31 de outubro de 2010

Omelete de claras, ela explica.

Seis ovos e apenas uma gema. Sal, pimenta e muita cebolinha. Tem que ser fresca e tinha na sua geladeira, ela sorri.
A camista branca é minha. Vi primeiro de costas: um lado da calcinha enfiado num dos lados da bunda. Achei bonito. Um tipo de imagem infernal: mulher com sua camiseta e calcinha semi-enfiada sem querer. O chinelo, claro, era meu.
Senta. Quer café?
Eu quero o mundo. Quero meu chinelo também. Ele é parte do mundo, sabe?
Ela lhe acha engraçadíssimo. Deus, no alto de seu trono, deve saber o motivo. Ela tá feliz e prepara o tal omelete. Faz explicações que você nem queria, mas ouve:
- só depois de um minuto que se põe a cebolinha. tem que estar quase desgrudando, mas com a parte de cima ainda mole. daí põe a cebolinha, dá mais um minuto e vira.
Você ri e reclama do seu chinelo de novo. Ela ri. A calcinha é cor de pele. Não deveria ser sexy, mas é. Mas o que sabem as revistas femininas?
- manteiga é o certo. gostei de ver manteiga na sua geladeira. e com sal... eu não entendo que tipo de gente compra manteiga sem sal...
O café é forte e com pouco açúcar. Lembro da minha mãe. Lembro do diabo à quatro. Ela prepara o omelete e parece não lembrar de nada. Ela está calma e sorridente: como sua bunda com metade da calcinha enfiada. Ela fala.
- nunca imaginava cebolinha aqui. ainda mais assim, fresquinha. foi só deixar na água um pouquinho que ela inchou. já reparou como cebolinha incha depois de você deixar de molho?
Eu falo pouco de manhã e ela não. Talvez seja nossa primeira diferença.
A calcinha tá lá e meio que me pisca um olho.
- delícia, né?
- hum, u-hum...
- nem precisa escovar os dentes, né?
Ela gargalha. Acha tudo engraçadíssimo. Come narrando os sabores e eu nem me incomodo. Comenta o curry, a pimenta, a clara que predomina, a cebolinha semi-azeda e a manteiga... fala horas sobre manteiga. Manteigas caseiras, temperadas, trufadas, com queijo, com lascas de sal, de garrafa, líquidas, misturadas, etc.
Manteiga parece ser uma especialidade.
Ela toma um banho e anuncia que vai embora. Adora domingos, ela diz.
Eu fico. Tomo banho depois dela sair.
- estranho isso, bem estranho.
Nem parece ser verdade. Ela sorri mais uma vez.

29 de outubro de 2010

Sundae de caramelo. Há o ar condicionado e as lojas. Passeio aqui e ali. Lembro que preciso de tênis e vejo os preços. Não consigo perceber a diferença entre o de 130 e o de 250. Meu pai(ou seria minha mãe?) diria: calça eles.
Prefiro o sundae à 3 reais. Caramelo. O que, afinal, é caramelo? Existe uma fruta chamada caramelo? Ou uma planta, tipo baunilha que é aquele cabinho fino e preto?
Passeio.
Na livraria sinto calma. Fazia tempo que não zanzava ali, o sólo do Solar, a música do Caetano que eu achava legal quando cheguei aqui. Rio de Janeiro, Deus abençoe o ar condicionado. Saio com 2 produtos.
Planos vem e vão. Isso apenas em uma tarde. Dormir, telefonar, escrever, procurar, decidir, goolgar passagens pra Argentina, preparar qualificações, etc. Nenhum plano é consumado: hortifruti aí vou eu, quero é carpaccio!
Mulheres lindas. Várias mulheres lindas: de salto, de saia, de tênis, de casaco, etc. Uma comprava doces - ja na loja Americanas - enquanto eu reparava nela. Loira séria de aliança e bico fino. Parecia estar triste e eu queria que ela me visse. Ela meu viu e disse SEXTA FEIRA. Eu disse ÉÉÉÉ... e paguei minhas cervejas.

