31 de outubro de 2009

31102009

Quer sair comigo?
A gente pode andar um ao lado do outro sem falar nada. Podemos apontar o dedo pra uma ou outra coisa apenas pra mostrar aquilo que viu. Comentários, podemos combinar, ficam proibidos.
Se mesmo assim ficarmos constrangidos, a gente deixa de andar e senta num banco. Aí nem apontamos nada e ficamos lado à lado em silêncio. E também podemos evitar olhar muito diretamente um nos olhos do outro porque, as vezes, você sabe, surge um anjinho pelado dentro da pupila. E anjinho pelado é algo assustador, não acha?
Eu prefiro a noitinha, pois o lusco fusco me dá mais segurança. Que sol e areia, desculpe lhe decepcionar, não é comigo. Até porque essa gente de sol e areia é risonha demais e, confesso, que não consigo confiar neles. Quando a pessoa tá alegre ela não fica rindo o tempo inteiro, né? Acho até que quando a pessoa tá alegre ela nem sabe disso. O que que você acha?
Bem, acho que falei demais. Aqui sempre acabo falando demais. Mas aqui é mais fácil. Porque aqui é sozinho e sozinho é bem mais simples. Sexo, amor, família e amigos são coisas ótimas, mas dá um trabalhão que nem sempre vale a pena.
Bom, telefona praquele número que eu te dei escondido ou então, se preferir, me manda um e-mail. Que aí nem a voz um do outro a gente precisa conhecer.
Beijos e bom feriado.
Fernando.

mulher engajada -

A piranha dançava e ia até o chão. Tinha facilidade e conhecimento de causa. Sabia das coisas, sabia como usar seus instrumentos.
Não forçava nenhuma barra e era, na medida do possível, discreta. Os olhos eram azuis como só as lentes permitem. A boca vermelha, as unhas também e o cabelo, com cheiro de creme, balançava loiro e cadenciado.
Quando ostentou, de costas, o salto da sandália prata eu, como bom teimoso, fiz força e torci meu pescoço pra olhar direto na cara dela. Do meio das próprias pernas ela me viu e fechou o rosto.
Virada de novo, e sempre na cadência, ela arrancava suas roupas e as jogava em mim. Com força, com raiva, e sem nenhuma atitude de sedução.
Ela era uma gênia e sabia usar o espaço à seu favor. Depois da última peça, mas ainda com as sandálias, ela se aproximou e me disse baixinho: - escroto de merda.
Saiu pisando forte e com toda razão. Não se deve olhar assim pra uma piranha.

30 de outubro de 2009

Daqui e de lá.

Meu osso é duro, mas meus dentes também. Vou continuar roendo. Eu rôo, eu acho decente roer. Que osso bom é osso roído.
Das coisas que me tocam/me pegam, eu sei que a insistência é uma delas. A capacidade de insistir é algo que me comove. Sempre acabo dando dinheiro pro mendigo que se repete. Mas só quando se repete ao longo do tempo e não no mesmo dia.
Insistência combinada com paciência é a virtude da fêmea que me matará. Sei disso desde os 16 anos.
Ocorre agora que a insistência existe, mas não tem direção. É uma insistência que não se decide e que lembra mais uma gaivota que aproveita o resto dos peixes do que uma águia que mira lá de cima e que desce como um raio pro seu último combate.
Ok, a metáfora não é das melhores, mas o ponto é: precisamos sempre da tríade sagrada. É pai, filho e espírito santo. E não pai e filho ou espírito santo e pai.
E já que insisto nisso, vou ser bem claro: pra mim, a morte serena virá da fêmea perfeita que levará minha alma e meu coro e que, como não poderia deixar de ser, carregará a santíssima trindade: a insistência, a paciência e a decisão.
Minha musa
com três peitos
e buceta ardente.
Tem
que
insistir
e ser
paciente.
E depois
de decidir
ser insistente.



