9 de junho de 2009


O frio tem alma e faz com que dormir seja um grande prazer. Dorme-se pesado, envolvido por mil cobertas grossas e cheias de lãs dos mais diferentes animais.
Outro prazer imenso que o frio proporciona é cutucar o nariz. O ranho seco e sólido, o trabalho com o dedo e a conquista que sai inteira e pesada, pronta pra ser lançada no chão ou na janela.
Tem também a boa comida e as lembranças da doce P. É só me deitar na velha cama que lembro de tudo. A euforia do se esquentar junto, o pé mais gelado que conheci e aquele riso fácil, que é como uma foto na minha cabeça de tão bem que me lembro.
A pena é a cervejinha, que perde seu charme e seu sentido. Claro que há o whiskey e o vinho. Mas sou um cara de cerveja, por assim dizer.
Acho que o tempo de embriagues da cerveja é perfeito. O whisky é ótimo, mas veloz. O vinho é bom, mas enjoa.
Seja como for, reparo que escrevo menos por aqui. Há algo na solidão que me provoca mais, como se o excesso de mim mesmo me deixasse mais ‘falante’. Sei lá.
E lembro agora do livro da vez. O cara que ta preso é o narrador e comenta que o pior da prisão é a promiscuidade. Promiscuidade não no sentido sexual que usamos hoje em dia, mas na coisa de sempre haver alguém por perto, de nunca conseguir estar sozinho.
Segundo ele, isso é o pior de se estar preso: “numa prisão sempre há alguém do seu lado.”
Faz sentido.
Eu acho.