28 de outubro de 2010

quanta belezinha.

eu meio que sinto tesão. mas é mentira. gosto de falar sobre tesão. e sobre peitos e decotes. sobre bucetas também. eu falo. eu gosto de falar. eu falo aqui. se fosse uma pergunta eu responderia que sou tímido. mas gostaria de dizer outra coisa. eu diria discreto. discreto é legal, tímido não. mas não sei se sou legal. têm 3, talvez 4, que acham. eles me acham sempre legal. tem uns outros. eles acham legal quando a gente se encontra. a gente se encontra pouco. é legal a gente se encontrar assim. e se encontrando pouco é fácil ser legal. é um mundo justo, nesse sentido. eu gosto de trocadilhos. o aramis gosta mais. mas quem manda nos trocadilhos - no sentido de deixar claro o humor dos trocadilhos - é o seu bill. ele é pai do aramis. não é meu pai. o bill é legal. e bebe. meu pai também bebe. mas meu pai nem é fã de trocadilhos. é um mundo justo e confuso, pensando bem.
por excesso de punhetas tenho pensado que o consumo excessivo de pornografia não é saudável. veja só. é fácil se desdizer. e mais fácil ainda se confundir. não acho que se confundir seja bom, mesmo que eu me confunda. tem gente que gosta da confusão, eu não. gosto do quê? de beber, ler, escrever. de foder eu gosto também. mas faz tempo que eu não fodo e nem sei se isso é ruim ou bom. teve uma adolescente que me acusou de super valorizar a foda. ela era idiota, mas acertou nisso. quer dizer, ela me abalou com isso. eu me abalo. eu sou fraco. eu tenho blogue, por exemplo. fraqueza, né? hoje mesmo eu pensei. de novo, eu pensei. pensar é errado. pensar faz mal. ter amigos é mais importante e saudável. vive-se melhor sem pensar. minha avó morta. ela tinha a coisa de ser curandeira e acreditar em deus. ela não pensava. era bicho. era triste e feliz. mas o que acho legal é que era triste e feliz sem pensar. não pensar é bom. é burro, mas é bom. c não pensava, g pensava torto, d pensava sempre com dor, c2 pensava, mas só sofria. quem entende? eu não entendo. mas agora eu to legal. agora eu sou legal. eu gosto da música que tá tocando e tenho dinheiro. dinheiro é legal. eu também sou legal, né? lembra? teve sua mão. eu adorei sua mão. amei mais sua mão do que você. eu falhei nisso, né? amar é dureza, a j disse. a j é linda e a m também. as duas se reconheceram como mulheres lindas e me emocionei. eu sou fraco. acontece. meu pai mora em brasília e minha mãe em curitiba. eles sofrem. eles são sós. eles não conseguem conversar muito bem entre eles. eu consigo. me dou bem com os dois, mas moro no rio de janeiro. é um mundo estranho. tem muita tristeza no mundo. mas o que importa nem é isso.
digo: o problema é a tristeza daqueles importantes pra você. o mundo em si nem é o mundo. a não ser que o mundo pense sobre o mundo. mas ele não faz isso. o mundo gira. eu não giro. até tem gente que gira. mas ninguém gira como o mundo. acho.

25 de outubro de 2010

depois dos rastafáris.

Não gosto de escândalo,

não gosto de piti.
Estou velho,
estou acabado
e - por ironia - me sinto bem com nunca.
Não gosto do grito que você dá,

e acho que você deveria deixar o corpo resolver.
(as bucetas falam, sabia?)
Mas você tem cadência,
você tem dicção,
você geme como se estivesse sendo filmada.
(as bucetas, além de boca, têm língua, sabia?)
Quero uma mulher

que ande de Ceci rosa
pela orla do Rio
enquanto toma um sorvete.
Não me interessa sua habilidade em ser do contra.

E muito menos seu ex namorado zen e Indiana Jones - ao mesmo tempo.
Eu quero a orla como paisagem,

um sorvete chicabom
e um bifo frito.
Não

me parece
que
eu queira
muito...

24 de outubro de 2010

Domingão na cabeça

Música alta. Penso em falar sobre papai triste e mamãe melancólica. Penso. Tem minha irmã em seus labirintos, minhas sobrinhas. Tem eu mesmo. Cheio de queixas e dores velhas. Tem os planos também. Tem, é bom não esquecer, as órfãs e órfãos que sofrem sempre culpando a orfandade. E os cachorros... como se esquecer dos cachorros? Abanam o rabo, latem e choram com a mesma convicção. Ah, os cachorros...
Por ora, nada disso. Eu mesmo e minha teimosia. Escrevo por tédio, confesso. E também porque ta aí o domingão e ninguém aguenta o Gugu ou o Raul Gil. Até os porres de domingo perdem sentido. Ah... bom era ter a namorada que tive: adorava trepar de porre aos domingos. Era católica e tinha coerência. Trepávamos aos domingos como o dia sagrado que ele é.
Mas falar de si é facilitar. Fale dos outros ou do mundo. Fale. Ou tenha um blogue, um twitter, um facebook, um caderno de capa dura... essas coisas. E repetimos. Repetimos com eficiência e tecnologia: somos nós mesmos.
Fronhas sem travesseiros e meias sem pares. A matemática que era pra dar certo, mas não deu. A confusão de achar que a tragédia é isso, uma algebra sem exatidão.
A boca sem dentes e o detalhe das dentaduras e jaquetas. A raivinha, o tesãozinho, a vidinha.
A sobrevivência, em outras palavras.

