30 de março de 2011

fica assim:



Linda

de maneira geral.

Chata

de maneira específica.

O pau balançava e a vida seguia. (s.r)

Imaginava milagres, imaginava fugas incriveis. Lembrava do 007, do Kerouac na estrada, dos churrascos que fazia com os amigos quando tinha treze anos de idade. - Esqueceu o nome da primeira garota que beijou, mas lembra que quando perdeu a virgindade lembrou-se da garota sem nome que lhe fez pensar o mesmo que pensou quando trepou pela primeira vez: "Então é isso que eles fazem..." E pensou no sexo entre seus pais, nos beijos de língua dos seus avós e nas primas com quem assistia videos pornôs do Tio Zé aos treze anos de idade. - Daí o teatro, os sonhos e os primeiros livros que leu com tesão. O Rubem Fonseca, a professora de português que era ruiva e falava palavrões, a turma reunida em sua primeira viagem sem os pais ou a irmã com quinze anos de idade. Na cidade de Antonina dançou e fez parte de rodinhas de violão pela primeira vez. O Caetano era um gênio, o Djavan era um gênio e O Mundo de Sofia era um livro super importante que rendia papos fantásticos na cidade de Antonina. - Veio o olho cego, a última brincadeira de substituir a irmã e a Nova Zelândia sem nenhum sentido para um garoto de quase Dezeseis anos. O retorno, a língua inglesa e novamente Antonina. E turma. E teatro. - Daí a cidade enorme, a Av. Paulista, o curso com D.R.T e todas as profundidades que parecem realmente profundas aos Dezesete anos. - Foi a vez do tiro na perna, do retorno da ameaça do olho cego e do terrível e fatal primeiro Amor aos dezenove anos de idade: o sexo como milagre, a mulher que mais lhe amou e a cidade mais linda com praias, samba e calor escaldande mostrando suas garras vermelhas. - (continua...)

27 de março de 2011

Eu rodava porque eu rodo.

Sentia-me bem e ouvia músicas do Charlie Brown Jr.

Porque gosto dessa banda mesmo sem ter disco deles e porque ele, o Chorão, deu um bom murro na cara do Los Hermanos, que esqueci o nome agora, mas que é aquele que deflorou a menina Internet Malu Magalhães com a autorização dos pais.

Ele tinha 3o e algo e ela 16 - sei que é bobagem, mas minha moralidade católica se manifesta assim também.

(Além da verdade absoluta: esse cara dos Los Hermanos é um chato. Chato tipo perguntador maluco, tipo o que procura essências e coisas do tipo).

Então simpatizo com o Chorão e não com o chato. Porque o Chorão é feio, maloqueiro e tem um rosto digno de Bukowski, mas principalmente por ter a atitude de socar um chato.

Socar um chato... quantas vezes desejei socar um chato? Jesus, lá da cruz, abençoa minha justiça primitiva: olho por olho e dente por dente. E o fato de eu não socar chatos faz com que eu simpatize com quem soca chatos...

É que tem essa coisa que enaltece o bom mocismo apático e cuzão. "A ordem da ternura"... como explicar? Não sei... mas há uma nova ordem que berra: todo afeto é afeto. E essa nova ordem se manifesta em redes sociais e twitters variados com o papo "Bom Dia à Todos" ou "Dia Astralizado Pra Todos!"

Então ouço as músicas do Charlie Brown Jr. e concluo que, quase sempre, são músicas de amor e de otimismo. Mesmo que haja raiva, rap, palavrões e adolescentes neo-nazistas como público.

O olho roxo do Marcelo Camelo (viva o google) é uma forma primitiva de justiça.

Jesus entendia.

E Deus, quando fez o dilúvio, também.

trivoé.

