes são inocentes, afinal.

Em momentos poéticos, eles berram bem alto.
Em momentos tristes, eles esperam uma surpresa.
Em outras horas,
eles bebem cervejas nos bares,
eles vão ao cinema com amigos,
eles valorizam o renascimento do samba na lapa.
Também podem assistir uma peça teatro,
apenas pra valorizar as coisas que não têm valor.

Os inocentes brigam contra Golias
e sempre perdem a briga.
São inocentes, afinal.

Nas esquinas tristes
de lua cheia
os inocentes
reparam na lua.
Acham que a lua pode mudar o ânimo
e acreditam que o ceú pode mudar de cor.
Os inocentes tapeiam a si mesmos
porque acham que sobreviver ainda é importante.

Os inocentes não sabem das coisas
e, apenas por isso,
são inocentes.

20 de outubro de 2008

sorriso aberto pra uma lua quase cheia.

A merda tá espalhada
e os risos amarelos ainda são os mesmos.
no bar as pessoas de sempre
e os pensamentos também.
Nada para ser salvo e
tudo pra ser observado,
a delicadeza da Maria
que sempre será comovente.

Delicadeza é tudo que se pode ter,
é o único milagre real
e plenamente aceito.
Nada de porcos que voam,
nada de mares que se dividem,
nada de suicídio que salva a humanidade.

Delicadeza é simples e envolvente.
Como um pastel velho e enrugado,
mas feito apenas pra você.

E penso:
qual é a dor que aproxima,
quem será o próximo na lista,
com quantos paus se faz uma canoa.

As perguntas sem respostas,
a merda velha variando
entre quente e fria.
As esperanças e as crenças.
as crenças,
as crenças,
as crenças...

18 de outubro de 2008

sem assunto

ela sempre me comove
com suas delicadezas
bonitas e singelas.
talvez eu possa a amar.

no mesmo dia
em que eu a chame
de cadela?

pro meu umbigo

você pode ter tudo,
você pode ter nada.
a questão é simples:
em qual
merda
haverá
sua privada?

14 de outubro de 2008

#

e nem faz uma semana.
Ela estava bonita com aquele vestido florido. Sem soutien, as belas costas. Eu não lembrava desse vestido.
Enquanto eu arrumava as coisas reparava nas roupas que preferia, nas que usava pouco, nas de vovó.
Tudo muito estranho e doloroso. A carta que recebi ontem, o disparate de um reencontro desnecessário. A ironia fina do planeta fazendo rasgos na minha pele amarelada de quem bebe pra fugir. E no meio do disparate - enquanto quicava e suava e comia maçã ao mesmo tempo em que fumava um cigarro - lembrei do proverbiozinho que diz "o que não tem solução, solucionado está". Proverbiozinho de merda. Na verdade não quer dizer nada. É um proverbio vazio usado por burocratas de papelão. É um proverbio que não considera que as pessoas têm alma e outras coisas do tipo.
A solidão só em boa em duas situações. 1 - quando se deseja peidar alto e 2 - quando realmente não a ninguém com quem se queira estar. E peidar alto é possível mesmo quando não se esta só, basta ligar o rádio na cbn, fechar a porta e lavar a louça.
E eu também sei de mim e do que eu acarreto.
Dos meus problemas, da minha insatisfação, da minha obsessão por plenitude, do meu idealismo doentio, do querer mais, do chifre em cabeça de cavalo, do sonhos de Quixote, do corpo de Sancho, da falta de leveza, da descrença no simples, do risco da loucura, da mania de eternidade, do deboche arrogante, do desprezo pelos restaurantes de luz indireta, da cara inchada, do pau duro na hora errada, do amor que é a morte, da ilusão da insistência, dos discursos articulados, da loucura.
E também das coisas boas que nem sempre compensão as ruins.

13 de outubro de 2008

12 de outubro de 2008

N. R

Aquela putinha de olhos arregalados no meio do bar.

Ela tem um tipo de charme estranho e eficiente. Talvez seja a música, talvez seja o álcool, talvez o fato dela olhar pra mim achando que a acho incrível. Tanto faz. Cocaína sempre fez bem, o problema é o vício e a inevitável decadência.
Mas voltando a putinha.
Ela tem aquela vulgaridade que essas mulheres ditas moderninhas querem ter, mas não têm. Não por nada, mas porque ela não tenta ser vulgar. Ela é vulgar, ela tenta ser charmosa, mas é vulgar. É algo maior do que ela. Não é uma escolha ou uma opção intelectual. Ela é. E como toda pessoa que é, ela nem sabe disso.
Com toda a certeza ela se ofenderia caso eu dissesse que ela tem a vulgaridade mais encantadora que já vi. É óbvio e quase palpável. Apesar de putinha, ela é uma mulher honesta e coerente. Ela não faz aquilo que ela inventou/descobriu ser legal. Ela é o que é. E isso é merda velha, mas nem tanto.
Seja como for, sempre sorrio quando lembro do esforço sobre humano da minha ex amante-educadora pra parecer puta: a cor vermelha nas unhas e calcinhas, uma boquinha tesa e a idéia idiota de que uma puta gosta de ser puta.
O óbvio ululante revirando o caixão de Madame Classy.

