8 de dezembro de 2007

Sobre inferninhos.

Os inferninhos têm regras simples: não pode dar dedada.
Mas toda vez que vou à um inferninho com um novato a mesma coisa se repete. Foram apenas duas vezes, mas o padrão é óbvio.
Num inferninho quem manda são elas. Não tem que discutir isso. Não tem que se questionar as autoridades de um inferninho.
Quando digo inferninho quero dizer boates que têm show. Não são puteiros em que você chega, escolhe e vai embora. São lugares onde há danças e charmes. Lugares que você bebe e conversa entre um show e outro.
Quem me iniciou nessa vida foi o Túto. Um velho amigo de infância que tinha tios que o levava à inferninhos desde os 13. Se não me engano ele até ganhou uma mulher de aniversário de algum tio. O Túto pegava mais mulheres que nós. Tem uma idade que isso faz uma puta diferença. Tinha até uma lenda do Túto: ele já teria sido chupado por um travesti, mas teria broxado. Era uma lenda que nós, amigos do Túto, falávamos, mas que era meio ofensiva pra conversar diretamente com ele.
Seja como for, o Túto era um especialista. Mesmo mais velhos e já pegando a mesma quantidade de mulheres, ele era mais habilidoso que nós nos inferninhos. Tinha vez que depois da balada ele parava o carro e pedia 5 min.
A gente esperava no carro e ele voltava:
- E aí?
- Legal. Ela era ruiva.
- E aí?
- Porra. Melhor que punheta.
E a gente ía bater um dog antes de dormir.
Eu já nem convivia mais com o Túto, mas, volte e meia, me enfiava num inferninho. Eu sempre gostei daquilo, mesmo nunca sendo um putanheiro profissional. Sempre fico meio tímido e nunca trepei com nenhuma menina. Eu sempre pergunto coisas estúpidas pra elas:
- Gosta daqui?
- Ninguém gosta daqui, nénem...
E eu ficava lá enquanto meus amigos conversavam com elas no colo e tirando um sarrinho aceitável.
Mas, mesmo sendo assim, nunca fui amador. Logo de prima eu entendi certas coisas. Um tipo de funcionamento que esses ambientes têm. Regrinhas pra facilitar. Você responde quando é perguntado, etc. Regras simples. Você parte pra cima quando é abordado, etc.
Mas então teve a 1° vez que fui com um amador. O nome dele era Mikail. Era um bonitão desses que não comia carne e que tocava violão e curtia a natureza. Era um cara legal, embora fosse óbvio. Ninguém pode ser culpado por ser filho de hippies, não é?
E num inferninho nem todos são bonitinhos, ainda mais num dia de semana. As meninas sempre estão lá, independente de tudo. E nesse dia, uma quarta se não me engano, havia um show de 'briga de aranha', onde várias meninas dançavam nuas e se roçavam. E no show, na apoteose final, elas chamavam alguns homens pra dançarem. E é claro que o Mikail foi chamado. E é claro que o Mikail era um amador. Ele já tinha deixado isso claro quando ele tinha me dito de uma menina com quem ele tinha conversado:
- Pô, ela tá aqui há apenas 3 meses. O marido dela a largou e ela não tem ninguém. O marido batia nela...
- É, Mikail, é dureza.
E ele tava lá: no meio do show com a mulata mais gostosa de Curitiba. E ela era um destaque entre as outras. Ela ocupava o meio. Rebolava e mostrava a bunda num patamar mais alto. E rebolava nele e pra ele e não deu outra: o amador atacou com 1 dedada. Eu vi ela falando algo no ouvido dele, mas ele não deve ter entendido porque logo outra dedada apareçeu. Ela começou a dançar com raiva e as outras meninas se aproximaram e afastaram o Mikail de lá. Afastaram com muita elegância, mas ele bancou o ofendidinho pra nós:
- Pô, ela tava me regulando. Tava com aquele cu aberto na minha frente e disse que não podia dedar...
- É, Mikail, é dureza.
- Pô.
O 2° amador foi muito parecido, tirando o fato que nesse inferninho o show era sobre demanda. Ou seja, você tinha que pagar uma grana pra ter o show que, por sua vez, era feito pra você - único e exclusivo. Você se tornava o objeto do show, embora todos pudessem ver era VOCÊ o privilegiado: os melhores ângulos, a bunda rebolando na sua cara, etc.
E lá tava o 2° amador e, como tinha pago, tava cheio de autoridade. A menina rebolava e se aproximava. E, como era uma show pago, a menina roçava mais que o normal. Tudo certo, é justo que seja assim nesses inferninhos que funcionam desse jeito.
Mas o amador tava lá e fez o óbvio que o amador faz: dedada. O resto do show foi pra bater cartão. Ela dançava perto dele, mas sempre se afastando, sempre pronta pra fugir. Um show que era bom e que ficou xôxo por causa do amador. Os habitués da casa, quando viram a dedada, fizeram 'não, não' com a cabeça. Os habitués sabiam que o prejudicado era o amador. Ele mesmo e mais ninguém.
O comentário foi parecido:
- Caraca, meti o dedo nela...
- É...
- Ela disse pra eu parar, mas eu não parei...meti o dedo...
- É.
To esperando o 3° amador que cedo ou tarde vai aparecer. Ele vai tentar o mesmo e vai se impressionar com o mesmo. Eu só me pergunto se esses caras dão dedadas em todas as mulheres que pegam. Eu imagino que tavez sim. Eu imagino isso e fico satisfeito. Gosto de não me sentir um amador.

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É claro que eu não vou agüentar. É óbvio que não. Vou fraquejar logo. Já pressinto já noto já antecipo. Minha tática é não pensar, mas nem sempre dá.
Sou antigo, já disse. Sou antiqüado. Há qualquer coisa que me escapa. E o que me escapa eu detesto. Detesto. Gosto de controlar. Gosto de controlar eu mesmo e gosto de controlar os outros. Não sempre, mas em certos casos e em certas datas e certas noites.
Mais um café e terei mais clareza. Com o 1° eu preparo o ventre pra cagar: o calor da bebida preta fazendo pressão nas entranhas. O 1° cigarro vem junto com a merda e já me sinto bem melhor. Depois o 2° e o 3° café que vem acompanhado do 2° cigarro. Eu gosto disso, dessa rotina. E eu gosto porque eu controlo. Eu sou simples. Sigo regras simples que eu mesmo invento.
Agora é o último cigarro antes de tomar banho. É durante ele que eu escrevo quando eu escrevo de manhã. O dia parecer estar perfeito, tudo lento e controlado que é como eu gosto.