Sentir tesão é tão bom, tão inofensivo.
Que hoje tarei as coxas da loira que estava ao meu lado no busão.
Conversamos:
- foi pra praia, é?
- fui.
(É que o ônibus estava vazio e ela sentou ao meu lado,
o que fez com que eu perguntasse sobre a praia.
Mas isso só depois d'ela se mexer no banco e
encostar sua coxa em mim.
Pediu desculpas, a bobinha.)
Após uma início de pau durecência, ela mudou de banco.
Achei estranho, mas não muito.
O ônibus é um circo variado e sem controle;
e as mulheres, loiras ou não, querendo ou não, confundem os homens.
Daí que cogitei ir ao seu banco, mas não fui.
Imaginei uma bela cena onde ela ficaria surpresa e eu sorridente, falante e cheio de atitude.
Mas como não fiz o que pensei
voltei ao meu livro e li.
Ler, muitas e tantas vezes, é uma atitude desesperada:
ignora-se a realidade para apreciar o mundo controlado que as palavras propiciam.
Então chega o meu ponto e reparo que há um negro lindo ao lado dela.
Olho de soslaio, mas ela me vê e abre um riso que é uma borboleta branca.
Eu rio também e desço.
-
À caminho de casa descubro o óbvio:
mulheres não apenas confundem os homens,
mulheres têm um enorme prazer em confundir os homens.

26 de março de 2011

A culpa é da escuridão.

  1. Sem luz as pessoas berram de suas janelas, fazem piadas e brincam com lanternas. O escuro como proteção e a euforia em ver que Botofago inteiro sofre do mesmo mal. Somos animais interessantes, mas limitados. A euforia dura os cinco primeiro minutos, talvez dez. Concluo que não ter uma lanterna em casa é um erro.
  2. Porque o mundo é engraçadinho meu celular não tinha carga para ouvir rádio. Imaginei-me no escuro de Botafogo ouvindo um radinho e pensei que seria legal. Mas o mundo é cheio de gracinhas e meu notebook é viciado em energia.
  3. Hoje bebi por culpa da falta de luz. Geralmente bebo pelo tédio. Por mais estúpido que pareça, devo dizer: beber é fazer algo. E, sem luz, desci pra ver a escuridão e me informar melhor. Parei no bar da esquina e reparei que eram dez e pouco da noite e que havia muita gente se preparando para a balada de sexta. Grupos variados de mulheres que rachariam o táxi. Pensei que gosto da moda atual, na qual saias curtas com cintura alta estão em voga. Tesão. Tesão sobretudo nas mulheres altas com esse traje.
  4. Quando a luz volta todos batem palmas e fazem barulho. Repito: somos animais interessantes. Gostamos da luz. Somos mariposas. E ficamos em volta da luz. Mesmo batendo a cabeça na luz, adoramos a luz. Mariposas não são borboletas, claro está.
  5. Acontece que bebi mais do que beberia e cá estou. Blogue é (ou deveria ser) coisa de bêbado. Lembro dos ótimos textos que o Bortolotto escrevia quando estava bêbado e aproveitava a in-utilidade de todo blogue. E salve Leminskão.
  6. No mais, banho quente e energia na tomada. Que nem gosto de mato ou acampamento. Que tenho dificuldade pra compreender quem acha que a falta de recursos e o excesso de natureza tornam as pessoas melhores. Porque tenho um blogue e gosto de beber. Porque bebo e escrevo. Porque tanto o álcool quanto a internet são maneiras de combater o tédio.
  7. E finalmente: gostamos de explicações. Porque explicar é uma tentativa de entender o mundo. O mundo, essa coisa que nos carrega e que entendemos tão mal. Explicar é caçar sentido. E sentido a gente quer, inventa e formula. Porque é assim. Porque eu, infelizmente, não acredito em Deus.

24 de março de 2011

Tem enxofre na água, eu aprendi.

