29 de novembro de 2010

Era sexta, mas poderia ser quinta.

- tesão é coisa pra criança. É simples: basta roçar o pau (ou a buceta, tanto faz) em uma quina de mesa.
Mas ela não me entendia. Dizia que eu nunca tinha tido tesão na vida. Que tesão é foda, que tem tesão que surge do nada e vira paixão, amor e sei lá mais o quê. Ela falava que havia vários graus de tesão. Tesão de amigo, tesão de amor, tesão de primo, tesão de cuca, tesão de... Era infinito os graus de tesão, ela me explicou:
- tipo os céus do Chico Xavier, tá ligado?
Eu não tava ligado. Eu tava bêbado. Eu tava satisfeito de estar ali. Eu queria conversar. Apenas conversar. Eu não queria discutir tesão ou Chico Xavier ou filmes de arte.
Conversar. Tão decente conversar. Um fala e o outro fala. Ninguém prova nada pra ninguém e as horas passam agradáveis entre uma cerveja e outra.
- quero ficar bêbada, cara! quero tomar vodka, cara!
- bebe aí.
- me acompanha?
- nem...
- chatinho você, hein?
Sorri balançando a cabeça. Não entendi nada de nada. Por que alguém que quer ficar bêbado precisa anunciar isso? Por que não querer vodka faz de mim chatinho? O mundo é complicado. Vodka deve ser mais legal pra ela do que pra mim. Vai ver eu sou chatinho. Vai ver eu deveria ter dito:
- pode crer, vodka-bayb.
As cervejinhas me bastavam. Eu não me incomodava dela beber vodka, cachaça ou o que fosse. Eu só não queria beber vodka, cachaça ou o que fosse. Era simples. Deveria ser simples.
- mó caído você não me acompanhar na vodka.
Minha cabeça balançava e eu sorria. Eu pensava que devia sumir, cair fora. Que é melhor ficar só do que ficar numa mesa com um mulher que acha que discussão é o maior barato.
Ela também falava "questões", "contemporaneidade", "geração Y" (ou "X", tanto faz) e, como não podia faltar, "transcendência" e "atitude zen".
Conversar. Apenas conversar. Parece tão decente. Não precisamos foder, não precisamos sentir tesão, não precisamos de questões. Conversar é uma coisa simples, não é?
- o que você não entende é que tudo, tudo mesmo, têm um significado. Não há acaso, há destino. Tudo fala. Seu corpo fala, sua respiração fala. Tá tudo conectado, cara... não há coincidência.
Eu fazia contas. Deveria ir embora assim que a vodka acabasse. Talvez pagar a conta direto no balcão e desaparecer. Talvez dar tchau e levantar. Eu precisava sair. Eu estava satisfeito, já disse. Mas precisava sair, sumir, etc. A saideira e a conta pedida direto pro garçom foram a solução. Sem consultas, sem histórias, sem "caras" e sem "caído" isso ou aquilo.
Vem a conta. Há um milagre no ar, mas ela se esqueceu que coincidências não existem. Ela tá no telefone e é a minha brecha. Deixo a metade do dinheiro, engulo meu copo e faço sinal pra ela de que "vou nessa". Antes dela falar me levanto e me despeço. Sou simpático e digo "até a próxima".
Na rua a vida volta a ficar boa, ter dinheiro pro táxi é outro milagre que ela não percebeu. Tenho whisky em casa e um maço cheio no bolso. Finalmente converso. O taxista é um cara bacana que gosta de música boa e têm uma foto da patroa no carro. Selma, o nome da patroa. Casado há 8 anos e continua apaixonado, ele diz.
- minha mulher é linda, tá vendo? Claro que é difícil, mas eu sou apaixonado por ela até hoje. Amanhã é dia da gente sair. Todo sábado saímos. A gente vai prum barzinho perto da área e fica bebendo e conversando. No domingo a gente almoça na casa dos irmãos dela.
- mas vocês nunca brigam?
- claro que a gente briga, pô... mas olha pra ela... ela linda ou não é?
Mexo minnha cabeça dizendo sim enquanto reparo nas belas sardas que a mulher dele tem. Digo que mulher sardenta é um charme e ele retruca sem nem pensar no que diz:
- não é? E nos peitos então...nossa senhora!!!!
Ele ri e eu também. Saindo do táxi eu solto um "bom passeio com a patroa amanhã". Ele diz que amanhã a coisa é séria, que vão num baile aí e que ele terá que dançar. Ele nem gosta de dançar, mas dança com ela, ele explica.
- as mulheres gostam de dançar, você sabe.
Resmungo um "sei, sei" e dou boa noite.
É sexta. É quase uma da manhã. Subo pra casa e lembro da Selma Sardenta.
Se ela tivesse falado sobre "tesão em sardas" eu teria entendido o que ela disse. Mas ela não falou sobre isso e eu não entendi.
É... devo ser mesmo chatinho.

