19 de março de 2010

Ela não gostou quando eu lhe chamei de bonita.


Quando eu lhe falei da suavidade das garotas de 19 anos, ela me arranhou e falou que nem aos 16 tinha sido assim.
Então, por falta de assunto,
eu lhe falei sobre minha mãe e minha vó.
Comentei que gostava muito delas e
que achava bom ter morado por 2 anos em São Paulo com a minha avó.
Ela riu, acendeu o cigarro, jogou a cabeça pra trás e gargalhou.
- você é mesmo o típico gordinho da mamãe, ela disse.
- aposto que sua avó cortava frutas pra você, ela insistiu.
Mudei de assunto e lhe falei dos meus escritores americanos
e das incríveis paisagens dos filmes do Win Wenders.
Isso pareceu a acalmar então continuei falando
sobre essas coisas que sempre se falam:
arte, sociedade, ecologia responsável e misticismos em geral.
Mais animada ela me contou sobre sua grande aventura no México
e sobre os 2 anos em que trabalhou como garçonete bilíngue em Transatlânticos pelo Pacífico.
Falou dos gringos que a comeram,
dos passageiros que a comeram,
dos marujos que a comeram.
Descreveu pênis de várias nacionalidades
e comentou que japoneses podiam ser surpreendentes.
Me perguntou seu eu era bi ou careta.
Eu disse careta e como um cowboy americano ela soltou com voz anasalada:
- como saber se não gosta se nunca experimentou, nénem?
Eu não disse nada e ela continuou.
Parecia se sentir muito livre quando disse:
- eu quero experimentar tudo e todos, nénem
e me tacou um estranho beijo na boca.
Língua dura e boca imensa.
- curto sua barba, nénem. Faz eu me lembrar que estou com um homem.
- você é homem mesmo, num é néé-nem?
Eu sorri. Era o que eu podia fazer.
Pensei na minha vó e na minha mãe.
Pensei em frutas cortadas.
Pensei em salas de cinema vazias.
Pensei nos churrascos da minha adolescência em Curitiba.
Pensei no dia em que tirei minha carta de motorista.
Pensei em domigos chuvosos.
Pensei em alugar 5 filmes na promoção e não sair de casa.
Pensei que na Ilha do Mel eu gostava de boiar no mar calmo.
Pensei nos namorados das minha primas.
Pensei nos sanduiches do Cervantes.
- já tá tarde, nénem. Vai me arrastar pra sua casa ou não vai?
Pensei nos animais do Zoológico.
Pensei nas crianças adotadas.
Pensei na dor de corno do Tim Maia.
Pensei no meu pai falando do dia em que o homem pisou na lua.
Pensei no desenho que ganhei da Fran e que foi rasgado.
Pensei nas gordas que jogam bingo.
Pensei na vida rural dos meus antepassados.
- então tá certo, nénem. Eu não sou mulher pra você num é?
Pensei nas 4 farmácias da Rua da Passagem.
Pensei na minha irmã querendo casar na igreja depois de toda rebeldia.
Pensei na Negona que elogiava meu pau.
Pensei nas corujas do Parque Iguaçu.
Pensei no bolo de cenoura que a Iza faz.
- tá aqui o dinheiro de 4 cervejas. Eu divido a conta, né nénem?
Pensei nas tatuagens da estilista paulista.
Pensei na maternidade da Andrea.
Pensei no casamento da Anna e do Vaccari.
Pensei no lençol que mais gosto e tá rasgado.
Pensei no pessoal que tem tartaruga como animal de estimação.
- mÓ prazer te conhecer, nénem. A gente se vê por aí.
Pensei no "Além do Horizonte" do Roberto e do Erasmo.
Pensei em calendários de mulheres nuas.
Pensei em cinzeiros cheios e xícaras de café.
Pensei na Urca e sua beleza.
Pensei nas manhãs de inverno de Curitiba.
O Miguel trouxe a conta e eu incluí a saideira.
Bebi devagar olhando a rua quase vazia.
Uma criança, preta e bonita,
pediu pra eu ajudar comprando amendoim.
Comprei e voltei pra casa.
Eu me sentia muito bem, na verdade.

18 de março de 2010

Uma tristeza vaidosa que me abate. Saudades dos melhores momentos editados. Lembranças de uma vida que foi minha e que agora não é mais - embora sempre vá ser já que pertencem a minha memória seletiva. Porque havia aquela ternura toda e também as certezas todas que quase constrangiam. Braços e pernas enormes que se acordavam pela manhã num abraço que quase sufocava.
Eram planos e planos. Toda uma delícia matinal de brincar de Deus e programar a própria vida. Como se a programação garantisse a execução. Era inocente e singelo. 20 ou 21 anos. Até fazer café era divertido: parecia muito maduro por a água pra ferver e preparar o pó no coador.
Havia divisão de tarefas e escrita à 4 ou 6 mãos. Em tardes quentes, as vezes, havia um sexo brincalhão: mim putinha tu cafetão. Muita exibição do próprio corpo e sons altos que pareciam desafiar o mundo e provar nossa terna liberdade. Éramos crianças, acho.
O mundo ainda se revelava aos poucos. Não tínhamos sacado as jogadas, as loucuras, o troca-troca, o bem e o mal.
Eram filhotes que corriam porque tinham pernas e não porque queriam ou precisavam correr.

16 de março de 2010

sobre a paz possível.