Dentro da água eu observava meu pau. Ele flutuava. Mas reparava mesmo na pentelheira. Enorme, preta e quase a esconder meu pobre pau. Pensei que assim não haverá generosidade em possíveis boquetes.
Era uma banheira com água sulfurosa. Eu estava em Águas de São Pedro no Balneário Municipal. 12 reais para 20 min. de uma água escura, melada e com péssimo cheiro. Dizem fazer bem, dizem operar milagres. Eu acredito. Até porque a pessoa que faz o tratamento completo toma um banho todo dia durante 2 semanas. E, inevitável, pensa sobre a própria cura.
Eu pensei sobre minha cura. Sobre milagres. E sobre essa coisa ancestral que é ficar imerso em águas que vêm do fundo da terra para nos curar.
Quem tem câncer não pode ir. Segundo os funcionários do Balneário Municipal, a água sulfurosa acelera o processo. Uma velhinha que estava com a gente não foi por isso e ficou decepcionadíssima. Ela, como todo mundo, queria se curar. Mas a cura dela era mais objetiva: além do câncer, anda torta e de bengala. Pede ajuda pra se levantar. Mas, surpreendentemente, tinha uma gargalhada de Dick Vigarista.
Em Águas de São Pedro as casas são lindas e não têm muros. A cidade é pequena, estúpida e só é conhecida por suas águas. Por essas razões as pessoas de lá pareciam tranquilas: por morarem em uma cidade estúpida, pequena e com águas milagrosas. A paz está nisso: nessa falta de tudo. Vive-se bem bestamente, eis uma verdade. A ambição, por mais divertida que seja, é sempre dolorida. Em Águas de São Pedro a dor não sabe que é dor porque o tédio não sabe que é tédio. Como explicar? Não sei. Somos nós, os urbanos com várias opções, que sofremos de tédio.
Daí que houve parabéns surpresa e uma vela. E, já na varanda, houve a lição de vitalidade que não temos, mas admiramos. E dormimos bem nessa noite. Porque em Águas de São Pedro tudo parecia possível. Inclusive a paz.

17 de março de 2011

Confundia charme com indiferença.(s.r)

"Ser ignorada me dá tesão", ela confessou.
Por um lado fazia sentido e era óbvio. Por outro, o óbvio ululava alto demais.
(E Nelsão, que nem tem nada a ver com isso, se revirava no caixão).
Falava "pau", mas não falava "pinto".
Dizia, como se sua sacada fosse divertida: "pinto só se amarelo".
E advertia: "Já transei com um japa, tá ligado?"
Eu não tava ligado. Eu não queria estar ligado. Eu não gostava das informações desnecessárias que ela me dava:
1. Foi umas fase antropológica, sabe? Testei as raças, todas as raças: africanos, amarelos, europeus e asiáticos. Concluí que gosto mesmo da América do Sul. Saca o Belchior? Sou da turma dele.
2. Eu li na revista. Olha só. 83% das mulheres casadas têm problemas intestinais. Mas o bizarro é que a faixa etária não determina isso. Mesmo mulheres nascidas na década de 90 e que casaram sofrem disso. Vê? Ainda acha o machismo ultrapassado? Hein?
3. Pra mim não importa. Eu quero é que se foda. Mulher traída merece a traição. Já tive homem casado. Lindo ele. Casado! Eu morria de tesão. Acho que é o proibido, né? Uma vez eu viajei de navio com a minha tia e me masturbei pensando nos marinheiros que poderiam, se quisessem, me estuprar... mas é fetiche, né? Coisa de adolescente... sei lá... A verdade é quando uma amiga minha se envolve com um homem comprometido eu dou a maior força. Eu digo: 'se joga amiga, você não tem nada a ver com a traição dele, você não tá traindo ninguém, tá?' E nem adianta que eu sei: não to errada, tô? Sou mó cabeça aberta, não sou?
Eu não sabia. E também não queria saber. E tinha praticidade. A buceta dela era quente, abraçava meu pau e, às vezes, parecia ser um tipo de caixão que me deixava em paz.
Foram meses. Antes do ano virar ela precisava de alguma coisa que eu não tinha. Fazia sentido. Eu não tenho um monte de coisas que ela precisaria. Era justo ela ir e ela se foi.
Eu fiquei porque eu fico. Porque eu gosto de ficar.
Porque me sinto vivo ficando.
E ela foi porque vai. Porque gosta de ir.
Porque se sente viva indo.
Foi quase perfeito. Quase.
Tua tristeza me incomoda.
Talvez porque não te conheça
e estranhe coisa que julgo minha
em pessoas que me prometiam e falavam,
com uma desenvoltura que quase me constrangia,
sobre felicidade e paz no mundo.
-
Porque teve um dia que sonhei com Jesus
que me disse, coçando a boa barba:
- você é um anjo, gordinho.
E Ele, o filho de Deus disse anjo,
e, talvez por vaidade, eu acreditei.
-
Então me mantive gordo,
olhei pro céu
e agradeci ter sido batizado.
-
Daí que Jesus voltou:
- gordo bom olha muito e fala pouco.
E eu sorri pr' Ele
e Ele me deu uma piscadela
e disse:
- gordinho... só manera o cigarro, OK?
E eu ri de novo
e ele sumiu sorrindo
dentro da nuvem onde Ele passeava.

