Agora elas andam com pressa e têm a maldita auto suficiência como dogma. Nem entenderam que a 'auto suficiência' da Marina Colasanti era objetiva e queria dizer apenas 'auto suficiência financeira'.
Elas radicalizaram. São tão auto suficientes que não precisam de nada e de ninguém. São todas órfãs - com pai ou mãe vivos, tanto faz - são todas órfãs.
Gozam sozinhas, trepam sozinhas, cozinham sozinhas, ficam doentes sozinhas, trocam lâmpadas sozinhas. E até falam sozinhas quando conversam com você.
Um dia, por puro acaso, pedi pra uma órfã auto suficiente: - me frita um bife? E ela me disse das opressões que seu sexo sofria, dos abusos que havia sofrido, da mãe que era traída pelo pai e de como os homens com os seus pênis achavam que podiam possuir tudo.
Eu insisti: - mas mesmo assim, me frita um bife?
Ela subiu nas tamancas e disse que eu era machista, que eu era um crápula, que era o mimadinho que queria ser servido, que eu não aceitava a 'nova mulher' e que o bife era o ícone de todo meu machismo enrustido. E ela ainda bateu a porta da minha casa dizendo que eu era ''mais um porco machista".
Eu queria um bife e achava coerente pedir isso à ela. Ela tão linda e gostosa, ela que dizia que gostava muiiito de mim. Pensei, inocentemente, que eu poderia, com ternura, pedir pra ela me fritar um bife. Mas ela não disse sim ou não, ela apenas me xingou com acusações da década de 70 e bateu a porta.
Contentei-me com salaminhos cortados por mim e salpicados com limão.
Até hoje, antes de dormir e depois da oração, lamento comigo mesmo: - era apenas um bife, era apenas um bife...