Ouço meu blues lento e profundo que vem da TV que serve de som. O nome do cara que ouço agora é T. Bone Walker. Nome de macho de preto americano. Decorei o nome dele pra escrever aqui. Infelizmente não sou desses que sabem os nomes dos caras de Blues que se ouve por aí. Até queria ser. É sempre bom saber os nomes daqueles que se consome.
Dos livros que leio até gravo os nomes dos autores. Nem sempre dos livros, mas dos autores. E do autor que li mais de 2 livros confundo facilmente um livro com outro. Até porque eu não leio um livro. Geralmente eu leio um cara. Seja homem, seja mulher.
Penso em 30 coisas e não penso em nada. Estou satisfeito e idiota. Há qualquer bem estar estranho no ar. Como se eu pudesse ter a paz que eu divulgo por aí. Hoje disse prum bom amigo: frita em paz. E ele riu, mas entendeu.
Acho que é disso que se trata: fritar em paz é a paz possível.
Esse chamado desse meu amigo me deu um toque. Ouço muito por aí sobre meu isolamento e esquisitice.
Agora tem uma - e não qualquer uma ou toda uma - que me perturba falando sobre isso.
E falar sobre isso é uma das coisas que mostra a esperteza que ela tem e desconhece, mas deixa pra lá.
O fato é que com esse chamado do meu bom amigo, percebi, vaidoso e feliz, que eu sou o amigo que pelo menos 3 dos que importam no RJ procuram quando é o caso de dar pitacos sobre suas profundas angustias.
E o mais incrível é que concluí que de fato sei o que falar pra esses poucos: coisas que os ajudam a pensar melhor e ter a tal paz possível. Essa mesma, cuja a síntese máxima é: frita em paz.
(Por o mundo ser estranho e cheio de loucas coincidências esse mesmo amigo me mandou um e-mail agora. Perguntei a frase que tinha lhe dito e, logo depois, lembrei por mim mesmo. Acho que essa é a grande sacanagem do mundo: age por meios estranhos para chegar naquilo à que se chegaria de qualquer jeito).
Saber que você é o bunker de alguns faz você se sentir bem. É loucura, eu sei. Mas mais do que a loucura há a sombra da imensa vaidade. Porém me defendo, concluindo pra mim mesmo que, como as recíprocas são verdadeiras, a paz possível ainda pode existir.
Sem consolar ninguém e sem bater nos ombros. Apenas mostrando saídas possíveis que só se vê por não estar perto e por querer o melhor praqueles que te procuram quando acham que você pode ajudar.
Desses 3 que importam sei segredos verdadeiramente secretos que nunca contei pra ninguém. Guardo comigo como uma prova de fidelidade incondicional e amor velado. São revelações e mesquinharias à que tive a honra de ser o sabedor. Sei disso e, por isso, guardo.
Pra mim só importa o que me é exclusivo. Exclusivo no sentido do bom da coisa: eles quiseram me dar o que eles não oferecem por aí. Eu entendo a generosidade deles e retribuo: cumplicidade em coisas profundas é toda intimidade que desejo. Seja com amigos, seja com super-mulheres.
E nesse estranho bem estar que me ronda agora, recebo um e-mail dum maluco da Espanha que visita meu blogue e que gostou de uma coisa que escrevi e resolveu traduzir. É uma dessas gratuídades que dão sentido pras coisas que penso: pessoas que não se conhecem e criam empatias espontâneas.
É por aí que tento levar minha vida. Sem fazer força pra ser simpático com todos porque todos, enfim, não importam nem nunca importaram. Busco apenas manter minha capacidade de entender que ter sangue acarreta em certos excessos. E nem sempre se acerta nos excessos, mas ter sangue, pra mim, é achar que há coisas que realmente valem a pena. E são por essas coisas que topo, e sempre toparei, sangrar.

PARA LER A TRADUÇÃO ESPONTÂNEA DO MALUCO DA ESPANHA CLIQUE AQUI.

15 de março de 2010

quando o possível basta.

Há dias que são exatos. Hoje foi assim. Meu cérebro era meu e eu tinha calma pra pensar nas coisas que tenho que pensar. Quando digo coisas que tenho que pensar quero dizer coisas do mundo prático e real - que é chatinho, mas inevitável.
Resolvi minhas mumunhas e fiquei satisfeito. Conversei com o Tio da Kombi de S. Tereza e vi que meus preconceitos são amparados pelos antigos moradores de lá.
Hoje, se não fosse estupidez, eu diria: sou um cara livre.
E sentado no bar o mundo desfila e eu vejo:
  1. Mulheres com mais de 30 e poucos carregando sacolas de supermercado após o horário de expediente é algo deslumbrante. Há quase um padrão: poucas sacolas, tailleurs e um rosto calmo de cansaço satisfeito. Há qualquer vaidade bonita nessas mulheres: vaidade bíblica do comprará seu pão com o suor do seu rosto. Sempre as imagino morando sozinhas, chegando em casa e tirando as compras da sacola. Daí tomam banho, arrumam a jantinha e se preparam pra dormir. Os lençóis lindos e cheirosos com 13.000 fios.
  2. Elegância é um treco realmente difícil de explicar. Não tem a ver com roupa e não tem a ver com beleza. Elegância é dessas coisas veladas e misteriosas. Quando você se depara com uma elegância, você tem certeza da sua existência. Quando não há elegância você nem lembra que elegância existe.
  3. A Maria é uma bêbada antiga que eu sempre cumprimento com um movimento de cabeça. Já tá velha e bebe na mesa das mulheres bêbadas. Há nessa mesa uma bêbada muito bonitinha. Você só nota que ela é uma bêbada profissional quando repara no cabelo: muito ralo e apagado. O engraçado é que não lembro de ouvir sobre os cabelos quando se fala dos malefícios do álcool. Acho que só os bêbados poderiam falar com propriedade dos malefícios do álcool. Os médicos são limitados nesse sentido: só notam o óbvio.
  4. Há casais surpreendentes que provam que o amor existe. Assim: por que aqueles dois estão juntos? E como não é possível nem uma explicação razoável, você conclui: eles se amam.
  5. Um dos caras que tá envolvido no churrasquinho muda a mesa das carnes de lugar. Ele é chato. Seus companheiros de churrasquinho o acham chato, mas preferem deixar a mesa no lugar que ele diz ser perfeito. O mundo dá suas liçõeszinhas: o chato tem muita força.
  6. É impressionante a força do movimento hippie. Ainda agora, 2010, ele se manifesta. Sou preconceituoso. Só baixei minha guarda quando li o Domingos Oliveira falando do Movimento Hippie, explicando a Contra Cultura e como aquelas idéias eram belas por acreditar que o homem, enquanto espécie, poderia evoluir e melhorar. Mas mesmo assim me incomodo com o garoto fantasiado de hippie que compra crédito pro seu celular na banca de jornal. Ele está fantasiado, eu repito. Não há como ser espontâneo aquilo. Ele tenta reproduzir uma coisa que já passou. É o anti desapego hippie. É o blablabla hype que falam por aí. A ironia é que ele deve ser um garoto cheio de boas intenções e até legal. Mas ele é consciente demais pra ser sincero. Não sei explicar...
  7. As mulatas do Rio são uma coisa. Vejo 2, 3, 4, 5 e todas são uma coisa. Lembro dos Novos Baianos que ouvia na época em que me mudei pra cá: "Pela Morena eu passo o ano olhando o Rio".
  8. A satisfação dos que voltam pra casa depois de uma segunda feira estafante de trabalho quase me dá vontade de ter um emprego como o da maioria. Lembro da Bíblia novamente. Mas mudo de idéia: quero fazer o que já faço com o plus de ganhar um salário decente. Me parece justo mesmo sem achar que o mundo seja justo.
  9. Nas calçadas eu gosto de me impor. É besta. É assim: não dou passagem pra carro quando eu estou na calçada. Calçada é lugar de pedestre e eles que se fodam. As vezes, por pirraça, até ralento o passo. Lembro da única explicação eco-chata anti carros que ouvi e que fez uma puta sentido: 600 kg que transportam 60 kg não parece nada inteligente.