14 de março de 2011

7 curtinhas, eu roubei.

  1. O tempo passa e não há jeito. Quero ler outro livro do García Marquez pra ter certeza que seu assunto é o tempo. E se não for, é a saga de uma (ou duas ou três ou várias) existência (as). E se mesmo assim não for, dane-se: tio Gabo é um puta escritor e nem precisa de defensores.
  2. Então me reduzo. Reduzir-se é legal. Vejo à mim. E vejo aos meus. E eles e eu estamos juntos. Na glória e na desgraça. E até, como não?, no bar da esquina onde vejo as melhores bundas do Rio de Janeiro inteiro.
  3. Se seu afeto é ver meu blogue, eu digo: você me adora. Se não, eu deduzo: você é pior do que eu pensava.
  4. Foder é uma coisa. Foder com prazer é outra coisa. Foder e amar é um céu. Amar enquanto fode-se é o próprio sentido da existência. E isso só acontece à cada 12 anos, como o Horóscopo Chinês.
  5. O telefone toca e é Vovó. Ela ficou feliz com o que escrevi e fez com que meu blogue tivesse mais visitantes do que jamais imaginaria. Vovó rocks e tem uma rede na Internet que trascende qualquer feed de facebook. Vovó não tem Facebook ou Orkut, mas vovó consegue ser viva - V Maiúsculo - até nessa coisa virtual.
  6. Mando minhas cartas e meus recados. Acho, e acho mesmo, que o asfalto cinza em baixo dos pneus são um belo divã sem - é bom ressaltar - a opressora figura do analista e seus cabelos grisalhos e óculos minúsculos.
  7. Fumar é minha muleta. Se fosse Curitiba e seu frio, estaria na TV e no sono. O Rio de Janeiro é difícil de largar também por essas coisas. E o Aramis que concorde comigo.

13 de março de 2011

Porque sou implicante. (s.r)

Devo dizer que o seu sorriso é verde. E também que sua frequência em feeds e mostras de fotografia digital fazem com que eu pense mal de você.
Aproveito pra lembrar que falar sobre amor na Internet é piegas e sem sentido. Que amor na Internet é como os feeds que ficam em páginas não atualizadas. Amor e Ternura estão na moda de tal forma que se tornaram suspeitos e nada espontâneos. Coisas de Neo-Hippies, em outras palavras.
Volto a ressaltar que comida japonesa é Fast Food. Não dá pra dizer "Bora comer um japa" como se isso fosse cool ou cult ou pop ou descolado. Fast Food. Tá provado.
Dê uma volta no Shopping (aquele lugar de consumo, você chama) e repare: Japas em excesso e com kombos à lá o original Mc"Donalds.
- número 1, por favor
- 6 salmão skin e 3 sashimi atum, confirma senhor?
- confirma.
Entre outros detalhes, lembro que:
a vibe oriental não é natural;
natural, de natureza, não tem nada de bonzinho porque na natureza, essa coisa supervalorizada, reina a cruel lei do mais forte;
achar que um índio é uma pessoa boa por ser índio é como a Regina Casé que inventou que qualquer coisa da periferia é ótima por ser da periferia - o nome disso é preconceito;
o cinema americano ainda é o melhor cinema do mundo, mesmo que haja um esforço muito nobre do cinema nacional.
Então encerro aqui e deixo a dica: você é comum e todo seu lance alternativo vem daquilo que você nomeia de ilhas de consumo. E até aí tudo certo. A gente vive num mundo de merda que, querendo ou não, nôs influencia. O que não dá e pega mal e achar que você tem autenticidade. Simplesmente porque ninguém que seja autêntico fala por aí "sou atêntico, sou autêntico."
E muito menos "ilhas de consumo".

