19 de fevereiro de 2009

Evaniracatibiribira.

Minha
tem 80 anos e caiu pela primeira vez.
É claro que ela tá arrasada e que se sente mais velha agora, depois que caiu.
Quando falei com minha mãe ela me disse pra eu ligar pra ela porque ela tava meio amuada em função da queda e etc.
Não liguei no dia que minha mãe falou porque eu não sabia o que dizer. E eu tenho essa coisa de pensar antes de falar.
E pensei e descobri o que falar:
- olha, vó, eu to te ligando porque eu to sabendo que você caiu e, como eu te conheço, imagino que você deve tá arrasada...mas o seguinte: você caiu pela primeira vez agora, aos 80...quantas velhinhas que você conhece que já caem com 60? você tá no lucro...sabe disso.
E ela me contou a história da queda e disse que foi dirigindo seu 'vermelhinho' pro massagista e que só depois de chegar em casa, com seu 'vermelhinho', que ela foi no médico e viu que nem quebrou nada.
Claro que ela tá com dor e tomando uns remédios. Quem quer que seja que chegue aos 80 sabe que isso pode acontecer.
O lance da minha vó é que ela é animada. Tem blogue, transita em computador e ganha várias multas de velocidade toda vez que pega uma pista lisinha.
No ano passado ela me ligou no meu aniversário e disse:
- eu não sei o que dizer, mas eu quero que você tenha uma vida tão boa quanto a minha.
Isso, como desejo pra aniversário, pode ser simples, mas como eu morei com ela 2 anos, sei que nem é assim. Foi algo que me impressionou. A vida dela nem sempre foi BOA, mas ela, com 80 anos, diz isso pra mim.
Não sei explicar, mas entendo. E entender é mais importante que explicar, afinal.
Dona Evanir, uma mulher que reclama, mas que, mesmo assim, acha que a vida foi boa.
Ela não acha que tudo é uma maravilha. Ela segue e inventa coisas pra seguir. E sua conclusão, depois de tudo, é que é a vida foi boa. Uma maravilha.
Vou sempre guardar o que ela disse depois de ver uma peça do Oficina: eu vi o cu do Zé Celso!
E todos rimos e foi um dia bom.
Os dias ruins nunca importam.
Não é mesmo?