14 de março de 2010

BwanaBwana ou ninguém - quando a cobra morde o rabo.



Mulheres são loucas.
E perigosas.
No primeiro Poderoso Chefão há essa fala-fatal: "mulheres são mais perigosas que espingardas".
Quem ouve isso é o Michael Corleone. Ouve após ver a mulher com quem ele se casará e que morrerá no lugar dele no carro sabotado que explode quando ela vira a chave de ignição.
O Michael sacou a merda segundos antes. Ele berra pra ela que não entende e sorri. Ela vira a ignição e BUM. É ali, segundo Fernandinho, que o Michael decide virar O Poderoso Chefão.
Seja como for, insisto: as mulheres são loucas e perigosas. Perigosas porque são capazes de se meter na minha vida. E loucas porque são mesmo.
As minhas boas amigas mulheres me confessam a realidade da loucura feminina. Homens, de modo geral, são mais óbvios: nós nos repetimos dentro de uma certa lógica previsível.
Isso tudo porque deixei uma nova louca se meter na minha vida.
E fui óbvio como sou e cheguei a conclusão que nem topo e nem quero.
Não preciso de mulheres. Preciso de super-mulheres.
E nesse pacote de tédio que é chegar à alguma conclusão e pensar o que fazer agora que descobri que a louca da vez nem é uma super-mulher, procurei no google pelo nome do meu blogue e descobri, no meu blogue antigo, um texto que faz muito sentido pra hoje.
É um texto que antecipa o nome desse blogue de agora e que também me comoveu por isso.

DO BLOGUE ANTIGO:(com modificação formal e só.)
Sexta-feira, Julho 20, 2007
Eu ando por aí contando meu passos.
Eu me faço de tonto no meio da multidão.
As vezes eu reconheço um rosto e me afasto.
Eu só preciso de mim e dos cigarros e das cervejas.
Eu nem me interesso por aquilo que eu gosto: eu passo distante.
Eu faço contas pra explicar minha vida: matemáticas loucas pra não ver o vulcão. Nunca entendi as pessoas que pregam a necessidade de se viver intensamente, como se realmente isso ajudasse a chegar à algum lugar.
Eu prefiro as mulheres fúteis e vazias que me chupam por 15 reais.
São moças de família que caíram na vida e que são tão generosas que quase me comovem.
Mas elas se vestem tão mal...Elas se pintam tão mal...Elas choram tão alto.

Eu prefiro chutar as latas pelas ruas.
As minhas mãos dentro dos bolsos e minha cara gorda olhando de cima o mundo sujo.
Eu só me relaciono comigo mesmo. Eu sou sempre o meu umbigo sujo.
Não vou insistir pra ver seios ou bucetas:
as dançarinas de Copa mostram tudo por 5 reais que as fazem dançar como odaliscas negras no meio do turbilhão.
Elas entendem como a vulgaridade pode ser excitante.
Elas sabem o que representam e se jogam nos mini-palcos arrastando o corpo pelo chão imundo.
Elas sabem das coisas.

Depois de um porre há sempre uma chupada que passa batida.
Uma chupada sem rosto num pau meia bomba que ejacula pingando um liquido ressecado e farinhento.
Uma chupada barata que me ajuda a contar os meus passos,
que me faz não querer muito, que me deixa inerte, que me salva das passionalidades imbecilizadas das pulsões.
Uma chupada que é própria prova da existência.
Uma chupada que é o próprio Cristo na cruz.

posted by fmaatz @
Sexta-feira, Julho 20, 2007 0 comments links to this post

13 de março de 2010

relatinho sem fazer a barba.

Estalo uma cerveja às cinco da tarde. Preguiça de se barbear e recolher os pêlos que caem na pia e no chão do banheiro.
Meu arquivão tá aberto desde que acordei, mas há pouco o encarei e fiquei satisfeito. Escrevi, reli, gostei e senti que era o caso de estalar uma lata.
Tenho que ir almoçar. Só cigarro e cevada não dá certo. Mas sei que não vou beber muito. 4 latas no máximo do máximo. É um sábado calmo e quem sabe, daqui a pouco, eu beba um chá.
Nos últimos dias tenho lido com compulsão. Espalho os da vez na cama e fico lá, pelado e com o ventilador na fuça lendo 3 ou 4 páginas por vez de cada livro. Sou quase um monge.
A Ro Ro me acompanhou nesse sábado. É uma descoberta ouvir ela gemendo suas coisas. Assim como o Erasmão, que é um dos da vez mesmo sem ter tocado hoje.
No sabadão há uma quantidade enorme de punheteiros que vêm parar no meu blogue. Fico impressionado com o que eles perguntam ao google, coisas como "vejo orkut me masturbando punheta", "adolescente de 15 anos se masturbando" e "buceta miúda" os fazem parar por aqui. Peço a bênção ao sitemeter e concluo que ter filhos em tempos de Internet acarreta em preocupações que meus pais não tiveram.
Agora o fim do cigarro e a 4° lata. Uma sincronia quase perfeita.
Hoje é sábado e há belas mulatas pelas ruas cariocas.
Tomar banho, almoçar e ver o mundo.
Quem sabe até beber um chá em boa companhia.

nenhuma ameaça lá fora.