27 de novembro de 2010

O-l-í-v-i-a.

Mirar o pau como quem vê um abismo.
E gosta do abismo e é amigo do abismo.
Mirar o pau porque assim se carrega a alma.
Diante do abismo há a buceta perfeita,
com flores e cheiros e orgasmos verdadeiramente violentos,
desses que na contração quase lhe arrancam o pau.
Abismos e mulheres que podem lhe arrancar o pau são como o próprio sentido da vida - e isso supondo que tal sentido que não existe, exista.
As flores aprecem sempre depois.
É decente.
Primeiro existir e só depois adquirir alma.
Porque sem alma não há abismo nem altura nem...
Alma.
Fetiche por almas retraídas ou por almas que têm medo de ser almas ficou pra trás.
Liberdade é outra bobagem que só se pode acreditar após certas coisas.
Como abismos, como bucetas floridas, como ataques de ternura quando a ternura ainda estava fora de moda.
Suportar-se à si
e dizer que o idiota diante do espelho
é você mesmo.
E sofrer um pouquinho,
e lembrar de nomes lindos,
e sonhar com as mulheres lindas que inventa
e que nem precisam existir.
Como um treinador de cães
que adora os cachorros
após muito treino.

25 de novembro de 2010

fifiti/fifiti.

Quiçá que seja
ou não seja.
E isso faz tempo
que tempo faz,
mas nunca me acostumo.
Culpa dessa vaidade
de querer mais.

Quem sabe com raiva,
quem sabe sem jeito,
quem sabe a palavra certa
acerte e seja nunca.
Ou sempre.

Quem sabe quiçá de repente?
Que também gosto de festa
e também sinto tédio.
Que há bucetas boas
e fumos de qualidade
e as noites lentas
onde mesmo o durante
provoca saudades.

Quiçá num dia cinza,
onde uma garota estrangeira
que não fale a minha língua
diga algo que eu não entenda
para dizer que a chance
é sempre igual:
erra-se bem
ou
acerta-se mal.

24 de novembro de 2010

o cretino com asas.

ele voa. e a cada três meses se manifesta. nesse caso, a cretinice é não saber morrer.
morrer decente, de terno, como foi o Seu Batata, pai do Tél. a vida inteira um bebum de chinelos.
mas no caixão a morte decente e formal: terno, algodão no nariz e mãos sobre o peito.
mas o cretino não. o cretino não entende nem mesmo que morreu e que, como morto, deve estar num caixão, desfrutando a paz gelada e inevitável de quem está embaixo da terra.
mesmo lá de baixo o cretino põe suas mãozinhas pra fora. é como um filme de terror b que se esquece do humor que ser 'b' deveria ter. mãozinhas em agonia que se levam à sério.
o cretino é isso. leva-se à sério e nem desconfia da estupidez que lhe é própria e percebida por todos. o cretino é puro e cheio de boas intenções.
ele dança, ele ressuscita, ele multiplica peixes e faz ressalvas sobre suas ações estúpidas. o cretino é sempre sincero e, ainda pior, sensível. ele sempre faz questão de dizer: sou muiito sensível.
quando ele tira férias, ele anuncia: vou tirar férias.
quando ele come sushi, ele diz: comi sushi.
quando ele participa de uma promoção, ele põe o site no facebook para os amigos desfrutarem: www.cretinofeliz.com e, na mesma hora, ele curti a si mesmo.
o cretino sempre curti a si mesmo, além, claro está, de compartilhar qualquer coisa com qualquer um.
quando o cretino morre, ele não morre. porque o cretino é eterno e sempre será. a cada aniversário de morte do cretino haverá uma festa. se há uma chance do defunto-cretino aparecer, ele aparecerá.
o cretino sempre aparece.
além de curtir à si próprio, ele é coerente: nasceu cretino, viveu cretino e morrerá cretino.
e... bem... para o cretino...a morte... - até ela - ... é apenas uma passagem.

