30 de março de 2009

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Agora bebo vinho por dica de mamãe. Ela quer o bem da minha pança e tudo certo. Curitiba é fria e aconchegante. Acredito mais nisso do que naquele maldito calor carioca, embora beber cervejinha no Coimbra seja mais familiar.
A semana foi cheia de migalhas gordas e tudo pareceu ótimo e belo. Aquela satisfação inexplicável que o teatro dá. No último dia havia umas 200 pessoas. E olhei pra elas atentas e elas olhavam praquilo sérias e calmas.
Pensei na satisfação que o teatro pode proporcionar pra quem o faz. Você não se sente útil fazendo teatro, mas se sente satisfeito. É estranho e agradável. E provavelmente é muito diferente do que sente um médico ou um juiz. Mas tudo certo, já que os médicos ainda se vestem de branco e os juízes aplicam as leis.
Agora é estar por aqui e ver o cu fazer bico.
Seja como for, cada um tem sua fuga na manga. Uns inventam novos sonhos e outros insistem no mesmo. Questão de gosto.
Particularmente ainda prefiro as obsessões.

19 de março de 2009

então acontece.


e é sempre assim. e não sei, e não sei mesmo, se isso é bom ou ruim.
tava numa sequência ruim de ensaios. aquela desgraça de sempre: você, e seus parceiros, reconhecem que aquilo não tá como deveria estar, mas você, e seus parceiros, não sabem o que fazer.
nós contemplamos a merda juntos. e acho isso uma virtude admirável.
um dia ponho essa imagem numa peça: 5 idiotas sorridentes que olham prum grande cagalhão como se dalí pudessem tirar a esperança.
meu barato com teatro (e com arte de maneira geral) passa por aí: um esforço incrível pra descobrir o que pode surgir de Realmente Importante de um imenso cagalhão.
parece uma coisa subjetiva, mas não é. quando você tá nessa situação de artista, de quem quer fazer arte, isso é claro e calmo e, mais que tudo, a única possibilidade real de fazer algo Realmente Importante na merda da vida.
(confesso que pra escrever o parágrafo anterior fiquei cheio de dedos. essa coisa artista é um perigo. e sobram idiotices que usam arte como justificativa. e também idiotas que por não saberem viver acabam por se dedicar à arte. de forma que isso é mesmo uma sinuca de bico e que, embora seja arrogante, eu também enfio o dedo no meu próprio cu. é uma defesa, claro está.)
mas volto:
o ensaio hoje aconteceu e, finalmente, meu pau tá duro.
o merda disso é que é isso, isso-mesmo-um-bom-ensaio, que me alimenta. me sinto tão bem que seria capaz de achar a lua estonteante, seja lá o que isso quer dizer.
e hoje a gente se entendeu e aquele sentido maluco de dever cumprido da maldita lógica cristã se fez e, portanto, proporcionou a única paz possível em que realmente acredito:
- é ruim, mas tá bom.
- a pérola no fundo do copo.
- coragem não é ausência de medo.
- solidão nunca dependeu de companhia.
- ri quem tem dente, chora quem pode.
- esperança não precisa acontecer, precisa esperar.
- quem não tem mãe, caça com rato.
- melhor tá vivo que tá morto.
- um pássaro na mão, uma gaivota na cabeça.
- 5 tiros, 4 acertos e 1 solução.
- de nó apenas a corda.
- o máximo da vaidade é o suicídio.
- 3 ferraris e uma pista.

18 de março de 2009

j.

Minha querida J, minha única tara real, me diz sobre como viver e sobre a beleza de se fazer e conquistar coisas por aí.
Eu concordo em tudo com ela e eu lhe tiro o chapéu e reforço minha tara.
J é admirável e elegante. Come batatas fritas em duas mordidas e tem um sarcasmo que, quando não perde a mão, é de um charme irresistível.
Lembro do amigo macumbeiro da minha mãe que disse, como quem está em transe:
- J é tudo que você precisa. Nunca perca J.
Amigo de mãe é quase tio ou tia. A gente ouve mesmo quando não escuta.
E J quer ter um cachorro e (disso só eu sei) tá com um infernal instinto maternal.

16 de março de 2009

ui.

Apenas eu na minha solidão fraco e cansado. A única tristeza real é um ensaio ruim e a cabeça funcionando mal e lerda. Preciso de bons ensaios agora: questão de ego, sobrevivência e prazo. Daqui há uma semana a água estará na bunda e os anões morrerão se não aprenderem a nadar. Feliz ou infeliz é sempre passageiro. Ou mesmo questão de estilo: felicidade acontece na merda e infelicidade acontece na glória, tanto faz.
Seja como for, o tempo é veloz e concreto. Um dia depois do outro até o suspiro final. E que eu tenha a competência de não culpar o mundo pelas minhas próprias desgraças, é minha oração.