Saquei os movimentos daqui de fora. Pensei por que fiz distinção entre o último e o penúltimo. As coisas que interessam são sempre poucas sempre poucas. E olhei pela janela e vi o rapaz: ululava o óbvio com uma cara simpática e semi suja. O legal descolado visto nas festas alternativas e nos cinemas do unibanco trajando casacos listrados e retrôs. Lembrei do lance da persona que li esses dias. O risco de se confundir com a imagem que se projeta.
Me lambi mais um pouco e fiquei olhando as paisagens: casas de hippies, ladeiras de Santa Tereza, móveis rústicos herdados pelo avós italianos e garotas lindas que imitam pin ups. A flora repetida do popcultmoderninho. Gente parecida demais.
Como explicar?
Minha vaidade é ser amigo de A, por exemplo. Ele usa camisas de gola, calças vermelhas e dança nos sambinhas da Lapa. E a gente se encontra pra beber e falamos por horas. Eu volto bêbado pra casa e ele vai pro seu sambinha. Nôs damos bem, mas não somos cópias um do outro.
Nas paisagens que vi era tudo muito colorido e encantador. Belos sorrisos, euforias imensas e amigos íntimos feitos há duas horas atrás. Todos, sem exceção, com casacos listrados e retrôs.
Por isso me acalmei. Prefiro outras paisagens. Com mais decadência é certo, mas também com mais mistura e resquícios daquilo que chamo de alma.
Alma é um treco que se inventa e se desenvolve. Alma não nasce com a gente. Como diz o Tio Jung: ter alma é a ousadia da vida.

12 de março de 2010

amor no tempo do clitóris.

(esse texto é de um arquivo que tenho com o estúpido e singelo nome de 'mini-pensamentos'. reli e resolvi publicar aqui: minha tara de atualizar diariamente.)
Venha até aqui e me declare amor eterno. É só isso que me interessa. Não quero saber das variações limitadas, das paixões circunstanciais e dos dedos que já te fizeram gozar. Amor eterno é o que importa. E se não é eterno, não é amor, diz o Nelsão com seu gênio de excessos e repetições.

É o pra sempre que faz algo mexer. Nenhuma administração de prazeres ou euforias. A inconseqüência do amor eterno é tudo que pode dar sentido. E só isso. E nada mais.

Não quero o corpo tacanho, regulando a alma pra não se perder. Acreditaram que devem ser fortes, as desgraçadas. As mulheres com clitóris enormes e dedos frenéticos a dispensarem seu pau. Seu pau que aprecia e precisa do velho vai e vem, Do entra e sai, do Don Pilar, do tentar atravessar uma carne com outra carne. Sem auxílio do clitóris-tamborim. Sem cadência de gozo de filme pornô.

Queimem os clitóris dessas garotas, repitam a crueldade de outras épocas. Reprimam esse micro-pênis auto suficiente e arrogante. Queremos a buceta, meu Deus! É pedir muito?

Deixem o clitóris ali, como um brinquedo a ser usado. Um brinquedo, um brinquedinho. Um pequeno botãozinho que pode, as vezes, ser acionado. Mas que nunca será o prato principal. Se o clitóris estivesse no colo do útero aí sim poderia ser o grande banquete.

Ele é apenas um mamilo mais poderoso e melhor localizado. Não é o óconcur das suas partes, ó fêmeas fissuradas! Ele é, no máximo, a campainha para a única entrada realmente santa que vocês trazem no corpo. A entrada, a fenda, a racha, a japonesa peluda, a caverna, o abismo, a buceta, a buceta, a buceta.

Então repito: venha até aqui e me declare amor eterno. Amor eterno e buceta. Buceta que gosta do Don Pilar. Que prefere pau à dedo ou língua. Só assim o amor eterno poderá ser consolidado.

O amor eterno precisa de profundidades.

E coisas profundas nunca ficam nas partes visíveis.

11 de março de 2010

no meio da noite.

