4 de abril de 2010

Via Sacra - Sexta Feira da Paixão.

Tudo certo. Com o tempo vou entendendo o óbvio: o que não é dito e o que escapa é mais importante do que todos os discursos. Os meus e os dela. Uma sintonia mais fina sendo descoberta. Com mais gargalhadas, menos ataques e pecadinhos confessados.
Então atacamos em dupla: noite quente, álcool no sangue e ela quer se mexer. Eu topo.
Sexta Feira Santa: da Figueiredo até à Prado Júnior.

- vamos num inferninho?
- vamos num inferninho!
Os seguranças explicam tudo. Quanto, como e deixam entrar pra dar uma olhadinha. Ver as meninas, como a casa tá, essas coisas. É justo.
Um esclarece quando pergunto se haverá shows: "- sabe como é, feriado religioso, as meninas pedem pra não vir".
Faz sentido. Putas são católicas. É uma das coisas que as tornam atraentes: peitos enormes, tangas que mostram a bunda, saltos fatais e o indefectível crucifixo pendurado no pescoço.
Decidimos por um que ela gostou mais. Achei que ela gostaria daquele. O charme de ser subterrâneo, mais gente do que os outros e o preço de sempre: 30 pratas com direito à 2 drinks ou 3 cervejas. Vários Strips e a Drag Paulette às 2:30.
Havíamos combinado:
"- tu vê lá, hein? Aqui somos um casal. De anos. Nessa noite somos noivos. Dá a mão e fica do meu lado. Não vai entrar numas de dançar que eu vou embora."
"- e você não fica gritando u-hu e olhando com cara de cachorro pra elas. Me respeita."
"- bater palmas pode?"
"- pode."
Quando acaba o 1° show ela me sai pra fumar um cigarrinho. Diz pra eu ficar ali guardando nosso lugar de frente pro palco xadrez. Rosno baixinho.
Vejo as meninas, as pessoas, penso que fim de semana em puteiro é coisa de amador: muitos punheteiros de 18 anos. E também gente como nós: um casal seríssimo e noivos. Noivos, eu repito.
Ela volta e bebemos. Minha vez de fumar um cigarrinho.
"- vê lá, hein?"
Fumo tranquilo. Minha noiva é uma garota legal, eu penso. Tá aqui comigo aqui e tem uma bunda que nem comento. Minha noiva é uma garota legal e gostosa, eu concluo enquanto desço as escadas.
A gente sabe: o mundo é cheio de gracinhas. Uma puta-sapatão tá na nossa mesa conversando com a minha noiva. Até faço minha cena, mas a puta-sapatão é puta-sapatão mesmo e nem me dá trela. A puta-sapatão é pegajosa e minha noiva tá se divertindo. Paciência: me molho na chuva.
Milagres acontecem e estamos só nós 2 na mesa novamente. Ela deve ter notado as gotas no meu rosto:
"- falei pra Suellen que eu tava aqui com meu marido, viu?".
Recebo sua ternura e ficamos por ali. Ela bebe gin-tônica agora e tá mais carinhosa. A noite está ficando perfeita - lenta e progressiva. O show da Drag Paulette é verdadeiramente divertido. Standy Up Comedy de cu é rola. Paulette sim entende de humor: piadas que não fazem concessão à ninguém, nem à ela própria, traveca velha e decadente que toda madrugada tira a maquiagem e pega o ônibus pra S. João de Miriti.
No show com 2 meninas minha ex noiva e atual esposa sai pra fumar outro cigarrinho. Depois entendo que era pra me deixar mais à vontade. O Strip delas é bem estranho. Uma chupa e outra é chupada em variadas posições: sentada na cara, pernas pra cima, enrolada no "pole", sentada na cadeira, etc. Ela chupa mal e a outra finge mal. É estranho e quase triste.
Volta minha ex noiva e Paulette senta conosco. Conta histórias e diz que no aniversário dela há um show bem mais elaborado: convida amigos e organiza as entradas e intervenções. 15 de maio se não me engano. Ficamos de voltar.
Minha esposa dá sinal de vamos. Eu entendo, nos despedimos da Paulette e, sei lá como ou porque, vamos parar na areia de Copacabana. Temos um latão de Antartica. Eu sento e ela se deita. Falamos e penso que agora ela gargalha bem mais - um dia de cada vez.
Voltamos pra casa e a noite continua melhorando.
Mas sobre isso não falo.
Continuo elegante e discreto.