29 de outubro de 2009

Tenho achado muito viadinho essas coisas que tenho escrito. A merda do blogue é essa: você acaba escrevendo, mesmo achando viadinho.
Mas o blogue é meu e é a minha mão que se suja de merda quando o papel higiênico rasga. É por esse motivo que eu reclamo de mim mesmo e faço auto acusações. E também porque, confesso, reclamar é um prazer.
To relendo os artigos do N. Rodrigues e, puta que pariu, imaginar que ele escrevia aquilo em jornal. Era um mundo menos tacanho e menos bundão, eu acho. É só pensar em quem escreve nos jornais de hoje. E mesmo quando é alguém da pesada, ali, no jornal, fica tímido e nunca põe o cu na reta.
Esses caras que escreveram o fino me constrangem quando penso em escrever. Mas sou teimoso e o cu é meu.
Se eu pudesse chupar meu próprio pau, eu o faria.
Como não posso, mantenho meu blogue e atualizo meu orkut/facebook diariamente.

-

É que tem essas coisas que são as misturas todas que fazem a gente ser quem a gente é. É quase uma loucura, mas nem chega a ser. Porque loucura de verdade é pesado e dolorido. Só estúpidos podem achar a loucura uma coisa boa.
Mas volto.
Passo horas ali e tento desvendar certos mistérios. Os mistérios não são reais, são meus porque fui eu que os inventei. E mesmo assim, com consciência disso, me pego pensando "e se". "E se" é tudo e mais um pouco. Tio Stanis sabia disso. E tio Stanis era fodão.
Bem, meu sonho com P. foi de uma realidade surpreendente. No sonho fui convencido que não era sonho. Sou mesmo desconfiado, mas confiei e sofri. Era sonho mesmo, infelizmente.
Coisa bonita essas coisas que permanecem. Quase um milagre. A sobrevivência de algo após tanto tempo traz o sentido, foi minha conclusão.
E não há nada pra lastimar. Dia ruim e dia bom. Minha Russeffinha me disse da sorte que tive e concordei em silêncio, que é, enfim, a única maneira decente de concordar.
Mas queria ter objetividade e nem rolou. Acontece.
O blogue é uma punheta e fico feliz quando alguém elogia meu pau. "A curvatura perfeita", ela me disse com outras palavras.
Ela tem mais classe do que eu. Melhor assim.

27 de outubro de 2009

http://barulhodegrilo.blogspot.com/

DE UM DOS BLOGUES MAIS FINOS DO OESTE.





eu à 30 léguas.

Que vejo e ouço. Participo menos porque fico sempre olhando e pensando. É um tipo de vício e vícios são doenças e tá tudo perdoado.
O nome daquilo é excesso. Ainda mais pra mim que moro sozinho e me sinto ótimo na solidão voluntária. Mesmo que delírios de noites de amor sejam inevitáveis.
Poderia dar nome aos bois, mas nem valeria tanto. O lance é aquela massa junta, que convive e conversa e se ama e se odeia.
Na minha viagem sobre sangue, ter sangue tem a ver com isso.
Uma grande hemorragia que jorra na mesma direção.
As coisas se misturam e não há nenhuma individualidade. Carnaval é o caralho. Tem data e prazo.
Dissolver-se no sangue sim é uma coisa de bicho, de animal.
Até porque o prazo de validade é a morte e, mesmo assim, nem sempre.

26 de outubro de 2009

Muita gente e alguma confusão. Que é difícil ser você e fazer coisas quando a casa é cheia e falante.
No sábado um sonho verdadeiramente pertubador. Sonho quase velho e repetido. A coisa de encontro eterno como coisa do destino. E sem medo. E, por que não?, feliz. Sonho que de tão bom desconfiei ainda dormindo e disse que era sonho, mas aí a outra parte do sonho me convenceu que não, que não era sonho. E eu acreditei e acordei assim, semi perturbado.
Agora segunda e coisas parecidas na cabeça. Sem chancer de ser eu mesmo e fazer coisas.
E nem há telefones pra ligar. E nem acho que tenha esse direito.

23 de outubro de 2009

freak-me.

o
que
me
irrita
é
que,
além
de
esperta,
ela
parece
bonita.