22 de outubro de 2010

-

aqui eu mesmo. minha bela pança berrando vaidades que não existem e nem procedem. ser mal, ser bacana, ser a farsa, ser o que se inventa. a liberdade como uma moeda de 50 centavos no chão: a gente se abaixa pra pegar. e nem percebe que os 50 centavos custaram o cofrinho e, junto com ele, toda a dignidade.
dignidade... legal... bela palavra, reconheço... mas lembro o meu avô dizendo dignidade e ele dizia absurdos, mesmo sendo o homem mais digno que conheci. ele dizia: 'nordestino é vagabundo' - ele era nordestino. fazia sentido. ter ódio do que se é e não se pode fazer nada. uma fraqueza e uma tolerância. fraqueza dele. solidão minha porque repito: ele era digno.
nasceu em 1918, mas foi registrado em 19. era teimoso e, pra sua época, era inusitado: achava que suas irmãs mulheres também deveriam ler e escrever como os homens. o pai dele, meu bisavô, não entendia. achava que suas filhas iriam escrever pros machos e virar prostitutas. a ignorância é um tipo de paraíso: nada se sabe e tudo se condena.
meu avô teimava em relação a escrever e ler, mas, mesmo assim, achava que mulheres desquitadas era uma coisa errada. ou os homens eram canalhas ou as mulheres eram putas. sempre assim: ou um ou outro. o sistema binário mais coerente que já vi.
e ele agonizava. câncer. câncer no estômago comendo sua velhice e sua satisfação. ele mantinha sua dignidade e me dava seus toques. ele tinha ido pra guerra e não tinha morrido. era um pracinha. foi quando as coisas melhoraram... a aposentadoria, essas coisas.
-
estamos em 2010. você me dá lições de vida post morten. o diabo sorri. nem deus nem diabo existem. a garota me disse que vivo do passado. ela nem me ama nem me odeia. ela também tem avô morto e entende sobre dignidade. ela imagina ser livre. eu também. nossos avôs, os verdadeiros portadores da dignidade, estão mortos e rezam no caixão. eles ainda nos amam e também nos influenciam, mesmo mortos há muito tempo atrás.
dignidade... essas palavras terríveis.

21 de outubro de 2010

duas cervejas.

A mulata está acompanhada, mas talvez seja seu irmão. Ela passa por mim: peituda e cochuda.
Mulata tipo prata. Em outras palavras, ela brilha.
"Poxa, que coxa", eu penso bestialmente. Estou bêbado, confesso. "Poxa, que coxa" é engraçado e estar bêbado é bom.
Ela amarra o cabelo. Lança o pescoço pra trás e se apoia na cadeira. Faz um nó no cabelo. O pescoço brilha e eu me emociono... essa coisa de beber deixa a gente um bocado suscetível. As lembranças me invadem... "Meu Deus, por que que essa mulata não é minha?".
Seu irmão (ou seria seu namorado?) vai até o balcão e paga a conta. Não gosto dele. Usa brinco. Tão antiquado usar brinco... coisa de índio. Ela já tá com a bolsa no gatilho e levanta. "Bunduda também", eu penso.
Os dois saem e os perco de vista. Uma pena. Ela era linda e farta. Ele tinha brinco, era mulato, mas sem brilhar. Eu ficaria horas olhando pra ela - apenas olhando pra ela - e me sentiria ótimo.
A minha cerveja acaba. Eu volto pra casa.

18 de outubro de 2010

A chuva parece acalmar.

