9 de maio de 2010

o gosto metálico do bourbon

(é tudo sobre mim e minhas mentiras)

Ela gostava de falar coisas tristes e desesperadas na minha frente. Ela chorava falando dessas coisas na minha frente. Eu ficava com tesão. Meu pau ficava duro com ela chorando. Eu até me reprimia, pensava ser doentio ter tesão numa mulher que chora. Meu pau duro contra mim. Ela chorava e os olhos ficavam lindos. Eu a abraçava e passava meu rosto no seu rosto. Para sentir as lágrimas. Meu pau duro, ereção de rocha. Eu tentava lamber as lágrimas. Quando conseguia ficava com mais tesão. Ela notava, mas não comentava. Suspirava por causa do choro. Eu queria entrar nela. Dizer: - chora com o meu pau dentro de você. Mas eu não tinha coragem e ela não entenderia. Falaria que eu era sádico, que eu gostava de provocar dor. Ela me entendia mal. Falava que eu era "burguês". Isso mesmo: "burguês". Ela usava essa palavra velha e sem sentido. O choro era sempre o mesmo: - ninguém me entende. Eu entendia. Quer dizer, entendia porque ninguém a entendia. Ela era confusa. Ela mostrava seu pior para ser aceita. Ela mostrava sua raiva e sua indiferença e depois perguntava: - deixou de gostar de mim, não deixou? Perdeu o interesse, não perdeu? Eu não sabia responder. Eu não tava pensando nisso. Não pensava se gostava ou não, se estava apaixonado ou não. Eu só pensava: - por que ela age dessa maneira? Às vezes eu queria transar apenas para que nada fosse dito. Muita coisa era dita, tudo era dito. Mas a gente não chegou a trepar direito. Ela tinha pressa e usava o dedo. Eu com medo da camisinha, meu pau derretendo no látex. Se ela tivesse chorando. Se ela tivesse chorando com meu pau dentro dela. Meu delírio era um orgasmo. Orgasmo dela. Não aquele orgasminho tenso e agudo que eu vi 2 ou 3 vezes. Queria o Orgasmo. Ela e eu com medo da morte. O ritmo perfeito, a evolução em sintonia e um pau e uma buceta recriando o big-bang ancestral. Talvez se ela estivesse chorando. Talvez se não precisássemos do álcool para forjar intimidade. Sem contar os cigarros e as agressividades ditas em tom charmoso. Era velho. Não havia entendimento. Havia desejo de entendimento. Desejo. Desejo fraco, na verdade. Falo por mim. Eu queria, eu gostava. Mas não à ponto de. Difícil explicar. O que acontecia me bastava. Se continuasse acontecendo seria bom. Não tinha nenhuma certeza, mas topava. Alguma conveniência. Sexo, ternura, porres e papos. Café da manhã. Se houvesse paixão, haveria. Se houvesse amor, haveria. Eu não tinha planos. Nem teria como ter. Na minha cabeça era apenas deixa acontecer. Não digo não e não digo sim. Deixa acontecer. Eu deixava. Eu acho que deixava. Dela eu não sei. Não sei o que passava na cabeça dela. Às vezes ela falava coisas estranhas como: - se eu te pedisse em namoro, você aceitava? Mas era só estranho. Não havia nada nessa pergunta. Era apenas um outro jeito de dizer "burguês". Eu não entendia. Até achava graça. A confusão dela tinha seu charme. E também sua extravagância e medo. Ela tinha medo. Não de mim. Tinha medo porque tem medo. Medo generalizado, sem foco. Medo quase bonito. Medo antes de mim e depois de mim. Medo que não me incomodava e não me dizia respeito. E até isso, o medo, é invenção minha. Não é coisa pela qual poria minhas mãos no fogo. Porque não sei, não sei mesmo. E não topo tentar descobrir. Era pra ser mais simples. Mais "burguês" como é "um dia após o outro". Não vai ser. Não era pra ser. Há chuva, nostalgia, domingo e rádio cbn. O que não se explica, a gente escreve. Mais pela vaidade da escrita do que pela possibilidade explicação.

O sofrimento como bibelô

Cria-se uma situação onde se provoca o próprio sofrimento. Pode ser uma coisa simples e reta. Até decente, eu diria. Mas, do alto da minha torre Caga-Regra, eu sentencio:
  1. o imbecil cria sofrimentos para se sentir vivo,
  2. ao que sofre sente que a vida existe e,
  3. moto-continuo, se torna dependente da dor causada pelo sofrimento.
E, da minha torre Caga-Regra, eu resumo: o imbecil esquece que foi ele quem criou o sofrimento, e pior: esquece que criou o sofrimento para se sentir vivo, ou seja: usa caminhos tortos para sua própria invenção.
Em outras palavras: uma confusão dos diabos.
(É como bater no próprio corpo. Dá certo. É eficiente. As porradas fazem a gente lembrar que o corpo existe. Mas, daí, precisar das porradas para saber que o corpo existe é, no mínimo, uma estupidez.)
O problema do imbecil viciado em sofrimento é que ele esquece que 90% dos seus sofrimentos foram inventados por ele para se sentir vivo. (E, que fique claro, se sentir vivo não é simples. Se sentir vivo é o que, às vezes, chamamos de felicidade).
De forma que digo que o imbecil até procura um treco nobre e compreensível, mas o imbecil erra ao esquecer que é ele, e só ele, quem inventa suas próprias mentiras. E inventar as nossas próprias mentiras é toda nossa liberdade.
Ou Livre-Arbítrio - que grego algum acreditaria nessas palhaçadas...