22 de novembro de 2010

Os infernos são particulares e assim devem ser.

O mínimo de dignidade é isso: levar à sério os próprios infernos: sem excesso de simpatia e sem sorrisos abertos que não dizem nada.
Minha desconfiança com gente simpática demais é uma tônica.
Quem, que possua alma, confia nesse eterno otimismo TUDO LEGAL?
Prefiro o tio Buk que, como diz o Bortolotto (tio também), "descobre a pérola no fundo do copo".
E isso é gosto. E gosto, a gente sabe, não se discute. Só os chatos discutem tudo - incluso gostos.
Seja como for, peido alto e sinto o cheiro fabricado nas minhas entranhas. E isso é real e patético.
Cada um se protege como pode e vive como dá.
Eu entre idiotas é meu bordão da vez.
Participar do mundo não é virtude, é apenas (e apenas!) uma necessidade.

21 de novembro de 2010

Tesão por aí, né??

Todas as crianças me dizendo: como vai? como tá?
E sou educadinho e imagino que satisfação seria apontar a guria do bar e dizer: Tô comendo.
Igual a criança que fica satisfeita por ter o pai mais forte.
(Se isso existisse... se eu fosse criança... se as crianças fossem apenas fofas e nunca chatas... como se 'fofo(a)' fosse um adjetivo decente para adultos que já têm pêlos nas genitálias.)
De modo que confesso: orgulho mesmo era comer a Maiara. Não que ela seja a mais tesuda ou mais surpreendente. Apenas porque se a comesse sentiria esse orgulho de macho que aponta o dedo e a pica na mesma direção.
Maiara, meu amor. Você me dá? Fica de quatro apenas pra eu ver? Nem ligo pros seus ex e seus filhos.
Maiara de quatro, Maiara eu te amo.
Sou um tipo bem comum, afinal.
Idiota entre iditotas: nós dançamos forró, gostamos de sambinhas e preparamos feijoadas para o casal de amigos que nos visitam aos domingos.
Mentira.
Nós vivemos bem, não é benzinho?
E Maiara iria sorrir e dizer que é a mulher mais feliz do mundo.
Ela acreditaria nisso e eu também. A gente morreria juntos. Um ao lado do outro sem nunca querer saber como as coisas seriam se não tivessem sido como foram.
A paz. A paz dos idiotas satisfeitos. Desses que acreditam em destino, Deus e coisas do tipo.
Como se viver e nascer fosse o mesmo. Como se não houvesse opção.
E, ao morrer, a família estaria próxima e o céu seria uma imagem do céu do Chico Xavier.
Como se tudo fosse eterno, como se não vivêssemos no Tempo.
Como se o Tempo fosse uma idéia e não um fato.
Como se viver fosse apenas mais uma brincadeira.
Como crianças, afinal.