Há quem não goste de chuva, há quem não goste de sol. Há o mundo inteiro. E o mundo inteiro é enorme e perturbador. Muita gente espalhada, muita ideia solta, muitos lugares pra conhecer, muitos dias, muitos anos (antes e depois de nós). O mundo imenso, a cabeça como um balão de gás hélio e nós todos que, por ora, somos/participamos do/o mundo.
Existe uma gente que está na batalha, querendo conquistar isso ou aquilo. Existe a galera do bar, sempre bêbada e festiva. Existe o namorado da amiga, cheio de sonhos decentes e bonitos. Existe as crianças que crescem e que agora têm peitos e lhe desafiam no elevador. Existem as senhoras elegantes que estão surdas. Os cachorros que rosnam, as mulheres que amam, as traças do banheiro, os acadêmicos de palavras difíceis, as crianças órfãs, o Tom Jobim bêbado e risonho, o García Márquez desconfiado por estar na moda, os pernilongos que chegam no 6° andar, os homens que insistem em mijar na via pública, os casais que não se entendem, a dona da padaria da Rua da Passagem, a Solange comemorando aniversário com salsichas empanadas, a Branca com vestido de noiva e magra demais, o primo que lhe fornece viagras, a vizinha chata e falsa pra quem se diz bom dia, boa tarde e boa noite.
O mundo inteiro, o mundo todo.
A síntese bonita e sem frescura:
MUNDO VASTO, VASTO MUNDO
SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO
SERIA UMA RIMA
NÃO SERIA UMA SOLUÇÃO.*
*(clica no título, clica)

escreva no muro:

SEJA
FELIZ
COM
A
SUA
TRISTEZA.

15 de outubro de 2010

de 17:30 às 18:23 - relatinho.

No meu sonho ela dançava. E também me fazia dançar. Era um tipo de valsa. Eu demorava a entender como a coisa funcionava, mas pegava o jeito e dançava também. Eu gostava de dançar. Era bom dançar com ela. Era tesudo e bom dançar com ela.
Ela usava uma saia branca. E a gente dançava essa valsinha e ela também era um tipo de cantora. Eu a acompanhava. Era meio que um show. Nós dois estávamos no centro da roda. Mas não era bem uma roda. Era mais show mesmo. Inclusive ela cantava. Acho que primeiro rolou a valsinha, depois ela cantar e só depois essa dança mais tesuda.
Nessa dança mais tesuda a coisa começou com ela cantanto. Como se ela dançasse comigo enquanto cantava. Tinha até um microfone na jogada. E lembro bem disso porque o microfone tinha fio. Depois era como se ela tivesse deixado o microfone e a gente continuasse dançando. Era uma roda, mas não era bem uma roda. A gente tinha certo destaque, meio que ficava no centro da coisa - como se fosse casamento. Poderia ser casamento, mas não tenho certeza. Lembro bem da saia branca e também de uma blusinha que era azul claro e colada no corpo. Não lembro como eu estava vestido.
Lembro que a dança ficou tesuda e que a gente enroscou nossas pernas e meio que descíamos rebolando até o chão - como tem nas danças nordestinas. E a coisa era cada vez mais tesuda e eu sentia o elástico da sua calcinha e investia por ali.
Nessa hora era como se já não tivesse tanta gente. E a gente se bolia e se bolia. E dançava esse troço que era meio nordestino.
Quando acordei queria que ela tivesse um rosto. Quero dizer, um rosto conhecido. Mas ela não tinha. Era um rosto próximo à um rosto, mas mesmo assim sem nome ou clareza. Uma pena.
Meu pau tava à meio mastro e encostei nele. Era uma pena não ter um rosto definido pra me punhetar. Seja como for, eu sou teimoso. Em outras palavras: me punhetei mesmo assim.

13 de outubro de 2010

Entre os livros chatos, o telefone e as obrigações diárias.

Às vezes a vida parece insuportável. Então a loucura desponta, mas é apenas outra vaidade. Como se houvesse fuga, como se fosse remédio. A loucura associada a ideia de liberdade é um desses equívocos enormes que insistem em se repetir.
Dom Quixote é belíssimo, mas é triste, triste pra caralho - o que, todavia, nunca impede o humor. O riso bom, quase complacente, quase cristão, como se todas as ações maléficas pudessem ser perdoadas quando sussurramos pra nós mesmos: perdoai-os, é muita dor e muita tristeza.
A dor e a tristeza me explicam muitas coisas. Ou então as pessoas seriam apenas mesquinhas, ignorantes e agressivas e, de fato, más e perversas - o que não faria nenhum sentido e só deixaria tudo ainda mais trágico.
São por dores antigas que serial killers se manifestam, são por tristezas profundas que tratamos mal à quem se ama. A impossibilidade de realmente compartilhar uma dor/a solidão de querer entender o que não tem explicação.
Acho que a Arte, de maneira geral, vem pra tentar dar conta disso. E mesmo que não consiga, ainda é - dos paliativos - um dos mais concretos. A Arte como salvação, mas sem frescura: sem florear lixo, sem pôr perfume em bostas, sem disfarçar dores e, principalmente, sem compromisso com a realidade ipesliteres. A Arte como compreensão e tolerância, mesmo quando deseja agredir e lançar merda no ventilador.
O Dom Quixote sendo levado dentro de uma gaiola e morrendo no final.
A esperança sem final feliz, mas ainda assim, a esperança.
Não
escrever
é
igual
a
ver
televisão.