Vovó - s.r

Eu vejo as mortes que não são minhas com bastante ternura. Estou falando de gente que carrega morte: mães, pais, primos, tios e tias próximos, grandes amigos, etc. Na minha vida não há mortes. Perdi meus avós maternos e meu avô paterno. Os outros que morreram não contam muito pra mim: o Batata, pai do Tél, a menina da UNIRIO que caiu de moto, a irmã da Gabi em acidente, etc. Não tenho mortos de forma geral, posso afirmar. Sou o tipo de gente que não carrega morte. Não é vantagem ou desvantagem, é fato.
Quando e se minha vó morrer, vou me abalar. Porque ela é um tipo que não morre. É uma velha com quase 83 e que, muitas vezes, imagino me enterrando. Simplesmente porque ela tem uma vitalidade invejável e vive de um jeito que eu gostaria de viver quando tivesse sua idade.
Uma vez, já faz um tempo, em um aniversário meu, ela telefonou e me disse: "espero que tenha uma vida feliz como a minha." E eu chorei pra caramba depois porque ela tem uma relação com vida que não é pacífica, ela briga com a vida, mal diz a vida. Mas, mesmo assim, ela fala de sua vida com a felecidade no meio. E chorei. E ela nem sabe. Mas chorei.
Minha avó tem uma relação com a vida que admiro e invejo. Ela vive. E vive. E é uma das poucas pessoas que conheço que realmente vivem. Sem fazer com que a vida seja um mar de rosas ou um mar de espinhos. Ela vive e fala sobre felicidade, mesmo sabendo das merdas todas, das dores no corpo e das injustiças do mundo. Ela não faz de conta que merdas não existem, por exemplo. E isso, isso de ter as merdas e poder falar sobre felicidade é que fazem dela alguém que importa e que, mesmo sem saber, me serve de exemplo. Porque se for pra ser velho como ela é, eu topo.
Bem, esse post virou isso e eu sei porquê. Vovó Rocks e faz tempo. Desde que morei com ela sei que faz tempo. Vovó é duca e não pode morrer. Vovó não morre. Ela tem um nome lindo e vive. Está viva bem mais do que eu, meu pai ou suas netas. Vovó nunca mentiu pra viver melhor e por isso vive como nunca eu, meu pai ou suas netas entenderão.
Vovó não pensa na vida, vovó vive. E sabe que tudo tá certo e que é como é: seja as dores no corpo, os espinhos de flores ou não, Vovó vive e viverá. Vovó, mesmo sem saber, sabe das coisas.

11 de março de 2011

(s.r)