7 de outubro de 2008

#

meu pau grande e mole sendo arrastado pela calçada.

3 dias de porre e um chute no saco. foi só na tarde de hoje que lembrei do que tinha feito, pra quem tinha ligado. essas bobagens que todo idiota bêbado faz. depois do banho vejo o bilhetinho estúpido que minha ex amante submissa me deixou.
você poderia ser mais delicado.
puta merda, que o mundo me engula e eu morra de uma vez. telefono pra ela e digo.
desculpe, mas eu não sou legalzinho.
cheiro minha cueca e descubro que a gente trepou. ela tem a buceta com o cheiro mais forte que já conheci. não fede, que fique claro. mas é uma buceta com um cheiro absurdo e incomparável de buceta. modelo único, não há dúvida.
café, cigarro e cagar. estou quase pronto pra próxima. claro que há um certo arrependimento, ninguém sai impune. nem daqui, nem de lugar nenhum. sair impune é não ter entrado, seja lá o que isso for.

6 de outubro de 2008

.

Então há todo esse delírio e desejo.


Desejo de ser feliz, desejo de dar certo, desejo de entrar seja lá onde for. A regra estúpida do nunca fechar portas. Uma casa de portas escancaradas, o vento entrando e saindo sem nenhuma interferência. Como se não interferir fosse espontâneo, natural. Como se as coisas acontecessem por si mesmas, por seguirem seu curso.
E tem também sempre um sonhinho em vista. O mesmo comentário de sempre nas caras mortas e amarelas que se confundem com a sua: quando eu encontrar um amor serei feliz, quando eu ganhar dinheiro meus problemas acabam, quando escrever meu livro ficarei bem.
Milhares de pessoas caminhando pro precipício e você entre elas, com elas, até se identificando com algumas, casando com outra. Você e todos nós juntos buscando algo espetacular no fim do precipício. As flores no caminho, a crença que lá em baixo é tudo melhor. Porque tem que ser, porque se não o mundo não é justo. Catequese eficiente dos filmes americanos consumidos na Sessão da Tarde.
O tédio, a raiva, o maldito blogue. A repetição de si mesmo, afinal.

5 de outubro de 2008

***

A única maravilha é um sorriso de mulher burra que diz que te ama.

O nome dela era Larissa e ela sorria muito e bebia muito pra minha sorte. Só sobrou ela e sua melhor amiga na mesa. A melhor amiga dela era uma velha conhecida e lésbica implacável, dessas que odeiam pau e têm discursos ótimos pra isso.
A Larissa só me olhou direito quando eu disse uma frase de efeito e cheia de desprezo: - não confio nessas mulheres que gozam na primeira vez que trepam comigo.
Ela se impressionou com isso e ficou feliz. Eu também fiquei feliz.
Quando a gente mudou de bar, foi a Larissa que disse: - vamos prum boteco que não feche. É melhor beber num pé sujo que não fecha que num lugar que te expulsem as 2.
Larissa sabia das coisas.
No bar o mesmo papo de sempre: sexo, vulgaridades e teatro. Minha velha conhecida reclamava dos paus que insistiam em ficar duros e refletia dizendo: paus duros são opressivos, eles ficam duros por qualquer coisa e são idiotas...beijo na boca não é motivo pra que fiquem duros, não é?
Eu apenas ficava calado e reparava na Larissa. Não era o momento de discordar da minha velha amiga. A Larissa dava trela pro papo e tinha mil opiniões, um inferno.
Eu estava com sorte e minha velha amiga foi embora antes. Ela morava pro outro lado e eu e Larissa ficamos tomando a saideira. Bebemos e bebemos. Larissa era boa de papo e eu também. Conversamos durante horas.
No táxi ela encostou na minha coxa e eu beijei a boca dela. Um beijo longo e sem alma. Muito esforço pra pouco resultado.
Quando ela desceu, me disse: uma pena.
Eu concordei e segui até a minha casa. Uma pena mesmo, eu pensei apenas um pouco antes de dormir. O mundo não era mesmo muito justo.

4 de outubro de 2008

Vida-Vidinha.

Sem mais nem menos ela me pergunta como eu me sinto vivo. Subindo em escadas, eu respondo. Ela ri e acha graça disso. E falo das outras coisas que eu faço e que me fazem sentir vivo: colar papel, colorir cartazes, andar de ônibus na linha amarela.

