31 de julho de 2011

Domingo de quase verão no Rio de Janeiro.(s.r)

No bar da esquina não leio o jornal, mas estou com uma revista Piauí à tira colo - revista que é o melhor e o pior ao mesmo tempo: afetada, deslumbrada e metida à besta, mas ainda assim uma revista que traz coisas ótimas como as cartas do Cortázar(de quem nunca li livros) e matérias de cunho social nada suspeitos.
Seja como for, estou lá e faço planos. (Fazer planos... fazer planos é o "come chocolates" do F. Pessoa.) E, entre os planos e as carta do Cortázar, vejo as pessoas que passam e penso que meu tesão anda triste - já que se trata de um tesão sem direção e voltado pra qualquer par de pernas que use saias com rasgos laterais lindos e deslumbrantes.
Lembro, agora, da gerente do banco: linda. Cara de passarinha com asa quebrada, jaqueta jeans à lá anos 80 e um vestido que tinha o tal o rasgo tesudo. O vestido era, como uma "pérola no fundo do copo", estampado com flores. E, cá com meu umbigo, acho que a passarinha-gerente me olhava com generosidade - à ponto de eu, mesmo tímido, ter pensado seriamente em lhe deixar um bilhete esperto com meu telefone(o que não fiz porque pensei no ridículo e antecipei o ridículo; e também porque, ora pois!, sou tímido mesmo). E, mesmo tímido, tive a capacidade de fazer mil perguntas pra gerente que me atendia (que era outra: de terninho e sem estampas florais) de quem descobri coisas idiotas, mas divertidas: a) de Belém, mas na Tijuca há 2 anos, b) adora Tacacá, c) gosta de teatro, mas nunca viu, d) diz que comentará com as amigas que conheceu um diretor de teatro(sic), e) parou de fumar por conta de uma úlcera, f) adora o RJ, mas sente falta das amigas e g) me considera seu vizinho porque ela trabalha no Itaú aqui ao lado e exige que eu passe lá quando tiver uma peça no RJ(isso porque a conta que eu abria era pra apresentar minha peça em outras cidades).
Mas volto ao assunto: o tesão sem direção. Tem um puta texto ótimo que fala sobre sexo e que tem a ver com isso e que me fez pensar o óbvio que ulula pleno como sempre: mundo de merda. Esse texto, esse belo texto que poderia ter mais letras e frases, me faz desistir - com alegria - de escrever sobre isso.
E, mesmo tentando resistir, lembro do facebook e seus eternos feeds otimistas e falsos, nos quais o grau de desespero pode ser medido pelo grau de otimismo. (Como se otmismo tivesse a ver com alegria, como se otimismo fosse um "a vida pode ser boa, galera!" em uma atualização).
Fica o domingão e a revista metida à besta que é a Piauí.
Cortázar, amigo, confesso que tenho preconceito contigo por conta dos que tem lêem e que te evocam a cada vírgula e/ou micro conto. Mas é preconceito, eu sei. Quando eu te ler provavelmente mudo de idéia- assim espero. Ou então serei eu a vítima do preconceito, quando todos dirão: "que abusrdo você não gostar de Cortázar."
Mas, se for o caso, eu me consolarei: - "o que são esses feeds que não micro-contos mal resolvidos de um otmista fofoqueiro e auto-displicente?"
E dormirei em paz - porque paz pode vir em "horas descuidadas" quando o nosso preconceito, ternamente cultivado, se revela verdadeiro.