20 de novembro de 2010

Tesãozinho de ocasião.
Sente-se aqui e sente-se ali.
Há que se tomar cuidado:
não levar esse tesãozinho tão à sério,
não ignorar o tesãozinho que há.
-
Assim até eu.
Eu vejo as criancinhas e eu gosto delas.
Converso, sou simpático e sou legal.
As criancinhas com peitos minúsculos
e promessas de amor incondicional.
As criancinhas que fazem promessas
porque não acreditam em promessas.
-
Nem só de belas tetas vive um homem.
Ouvir as tristezas dela é como
ouvir um relógio que reclama
por ser obrigado a contar
cada segundo que passa.
Um relógio que reclama por ser o que é:
um relógio.
-
Pede-se pouco.
Fosse só burra ou só gostosa.
Fosse o que fosse,
mas que fosse apenas o que é.
Ah... Assim pedia luz pra Jesus
e lhe alimentava todas as noites:
leite morno para os bons sonhos.

19 de novembro de 2010

Show dos coleguinhas.

Eu estou lá. Táxi, entrada, bebidas e táxi: tudo é dinheiro e tudo é bobagem.
Gosto de estar lá. Nunca estou lá e por isso gosto.
Os coleguinhas, a banda, o rock.
Rock, eu repito.
São três. Eles tocam e às vezes cantam. Meus amigos de maneira geral. Estou lá por isso, pra ver o trabalho dos meus amigos.
E eu gosto.
O simples fato de eles não tocarem sambinhas-na-lapa me acalma porque isso é menos normal do que eu gostaria que fosse.
Me divirto. Há gente. Eu estou lá e não aqui. Há gente. Eu gosto.
Agora, confesso, eu gosto de tudo.
Sou um cara legal e generoso, mesmo que me provem o contrário.
E vivo, nénem, vivo.
E vejo. E imagino. E estou aí - mesmo que nem sempre eu emplaque.
Decência, eu diria.
Céu e inferno, em outras palavras.
Satisfação, e me recuso a dar explicações.

18 de novembro de 2010

Vai, Fernandinho.

A porra da vida bate na bunda. Então se sobe e então se desce. Montanha russa de caralhos e bucetas - e, pra que fique claro, digo isso da perspectiva de quem tem uma preferência entre os caralhos e as bucetas.
E na quarta eu era um imbecil suicida, na segunda um cretino satisfeito, na terça um deus discreto e por aí vai.
Até quando? Pra sempre, neném, pra sempre.
Sobe e desce filho da puta. E a puta pare. E a puta goza. E a puta apanha do seu grande amor.
E o leite derramado está lá. Faz um belo mapa no chão. Parece o sul da América do Sul, parece a ponta da bota que é a Itália. E os imbecis do mundo se reúnem num coro pra cantar: "não adianta chorar pelo leite derramado". Mas o coro esquece que "não adianta sorrir sobre o leite derramado" nem "fazer de conta que o leite derramado não existe".
Então segue-se. E velhas têm cataratas, crianças novos colégios, adultos novos empregos e jovens têm Internet e outras bobagens - como o show de rock-amigo que vou daqui a pouco.
Seja como for sempre confirmo que:
- não tenho vocação pra suicida.
- não acho a MTV super legal.
- sou católico porque fui batizado.
- os americanos fazem seriados como ninguém.
- a Internet é uma ferramenta de solidão.
- o álcool é uma terapia mais eficiente.
- toda merda é generalizada.
- um dia após o outro é o bom senso mais classe média da porra do mundo.
- há 6 anos atrás eu era 20 kg mais mais magro.
E vem dia e vai dia. E aqui estamos. E eu continuo. E você. E o blogue. E também tudo isso que chamamos de 'esperança', mas que, afinal, quer dizer mesmo é: ESTAMOS AÍ.