Beber é mais uma maneira de se acalmar. Assim como fazer aula de Ioga, ler um romance ou ouvir uma canção do Erasmo. É o que a gente faz: aprende a viver e tenta viver melhor. Suicídio nunca será uma opção pra quem tem pais vivos. Seria o máximo da mesquinharia. O suicída decente só poderia se matar se primeiro não houvesse ninguém que realmente sofresse sua morte; e segundo se essa morte fosse planejada de modo a não dar trabalho pra ninguém. Porque morrer e deixar dejetos para outrem é, no mínimo, deselegante. Nada mais vaidoso do que uma carta de suicida. E chega desse assunto mórbido que nem tem razão de estar aqui.
Escrevo aqui, como muitas vezes ocorre, quando não consigo escrever em meus arquivos. Escrever no blogue é fácil e conveniente. Escreve-se e pronto. Não tenho tantos e nem tão fiéis leitores e, pra ser franco, isso, o blogue, em última estância, é a terapia ocupacional mais barata que existe. De forma que cá estou enquanto o Erasmão dá seus recados na já recomendada rádio UOL.
Seja como for, quero escrever histórias. E escrever histórias é bem mais embaixo do que alimentar um blogue. Porque temos pretensões que nos devoram e nos machucam. E concluo que a minha vida está toda errada porque está fadada à frustração. Explico: um dia inventei-me artista e, por isso, consumi grandes artistas, repito: GRANDES ARTISTAS; e isso, como acontece, acabou por me foder ainda mais. Porque há grandes obras, há Dom Quixote e há Doistoiveski. Há essas obras realmente fodas e GRANDES. E podemos nos consolar dizendo que é um dia após o outro, que a gente vai aprendendo, que a insistência é uma virtude, etc, mas e daí? Quando inventa-se artista crê-se com talento e quando questiona-se o talento um tipo de morte começa à ocorrer. Lembro do único poeminha do W.Benjamim que conheço: cada vez mais cansado, cada vez mais cansado.
E vejo as pessoas girando e o mundo acontecendo. Noto que nem gosto do mundo ou das pessoas. Tento lembrar da tristeza mais bonita e não consigo. Então baixo uma comédia romântica americana e imagino que devo estar deprimido já que nem consigo me revoltar. Mas mesmo o papo de deprimido não cola porque há qualquer deboche que ainda me agrada. "Eu não sou um, eu sou muitos", eu deveria dizer para agradar os amigos neo-hippies que super-valorizam a ternura e o desprendimento. Como se ternura fosse simples, como se despreendimento fosse natural...
Fernandinho chato demais pintando na área.
Vou me reprimir que ainda mantenho a decência de não achar que auto-repressão é datado.
"Há limites", é um bordão que volta e meia uso. Gosto dele. Faz sentido: há limites.

Tremendão:

9 de março de 2011

A vida inteira e todas as jogadas.

A gente pensa muita coisa, imagina muita coisa e isso, em contas pessimistas, acabam por nos fazer mal. Muito sonho pra pouca realização.
E, ao mesmo tempo em que choro por mim, não vejo alguém para seguir. Primeiro porque não gosto de seguidos ou seguidores e depois porque, infelizmente, não acredito em 99% dos entusiasmos que vejo por aí.
Mas eu sou chato e isso é um blogue. Reclamar é parte do lance, seja o doidivana com armários ou o godardcity com listas sobre os piores da MPB.
Reclamo e não exijo cúmplices.
Confesso que considero isso uma virtude. Não preciso de companhia pras minhas merdas e minha decência é fazer com que não virem feeds em atualizações do Facebook.
E nem culpo ninguém além de mim mesmo. Quer dizer... na medida do possível. (Porque, devo confessar, ter um inimigo pode ser o próprio sentido da vida).
Assumir minha solidão tem sido uma tônica. E isso em todos os sentidos: inclusive nos destrutivos. Que seja. Ser egoísta pode ser bem decente. Ou então teria que acreditar naquele abajur que virou hit no youtube e dá lições de otimismo. Ele erra porque vê tudo com bons olhos, em um tirar leite de pedra que apenas revela a cegueira de quem quer - e acha que querer basta - que o mundo tenha sentido. O mundo tem mais o que fazer. Sentido é coisa de gente, não é coisa do mundo.
É uma pena e espero estar errado. Que haja sentidos secretos que eu, em minha tolice, não vejo. Que, quando eu morrer, venha o Chico Xavier ou Jesus ou alguém pra me dizer: perdeu, playboy.
A campanha Rio Sem Preconceito sofre do mesmo mal. Ela esquece que preconceito é coisa de gente e que não pode ser simplesmente eliminado. Preconceitos existem e existirão. O lance, se é que há lance, é não os levar à sério e, muito menos, dar porrada em alguém por conta dos seus preconceitos. Essa campanha reproduz, em certa medida, o radicalismo evangélico que quer nos obrigar a acreditar em Deus - como o já citado abajur que, depois de escrever aqui, fui ver um vídeo e vi que ele fala de sangue de Cristo e outras jogadas...
Então perco o ponto.
É um blogue e perder o ponto é parte da coisa.
Enquanto não for um abajur otimista, um solidário de facebook ou um oportunista circunstâncial, eu me sentirei bem mesmo quando estiver péssimo.
Que me acho bem decente e legal. Não alugo ninguém e nem exijo muita atenção. O que não quer dizer que não existam milhares, e até milhões, de pessoas que vivam bem melhor do que eu.