é
que
quando
beleza
fora
de
uma
garota
esperta,
eu
morro
de
medo.
ou
feia
e
esperta
ou
bonita
e
burra
se
não
é
bem
capaz
de
eu
tomar
uma
surra

#

A bêbada triste chorava no bar. Tava vestida como homem: bermuda de surfista, camiseta preta, cabelo curto e com manchas amarelas.
No inicio achei que alguém tinha morrido. O bêbado eventual que é mecânico e que a acompanhava tentava a consolar com o verso de uma música do Vinicius. Era um verso bonito que me chamou atenção porque me lembro do meu pai cantando ele.
Depois entendi que nem era dor de morte. Acho que perdeu o emprego e, pelo que entendi, por culpa da filha da patroa. Ela disse que vai matar a menina. Talvez mate mesmo, mas acho que não.
<>
Em bar tem, as vezes, um nível de decadência real que se vê. É estranho porque eu estou lá e penso que talvez, a única diferença, seja minha idade. Sou mais novo que eles.
Seja como for, voltei pra casa antes. Gosto de ver a vida alheia e pensar nas minhas coisas. No bar é esse meu tesão. Vejo e não participo, prefiro assim.
E hoje, aquele choro e aquela decadência, foi demais pra mim. A dor dela era real, mas besta. Muito provavelmente a filha da patroa deve ter razão de não gostar daquela mulher: um tipo ruim de ver, que parece grávida, mas não tá. Os olhos eram apagados e tinha um choro grosso, chato de ouvir.
E a loucura, a loucura da vida real, é que a dor daquela mulher, pra ela, era tão grande quanto uma morte.
<>
Há qualquer erro nisso que eu pressinto, mas que não consigo desvendar. Sei lá. Acho que se chora pelos motivos errados, que se ri por falta de assunto e que se diz 'não leve a sério' por temor.
O parque de diversão é apenas a reunião de um monte de brinquedos divertidos.
E cada um tem o seu preferido.

22 de outubro de 2009

Será que um dia
eu vou te ver assim,
de quatro, pelada,
e olhando pra mim?
É só isso, você sabe.
-
Uma coisinha aqui e outra cá. Firulas que a gente faz ou inventa pra movimentar as coisinhas daqui que, assim, reunidas, são quase uma vida. Tanto faz e já faz tempo. Acho melhor assim, mesmo que assim seja mais triste. Coisas passam, a gente sabe. E é triste porque coisas e coisinhas já pareceram eternas.
Mas que seja. O gotejar deve ser lento e completo. É meio um combinado que tenho comigo. Porque acho o lento mais honesto do que o rápido. E que Deus não me pergunte o porque.
Uma paisagem bizarra,
um papo calmo com uma amiga antiga e a sorte,
quase impossível,
de pegar um ônibus que vai pela Rua da Passagem.

21 de outubro de 2009

relatinho.