15 de março de 2009

*


porque meu saco balança todo dia de manhã
e penso em fazer exercícios
e comer melhor
e beber menos
e até fazer novos amigos.
e tenho a Internet
e o telefone
e, mesmo assim, fico aqui,
cá comigo,
já que sou o único
que não posso evitar.
e ainda me prefiro
à maioria dos outros
e acho coerente
achar isso.
e todo domingo
é lento e terrível
com ou sem companhia.
e apenas aos domingos
eu lembro do que eu não tenho
e daquilo que eu desejo.
e percebo o lapso
entre um e outro
e sorrio besta
sentado no bar.
e o inferno é quente,
e a loucura é grande,
viver, pra mim,
nunca será simples.

14 de março de 2009

o mundo é cheio de gracinhas.

mandei uma carta prum ilustre desconhecido e recebi isso:
-
hoje é o pior dia da minha vida
terminei um namoro há menos de 24 horas
seu e-mail carta me ajudou
vc é carioca e é legal, olha que coisa
-
e ainda
há quem ache
que as coincidências são bacanas.

13 de março de 2009

''''''''''''

De noite eu acordo suando e tossindo como um louco. O acesso me tira o sono e, durante o banho, me masturbo como uma maneira honesta de extravasar as revoltas diárias.
As revoltas diárias existem. São necessárias pra mim e brotam sem precisar de muitas explicações. Lembro apenas de todos que não sou eu e me revolto. A limitação e a tristeza (e mesmo a glória) é que somos só nós mesmos e disso a gente nunca foge.
Não tenho medo da vida, embora muitas vezes não faça ideia do que eu devo fazer. É que tem essa coisa ancestral e perturbadora que me martela. Porque um dia falaram sobre o trabalho que dignifica o homens. Porque, quando morei com a minha vó, notei que fazer é, muitas vezes, o único sentido da vida. E porque, ao mesmo tempo, tenho uma consciência má que me deixa claro que todos esse excesso de atividades é mais desespero do que paz.
É simples: quando não se tem pra onde ir, você pode ficar em casa ou ir pra vários lugares. As 2 opções apenas confirmam que você não tinha pra onde ir.
Não me acho arrogante, mas me acho vaidoso. A arrogância precisa de outros e a vaidade se basta no ato de lamber o próprio rabo. Por essas sou mais vaidoso que arrogante. Minha platéia é meu próprio delírio e o que eu vejo, apenas eu vejo, já que essa é a vaidade máxima que posso ter. Não me considero o dono da verdade, mas me adoro e até me amo - justamente por ter a pretensão de nunca participar dos chás e almoços com gente que nunca me interessou.
Organizo minha vida através de livros e filmes. Não vivo bem, mas essa pretensão eu, graças ao bom deus inexistente, eu nunca tive. Vivo como eu tenho vivido: reclamando um bocado, mas no fundo falando só sobre mim mesmo.
O nome desse blogue é mais sério do que imaginam as 5 cabeças tolas que acompanham o que eu escrevo.
Apesar das aparências imbecis, eu acredito realmente na doçura e na delicadeza. Acredito em relações que se estabelecem a partir disso e acho, acho mesmo, que tais relações devem ser conquistadas e preservadas. Nunca de um dia pro outro, nunca por um verão, mas por uma coisa lenta que faz com que, finalmente, você veja o que está além da casca.
Além da casca é tudo que importa. A sujeira tem cheiro e, portanto, é logo percebida. A sujeira se limpa e fica tudo claro e aparente. A sujeira sempre é circunstancial e apenas por isso o sujo não me choca.

12 de março de 2009

a culpa não é do mundo.