8 de março de 2011

A solidão acostuma e agrada. Lembro da minha prima que nunca esteve só e penso se isso é bom, ruim ou indiferente. Família... há algo de muito terrível nessa coisa chamada família. A tristeza generalizada e os anos passando. A saga do tempo que é todo romance de García Marquez. Porque toda vida, quando vista inteira, é algo chocante e meio triste. Não sei explicar. O Vinicius falando da saudades que sente da primeira mulher é um exemplo.
E lembro de uma alegria estúpida que via nos churrascos da minha infância. Meu pai e Orestes em risos e euforias bêbadas que de tão alegres revelavam a tristeza inevitável. E eu tinha 5, 6 anos e percebia isso porque com 5, 6 anos a gente percebe muita coisa. Acho que nem o Orestes nem meu pai são ainda capazes dessa alegria estúpida. Porque o tempo maltrata e a tristeza ganha mais importância do que deveria. É uma pena.
Ler o García Marquez tem me dado essa agonia. Porque a vida inteira não é boa nem ruim, nem alegre nem triste. E mesmo o amor - essa doce idéia por nós inventada - é despojado de arroubos e delírios que só fazem sentido se pensados em prazos curtos. (Minha avó e seus 51 anos de casada entende isso como se isso fosse simples). E ontem, antes de dormir, fiquei vendo esses rostos terríveis que surgiam no pré alfa e eu sentia medo e não entendia se os rostos vinham do livro ou do Carnaval.
Seja como for, minha solidão está reestabelecida e o controle que se deseja de maneira geral é mais objetivo quando se está só. Em todos os sentidos: no banheiro que é só meu ou na certeza de que ninguém ou nada me permeará se eu não desejar. Provavelmente deixarei um livro ou um filme me permear. E isso será uma escolha. E escolher, ainda acho, é legal pra caralho.