1-
Deixe - me ser discreto e elegante. Sabe como é? É fácil contar histórias e é ainda mais fácil gostar das histórias que se conta.
E por isso ficarei aqui, fazendo de conta e fingindo que não é comigo. Auto preservação é um instinto básico e louvável.
Gosto mais do que falo do que do que faço. É meu bom senso se manifestando, dizendo baixinho: veja bem, seu rojão não estoura sempre, mas, quando estoura é implacável.
De qualquer maneira o isqueiro tá na minha mão, meus cigarros eu ainda acendo.
2-
Tem coisas que perdem o sentido e tem coisas que não. As que não perdem o sentido, fizeram sentido e as que perdem, são, enfim, manifestação do tempo.
Não sei porque digo isso agora, mas, alí, esperando o metrô, isso me pareceu uma coisa fina e boa: o que importa são as coisas que não perdem o sentido. Era como se eu pudesse entender a vida através disso: sentido que ficou e sentido que se foi. Acho que eu teria 12 ou 13 sentidos no máximo. Ou 11, que seria uma conta mais justa.
O que quero dizer é que vivemos pra achar o sentido. E ele é raro, bem mais raro do que se supõe por aí a fora.
3-
Demora pra uma ideia ganhar forma. Primeiro se cogita e se imagina. Depois junta isso com um meio, ou uma aplicação. Depois testa aquilo e no teste a coisa tende a mudar. Etc. Em teatro isso me parece ainda pior. Porque virá os atores, o jeito deles, a coisa de fazerem em determinado espaço e mais um etc.
Isso porque pensei em fazer uma cena hoje inspirada num curta muito legal, mas que eu tinha visto a dois anos atrás. E rôi meu osso e pensei que essa brincadeira de por ideias em prática deveria pagar e muito bem. E não na coisa da publicidade, onde a ideia já tem um fim determinado. Mas sim na ambição artística, onde não se sabe direito onde chegar.
Hum, sei lá. Coisa de viado.
4-
Ela é uma amiga dessas muito boas. Hoje eu lhe disse que fazia tempo que não bebíamos só nós dois e que sentia saudade disso. Ela disse que a culpa era dos outros que falam muito. Eu queria dizer que sentia saudade dela e eu e apenas ela e eu. E é mesmo uma amiga, ainda que, algumas vezes, eu a imagine como uma mulher ótima e fantástica.
Quando ela culpou os outros eu lembrei que ela é durona e que disso eu já sei. Pensei que éramos amigos por isso. Eu sei de umas coisas que não preciso falar e ela sabe de outras que não me fala também.
É uma forma de amor, pensei. Desses amores durões que nunca deixam o outro saber o quanto é amado. Faz sentido pra mim e pra ela.
5-
E termino reclamando de mim mesmo e pensando no porque desses textos tão longos. Acho, cá comigo, que textos longos não combinam com blogues. Mas acontece. E nem precisamos sentir culpa. Melhor assim.

20 de outubro de 2009

Euforia e delírio medo de embarcar na própria loucura a tentação é suave e corre lenta resistir é uma forma de prazer tentar ter calma pra sentir o perfume discreto do diabo a dança mais demorada o salto mais fino a unha mal pintada o pêlo encravado e as mãos em concha que rezam pra desfazer o pedido a mania de roer canetas o olho sem vidro sem cor sem vista a casa nova o prédio na frente as crianças na piscina e um desabafo que tem medo de chegar aonde quer.


A guria mais bonita não tem nome, nem blogue, nem orkut.
Ela passeia sozinha e sorri sozinha e
nem repara em como você olha pra ela.
Ela não não pode te amar porque não te conhece.
E você não pode a amar porque ela não existe.

19 de outubro de 2009

domingo - senta de novo.

