13 de julho de 2009

Essa raiva que me consome e que não tem nenhum sentido. Porque eu poderia morder os canalhas e chutar os cretinos, mas não mudaria nada: os canalhas continuariam como são e os cretinos talvez até piorassem. Mas dar vazão ao ódio me parece saudável e precioso. Questão de estar vivo e de ser capaz de sentir as coisas. É nessas que não compreendo quem está sempre feliz ou sempre triste ou sempre mal humorado ou sempre sorridente. Falta ser atravessado, mas não atravessado assim, como quem quase cai, mas não cai, como quem quase voa, mas não voa. A derrota tem que ser total e profunda, assim como a glória quando a glória vier. Porque ela vem, e também vem a derrota, e ficar passando de uma pra outra com a mesma cara blasé e prendada é fazer de conta que você não tá no meio do turbilhão doente, louco e encantador que é a vida. A vida sim. Sempre a vida, só a vida, o único assunto. Então que seja o ódio e a raiva de agora, mesmo que sem sentido. Querer sentido é diferente de saber, e as vezes sofrer, pela falta de sentido que nos ataca quando temos da vida uma ideia de grandeza. Porque querer ser melhor não é ser louco, porque ser louco não é bonitinho, porque jogar dados só tem graça quando se aposta muito. É fácil perder ou ganhar quando se aposta pouco. Nem muito rico e nem muito pobre, a média morna e fedorenta que acha que o ser humano deve ser de ferro e/ou estável e/ou ponderado e/ou seguidor do caminho do meio. Só idiotas no caminho do meio, lutando contra as coisas que podem lhe abater. Esquecem-se que ser abatido é parte da aposta e pode ser um prazer imenso e fodão: nada desse roçar de grelos, nada dessa punheta auxiliada por sites pornográficos, nada desse riso causado por cócegas, nada desse mar sujo de copacabana, nada de fazer sua parte e se sentir bem. Nada dessas coisas que evitam a dor, mas que diminuem, na mesma proporção, a chance de prazer imenso. Desses que dissolvem o ego, desses que despertam a besta fera que carregamos dentro de si. Porque as explosões devem ser doloridas, mas são reais e criam universos carregados de potência infinita. E é para o infinito que se deve caminhar, mesmo sabendo que o abismo será inevitável.