23 de janeiro de 2009

Relatinho.

A relação entre tristeza e beleza deveria ser estudada. Não por teóricos tacanhos e babacas, mas por teóricos da pesada, desses que conseguem raciocinar com sangue e cérebro ao mesmo tempo.
Hoje, enquanto ensaiava e dava sentido pra minha vida, tive essa sacada.
Eu precisava de uma alegria triste de bêbado. Aquele sorriso melancólico e pacifico que as vezes vemos nos bares. Era um tipo de estado que eu achava que daria pé ali praquela cena.
Eu falava um bocado de coisas pros atores, mas eles não me entendiam. A gente repetia e repetia a cena sem nada ser entendido.
Quem faz teatro sabe a merda que é isso. Há um lugar pra se chegar, você sabe que há e todos concordam contigo e tentam chegar lá. Mas os atores não entendem o que você tá dizendo. Não é culpa deles, nem sua. Eles também sabem que há esse lugar, embora não entendam qual é.
Bem, então, tava nesse momento, enquanto eles repetiam a cena e eu me torturava pensando em como, enfim, me faria claro.
E com o pau pra cima a coisa aconteceu. Foi um relâmpago, uma maravilha, uma milagre. Rápido e fugaz como só um milagre pode ser.
O nome veio na minha cabeça e o sentido se fez claro: Vinicius de Moraes!
- Vocês viram o filme sobre o Vinicius?
- Sim.
- Sim.
- Sim.
- Não...
- Não.
- Não.
- Não.
- Não.
Eu tava fudido. 4 contra 1. Eu achando que tinha descoberto a pérola, a trufa subterrânea.
Outro milagre aconteceu:
- Mas Garota de Ipanema a gente conhece, né?
- É.
- É.
- É.
- É.
- Então, pensem bem, qual o grande momento da música, aquele que é mais bonito e triste e que tem tudo a ver com essa coisa que precisamos pra aqui?
Um pequeno silêncio e eu pensei que tava fudido. Milagre só de um lado não serve pra nada. Precisa do milagreiro e do milagrado, por assim dizer. Eu quase resolvia tudo sozinho quando uma alma boa balbuciou:
- Ah...porque tudo é tão triste...ah...a beleza que existe...a beleza que não é só minha...que também passa sozinha...
E o milagre foi concretizado e tudo melhorou. E o mundo foi bom naqueles pequenos segundos. E eu senti a praga que é fazer teatro. E eu me senti feliz e triste ao mesmo tempo.
E toda pessoa de bom senso sabe que isso é possível.
Sim, sim, é possível.
- Entenderam?
- Acho que sim.
- É, entendi.
- É.
- Entendi.
- Vâmo lá!