10 de outubro de 2010

dora

Assim
e pra sempre.
Sem boca
e sem dente.
-
O humor do Barão de Itararé
e a raiva sempre discreta.
Lições da vida
e outras bobagens.
Há que ser discreto,
há que ser esperta,
há que ver sua própria tristeza,
há que apaixonar
quando o amor
demora a aparecer.
Há que não se confundir facilmente.
-
Eu tenho o meu jeito
e você tem o seu.
Melhor não falar sobre isso.
Eu sei,
você sabe
e também o mundo inteiro.
-
E há milagres no caminho
e excesso de tédio,
também desprezo e raiva,
também rotina
e amor por teimosia.
-
Como se resistência fosse o único sentido do amor,
como se você se chamasse Maria
e eu me chamasse João.
-
Como
se fossemos
apenas
uma música.

9 de outubro de 2010

sexta: é quase isso.

Sento na mesa e vejo as pessoas. Não me sinto bem. Penso que estou no lugar errado e encho meu copo com pressa. Talvez o álcool ajude. Talvez.
É uma gente bacana e tranquila. Eu mesmo não entendo porque me sinto tão tímido e deslocado. Lembro do Buk falando do Fante. Salvo as proporções parece ter sentido... sentido... meu reino pelo sentido.
Imagino e deliro. Dentro da minha cabeça há proteção. Eu encalacrado em mim mesmo sou forte e calmo. E ser calmo e forte não quer dizer nada, mesmo parecendo que diga.
As pessoas entram e saem. Bebem, fumam, odeiam, amam, querem saber, querem perguntar, as pessoas. Eu ali e o mundo inteiro. Tudo que passa pela cabeça e, no caminho, tanta bobagem. As pessoas sou eu, o mundo e tudo o mais. O inferno sempre aparece com as mãos dadas.
Falo por segundos. A unidade e a circunstância facilitam. Sou eu falando. Nem minto nem nada. Sou eu. Me acho legal e deliro de novo: eu sei falar com estranhos.
-
Depois.
Eu no bar de sempre. Ouço o que dizem mesmo escondido no meu livro da vez. Tem um idiota que berra contra o Lula... é idiota apenas. A Solange chega e está só. O João, seu namorado(amante na verdade, ele tem família em Maricá e trabalha em esquema de plantão), não está. A Solange está pior do que sempre - mais bêbada e mais infeliz, em outras palavras.
Fecho meu livro e volto pra casa. Meu whisky, minhas músicas e minha timidez idiota. Eu mesmo.
A vida vindo sempre e sempre com as manguinhas de fora... quem entende?

8 de outubro de 2010

sambinha

- Que tipo de idiota usa a palavra burguês hoje em dia?
Eu não queria concordar com ela. Mas era uma grande pergunta a ser feita. Eu soltava sons idiotas, tipo: ahan, humhum, pssss, pssss.
Às vezes ousava um pode crer.
Garotinha tesuda me dizendo pra eu mandar à merda essa gente toda - inclusas as que usavam a palavra burguês. Eu me sentia eufórico. Imaginava que amor passava por aí. Só te ama quem te defende, ela disse.
Guria frasista do cacete. Eu tava onde nunca estou: na balada. Ela era simpática e falava merda de um jeito encantador e... por que não dizer?... profundo... isso mesmo... profundo. Enchia a boca pra dizer merda. Um sotaque sem endereço e uma boca vermelha de batom e também um riso exagerado.
Eu me conhecia e dizia pra mim mesmo: Se ela não me irrita com o riso exagerado é porque eu a amo. Eu estava bêbado, é verdade. Mas meu raciocínio tinha sentido, não tinha? E quando você está bêbado, você não inventa nada, você apenas fala o que já pensou em falar, mas que não teve coragem por não estar bêbado. (Estar bêbado é, antes de tudo, uma desculpa).
Fumava com elegância. Dava tragadas longas em cada cigarro... a bituca vermelha sendo pisada pelo salto... quase um inferno... e as sombrancelhas que eram finas, muito finas, e vulgares. A gengiva grande, os dentes de cavalo e os peitos pequenos... Meu Deus... quase uma adolescente. 24 anos. Chamava-me de cara como se eu fosse seu bródinho.
Queria trepar com ela.
- você é o tipo que se envolve com sexo, cara.
- então me dá, porra.
- hoje não, mas te dou... quer dizer... eu daria pra um cara como você.
Devia ser um elogio já que ela soltou mais uma estúpida gargalhada que não me irritou. As gengivas rosas opacas e os dentes brancos. Tesão...
Garotinha de cinema. Estudante de cinema, quero dizer. Se eu tivesse máquina fotográfica tiraria uma foto dela igual à Lolita: deitada na cama, vestidinho, barriga pra baixo e canelas pra cima. Ela toparia se eu falasse da Lolita. Diria: - sempre quis ser musa, cara.
Mas estávamos na balada e a coisa anda mais rápido do que imaginava. Segunda bituca borrada de batom sendo pisada no salto e ela diz, quase condencendente: - daqui meia hora devo estar aqui, cara... daí você me passa seus contatos... puta prazer.
Eu soltei meu pode crer e ela saiu. Área de fumantes é uma benção pensando bem... voltei meia hora depois e ela não estava lá.
Balada, cara, balada.