14 de novembro de 2010

Porque ao pensar "ela é bonita, mas é chata" haverá, querendo ou não, o lapso entre a carne e o espírito (e digo espírito por falta de palavras).
E se a beleza é óbvia, o espírito não é bem assim. Há que se ter paciência e dedicação. O espírito é qualquer coisa que surge com o tempo e com a generosidade.
Vê-se belos espíritos com olhos otimistas. E vice-versa.
Achar chifres em cavalos é uma habilidade humana. Somos, de maneira geral, generosos e bons.
E, quando tudo dá certo, gostamos de alimentar as pessoas que amamos.
O amor, seguindo essa lógica, é o sentimento que torna possível a generosidade. A mulher amada sempre será linda, mesmo quando vomitar ou cagar nas próprias calças. A beleza da mulher amada está na generosidade que o amor traz.
E apenas por isso acredito em amor. Amor é o que faz com que a gente tolere o intolerável. Um tipo de cegueira convicta, um modo de crença que nunca dá valor aos fatos.
E, infelizmente, os fatos existem.
Amores de vínculo sanguíneo são mais fáceis de lidar: mãe, pai, irmão(a), filhos(as), mães ou pais de filhos nossos, etc.
Amores de ocasião também: amor da minha vida antes de se mudar pra Manaus, antes de voltar ao seu país, antes de descobrir que é gay, etc. O prazo de validade pode ser uma bênção. Como a Cameron, d0 House, que casou com um moribundo.
Seja como for, há a carne e há o espírito. Não acho que equilíbrio seja a solução. Há a carne e há o espírito. A balança equilibrada é indecente. O lançe (penso agora) é quase cair um dos lados. Mas quase.
-
A balança em equilíbrio precário me parece uma boa imagem:
de um lado o coração cru, do outro a fumaça chamada espírito.
Um lado quase cai, mas não cai.
A balança nunca está no meio,
mas tá equilibrada lá do jeito dela,
mesmo que torta.
meu amor


é uma criança triste


quando pensa bem


sempre desiste.

11 de novembro de 2010

existe

a paz, o gozo,
o tempo desperdiçado sem ser perdido.
gosto do que gosto.
melhor assim.
e nem posso reclamar.
pai e mãe vivos,
sobrinhas sem doenças
e esperanças que brigam com o tempo.
-
o dinheiro aumenta meu pau
e gente quer me dar.
isso passa, eu sei.
mas passando, eu fico.
porque é melhor lembrar disso
do que lembrar
da puta burra que
me cobrou 150 pratas.
-
contas de mais
e contas de sim e não.
o corpo comprido ficou caro,
o corpo magro não ficou.
-
a gente mente
e a gente se diverte.
a gente se resolve.

10 de novembro de 2010

Teimodinho, eu aprendi.

Não gosto dessas metáforas mal usadas e tenho raiva de tudo que se diz em nome da sinceridade. Como se sinceridade fosse desculpa pra idiotez.
(Ela diz: sou muito sincera por isso digo merda)
E vejo sua burrice cheia de brilho que crê, como burra que é, que em nome da sinceridade todas as imbecilidades podem ser toleradas.
Há que se pensar o que se fala. Ou então viver falando tudo que se pensa como uma criança que ainda chama a mãe após cada merda no vaso.
(Um clássico: manhêêêê... acabei.)
Estou velho e estou intolerante. Minha solidão é sincera e, portanto, estúpida. Não topo tudo e nem gosto de jogadas. Pago meu preço, mas o preço que eu pago eu rôo sozinho. Minhas invenções são gloriosas porque são minhas e porque são invenções. Não posso - nem acho importante - cobrar invenções de gente alheia.
(Que cada um com seus problemas, mesmo que a dor seja coletiva)
Tenho meus cigarros, meu tédio e eu mesmo para suportar.
E esse papo de se amar ser importante nunca me convenceu.
Simplesmente porque conheço muita gente que diz 'eu me amo '.
-
mais um post na caixinha
e mais uma dose de própolis
a vida
é cheia de picuinha.

