19 de maio de 2011

A Merda Estoura.

á muito tristeza no ar e muita coisa para se dizer. Por isso, e por ter alma, fico quieto e disfarço.
Não fico muito quieto e nem disfarço tanto. A culpa é do blogue, que tenho e alimento. Porque terapia tem formas variadas e porque, para minha tristeza e glória da realidade, apenas meia dúzia de gatos pingados lêem isso aqui.
Então, ao invés de levar galinha morta à encruzilhada, cago minhas regras em ordem numérica:



  1. O diabo existe e é bastante real. Mas há pessoas que precisam ir ao inferno e ver o caldeirão e o tridente para ter certeza de sua existência. O risco de descer ao inferno é claro: pode-se morrer queimado ou voltar vivo e tostado. Há quem viva melhor depois de torrar e há quem morra precocemente. A chance é a mesma e o erro é o de sempre: supor que o sofrimento (per si) melhora as pessoas.


  2. Minha tristeza não importa. E nem a de ninguém. Existem crianças que ainda não possuem os instrumentos mínimos para encarar a vida real. Tem um treco de psicologia que fala mais ou menos assim: "a infância deve ser um ensaio pra vida adulta. Por isso o abuso contras as crianças é tão prejudicial: elas ainda não estão preparadas para encarar os abusos que serão inevitáveis na vida adulta".


  3. Há um único foco: que não seja exigido de uma criança uma decisão que, mesmo no mundo adulto, é difícil e dolorosa. As crianças, de maneira geral, precisam de uma única coisa: estabilidade ao seu redor - uma vez que a vida interna de uma criança é uma montanha russa de sensações e sentimentos.


  4. Disfarçar a dor é inútil. Crianças percebem tudo porque são permeáveis. Elas precisam saber que, mesmo com dor, o mundo delas não vai desabar. Vale lembrar os contos de Fada e suas enormes desgraças. Nesses contos há um ensinamento: mesmo com toda a merda, há a chance de "felizes pra sempre." Em outras palavras: aprender que ''tudo passa" é um dos aprendizados da infância. Não é à toa que, muitas vezes, nos contos de Fada , há enormes lapsos de tempo. Exemplo fácil é a Cinderela que dorme 100 anos.


  5. (O tempo, quando o percebemos relativo, torna-se menos cruel. A dor da morte só é dor quando pensamos na eternidade imutável. Enquanto estamos vivos as coisas mudam pela ação do tempo. E o tempo, em si, não melhora ou piora nada. O tempo não é uma idéia abstrata, o tempo é real e age. O tempo passa e passando está e estará. Não se trata de viver o presente, mas de lembrar que a dita "linha do tempo" engloba o passado, o presente e o futuro. O que quero dizer é: resolver certas coisas demoram e devem demorar. Porque, enfim, resolver certas coisas não é de um dia pro outro).


  6. Os problemas existem. Há dois tipos de problemas: os que você acha que pode resolver e os que você não acha que resolverá. A decência mínima é atacar os problemas que você pode resolver. E, então, empenhar-se neles. Os problemas sem solução não devem ser esquecidos. Até o contrário.


  7. Problema sem solução é o que precisa ser encarado. Como quem vê o monstro e pensa "esse monstro não existe", mas, contra si mesmo, resolve encarar o monstro inexistente. Porque o monstro não precisa existir. O monstro torna-se real a partir do momento em que você o chama de monstro. Parodiando o bom Dr. House: saber que sim e achar que sim dá na mesma.


  8. Não acredito em Deus. E digo isso pra minha infelicidade. Espero que Deus exista e que minha morte seja uma transição e não um fim. Se tenho "esperança" é porque tenho convicção e porque, de fato e mesmo, acho que as coisas mudam. Estou falando sobre mim como sempre e, claro está, falar sobre mim é falar sobre os meus e sobre as coisas que podem mudar. Se as coisas não mudam, ou mudam menos do que gostaríamos, é porque as coisas são lentas e nosso tempo é curto.


  9. A gente sofre. E sofre porque o tempo existe. E o tempo - esse diabo com ou sem caldeirão - é um enigma que nôs desafia à o desafiar. (Quem em sã consciência nunca pensou que não resistiria e resistiu?).


  10. Por ora, concluo: façamos o que podemos; e desejemos que haja força para resolver o insolúvel. E desejar muito, a gente aprendeu com o budismo, é sofrer. Soframos então... é parte da jogada, eu digo... que seja. Em outras palavras: Amém.