7 de outubro de 2010

São crianças que choram e adultos que brigam

.
Eu não entendo porque eles brigam tanto, parecem estar velhos pra isso. Mas o que posso dizer? O que sei eu das mágoas ancestrais e das dores que não passam? Eu apenas os vejo e não entendo. É tipo um ciclo: cavar abismos com pés e depois pedir ajuda para sair do buraco. Tortura mútua, práticas sadomasoquistas e resistência estúpida, dessas que batem no peito e dizem: Eu sou forte. Qual a vantagem real de ser forte? Geralmente é uma gente dura e orgulhosa, cheia de vaidade e auto-suficiência que tenta, em vão, disfarçar o medo. O medo, o velho medo. O medo tá sempre lá. A frase batida pixada na porta do banheiro sujo: quem tem cu, tem medo.

6 de outubro de 2010

não é crueldade, é amor.

É algo parecido com a merda e o desespero. Depois de anos ninguém se entende. E, pior, confunde-se. Culpas em pessoas erradas e friezas cheias de medo e loucuras. Eu sinto o cheiro. Eu conheço. Eu sei. Sou eu mesmo mais velho e mais triste. Enroscado nos meus delírios de grandeza.
Pode não parecer, mas estou falando de coisas objetivas. Tristeza, por exemplo. Isolamento também. Digo pra mim mesmo e pra ele que sou eu mais velho: há mulheres chatas, porém generosas. Mais desesperadas que você, mais solitárias que você, mais loucas e absurdas que você. Mulheres sofrem. E se elas te amam, já era. Você tá fudido. O amor de uma mulher é o que há de mais desejado e mais opressivo. Ao mesmo tempo. Ela te ama e isso é um peso terrível - e é o que você espera e deseja.
Mas existe o inferno compartilhado e também aquele que é seu, só seu. Profundamente seu. O inferno compartilhado tem poucas opções: mata-se a paisagem ou os outros que moram nele. O particular, não. O pecado, nesse caso, é confundir os dois infernos e achar que a sua merda veio de um cu alheio. Não culpe o cu alheio. Ele também tem seus próprios infernos.
Quero dizer: lide com seu próprio inferno e não o misture com o inferno compartilhado. No seu inferno faça o diabo: minta, traia, tente fugir, ria, tome porres, escreva diários, toque punhetas para milfs do facesex. O inferno é seu e estará lá, você reagindo ou não. Convenhamos: ser deprimido pega bem e é uma desculpa quase eficiente. Há drogas cheias de ciência que corrigem isso. Há médicos e há dinheiro pra curar isso. A fuga pode ser uma saída, mas apenas se você REALMENTE conseguir fugir. Fugir pela metade é entalar no buraco: a bunda de um lado e os braços viris de outro.
Eu cago regras, eu minto, eu sofro mais do que você. Eu uso o álcool como muleta e a cada gole, eu bato no meu peito: Fernandinho, o álcool é sua muleta, panacão. E isso é uma estupidez. E é o que é. Não há desculpas ou culpados. Há sonho com medo de sonhar e blogues arrogantes, há sexo como prática de alívio precário e há eu diante do espelho. Eu mesmo. Eu, meu inferno e minhas fugas. Estar vivo é também estar deprimido. Apenas imbecis acreditam em felicidade eterna.
A vida é real e acontece mesmo quando somos cegos, tristes, ricos e solitários. A felicidade é a ilusão de que estamos APENAS vivendo. E nunca estamos APENAS vivendo. Viver não é APENAS. É inferno e gozo, loucura e distração, burrice e ignorância também. A vida é a merda da qual não há saída - e mesmo suícidios são manifestações da vida.
Ela mesma, a vida, essa lazarenta que faz a gente passar por tudo que passa - para o bem e para o mal. Sem critério e sem piedade: a vida.