9 de novembro de 2010

listinha

  1. As queridinhas. Elas me amam quando estou no metrô e leio meu livro. No metrô as queridinhas me amam e ignoram minha pança branca e redonda. Mas dar pra mim que é bom, nada. As queridinhas me desejam apenas entre a Glória e Botafogo.
  2. Faço julgamentos. É arriscado. Julga-se mal, julga-se bem ou simplesmente se faz um julgamento equivocado. Seja como for, meu julgamento me diz: D é carente. Apenas isso. D. é profundamente carente. Freud deve explicar. Coisas sobre papai mau. Freud, com certeza, explica.
  3. J sem soutien é meu delírio. Peitos pequenos e atentos sem soutien. Mulheres de peitos pequenos deveriam ser proibidas de usar soutien. A gravidade age menos em peitos pequenos(taí mamãe que não me deixa mentir). É como uma vingança retroativa: a peituda da 7° série segura canetas bics com seus peitos enquanto a peito pequeno precisa apenas de uma camiseta branca e de um ar condicionado. Tesão. Tesão em J. E também tesão generalizado. Prefiro os peitinhos de J. Tesão, tesão.
  4. Gostar de si é tão necessário quanto não gostar de si. É o erro fatal de todas as auto ajudas. A vida não é tão simples. E esse sobe-desce nosso de cada dia é, mesmo que inevitável, uma bobagem. Somos crianças diante do doce. Somos crianças diante do quiabo. Mas, pra amenizar nossa culpa, afirmo: ser criança não é um ideal, é apenas o que ocorre.
  5. Fazer planos. É normal e idiota. Meu plano agora é assim. Queria um escritório. Isso mesmo: um escritório. Faria a mesma coisa que faço aqui. Mas em outro lugar, com contas a serem pagas e, principalmente, com bancos de horas. É uma mentalidade de macaco: cria-se a circunstância para depois se criar a necessidade. Como a frase-punhetinha para atores: você corre de um urso / pode imaginar o urso e o medo que ele te dá pra depois correr / ou pode correr e depois ter medo do urso / você que sabe. (é quase isso. o original sempre é melhor).
  6. punhetinhas jogadas. Escrever mensagens no facebook é soltar pólen. Aleatório, sincero e virtual. Uma nuvem de talco. Primeiro derramar o leite. Depois chorar sobre ele. Como se só isso fosse, como se não houvesse ceú e inferno, como se no xadrez os peões não fossem menos importantes que a rainha. Coisas jogadas. Jogos de maneira geral. Eu me divirto e ela também. Quem sabe nos divertiremos juntos.

8 de novembro de 2010

here-me.

Nada mais solitário do que: tenho meus amigos.
Solidão partilhada entre solitários. É justo. É justíssimo. Mas, ainda assim, é triste. E só.
Estou no mundo e vejo toda tristeza. Tristeza que é minha também, mas que só noto quando ocorre com os outros. Divide-se comidas e tardes de domingo por pura falta do que fazer. E há sempre uma leve frustração no ar. Aquela coisa estranha, estúpida e comum: fiz comida pra mais gente. Esperava mais gente.
Mas estamos calejados e velhos. Não podemos reclamar, não é o caso. A gente sabe: dez dizem que vêm e dois estão aqui. Um equilíbrio errado entre intenção e realidade. E a gente entende. E eu estou lá. Sou um dos dois que foram onde disseram que iriam. E estar lá é legal. Pra mim, pra ele, pra nós. Nossa solidão é amiga.
Depois: pequenas obrigações que satisfazem. Fazer algo por muito tempo faz com que a satisfação ocorra. E, bem, há dinheiro na jogada. Ganho pra fazer minha obrigação e me sinto bem. Sou um macaco. À cada nova banana, um novo truque. Novamente afirmo: é justo, justíssimo. E, claro está, a justiça é apenas uma ideia de equilíbrio. Que seja.
Pego táxi, pego cervejas, chego em casa. É madrugada. É domingo e amanhã é segunda. Tenho minhas horas e minhas obrigações. Eu faço as coisas. E não sei o que isso quer dizer. Estou aí e, às vezes, emplaco. Fase boa de maneira geral. De maneira geral, eu repito.
Tenho meu blogue. Tenho minha cerveja. Tenho minha casa. Meus cigarros e meus CDS eu tenho também. É bom - e isso não quer dizer que seja perfeito.
Mas quem, cargas d'água, acredita em perfeições?