Descubro a coisa e deliro:
É quase normal. Só noto o quanto é estranho delirar assim quando saio de casa e vou almoçar no shopping.
Na rede desvendei tudo o que não era segredo. Passei horas nisso. Se o cigarro não acabasse, eu não saia. Tenho tendências a me encantar e hoje entendi o ponto disso.
Preciso de ternura, acredito na ternura. Ternura é um tipo de delicadeza que me comove. Uma coisa que não explico, mas que reconheço: em textos, em fotos ou em vídeos.
Sinto mais falta de ternura do que de sexo. Meu reino por uma ternura.
No delírio:
Seria uma coisa lenta e gradativa. Atração de estranhos, cheiros a serem reconhecidos e um charme artístico que nenhum dos dois deixaria de alimentar.
Charme artístico é isso que é: ter objeto pras metáforas das coisas que se pensa em silêncio e sozinho.
E nós nos amaríamos pra sempre. Você me entenderia na coisa que defino como:"A beleza possível será inventada." E, bem, seríamos felizes.
Felizes sem burrice que seríamos espertos. Um a salvar o outro como se isso fosse nosso destino. E usaríamos a palavra destino sem medo da tragédia.
Meu delírio corria solto e eu nem imaginava nada de ruim. Era só beleza. Eu pensava comigo mesmo: essa desgraçada me fará parar de fumar, essa puta me fará fazer exercícios, essa doida me convencerá até a parar de comer carne de porco.
Meu deus é tão bom delirar. Ela seria a mulher capaz de me modificar plena e puramente, como se mudanças assim fossem reais.
Meu delírio, meu delírio lento e vaidoso até ver, durante o banho: minha pança enorme, minha falta de ar, minhas espinhas na bunda e o excesso de vermelhidão que, de uns dias pra cá, aflora na cabeça do meu pau.
A felicidade é meu delírio nessa tarde de domingo: ouvindo cada coisa, vendo cada foto e reparando em cada imagem que queria passar rápida, mas que eu não deixava.
O mundo real:
A nova dor nas costas, a voz que assusta, a velha dor no pulmão, os vagabundos do bar, a comida sem vontade de comer, a tv ligada, o rádio ligado, a mina com o mano, a mina com o namorado, a mina amando, a mina amando e falando sobre o amor, a unha esbranquiçada, o peido molhado, o banho como obrigação, a punheta pra esvaziar, o sonho com os mortos, a casa limpa e vazia, a grosseria sem solução, o casamento que era seu, o filho que não teve, a vontade de fugir, o bar que teria, a grana da loto que mudaria o mundo, o arrependimento, a grosseria feita no passado, a mãe que telefona e ama, a dor da mãe que não pode entender por não ser mãe, o lixo cheio do banheiro, a merda que é aguada e preta, o bar que tava agitado, a música de velho que toca, a tela branca que não basta, a garota com quem delirou e que não existe, o namorado bonitão, o namorado saudável, o namorado cheio de gás, a mina com o mano, a merda espalhada, o blogue punheta, o sitemiter, o desejo secreto, a ruptura, a morte, o delírio do domingo, o etc que isso não tem fim.
Agora:
Aplacado e calmo. Sem raiva de ninguém e quase vazio. Queria trinta coisas, mas trinta coisas todo mundo quer. Saber que não é especial é parte da jogada. Sofrer em paz também é.
Conclusão:
Todo bloguinho é uma mal disfarçada terapia.

18 de outubro de 2009

senta que lá vem história.

BLOGUE:

37 horas sem sair. Ninguém além de mim. E me lambo e me adoro. E, daqui, vejo o mundo com uma imensa ternura. Perdôo os idiotas, penso nos grandes erros e sinto compaixão por todos.
Tomo banho e me preparo pro ataque. Alguma dose de mundo e a voz da minha mãe cravada na minha alma pra sempre: ver gente é importante.
Banho lento e bem lavado. Desligo a água a cada etapa. Não pra poupar o planeta, mas sim pra focar a higiene. Sabão, xampu, unhas, orelhas e umbigo inclusos. Sou o cara mais limpo do Rio de Janeiro. Acho graça de mim mesmo e me enxugo com a mesma calma do banho.
Desodorante, cueca e roupas limpas. Vou ver gente, minha mãe. Vou descer e ter uma dose saudável de mundo. A TV, que ta ligada, faz com que tudo se torne ainda mais lento. Meias, cueca, unhas aparadas, calça, tênis e, ufa, camiseta. Ver o mundo dá trabalho. Não gosto de trabalho. Por isso fujo das mulheres, penso sozinho e rio. Acho, nessas horas, que sou um gênio cheio de espírito.
No bar um movimento maior que a média. Fico quase tenso, mas pego uma e abro meu livro. Vou no bar, ou no mundo, com um livro na mão. Adoro me sentir só e único nesses lugares. Estou lá e não estou. Uma ambigüidade dos diabos, mas que me agrada.
É aniversário da Solange – uma preta pequena e que parece uma azeitona que sempre ta lá. Ela me oferece um pedaço do bolo e eu nego 1, 2 e 3 vezes. Depois de segundos me arrependo. É um tipo de formalidade que deixei passar. Negar o bolo da Solange a ofende, eu sei. E nem custava nada roer aquele bolo pra a deixar satisfeita. Bem, passou. Pena só ter entendido isso depois. Acontece.
Meu livro é bom. Penso que queria fazer aquelas coisas que leio. Ser vagabundo, ver o mundo e escrever. Parece a bem aventurança. Lembro disso e leio bem devagar.
O cara que vende pó ta ali e há um pequeno movimento. Reparo discreto e penso que eu jamais teria habilidade pra comprar pó desse cara. Ele ta sempre ali e isso me inibe. Não gosto de ser reconhecido, por assim dizer. Acho, como sempre, a discrição uma arte. Os caras que admiro são ou eram discretos.
Termino minha relação com o mundo e volto. Confirmo com o porteiro o novo horário e me sinto bem.
Agora umas palavrinhas, um bom cd e todo o planeta que pode ser você só e com uma tela branca.
Não quero participar do mundo que conheço. Não acredito nele. As pessoas são legais e simpáticas, mas não tem alma. Eu gosto de alma. Pensei, nessa tarde de solidão voluntária, que gostaria de ver um documentário cujo mote fosse as perguntas: você acredita em alma? O que acha que é a alma?
Agora eu mesmo e minha calma por ter ouvido a terrível voz da minha mãe. Fui ver gente e voltei melhor. Com a certeza de que não quero, e não quero mesmo, participar disso daí.
Eles e elas estão lá fora. Brindam a felicidade besta de quem não pensa e vive bem. Prefiro isso aqui que não é eles e elas. E que, principalmente, não acha a felicidade uma coisa tão importante assim.