O ROSTO ERA IMENSO E TERRÍVEL. EU SENTIA QUE PODIA ME MATAR. ELAS PODIAM ME MATAR. EU VIRAVA A CABEÇA E A PUTA RIA. DENTES BRANCOS REFLETINDO UMA LUZ QUE EU NÃO SEI DE ONDE VINHA. EU REZAVA. A MORTE ERA UMA AMEAÇA NOVAMENTE. QUANDO TENHO MEDO DA MORTE É PORQUE TÔ APAIXONADO, EU DIZIA PRA MIM MESMO. ME CHAMAVA DE 'FERNANDINHO'. ISSO MESMO, 'FERNANDINHO'. EU ESTALAVA UM TAPA NA CARA DA PUTA QUE RIA. EU A JOGAVA NO CHÃO E CHUTAVA ELA QUE FICAVA TRISTE, CADA VEZ MAIS TRISTE. QUASE BONITA DE TÃO TRISTE. ELA TAVA NO CHÃO E DIZIA QUE EU NÃO ENTENDIA NADA, QUE EU ERA MALUCO. EU DIZIA QUE NÃO QUERIA ELA ACHANDO QUE PODIA ME CHAMAR DE 'FERNANDINHO' IMPUNEMENTE. ELA RIA E EU CHUTAVA DE NOVO E ELA DE NOVO FICAVA TRISTE E BONITA. BERRAVA: "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA". EU DIZIA QUE ELA ERA BURRA E BEIJAVA ELA. BEIJO ESTRANHO E DESESPERADO. DIZIA "SEI QUE VOU MORRER, SEI QUE VOU MORRER", MAS ELA NÃO OUVIA E ACHAVA BOM EU A TRATAR MAL. EU ACHAVA ESTRANHO, MAS SABIA QUE ELA QUERIA O MAL TRATO, QUE ELA NÃO CONFIAVA EM NINGUÉM, QUE ELA NÃO PRECISAVA DE NADA. BERRAVA "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA". E RIA E GARGALHAVA E MORDIA MINHA BOCA. EU SENTIA A DOR DO LÁBIO CORTADO E VI QUE SANGRAVA. O LÁBIO SANGRAVA MUITO, MUITO MESMO. EU PASSAVA A BOCA NELA E ELA ÍA FICANDO VERMELHA E, DE REPENTE, ELA ERA TODA VERMELHA COMO ALGUÉM É PRETO OU BRANCO. DAÍ ELA DIZIA "EU TE AMO" E EU ACHAVA QUE ELA ERA LOUCA E SAÍA. ELA FICAVA BERRANDO "FERNANDINHO FICA DE PAU DURO COM TRISTEZA" ENQUANTO EU ÍA EMBORA. LÁ FORA EU VIA UMA OUTRA, UMA EX, E ÍA ATRÁS DELA, MAS ESSA, A LOUCA VERMELHA, APARECIA E DIZIA: "DEIXA DISSO, FICA AQUI, TÁ TUDO CERTO, EU ENTENDI, VAMOS DORMIR JUNTOS, A GENTE TREPA E DORME, EU GOSTO DE VOCÊ, EU SEI QUE EU GOSTO DE VOCÊ, VAMOS DORMIR JUNTOS, TÁ? DORME AQUI, ASSIM. NOS MEUS PEITOS VOCÊ DORME BEM, NÃO É?" E EU DORMIA E ELA ME AFAGAVA. OS OLHOS DELA TAVAM ARREGALADOS E PRETOS MUITO PRETOS E EU SENTIA MUITO MEDO, MAS EU TAVA COM MUITO SONO E DORMIA MESMO ASSIM.

9 de março de 2010

sobre a felicidade.

Felicidade é um treco tacanho e mesquinho. Não tem nada de nobre. É um treco estúpido e sem sentido. Por isso me irrita quando alguém fala: o que eu quero é ser feliz / o importante é ser feliz / felicidade é meu objetivo de vida.
Digo isso porque estou feliz.
Estou feliz e radiante.
Também estou eufórico.
Até tremulo minha mão ao escrever e nem vou comentar como os cigarrinhos seguem um atrás do outro numa ciranda de fumaça azul e cancerígena.
E tudo isso porque O vinho da juventude, do John Fante foi relançado pela José Olympio Editora.
É como a cereja do bolo, mas nesse caso a cereja é bem superior ao bolo, mas bbeemm superior.
Tava até animadinho. Entreguei meu último trabalho chatinho e tinha o mundo aos meus pés.
Fiz o caminho que mais fiz na minha vida e encontrei milhares e milhares de pessoas que conheço ou que sei quem são. Muitas mãozinhas de olá e quanto tempo.
No shopping tomo suco e passeio no ar condicionado.
Como bom gordo nerd que sou, vou até a livraria e então o milagre ocorre:
na estúpida estante de 'lançamentos' eu vejo: O vinho da juventude. Até gritinho eu soltei. Gordo nerd e agora bichinha que solta de maneira aguda e escandalosa: não acredito.
Pego o livro e vou ver o preço, mas sei que vou comprar. Quase empurro a gorda panaca que tava na frente da máquina dos preços.
42 pratas, mas Jesus, que bobagem, eu já havia pensado em comprar esse livro por 100 pratas num sebo paulista...
Dane-se. É meu.
Estou feliz porque tenho aquilo que desejava.
E aquilo não é nobre tipo amor ou saúde.
Aquilo é um objeto real e palpável. E é meu. Só meu.
E tá aqui agora, do meu lado e ao lado do telefone.
É meu. Eu o possuo.
Nosso flerte já começou. Abri ele, dei uma olhadela nos nomes dos contos, li 1/3 da orelha e anunciei sua presença no estúpido facebook.
Daqui a pouco termino a orelha e dou mais uma olhadela como quem não quer nada.
Sinto quase medo. O último do Fante em português.
Vou ler devagar. Talvez até compre um vinho pra ocasião. Quem sabe acenda velas.
Deus, o mundo é bom. Deus, eu sou feliz.
Feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, feliz.

8 de março de 2010

Minha cara ôca (?) olha pra frente.

A certeza insuportável de que o mundo inventado é melhor do que o real.
Não quero quase nada do que eu vejo.
Viveria em paz se num isolamento máximo eu descobrisse uma única coisa real por dia.
Voltei a ler Jung. Os livros de psicologia que li chamo de auto ajuda. São auto ajuda mesmo. Ainda que sem o filtro da convenção editorial.
Ler aquilo me acalma. Me faz me sentir menos maluco. Tudo que leio nesses auto ajuda eu sinto que de alguma forma eu já sabia.
No filme que vi tem um diálogo mais ou menos assim:
- conhece essa música?
- não, mas parece que já ouvi.
- é assim com as grandes músicas.
- como assim?
- eu to fazendo essa música agora, ela ainda não existe.
E os meus auto ajuda passam por aí. Como o filme que vi. Fui ver porque sabia que eu ia gostar. E gostei. Gosto desse tipo de filme e gosto de ver e confirmar que gosto desse tipo de filme:
As grandes paisagens da América, algum delírio de pureza e uma decadência que mesmo depois de superada não resolve nada...Deus abençoe a América e mais não digo.
(E nem defendo esse filme como uma puta obra de arte. Nem é o caso. "O Lutador" talvez fosse o caso. É apenas porque é um filme que me deu aquilo que eu queria que ele desse. É outra falinha do filme: - eu vou dar o que vocês querem, ok?)
No mais: livrinhos na fita e obrigações sendo feitas.
É uma maneira boa de viver, acho. Embora fique muito decepcionado por hoje não ter rendido no meu arquivão. Render no meu arquivão é o milagre que quero.
De resto são garotas tristes e gente entediada. Ainda prefiro, infelizmente, viver no meu próprio inferno sozinho.
É como eu me protejo.
E já que tô lendo Kerouac e tendo devaneios místicos, fecho essa postagem com
Lao Tse, na ótima tradução de A. Centurião de Carvalho, Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado:
As Afinidades Opostas (trecho):
Por tabela,
quem sabe das coisas
negocia sem barganhar.
Doutrina sem falar.
E tudo vai em frente,
acontece como vai acontecer,
de qualquer jeito,
a menos que você se esforce pra piorar.
O Simples Governar(trecho):
É que não se pode tapar o sol do sofrimento
com a peneira da felicidade.
Brincando de queimar etapas
um povo acaba botando fogo em seu destino.
e
Por Dentro do Grande Bem(trecho):
Quem conhece os outros é esperto,
mas se conhece a si mesmo despertou.
Quem vence os outros empata,
mas se empata consigo mesmo já ganhou.