5 de outubro de 2010

Regrinha.

As santas não frequentam o mesmo lugar que eu e por isso eu fico triste. Ao mesmo tempo prefiro assim: como uma santa estaria ali? É uma gente estúpida e desprezível. Falam merda com a mesma pose dos conhecedores de vinho. Os conhecedores de vinho... quem os suporta? Só os compreendo se os imagino usando esse 'conhecimento' para foder.
Fode-se cus e bucetas com esse papinho que eu sei. Vinho goela abaixo e extremidades se abrem... ah, seu eu tivesse essa frieza toda.
Uma vez ofereci vinho do Porto pra uma guria. Deu certo. Mas eu sofria: o mérito era do vinho e eu me ressentia. Sou um cara limitado. Queria espontaneidade e essas coisas. Eu me fodia. Quer dizer, eu fodia menos que os meus amigos. Paciência...
Então já era hora de assumir: o problema é você mesmo. Parecia uma grande sacada, mas nem era. Apenas um idiota diante do abismo tentando ser sincero: - Deus, perdoai-me, eu sou idiota. E Deus ria seu riso de Deus. Um riso tremendo e fatal. O idiota ficava impressionado e caia no abismo. Deus ria ainda mais. Eu era o idiota.
Não tinha milagres. Havia, no máximo, equilíbrio nos humores. Assim: eu cedia, ela cedia, eu era generoso, ela era generosa. Amor não é bem isso. Quer dizer, pode até ser, mas, definitivamente, não é SÓ isso. Mas eu dizia 'eu te amo' e ela 'eu também'. Imaginava que dali a alguns anos ela estaria perfeita. Ela devia imaginar o mesmo de mim. Justiça Divina, em outras palavras.
Depois? Ah, toda a raiva acumulada e falta de sexo realmente satisfatório. Estou falando do tio Reich dizendo: "Gozar é fácil, gozar bem é que é difícil". Claro que o tio Reich falava disso de um jeito mais elegante, algo como descarga orgástica... não... potência orgástica, ele dizia. Tio Reich sabia das coisas...
Por ora apenas eu. E meu pau - que sou eu em variação de duro, mole e meia-bomba. Por ora eu e meu amor, ops... eu deveria estar falando de vinho e transcêndencia... foderia mais que eu sei. Mas, sabe cara?, é que eu sou muiiito sincero...

3 de outubro de 2010

mideliron

Eu sentado, vendo as coisas, penso que a putaquepariu é um lugar para se chegar. O FODA-SE regendo uma vida que sabe que viver é uma palhaçada confusa e importante. Porque a vida bate na bunda e tem muito talvez e bom senso, e também loucuras e euforias. E dá sempre empate. 1x1 ainda me soa melhor que 0x0, mas, claro está, isso é só um julgamento moral.
Mundo comezinho... cheio de namorados angustiados, mulheres masculinas e animais treinados para competições diversas.
Sou bobinho e tenho sonhos de pureza, eu confesso. A justiça como se a justiça existisse. Deus barbudão e contando histórias. Deus cheio de perdão e compaixão. Deus com respostas pra tudo e simpatia de Sr. Miague do Karate Kid na sessão da tarde.
Eu me sentava no sofá e era o Daniel San. Eu achava incrível a superação e gostava de ver ele porrando os caras no final. Era A JUSTIÇA. E a garotinha beijava o Daniel San na boca e o universo era lindo como um astrolábio. Justiça... maravilha.
Mas nunca mais vi sessão da tarde com aquela paz. E os filmes da sessão da tarde agora são bem diferentes dos de antes. Nem melhores e nem piores, apenas distantes.
Afinal quais são os filmes da sessão da tarde hoje em dia? Não sei responder, mas imagino a Julia Roberts em um deles e acho que a namorada do Daniel San era bem mais bonita.

eu e meus dez dedos.