16 de outubro de 2009

oh yes - sr

2
-
Preciso de uma louca poderosa que saiba amar e que tenha generosidade. Uma louca que me diga coisas terríveis em noites calmas. Que de louquinha pop já tive minha dose e nem valeu, muito tempo pra pouca eternidade. E prefiro o delírio inteiro, completo, sem calculos e sem História - que, na média, é mais chata do que ficção.
Porque mentira por mentira é melhor a mentira elaborada. E não se trata de de escolher, mas sim de ter habilidade.
(mi coracion: ler meu blogue não é saber quem eu sou, que tenho lá meu senso estético).
Pense comigo: se fosse pra eu ser bicha, eu é que daria o cu, saca? Que, assim, ao dar o cu, eu seria um bicha plena, pois assim, de quatro e recebendo a pica, eu realmente teria uma grande experiência de bicha. É o mínimo. E é deselegante confundir dedo e pau, clitóris e vagina, plástico e carne.
Meu dedo acusa, mas nem sempre vai ao fogo.
(E, mi coracion, sua coisa de recém separada é pop, mas não inteligente. Ex separada que só fala do ex marido não cola e nem colaria).
Perceber que eu sou inteligente é o mínimo de excitação que eu preciso pra beijar a sua boca vermelha. E que fique claro que sua marca de batom é bem vulgar, o que, se fosse mais esperta, saberia usar a seu favor.
A vulgaridade matemática eu também vi nos filmes: uma mulher verdadeiramente vulgar não precisa copiar os clichês pornográficos, se é que me entende.

15 de outubro de 2009

ntsqsqç

ser elegante. ter compaixão por umas tristezas que não são suas. ver o oceano. lembrar do passado sem pensar isso ou aquilo. na mesa do bar ouvir as mesmas histórias como se fosse tudo novo. sentir o eco lento do tempo batendo na carne. se empolgar com uma migalha gorda e sem sentido. punheta com alma. tédio sem culpa.
blogue, bloguinho, blogão.

14 de outubro de 2009

Então começa a decadência, lenta e implacável.
Condição de quem tá vivo e pensa. Sem pensar era mais simples: vivia apenas, mentia apenas, me bastava com as miudezas que se arranca da cartola.
Mas prefiro subir a escada e ver o monte de merda onde mergulharei. E farei o salto de olho aberto porque sou vaidoso, apenas por isso. Sinto medo, mas faço questão de deixar os olhos abertos.
Sei lá porquê. Acho que é apenas minha lógica caipira.