Dia internacional das mulheres.

Penso nas suecas e suas tetas,
Penso em Silvia Saint e sua buceta incrivelmente bem desenhada – mesmo com tantos e tão grandes caralhos que a freqüentam.
Penso que há bucetas esculpidas por mãos de anjos.
Penso se a mulher merece um dia,
ou melhor, se toda mulher do mundo merece um dia.
Tanta mulher ruim, tanta mulher nojenta, tanta mulher vampira querendo seu sangue pra troféu.

No restaurante onde almoço eles dão flores para cada fêmea da espécie,
Na televisão, grandes empresas internacionais mostram comercias de exaltação à mulher,
Na agência de telemarketing, cada uma ganhou um cartão e uma pequena barra de chocolate.
Todos os cartões diziam: VOCÊ É ÚNICA.
Penso nas mulheres que tive e nas que quis ter.
Uma ou duas que sobrevivem. Três seu eu for generoso com os meus critérios.
Mas eu não sou generoso.
Eu sou chato, eu sou exigente e mesquinho. Não sou, definitivamente, o cara divertido que elas gostam.
Nem bonito eu sou. Sou gordo, sou suarento, sou possessivo e dado à ataques de loucura.
Bebo demais, fumo demais e desejo demais as coisas impossíveis.
Lembro que esse dia existe porque mulheres foram torradas dentro de uma fábrica –
queriam seus direitos, reclamavam por justiça e foram incendiadas por um patrão que deveria ser gordo e suarento como eu sou.
Mas eu jamais poria fogo em mulheres
e também jamais criaria uma data pra todas elas.
Todas elas não me interessam e nunca me interessaram.
Talvez um dia eu compre uma rosa, um chocolate e um cartão.
Talvez eu escreva VOCÊ É ÚNICA com meu próprio punho.
Talvez isso até ocorra num dia 8 de Março. Talvez não.
Talvez, nesse dia, eu tenha descoberto a minha melhor companhia
ou talvez, quem sabe, eu tenha virado um empresário

e aberto uma fábrica de tecidos
em alguma cidade pobre da América do Sul.

7 de março de 2010

relatinho.

Meu saco são duas bolas inchadas e doloridas. Muita gente na merda do mundo. Sai de casa pra ver, pra participar, pra tentar ter alguma relação com a merda do mundo. Andei um bucado, fiquei sem fumar por 2 horas e encontrei com 2 conhecidos. Somos simpáticos e elegantes. Até nos abraçamos.
Precisava andar, mexer as pernas. Meu apartamento é pequeno e sinto falta do sangue circulando. Minhas pernas começam a ficar frias, ter cãibras e estalar. Dores de gordo sedentário. Tomo banho e me alongo. Vou pra merda do mundo.
Ando a esmo em direção ao cinema. É domingo. Todos idiotas e entediados estão lá. Eu sabia, mas arrisquei. Vejo a hora, vejo o filme que pensei em ver e saco a fila. Enorme, ancestral, curvas e curvas. Meu Deus. Se eu sabia por que vim?
Na verdade nessa hora eu nem tava de mal humor. Estava tranquilo, passeando e vendo os rostos humanos. Fiquei impressionado com a quantidade de casais adolescentes na praia de Botofogo. Casais de 16, 15 anos. Andam de mão dadas e mais pulam do que andam: sempre empurram bastante as pontas dos pés. Casais emos, lésbicos, pátricinhos, engajados, roqueiros, etc. A fina fauna dos 16, 15 anos. Tento lembrar de mim nessa idade, mas não consigo.
Desisto do cinema ou volto depois. Ou amanhã. Ou nunca.
Ando a esmo por Botafogo. Ruas sem luz, lugares ermos e vagabundos me pedindo dinheiro. Sou grosso com eles, não quero dar margem pra nenhuma tentativa de convencimento.
Um cretino faz questão de andar do meu lado e no mesmo ritmo que eu. Aquilo me irrita. Ou ultrapassa ou fica pra trás, se decida. Ele mexe no celular. Hoje em dia todos mexem no celular. Eu mexo no celular. Lerdo meu passo e ele vai na frente. Mantenho uma distância confortável, mas ele resolve lerdar de novo. Merda. Cara chato.
Preciso de um restaurante. Álcool e pizza são ótimos no dia anterior, mas tenho um buraco no meio da minha barriga que implora por salada ou qualquer coisa menos junk.
Cadê a vida saudável e calma? Cadê a mulher linda com o vestido branco de algodão cru que passeia comigo aos domingos? Cadê os parques e as crianças? Cadê os amigos e a feijoada? Cadê a soneca pós almoço de domingo? Cadê a vida? Cadê a vida?
Não gostei do restaurante que eu tinha pensado. Tá vazio e parece sujo. Há ruas pra andar. Botofogo se desmembra na minha frente. Achei que logo estaria na S. Clemente, mas não. Ruas escuras se multiplicam. Mais pedintes no caminho.
Agora sim. Desço a rua e sei onde estou. Falta luz num pedaço da quadra. Merda. A raiva cresce, mas o bar do Miguel tá logo alí. Devo ou não devo? Devo.
Sento, peço uma. Do meu lado uma mesa cheia de gente jovem, bonita e tatuada. Ou são músicos/músicas ou são cineastas. É um tipo de gente: esforço para parecer largado, cabelos penteados de maneira a aparentar não ter sido penteado, barbas e óculos.
Meu Deus! Eu devo parecer esses filhos da puta!
Mas penso que eu sou gordo e não tenho tchurma. Me sinto melhor. Não quero parecer com eles. Eu tenho preconceitos. E não sou tão sorridente também.
Perto de mim uma guria pediu um PF de boteco. Reparo nela. Bife, arroz, feijão e batata frita. É loira ainda por cima. Tá com a pele queimada de sol. Deve ser gringa. Devora seu bife de um jeito vital e voraz. Penso que poderia passear com ela aos domingos.
Tomo a segunda, mas meu ódio só aumenta. Tenho que sair daqui. A mesa dos músicos/cineastas só cresce. Vou comer o resto da pizza, meu estômago que se vire. Eu mando nele. Pago e termino a cerveja.
Reparo que devo estar falando sozinho (mexendo a boca) porque os que passam me olham com cara de desconfiados.
Levanto e ando. A guria comeu o PF inteiro. Tem estilo. Até palita os dentes.
Decido entrar no restaurante caro. Gasto 20 pratas. Saladas variadas, peixe e um pouco de massa pra dar sustança.
É domingo e reparo nas famílias entediadas. Mulheres que falam de mais, homens que falam de menos, crianças gordas e velhas avós cheias de bijouteria brilhante e de mau gosto. Há também mesas de adolescentes por conta do rodízio de pizza.
Tem um casal de vinte e poucos na minha frente. Ela faz o charminho da irritadinha e ele o do namorado brincalhão. Meu Deus! Quanta jogada! Tudo parece velho e chato.
Agora minha casa e eu. As pernas estão satisfeitas e bebo mate com gelo. Nada de whisky hoje. Mesmo as cervejinhas devia ter passado sem, mas paciência.
To com o velho Kerouac e terei vislumbres místicos de pureza e vida selvagem. Há uma luminária eficiente ao lado da cama e o sono virá lento e implacável.
Amanhã é segunda e, quem sabe, eu descubra a vida calma e saudável.