6 de novembro de 2010

Eu que vi eu que sei.

Toda tortura que é minha. E vaidade também, como não? A tortura é, em última análise, a vaidade mais brutal que há: sofrer só, sem dizer pra ninguém, sem ter ninguém, sem se quer reclamar da vida. Sofrer como se fosse uma sina. Como se o destino estivesse traçado e como se apenas a dor enobrecesse o homem. Sofrer pode ser um estilo.
Então, pra ser do contra, afirmo: não falo de mim. Não mesmo. Sofro também, mas nem me engano. Eu mesmo com meus dedos em meus buracos. Só sofre quem acredita e eu, infelizmente, não acredito. Acho tudo velho e malfadado. A ilusão é a mesma. Minha vaidade é ter a ilusão de que sei da ilusão que há.
Mas não importa. É um belo sábado de chuva e meu Dom Quixote de lata (presente de uma amiga) está na minha estante desafiando a parede azul que ele supõe ser o ceú. Por incrível que pareça não falo de mim ou do meu umbigo. Ainda tenho cartas na manga e a alegria de mentir deliberadamente. Inclusive pra si próprio.
É o paradoxo da mentira que tá no seu Aurélio de maneira mais elaborada: se eu afirmo 'eu minto' e o que estou dizendo é verdade, a mentira está em fazer tal afirmação.
De modo que me faço entender. Para os que têm dicionários e para os que gostam de pôr chifres em cavalo. Os que acreditam em unicórnios, em outras palavras.

5 de novembro de 2010

Toda Sexta às Duas da Tarde.

Uma tarada de botas que olha o meu blogue.
Que não existe, mas eu invento.
E ela dança (Sem roupa, mas com botas.)
enquanto escrevo isso e reparo no seu tufo de pêlos.
Ela gosta de reggae e fuma maconha.
Ela tem ataques de riso quando fuma maconha
e isso quase irrita, mas eu bebo álcool
como um recurso simples de amortecimento.
Fala da natureza, fala do ceú azul, fala do Cristo Redentor que vê da minha janela.
Fala sobre coisas que só mulheres falam
e isso me agrada.
Tenho tesão,
tenho pau duro,
tenho um blogue
e uma mulher de botas
que dança sem roupa
enquanto publico uma nova postagem.

3 de novembro de 2010

Põe a rodinha pra mexer e se satisfaz

Fazer.
Fazer como um macaco faz. E macaco faz que faz. E bate palmas. E vê os humanos que o vêem preso na jaula.
E, mesmo assim, não se pode dizer que o macaco está triste. Assim como não dá pra dizer que o macaco está alegre.
O macaco, bicho do bom, nem pensa se está triste ou feliz. O macaco faz macaquices.
E isso é bem decente. E civilizado.
Mas o macaco não pensa nisso. Ele pensa em macaquices, em sexo oposto, em castanhas escondidas em cascas e em banhos de mangueira.
Macacos adoram banhos de mangueira. Porque a água é corrente e macacos sabem que nem existem muitas fontes de águas correntes.
Por isso o macaco não liga pra jaula. Ele não sabe que está numa jaula. Por isso ele adora banho de mangueira. Porque ele nem desconfia que existem torneiras, água encanada e tubos de borracha que se chamam mangueiras.
Macaco vive bem, mas ele não pensa nisso porque macaco não pensa.
Então ele faz. Com as castanhas que cutuca, com o sexo oposto e com a água abundante que vem de fonte desconhecida.
Macaco bate palma e se vicia facilmente com os cigarros que a galera do zoológico joga pra ele.¹
Ele fuma. Ele recebe pipocas. Ele copula com o sexo oposto. O macaco tá vivo e faz parte do planeta - ou seria biosfera ? - mesmo estando dentro da jaula.
Macaco bom.
Macaco vacinado.
Macaco fazendo participação na novela da Globo.