2 de outubro de 2008

()

Os ovos virados de novo.

Ovos virados é coisa da minha namorada. Ela diz: está com os ovos virados. É, pode ser. Ovos virados é uma boa expressão. Acho.
É que é sempre a mesma lenga lenga de mim mesmo. Eu não suporto ninguém simplesmente porque nem a mim eu suporto. Tenho lá alguma consciência nesse sentido. Como explicar? Nada a explicar.
Dinheiro, sucesso, realização: merdas reviradas e sem sentido. Reclamar é bom e pega bem, mas também cansa, tudo cansa. Ou melhor: tudo que dura mais que duas horas cansa. E olha, essas coisas todas, essas coisas que fazem ser quem eu sou, também cansam. Até porque já estão comigo a mais tempo do que deveriam. Então penso e me coço: o que fazer? Nada a fazer.
Aí eu faço um textinho raivoso e minha namorada protesta. E também um anônimo idiota que acha que sabe do que falo. Meu Deus! É muita gente pra mim. E claro está que só falo de mim e de mim e de mim. Claro que reclamo dos outros e tal, mas é só de mim que se trata. É algo tão velho que até já virou bordão: toda escrita é confessional.
E ter blogue é lamber o próprio cu, como já disse. Então lambo e lambo. É bom. O cu é mais sensível e tesudo do que imaginamos. Já tomei uma bela dedada de uma bela mulher de unhas vermelhas e longas e digo isso em paz e sem mentir. Até porque eu não minto. Porque fui educado - ou seria condicionado? - a não mentir. Quando eu minto, eu aviso: estou mentindo. De modo que a mentira é dizer eu não minto. E blá-blá-blá. No Aurélio há um belo paradoxo sobre isso...E blá-blá-blá.
Mas voltando. Que merda, que merda. Auto-explicação é fraqueza e conversar sozinho é loucura. Meu Deus! Ovos Virados! Duvidas e Solidão! Grande-eloquência e desespero! O mundo revirado e melado com açúcar derretido. As caras podres que vi hoje enquanto esperava o ônibus. A fuga sempre pronta. As soluções na manga e o mágico decadente que faz números na T.V. Meu Deus! Eu também não aguento, eu também não me aguento. Ter um blogue é, além de lamber o próprio cu, valorizar as próprias conquistas e as próprias desgraças. Tanto faz. Todos nós mentimos junto e elegantes. Há quem goste de festa e há quem goste de merda. Há certa justiça nessas coisas. Melhor assim. Melhor pensar assim.
Seja como for, pra provar pra mim mesmo que sou capaz, escrevo uma histórinha que pode interessar quem não me interessa:
Apesar de tudo, Marina olhava pro seu marido e pensava que ele era um homem bom. Trabalhador, calmo e, as vezes, atencioso. Marina vivia sempre olhando pro seu marido e pensando essas coisas. Ela gostava de pensar escondida, dizia. A vida era boa com ela e Deus, que nunca falta, sempre ajudava.
Depois dos três filhos encaminhados, Marina e o marido compraram uma casinha na praia. Os dois tinham aquela rotina simples e calma que sempre desejaram: cuidar da casa, passear na beira do mar, beber uma vez por semana com os amigos.
Ela sempre falava pra ele: - Fomos felizes, né, meu velho? E ele, sempre esticando as pernas antes de responder, dizia: - Graças a Deus, neguinha, graças a Deus.

depois do almoço.

Um caralho imenso
nem sempre é doce.
Uma buceta apertada
nem sempre basta.

1 de outubro de 2008

sobre o problema de ter blogue.

Os conselhos que eu ouviria:

pai: acorde cedo e durma tarde. não seja um assalariado.
mãe: calma, pense bem e veja o que é melhor pra você.
namorada: a gente tem que fazer nossas coisas acontecerem.
irmã: pô, fê, pra você é tudo mais fácil.
bom amigo: cara, aproveita aí. mas é foda. é foda. eu imagino.
mau amigo: deus não dá asas à cobra.
coimbra: vai tomar uma?
terezinha: você precisa ver o que você vai fazer com isso.
atriz 1: se fosse eu nem pensava duas vezes.
atriz 2: eu te entendo, Fê, mas você não pode desistir. é isso que eles sonharam.
atriz 3: olha, cedo ou tarde você vai ter que ralar. é melhor abrir o próprio negócio, se você tem essa chance.
maria: faça um livro.
ramon: quero comer tua mulher.
tânia: até amanhã.
desconhecido: foi sem querer.
filha: imagina!
vó: é dureza mesmo.
tia: mas você, hein?