24 de abril de 2010

relatinho.

Quero comer franguinhos como D. João VI. Invisto pesado e faço o circuíto: acordar, banho com direito à alongamento, roupa limpa, mercado e hortifruti. Hoje é sábado e o dia deu em cinza.
A promoção do whiskey vale a pena. Minha garrafa de bourbon tem apenas duas doses e minha pança cresceu com as cervejinhas novamente. Quanto mais longamente inspiro, mais minha pança estica e brilha à luz do luar. Luz do Luar, eu disse.
O mercado é sempre feio. Gente feia adora promoções. Eu estou entre eles e me sinto péssimo. Arranco o whiskey-promoção da prateleira e me dou por satisfeito. Eu quero é o Hortifruti.
Hortifruti sábado é o paraiso na terra. Ou, pelo menos, em Botafogo. Mulheres lindas, ar condicionado na medida e um tédio que é quase poético. Tomo meu suco-almoço e vou pra batalha: alface, tomates, ovos e coxinhas de frango. Coxinha de frango light, diz a embalagem. Na verdade é apenas frango sem pele. Deus abençoe o Hortifruti.
Estou precavido e com sorte. Trago rosbife, empadão e ainda descolo um livro do J. Genet por 5 pilas. Deus abençoe o Hortifruti, eu repito.
Já em casa eu organizo as coisas. Deixo o franguinho Dom João VI temperado e vedado no saquinho do Hortifruti roubado especialmente pra isso. A casa é minha e moro sozinho. O telefone decido se atendo ou não. As músicas são as mesmas e o whiskey é novo. Tenho meus arquivos abertos e também meu blogue. Até amendoim, eu tenho. Eu sei sobreviver, ó pá. Eu vivo até que bem, ó pá.
O whiskey desce delícia e azeitado na garganta. Minha reza anti pança em formato de lua. Lembro do outro dia e coloco o corpo pro lado, solto um peido longo e fedorento. Sou um pequeno rei, ou buda - se pensar na pança. Tudo certo.
O franguinho estala no forno e, rapaz, o cheiro tá que é uma beleza. Comerei com a mão que é o jeito certo de comer franguinhos. A Glórinha Kalil que disse...a Glórinha Kalil...bem que comia ela. Coroa, Milf, Mature. A pornografia na internet é uma benção. Pra você, Glorinha.
Lavo minha mãos e desligo o forno. Agora é só deixar o franguinho dourar. Sabadão na cabeça e tudo se arranja pelo telefone: drogas, prostitutas e até amor de mãe.
Mais um motivo pra não usar o telefone.
Eu sinto o cheiro. É desses que nos ativam a memória. Como o cheiro salgado da casa da minha avó ou como o cheiro de cachorro da casa do meu primo. Não é um cheiro bom. É, antes de tudo, um cheiro estranho. Nem ruim é.
É como se fosse possível fazer adivinhações. Não por milagres ou misticismos, mas por cálculos. Euforia velha. Em dois ou três minutos há o vislumbre enorme. Alimentar vislumbres é o cheiro do cachorro molhado.