6 de março de 2011

  • Faço contas e vejo o mundo. Pouca coisa importa. E isso faz tempo. Tem a louca que fala sozinha ao meu lado e pede desculpas. Ela, eu já vi, tem o costume de alimentar pombos. Cogitei perguntar sobre pombos, mas preferi não. Muito arriscado. Ela falaria horas sobre os pombos e eu nem estava tão animado assim.
  • O Carnaval é um beleza. Gente animada, diversão barata e o mendigo que sambava enquanto playboys o perguntavam sobre sua fantasia. (Ele não usava fantasia). Os playboys riam das próprias sacadinhas e o mendigo apenas dançava. O mendigo que dança solitário prova o sentido do Carnaval. Os playboys provam o óbvio: gostar de Carnaval não torna ninguém melhor. (Um dia sairei com uma bela máscara de demônio. Porque fantasia faz mais sentido se, de fato, aniquila sua individualidade. A minha máscara imaginária será assim: ninguém me reconhecerá e eu não serei eu. 4 dias e meio por ano pra isso. É um bom número.)
  • Todo domingo me repito. No bar da esquina leio o jornal e bebo 2 cervejas. Hoje, pelo Carnaval, bebi 3. O fato é que todo domingo leio a coluna do Caetano no globo. E o Caetano piora cada vez mais. Impressionante sua conversa só, na qual ele se lambe cheio de parênteses e citações de supostos e-mail recebidos. Não dá pra entender. Mas, ao mesmo tempo, chego à uma brilhante idiotez: a gente está sempre condicionado à imagem que temos de si.
  • Sinto-me muito vital com a realidade dos outros. É simples: nesse Carnaval há parentes em minha casa. Eles vieram pro Carnaval no RJ, mas dormem muito e nem se animam tanto com o Carnaval do RJ. Dormem muito e nem seguem os blocos que passam. Parece estranho: se você vai ao Carnaval você faz disso um programa. (Como eu em Ctba nas ditas baladas). Não sei explicar, mas me sinto jovem e vital durante essas visitas.
  • Tesão em desconhecidas é um dos prazeres do Carnaval. Elas passam e as assediar é parte da jogada. Não há ofensas, há risos. Uma foda de Carnaval parece uma bênção porque é exatamente isso: uma foda de Carnaval.
  • Com a Branca, provavelmente pelo tempo longo, cogitei travessuras para evitar o inevitável tédio das longas relações. Carnaval era uma das possibilidades. Branca, como boa católica, se encantava com a idéia. E eu também. Era, e sempre seria, uma maneira de preservar o casal. Mas, nessa coisa Carnaval, cheguei a conclusão de que eu sairia perdendo. Ela era linda e mulher. Eu sou homem e nem sou lindo. Nada mais complicado do que um casal que se ama, é a minha conclusão.
  • Fica a dica e também eu mesmo como brinde. Um gordo como chaveiro é uma bela fantasia. E há Internet, os filmes em rmvb e o Cinco Vezes Favela - que é um ótimo projeto, mas nem sei se é um bom filme. No mais: Carnaval e parentes. Em outras palavras: a vida segue.

4 de março de 2011

sssnsaps

Gosto das mulheres que eu invento
e que são minhas
lentamente formuladas.
-
Não gosto das mulheres que amigas
me apresentam
e dizem "a sua cara".
-
Gosto da mulher que é minha
e ninguém sabe.
E que se me dá
não fala às amigas.
-
Então fico só
e invento mulheres.
Se elas existem ou não
isso não me preocupa.

1 de março de 2011

Eu mesmo, muito prazer.

Fernandinho bate bife às dez da noite e calcula: muita cebola.
O celular agora é fonte de música: porque tem rádio MEC e porque a minúscula caixa de som lá é melhor do que a daqui. E isso prova que nada faz sentido.
Fernandinho fica de pinto duro vendo "Bruna Surfistinha" e lembra que teve um sonho erótico. Em pornografia internética prefere as milfs e as mons. Fernandinho reflete com ares profundos: preciso de buceta.
Fernandinho imagina-se com bastante dinheiro e chega a óbvia brilhante conlusão que teria putas semanais. Questão de conveniência e praticidade. 800 Reais em lazer constaria no orçamento.
Fernandinho tenta ler literatura contemporânea, mas não consegue e acaba lendo outras coisas.
Pensa que está estagnado no Rio de Janeiro e culpa o Rio de Janeiro. Fernandinho erra enquanto abre cds com fotos antigas nas quais era 20 kg menos gordo. Imagina-se mais feliz nas fotos: boa companhia e um RJ que nem tinha dois anos. Nessa época Fernandinho amava e era amado. Fernandinho sente saudades com facilidade e alegria.
Hoje mesmo espremeu uma espinha verde e enorme no próprio rosto. Durante o espremer soube que cometia um erro, mas persistiu. Fernandinho tem, agora, uma ferida em sua bochecha direita e lembra que a minancôra acabou.
Fernandinho quer desligar o rádio e o computador, mas não quer parecer antipático. Há sempre o risco de ser mal interpretado e Fernandinho não gosta de ser mal interpretado quando deseja ser bem interpretado ou nem interpretado ser.
Fernandinho fica sem palavras.
E se repete.
E deixa que o bom piano da rádio MEC seja o fim desse post.