Gosto de ouvir as histórias de outras pessoas. Me comparo com aquilo. Penso no que me aproxima e no que me distancia dessa gente. Essa gente que é todo mundo: amigo intimo, desconhecido de bar, caloura de teatro, etc.
O fato é que eu julgo as pessoas. Sempre e sempre. E julgo mesmo, sem ter medo de cortar ou salvar uma cabeça. A chance é a mesma e o único risco é eu estar errado.
Claro que não gosto de estar errado. Nenhum idiota gosta de estar errado. Mas acontece e é normal.
Quando estou errado contraio minha boca e digo a-ham.
Quando não estou errado abro minha boca e digo a-ham.
Merda velha, se é que não fui claro.
De forma que agora, depois de explicar, vêm as histórinhas. As adoráveis e criativas histórinhas:
  • com muita elegância j me desafia. E o jogo entre nós é bom. Ela diz a e eu digo b. O resumo disso não é nada, além da certeza de que j e eu somos ótimos parceiros, mesmo que pra essa bobagem gratuita, tola e sem explicação.
  • r sempre me enrola. sei lidar com r porque lhe dou o prazo da enrolação. depois do prazo da enrolação ligo pra ele e digo 'filho da puta'. tudo é simples e sem frescura. xingar os bons amigos é questão de dignidade.
  • s me procura e diz que desistirá. eu digo que ela que sabe, mas que acho que não deve. ela concorda comigo imediatamente e diz que por isso que ela precisava falar comigo. é bem claro: ela já sabia o que eu falaria, mas, mesmo assim, prefere que seja eu quem diga o que ela já sabe.
  • r2 me diz pra eu ser mais tolerante. diz que confusão é normal nessa fase. eu brigo e digo que não, que confusão não quer dizer sinceridade. r2 me xinga e sai. parece que nunca mais falará comigo, mas amanhã ou depois conversamos de novo.
  • a me conta tudo. faço o mesmo papel que ele faz. digo 'calma', digo 'espere'. a e eu temos nossas razões, ainda que por outros motivos.

10 de março de 2009

quando a escuridão acalenta


É bom sentir a lentidão nos poros.
É bom lembrar que você era diferente
há uns anos atrás.

As coisas mudam sim,
mas as mudanças
nem sempre
são importantes.

O bom é apenas mudar,
sem preocupação
com se tornar melhor
ou com ser feliz.

Olho aquela foto e penso:
era eu ali,
eu mesmo,
como sempre fui
e distante do que sou
hoje em dia.

A gente é tanta coisa,
a gente pensa tanta coisa,
e tão pouca coisa
realmente importa.

Quando eu era babaca e adolescente
eu falava pra todo mundo,
sem saber o que eu falava.
E repetia porque eu queria parecer inteligente:
"ser sincero contradizendo-se a cada momento".

E a frasezinha do Pessoa
tinha seu impacto
e fazia umas garotas
abrirem as pernas
pra mim.

Hoje já não me interesso
pelas garotas
que se impressionam
com a frase deveras genial.

Apenas observo o mundo,
mais ou menos como sempre fiz,
e repito a mesma frase,
mas apenas pra mim mesmo.

Talvez eu seja mais honesto,
talvez eu seja mais triste,
tanto fez e tanto faz.

A vida lenta nos poros,
a calma possível
e o conta gotas fatal
dizendo baixinho:
- sim, sim, continue.

9 de março de 2009

()

Minha antiga ex namorada sempre me falava dos benefícios da agua de coco para a flora intestinal. Deveria ser o 1° líquido a ser ingerido, segundo ela. Antes do café, ou mesmo da água comum. Ela dizia, também, que o cocô começava a sair lisinho se você fizesse disso um hábito diário. Lisinho, ela me explicou, era quando o cocô saia assim, sem força e nem mole nem duro, quando você tem a impressão que cagou tudo que tinha pra cagar.
Bem, tudo isso porque estou bebendo água de coco. Não fui rigoroso e tomei café e guaraná antes. De qualquer maneira o faço pelo bem da minha flora intestinal, pois no fim de semana as cervejinhas foram muitas.
O problema da cervejinha é que ela estufa a barriga. Não tenho problema com a gordura. Sou gordo desde que me conheço por gente e tenho me virado bem assim. Agora essa coisa da cervejinha estufar tão rapidamente é algo que me incomoda. É quase de um dia pro outro.
Saquei que minha barriga tava estufada no sábado quando usei calça jeans. O maldito botão apertando meu ventre. Quando tirei a calça tinha uma bola vermelha um palmo abaixo do umbigo, quase dava para ler a marca da calça.
De modo que, nessas decisões de segunda feira, resolvi que ficarei uns dias sem as cervejinhas. Será duro, mas é pelo bem da minha adorada calça jeans. Sou um tipo que prefere largar temporariamente as cervejinhas a ter que comprar uma nova calça jeans. Só de me imaginar numa loja sinto arrepios. E essa coisa de abrir o botão toda vez que sentar me parece muito decadente. Tenho lá o meu bom senso.

