21 de fevereiro de 2010

infelizmente não é um domingo qualquer.

Tomando cafézinho e tossindo todo o excesso de cigarros de uma vida puta. Placas amarelas, verdes e marrons sendo lançadas a cada contração do pulmão. Tosse com direito a bolinhas coloridas no final. As bolinhas do Tim Maia, as bolinhas da pressão.
Antes de dormir e depois de acordar toco uma punheta. Pra ver meu pau alí, pra ver que ele existe e espirra suas coisas. A bandeira de uma dança mal dançada. Um homem e seu pau é uma história pra se contar.
Por todo parafuso e por todo espiral que me puxou, tomo aquelas velhas e sábias decisões:


fumar menos, fazer exercícios, programar a leitura, programar o dia para um melhor rendimento, comer melhor, beber menos, levar as coisas menos à sério, acordar e dormir sempre no mesmo horário, visitar os museus, evitar as gorduras e o açúcar, aproveitar o plano da Amil e ir ver médicos, ver vários médicos, ver todas as modalidades de médicos, terminar o livro, publicar um livro, programar o espetáculo, ficar atento com as datas dos editais e festivais, não esmorecer, ter mil planos, separar as roupas velhas, dar as roupas velhas, limpar os papéis, abrir as pastas, tomar mais líquido, comer mais frutas, descobrir novas pessoas pra trocar cartas, ler os clássicos, se incomodar menos com a máquina, participar da máquina, ir no banco, abrir poupança, viver sem pensar, etc.

E hoje é domingo. E o café é bom e forte. E cagarei lento e de porta aberta - como se expulsar as merdas fosse apenas uma metáfora. Tomarei um banho onde ficarei por 5 min. me alongando e me esforçando para 'não pensar em nada'.
Então me preparo e vou ver uma criança cheia de vida. É a festinha de aniversário dela e eu não comprei presente porque eu sempre me enrolo. 2 anos no planeta e poucas marcas do mundo. A vitalidade que só uma criança e sua animalidade pode ter.
Sinto saudades de um monte de coisas. Lembro de outro monte também. Umas lembranças são ruins e outras bonitas, bem bonitas. Quase tristes de tão bonitas.
Nessa estranha tarde de domingo haverá os amigos, a cerveja e os cigarros e crianças que correm pra lá e pra cá sem nunca parar. A lição possível, o entendimento mais objetivo que se pode ter da vida: fazer.
E por lembranças de domingos de outras épocas, segue a música que quero cantar. A música que me acordava aos domingos em Curitiba com meu pai tomando caipirinha, minha mãe na cozinha e o cachorro na sala.



O egoísmo parece ser a solução. Sou exagerado e louco quando to no mundo em companhia. E não faz sentido. E não é assim. Falo demais, me perco, me confundo, fico inseguro, babaca e chato. Paranóico e perturbado disparando coisas de jeito estúpido, como se tudo que se pensa devesse ser dito, como se a verdade fosse apenas uma questão de falar muito. E não é nada disso .E não haverá nenhum entendimento numa euforia desse tipo. Porque não dá, porque se deve concentrar em uma ou duas coisas e não deixar 30 rodar dentro do seu cérebro. Como um carrossel suicida. É insensibilidade, burrice. É não entender que o tempo precisa existir, que a calma precisa existir, que as coisas correm lentas e podem, ou não, evoluir. Porque a chance é a mesma, o risco é o mesmo. Mas eu teimo e quero tomar pela mão o impossível. Destruir à barrigadas. Ser um Quixote sem charme e sem nexo. Uma chatice de confusão que o mundo em companhia me desperta. Com outros horários, outras interferências, com palavras que não conheço e datas que esqueço. O cúmulo de ser eu mesmo. A explicação do isolamento e um sol sem Lagoa ou Praia. Um sol que aquece e queima. Que faz queimaduras de terceiro grau. Um sol que queima porque não uso o bloqueador. Porque o sundown tá alí do lado, mas eu não uso. Porque não sei ser eu com os outros. Porque o eu sozinho tem alguma chance de paz. E o eu com os outros, pra ter paz, tem que antes passar pelo inferno.