Roer o osso e ver as pessoas. Elas estão vivas e respiram. Poderia ser um milagre, mas não é. Na multidão de rostos engraçadinhos apenas dois se destacam: a moça à minha frente que usa blusa rosa e a mais simpática do oeste que parecia me conhecer, mas não me conhecia e ria e soltava gritinhos sem me irritar.
Sou simpático. Dou olá e dou adeus. Falo apenas com quem devo. E ouço e falo. E papo bom é pra poucos e raros. Sem desperdício, em outras palavras.
O álcool é um azeite e sorrimos. Estamos felizes, estamos tristes. Catamos nossas conchinhas e choramos pelo o único sofrimento real: estar vivo. E sorrimos pela única coisa chata: deixar de estar vivo. Marionetes usando as bebidas e a fala. Planos e países incríveis: sorrisos e desesperos de mão dadas.
Minha casinha e rádio uol. Música clássica e torturas em notas geniais. E também mistérios, tesões, tédios, perda de tempo e esperanças vãs.
Somos tristes, mas vivemos bem. O coração, a mente e o pau após o esporro. Vazamos, vazamos sempre. Há uma constância de qualquer forma... coerência torta e fatal.
O berro mais frágil e mais bonito, a criança mais feia e mais amada... a música cheia de notas loucas e climas terríveis... o tesão... o tesão...

1 de outubro de 2010

relatinho.

  • Fechar os olhos e sentir o gosto do whisky na boca. Lembrar dos sonhos que existiram. Das promessas de amor, das fodas perfeitas, da sopa de um dia de inverno. Era estúpido e feliz. Pra sempre... o riso e as repetições que confirmavam o sentido. Tão bom saber, de antemão, como ela reagiria.
  • A megasena à 76 milhas. Ficar milionário deve ser um problema. O que fazer quando você pode fazer tudo? É indecente... tão mais fácil ser obrigado a sobreviver, se sustentar e suar pelo pão. A alegria mais genuína: animas satisfeitos com o próprio suor. Quem entende?
  • Conversando com amigos vejo que os artistas são uma gente fudida. Sempre esperando, sempre achando que, cedo ou tarde, AQUILO virá. A vida real arranhando nossas costas e endurecendo nossas articulações. Crueldade de mãos dadas com os sonhos. É insuportável. E, no caminho, a desistência de gênios incompreendidos. E tanto faz se fossem gênios ou não. A desistência lá: tornando amarelas as páginas escritas, fazendo a boca do cantor ficar torta, deixando rouca a soprano... essas coisas.
  • A auto-critica nociva e perturbadora. Bem mais simples dizer: faz e depois vê. Habilidade distante, gente distante, mundo distante. Qual a vantagem de saber do erro e da farsa? A verdade é que não tenho a elasticidade suficiente pra chupar meu próprio pau. E as opções são poucas: ou isso ou a cegueira. Desconfiar de tudo é uma prisão.
  • Nunca mais uma foda genial após um domingo bêbado. Assim: prepara almoço, resolve beber com o almoço já pronto, bebe e fala, bebe muito e fala muito, resolve-se trepar e trepa-se bêbado e insano num domingo lento, daí dorme e acorda às 17. Esquenta-se a comida e come como só a ressaca e o pós-sexo incrível permitem. Há paz. Ver Fantástico pode ser uma bênção.
  • Senta o cu e escreve. Faz de conta que a vida não é real. Escreve. Faz isso por horas. esquece a merda e a vida real e também os idiotas que ganham dinheiro mais por capacidade social do que por competência. Ignora o real simplesmente porque o real não presta e nem é justo. Seja egoísta, mas não faça concessões pra si próprio. Se quiser ser vegetariano, seja - mas não ache que está contribuindo para a melhora do mundo.
  • Deixar a platéia ouvir o bolero de Ravel no escuro será a próxima cena da peça que não fiz e que talvez nunca farei. A evolução lenta bem lenta. A luz vindo lenta bem lenta. Em cena só uma garota com um cesta de flores na mão e dois caminhos pra escolher. Enquanto a luz e a música evoluem, a garota apenas olha pros dois únicos caminhos que pode pegar, mas não consegue se decidir. Quanto mais forte é a luz e a música, mais indecisa ela fica. Subornos e vantagens aparecem de um lado e do outro. A indecisão só aumenta.
  • A chuva acalma os otários e eu estou entre eles. Sinto-me bem com o barulho da chuva e também com a tarde cinza. Parece provar alguma coisa. Bobagem, eu sei. Mas saber que algo é bobagem não quer dizer nada. A gente gosta da merda e têm piedade. A gente é legal e educado: damos beijinhos ao nos encontrar.