6 de março de 2009

-

(com a carta na cabeça e depois de ver o grande filme 'na natureza selvagem')

É quase uma gilete no meu cérebro. Porque tem gente que realmente sabe lidar com a vida. Pra mim isso sempre foi estranho e difícil. Só consigo organizar as coisas lendo, escrevendo ou vendo filmes. E organizo assim, dentro de mim, porque um livro ou um filme, é um mundo acabado e organizado. E isso me fornece uma paz que eu nem sei explicar. Nos ensaios isso também ocorre, mas é diferente. Nos ensaios me sinto exausto se paro por 5 min. É uma guerra íntima que eu faço alí. Força, muita força, pra tentar entender aquilo (atores, teatro, texto, comunicação diretor/ator, etc) de um outro jeito, num outro nível. Não sei explicar, mas é aquela coisa de alterar a própria percepção, aquela coisa de buscar um viés artístico que dê conta de toda essa confusão que chamamos de vida. Porque têm umas coisas que dão conta disso. Minha ideia de amor passa por aí também. São bolsões de paz. Momentos (ou obras) carregados desse milagre que é pleno e autônomo. Quando o sexo vira amor, quando você consegue mostrar pro outro aquilo que já tava visível, quando, numa apresentação, você vê um espectador olhando com atenção total, quando você faz a pergunta pela milésima vez e, finalmente, consegue a resposta. E por aí vai.
Na verdade vivo mais por esses momentos do que pelo resto da vida. Esses momentos me parecem mais vivos do que a própria vida e talvez seja isso a minha obsessão.
E uma obsessão pode ser boa ou ruim. Pode te dar o infinito ou te matar antes da hora.

5 de março de 2009

relatinho.

Meu vizinho fortinho e patola me causa inveja. Ele anda pendendo para os lados e tem, como sempre ocorre, um cachorro muito parecido com ele: pescoço atarrancado, patas curtas e flexibilidade limitada.
Mas meu vizinho tem agora uma arma com a qual ele atira nos malditos pombos. É uma coisa que sempre quis ter, mesmo antes dele aparecer com esse 'brinquedo' eu já tinha perguntado pro meu pai se ele sabia onde eu poderia arrumar uma dessas armas de bolinha.
Só que a arma do meu vizinho patola é realmente profissional. Acho que é de chumbinho, mas não tenho certeza. É uma espingarda com mira e tudo, um escândalo.
O chato é que o brinquedo é novo e ele atira o tempo inteiro. Um estalo chato e abafado a cada 3, 5 min.
A vantagem é que deixo minha roupa de cama no varal sem nenhum receio de que ela seja cagada.

2 de março de 2009

Sobe-se.

De novo apenas eu na casinha verde. Um pouco melhor, com novas estantes e com minha solidão doce e amarga ao mesmo tempo. Ter mãe é terrível. Terrível é aquilo que te causa encanto e espanto ao mesmo tempo.
(E noto que escrevi 'ao mesmo tempo' duas vezes. e acho isso curioso e triste. porque 'ao mesmo tempo' é a regra geral e eu sei [e alguns dos meus] o quanto eu fujo dessa confusão da regra geral. porque a regra geral é chata por ser....geral. porque caço, bem ou mal sucedido, as coisas que fogem dessa regra geral. porque quero ser dono do mundo, mesmo que de um mundo pequeno. porque, e isso é uma confusão dos diabos, não quero achar errado não querer a regra geral.)
O fato é que mamis se foi e agora sou eu e apenas eu. Sem ser atravessado por nada, feliz por ter essa vantagem e louco pra que algo me atravesse. É mesmo irônico como estamos sempre insatisfeitos. E lembro do w. Allen e penso de novo: o bom da América.
Na insônia de ontem peguei um Rubem Fonseca pra ler e fiquei surpreso porque, na verdade, eu já li esse livro e não lembro de nada. Apenas soube que já tinha lido por conta da mania de riscar os livros que peguei da minha . E fiquei surpreso pelos meus grifos e grifei coisas completamente diferentes do que antes havia grifado.
E também fiquei horrorizado pela minha falta de memória. Mas isso superei quando lembrei da história de memória de elefante - que é um paquiderme que volta pro lugar onde nasceu quando 'sente' (um elefante sente, é isso?) que vai morrer.
Seja como for, lembrei que é mesmo muito legal ler literatura e que, de um tempo pra cá, tenho apenas lido teóricos malucos e/ou articulistas pops. O que não é ruim, mas completamente diferente do prazer de ler uma Estória.
Bem, bem,
blogue atualizado, casa vazia e caça de pérolas no mundo.
E também Seu Fonseca me dizendo baixinho:
" - aquele que procura pérolas deve mergulhar fundo"

1 de março de 2009

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A maravilha do mundo é ver essa canção no filme do homem aranha e descobrir que música é cantarolando num site que descobri hoje.