6 de março de 2010

a carne santa e outras coisas que as mulheres não entendem


AQUELA buceta não qualquer buceta AQUELA buceta buceta-cova e caixão de tremores de morte e outras agonias AQUELA buceta e meu pau uma história de amor buceta que de tão intima se roçava na minha nuca como um novo experimento eu de costas deitado ela melando meu pescoço falando que queria gozar ali que nunca tinha gozado ali que perguntava entre gemidos se tava doendo se tava doendo e até tava doendo mas eu também queria que ela gozasse ali AQUELA buceta que saia sozinha porque eu não gosto mesmo de sair e voltava bêbada e tesuda e meio que me estuprava que eu só acordava quando ela já tava forçando a entrada cheia de pressa sem a lubrificação adequada e já era quatro ou cinco da manhã e eu tava com vontade de mijar e tava duro e ela forçando a entrada e eu meio dormindo meio acordado achando que se AQUELA buceta quisesse poderia decepar meu pau porque ela fez que fez e enfiou ele até o talo e falou um monte de sacanagem bêbada porque quando tava bêbada AQUELA buceta era sacana pacas e exigia tudo de tudo mil chupadas dedo no cu na boca estrangulamentos leves tapas babas e salívas suor na cara mordida unhada AQUELA buceta que gozava de um jeito nunca superado com movimentos violentos de contração e rios e cheiros que vazavam e uns sons de plofplaf AQUELA buceta e meu pau uma história de amor que gozavam sempre juntos numa sintonia maluca mesmo que em rapidinhas frenéticas e juvenis no meio da tarde com a casa cheia de gente e a porta só encostada com a calça arreada e o pau através da braguilha AQUELA buceta que numa festa de natal numa chácara muita gente e muita dança abre minha mão e põe a calcinha que havia tirado e a gente meio que dança com ela de vestido sem calcinha e ela chama e eu vou e de repente a gente tá num quartinho e faltam cinco minutos pro natal e minha família começa chamar todo mundo porque a gente sempre faz uma roda e as tias beatas falam de Jesus e puxam o Pai Nosso AQUELA buceta cheia de pressa pra rezar também porque ela na verdade é muito católica e até vai a igreja mesmo fazendo todas as sacanagens porque AQUELA buceta me ama e no amor AQUELA buceta sabe que pode tudo até sexo dentro da igreja ou no mesmo quarto em que crianças dormem mas daí faz de ladinho e discreto usando a mão pra tapar os sons humhum que tentam sair AQUELA buceta-milagre-cova e fonte que acordava cedo no domingo e voltava com o jornal e o abacaxi e cortava o abacaxi em pequenos cubos que me dava ainda na cama e eu comia e era genial o azedo do abacaxi tirando o bafo matinal AQUELA buceta que cismava em beber antes do almoço com o almoço já pronto e ela mesma descia e pegava as garrafas e bebíamos lendo o jornal e ela ficava tesuda e a gente trepava e voltava a dormir as comidas todas nas panelas a gente acordava e finalmente almoçava e já eram seis da tarde e ficávamos diante da tv sem precisar falar vendo o fantástico que ela gostava de ver AQUELA buceta que gostava de um monte de músicas que eu odiava e que nuns dias falava hoje vamos fazer amor e insistia no amor amor amor e era uma coisa muito bonita um sexo lento e demorado cheio de carinhos calmos e gestos de afeto e a gente gozava junto e sentia que era pra sempre porque nem tinha morte dúvida ou medo e era perfeito e eterno e a gente ficava pelado conversando e fumando combinando nomes pros filhos que viriam e também como faríamos quando eles começassem a fumar maconha porque eu achava que tinha que deixar fumar em casa e ela não AQUELA buceta-túnel de luz me abrindo pra eternidade das coisas sem nem saber que me abria AQUELA buceta-vida-morte-vida que é a única buceta que importa e que eu sempre procuro quando eu escrevo ou quando desejo que AQUELA buceta seja a única e eterna buceta

Muitas coisas e muitas jogadas.


