13 de julho de 2010

pós - parto?

os cachorros estão rosnando, dentro e fora de mim. eu vou fazer de conta que eu não me importo. meu desejo é não me importar. ser um velho canalha que trata mal todos tirando proveito da velhice. velho que rouba lugares sentados em ônibus. por agora deixo os cachorros rosnarem e ofereço carne. carne velha e podre. que eles ocupem seus caninos com essas carnes. eu tô fora. eu sou chato e acho tudo uma chatice. ouvi parabéns demais pra acreditar em parabéns. eu não quero nada ou quero a glória. exercer simpatia me cansa, como se assim eu antecipasse a morte. não quero conversar com ninguém. quero apenas saber como termina a batalha do velho com o peixe no livro da vez. quero dormir enquanto eu leio e não quero sonhar com boquetes, bucetas ou mortas que ressuscitam. quero uma casa de onde possa ver o mar e um emprego público e medíocre. não quero mais desejar grandezas e sonhar. foi só que fiz sempre. eu mesmo. meus dedos querendo apontar pra frente e meu maxilar travado. o mundo, meu velho inimigo. provando que ser legal é mais importante que competência, mostrando que todo bem sucedido é apenas dono de uma rede de amizades influentes. eu desejei grandezas por tempo demais. estraguei minha vida assim, perdi tempo assim. quero apenas um jogo de cartas e carne assada aos sábados. entrar na merda profundamente. a ponto de se confundir com ela e parar de pensar. quero dormir. quero dormir 19 horas por dia e não ter sonhos ou pesadelos. 5 horas acordado com talvez 5 min. que valham a pena. impossível suportar a vida real. impossível ter esse blogue tacanho que tenta, em vão, substituir a terapia e os calmantes tarja preta. quero sumir e não dar nenhuma satisfação. ser aquele que desapareceu e que nunca mais foi visto até o esquecimento completo. como se eu pudesse morrer sem ter nascido. como se num estalo eu pudesse desaparecer. só importa o velho e o peixe. a luta real. a única luta real. que só sobra a repetição. minha, do mundo e de todos. repetição que perdeu a graça quando fiz 25. repetição que insistirá até o dia fatídico. é fácil reconhecer a merda espalhada. raro é perceber a merda que não vale a pena durante a cagada.