12 de outubro de 2009


A vida lenta e decente. Sem essa historinha de muito feliz e agora sim. Lenta, bem lenta. Sem mentir pra otários e sem tocar punheta pra desconhecidas. A paz não é um lugar ou mesmo um estado. A paz é um desejo com o qual se flerta. Flerta de flertar que aprendi com a minha vó: uma troca de olhares que NÃO QUER chegar a lugar nenhum.
Daqui a pouco um frango frito e uma voz estridente que me chama pro almoço. Estou com o peito aberto e com a cara emburrada. O whisky é um paliativo mais eficaz do que a falsa espontaneidade que só evidencia o óbvio constrangimento: é cada um na sua turma, afinal.
Não faço questão de novos amigos e não acho, como meus colegas de facebook, que a chuva atrapalhe minha vida. Lenta, decente e sem falsear alegrias passageiras. Há coisas mais importantes do que a felicidade.

11 de outubro de 2009


Eu e os milhares e todos nós.
As danças, as dancinhas e
o súbito desejo de entrar nas carnes de uma fêmea qualquer.
O inferno concentrado em 18 cm de profundidade.


10 de outubro de 2009

/\|/\


A confusão entre cu e xota
é o que mais me incomoda.

Como se fossem
apenas dois
simples buracos.
Cu é cu
e
xota é xota.

Cada um na sua
mesmo que dividindo
o mesmo espaço
aparente.

Que só confunde
cu com xota
quem ainda não decidiu.

Cu até pode ser bom
mas só a xota

a puta que pariu.
nem
sempre
é
do
que
se
trata
aquilo
que
se
usa
como
desculpa.

8 de outubro de 2009

tuin.


Estalasse os dedos
eu estava lá.
Pronto pro rapto
num belo cavalo branco.
E diria:
esquece tudo e vem comigo.


E faria promessas
que talvez nem cumprisse:
- que paro de fumar
- que beberei só aos fins de semana
- que caminharei 1 hora por dia
- que nem encosto em drogas
- que aprendo a dançar em par
- que desisto das grandiosidades pra fazer miudezas ao seu lado.

E seria tudo uma verdade completa e sincera,
dessas que entrega a alma
e que crê, assim como quem tem visões,
que o milagre está próximo
e será alcançado.

Confessaríamos pecadinhos
e você
falaria mal
de todos
que não sou eu.
E eu beijaria
seus pés
e pediria perdão
por tudo
que eu não entendia.


E a vida
seria boa e generosa
e teríamos paz
nas tardes cinzas
e chuvosas.

Minha porra e meu caralho.

-
Que falar palavrão é terapêutico e isso aprendi com minha vó. É merda velha: dia bom / dia ruim. E dias realmente estranhos como o de hoje. Acho que é culpa dos livros, dois em específico: um que fala de vermes americanos que matavam com tesão e por prazer - com direito a desenhos do mal - , e outro que fala de mitologia e da tal 'bem aventurança'.
Porra, eu sou um tipo influenciável. E nessas, to a dois dias pensando e remoendo a 'bem aventurança'. Fico na punheta de qual será a minha. E me fodo. Porque pensar isso é se foder.
Daí vem o outro livro. Até que me considero um cara que lida bem com o próprio ódio, mas ali, nesse livro que desenha e diz do tesão dos assassinos, eu me sinto mal. E me pego até perguntando, cheio de estupidez: - pra que tanto ódio, meu deus?
E noite passada eu tive vários e delirantes sonhos/pesadelos. Lá pelas 6 acordei e pensei: não posso esquecer isso que sonhei, é sonho fodão.
E claro, e como não, ao acordar tinha esquecido de tudo, menos de que tinha pensado que não deveria esquecer.
Que seja. O mundo é cheio de gracinha e dá suas voltas.
O dia inteiro pensando na 'bem aventurança' e no sonho/pesadelo que não poderia esquecer, mas esqueci.
Acontece. Dias estranhos são parte da jogada.
E segundo os livros o lance é nunca, nunca mesmo, desvendar o mistério. Deve-se dançar com ele, sarrar com ele e flertar com ele. Mas desvendá-lo, nunca.
E isso eu entendo. Acho.
-

