13 de abril de 2008

Um chato é um chato é um chato.
É simples: ele entra na mesa e tem cara de panaca. Se veste muito bem e está claro que é um cara saudável e com muitas opiniões. E ele fala todas.
Estamos num boteco e a regra deveria ser clara: papos cruzados, assuntos variados e, de preferência, breves. Nada de falar uma única coisa durante horas. Ainda mais se essa coisa for sobre si e/ou sobre sua nova obra genial.
Mas um chato é um chato e ele manipula a mesa em segundos. Você se sente preso, sufocado. Vai no banheiro e mija apenas duas gotinhas. Volta e ele tá lá ainda. Agora ele comenta as emocionadas reações das pessoas sensíveis à sua obra. Depois comenta a velha e repetida verdade sem graça: "impressionante como a platéia de São Paulo é diferente da do Rio de Janeiro".
E um chato precisa de apoio por mais chato que seja. E o apoio vem: "uma vez fiz uma peça no sul, realmente a diferença é brutal". E o chato retorce sua boquinha num sorriso que usa pra engolir saliva. Saliva engolida e o chato tem mais meia hora de história sobre o mesmíssimo assunto.
Você se retorce sozinho e acende outro cigarro. Pensa na mãe, pensa na morte, pensa, enfim, por que estou aqui? Cada comentário que fazem ao chato é uma ponta afiada nos olhos: elas dão mais 5 min à ele.
E fuma que fuma e viva os cigarrinhos que o chato, como não poderia deixar de ser, despreza. E você, o único fumante da mesa, tenta não se manifestar sobre esse novo interessante assunto único do chato.
Você se segura e solta um resmungo sem muita força, apenas pra deixar claro que você sabe que ele é chato. Ele te olha e insiste na piada. Ele é engraçadíssimo e simpático: como todo bom chato, afinal.