5 de outubro de 2009

#

Pra registrar:
A gente berrava e batia palma. Estávamos todos felizes e desempenhávamos um papel. Éramos machos, gostávamos da vulgaridade e éramos, todos, beberrões.
Machos estereotipados como manda a tradição: barrigas expostas, pêlos excessivos e disputas pra ver quem fala mais alto.
Gente ensurdecida e satisfeita, alegre de estar ali, fazendo aquilo, desempenhando a farsa e a jogada de maneira quase solene.
Pra lembrar:
É necessário se isolar pra ter alguma paz. O mundo é vasto e enorme e, portanto, perturbador. A paz não é ficar em casa feliz e cantando Mutantes. É esquecer que está ali e que a vida existe. Não se trata de ter calma, mas de separar algumas horas pra ser indiferente a absolutamente tudo.
Pra seduzir:
Ver você da onde eu vejo é um puta privilégio. Fico apenas com o mel e deixo toda merda pra quem convive com você. Daqui, suas loucuras são doçuras e suas manias manifestações de charme discreto.
Como sou eu que te invento, posso afirmar sem medo de errar: - você é m-i-n-h-a.
Pra terminar:
Gosto mais de ver do que de participar. Faz tempo isso. Lembro de mim, ainda criança, fascinado pela ideia: eles não sabem o que eu penso. Eu nem tinha 9 anos e isso me parecia mais importante do que a descoberta da América. E era.
As vezes, brincando de desvendar quem eu sou, me pego vendo à mim dentro da 'linha do tempo'. É bem bom se reconhecer, perceber um tipo de coerência que só você, sendo você, pode perceber. Porque só você sabe o que fez e o que pensou ao decidir fazer aquilo enquanto os outros apenas vêem o que foi feito.

2 de outubro de 2009

peido tímido.



Meu erro é a fraqueza e nada mais. Fosse eu forte, berrava as verdades e cagava solene e satisfeito diante daqueles que não tem cu.
Ontem passei por uma sem cu dessas. Fiquei com raiva dela. Ela andava com a mesma cara azeda que eu já conhecia. Ela não é bonita nem feia, gorda nem magra, ela não é nada, além de ser sem cu.
Pensei o dia inteiro sobre ela. Pensei porque ela me irrita já que nem a conheço. Sei que é atriz, que é filha de pai e mãe famosos, e que não tem cu.
Contra ela, em minha defesa, a turma imbecil que ela anda e se acha esperta. Os sem cu fazem um barulho maior do que podemos imaginar. Mesmo que peido, jamais. No máximo um pum, ou um punzinho...
Minha arrogância é enorme e eu queria encostar nela, segurar sua cabeça e dizer: relaxa, você nunca será como seus pais, eles são melhores que você e você sabe disso. Não sofra por aquilo que não tem mais jeito.
E ela me amaria pra sempre e meu sogro e sogra seriam famosos e insuportáveis.
Meu cu teria feito a diferença. Se eu tivesse, além dele, coragem.

1 de outubro de 2009

Era bom estar ali
vendo àquelas
pessoas que se balançavam
e dançavam.
Elas estavam satisfeitas
e sorriam
de maneira simples
e sincera.
Bastavam-se em suas danças
e isso me parecia um milagre.
Elas estavam felizes e eu também.
A gente era um grupo,
uma turma,
uma galera que se conhecia
e dançava as vezes.
Era bom e simples.
Ninguém pensava no melhor dia,
na melhor foda,
no mais terrível amor
ou no dia mais triste de toda essa louca vidinha.
A gente dançava apenas,
éramos felizes porque não pensávamos em nada.
Só dança, só cervejinha, só vulgaridade despretensiosa.
Era muito bom
e não sabíamos nada de nada.
Só danças e cervejinhas,
a ciranda mais simples
dos mais primitivos macacos.
Em outras palavras:
a graça Divina
numa festinha
entre conhecidos
que conseguiam
não pensar em nada
ao mesmo tempo.
A felicidade do lado
e uma caixinha de ternura
pronta pra ser sacada.
Sem pressa,
sem saber,
sem anunciar sua chegada.
Um dia bom
pra uma vida besta,
a existência tranquila
dos sonhos possíveis.