É difícil julgar de supetão.
Gosto de julgar,
acho decente julgar
e acho que o tempo é fator determinante pra um bom julgamento.
Sim, eu acredito em julgamentos.
Não nos oficiais e institucionalizados. Mas acredito.
Não gosto de gente que nunca julga, por exemplo.
Julgar não é definir uma posição eterna.
Julgar, acho, é o mínimo de decência possível:
o que você pensa, você diz. Sem fazer média e sem ser simpático.
Sua opinião é livre porque é apenas uma opinião,
não quer, obrigatoriamente, convencer ninguém.
Parece justo pra mim.
-
Por isso eu prefiro os que julgam, mesmo que equivocados.
Parte da jogada de julgar é errar.
Erro a mais ou a menos não importa e nunca importou.
-
Basta estar aí
de olhos mais ou menos abertos.
Basta estar alí
e não se sentir mal
por ter pensado a coisa errada.
-
O erro existe, a gente sabe.
Ter medo do erro
é,
muitas vezes,
apenas estar vivo.

5 de março de 2010

3, 2, 1.

1 -
Os caras tão atrás do seu pózinho. Tudo certo. A gente tenta se divertir como pode. Se não consumo pó é apenas por falta de habilidade pra lidar com traficantes. Acho eles chatos e pegajosos. Não é uma gente direta, que faz negócio e pronto. É uma gente que sempre te supõe como amigo de infância. Um inferno.
2 -
O carro é pequeno e cheio de vidros fumê. Impossível perceber quem está dentro. Para, confere e anda. Depois da uma ré e liga o pisca alerta na frente do prédio. Sai um e põe um tipo de papelão no porta malas. Playboy perfeito. Cabelo, roupa, o estereótipo quase irreal. O amigo sai e o ajuda. Playboy perfeito também. Dois playboys perfeitos, uma dupla e tanto: um preto e outro branco.
Demoram horas. Conversam sem entusiasmo. Entram e saem do carro.
A piranha 1 desce. Não lembro de ter visto a fuça dela no prédio. Usa uma blusa que brilha e mantém o sorriso estúpido das piranhas tristes. Papos e papinhos sem nenhum entusiasmo à vista. A piranha 1 usa seu celular cor de rosa e está de saia jeans - mal tesudo que me excita nesse tipo de piranha.
A amiga, piranha 2, surge. Não sei se do prédio ou da rua. O modelo é parecido. As duas são uma, ainda que os cabelos sejam diferentes. Mais papos e papinhos sem entusiasmo e entram no carro.
Uma-atrás-outra-na-frente. Esquema armado e sei lá pra onde essa gente vai.
Boate? Sambinha? Bar com música ao vivo?
Tento pensar onde eu levaria uma mulher que usa blusas que brilham. Se fosse só ela, levava num restaurante Japônes - um tiro certo e óbvio, mas que sempre cola. Comer Japa tá na moda.
Mas nessa coisa de duplinhas eu estaria fudido. Não sairia nesse esquema, é a minha conclusão. Mesmo que me custasse uma buceta a menos eu não saia.
Será que me falta o carro com os vidros fumê?
3 -
Em um só dia o inferno e o céu.
Acho que isso acontece com todos, mas não consigo achar normal.
É um intervalo muito curto pra pensar tantas e tão diferentes coisas.
Picos de euforia plena com picos de confusão extrema. E tudo misturado e permeado com a mesma frase-refrão que digo a mim mesmo: te acalma, te acalma, te acalma.
E passa e volta. Como um diabo de estimação por quem se tem muito apreço.
O céu e o inferno, eu repito. E pobre daqueles que não acreditam nem em céu e nem em inferno.
Tanto um quanto o outro estão logo ali. São ideias-potência que merecem ser frequentadas.
O céu ou o inferno não são ruins ou bons, mas existem. Basta ir até um deles e perceber o quanto eles te atingem. Para o bem ou para mal. E tanto faz. Tanto faz mesmo.
O céu e o inferno são apenas dois lugares.
Não são quem você é ou o que você quer. São lugares que recebem visitas. Como a boate, o sambinha e os carros com vidro fumê.
E, os visitando ou não, eles não deixarão de existir.

4 de março de 2010

Era nós e nos sentiamos bem.

-
A saudades é discreta e a falação imensa. Sempre e sempre.
As esperanças são tão claras quanto as coincidências.
-
Os milagres, a gente sabe, se escondem com as baratas na curva do balcão.
Eu sou o cara que procura baratas, que gosta ou não de um bar pela média numérica de baratas.
-
Não sou esperto e nem quero ser. A esperteza, a habilidade, o saber quantas baratas devem ser mortas me soam, sempre e sempre, como o cálculo frio que antecede a surpresa.
-
Não quero e não me interessa.
Invento liberdades.
Sou arrogante e sou livre.
Ou melhor: só sou livre quando sou arrogante.
É assim. E nem importa. E tanto faz.
-
Prefiro eu mesmo e o que só eu noto.
Meu júbilo é nem notar que o cuspe pra cima caiu na minha cara.
Ser discreto tem disso: limpar o escarro sem ser notado.
-
Prefiro o escândalo e o dêmonio. São coisas que cismo e se repetem. A soma das minhas sombras são eu mesmo, é o grito.
-
Solidão é a saída pra trouxas e cismados.
Havia sol antes disso, mas quem acha que o sol se basta?
A bola de fogo pode até preservar a vida, mas caga pra vida.
A bola de fogo mantêm sua própia auto regulação.
É por isso que o sol é bonito e fatal: ele só se importa com ele mesmo.
-
13 e 30. 12 e 90. Faço gracinhas, eu sei.
Minha matemática faz julgamentos apenas por erros de soma.
Meu charme são todos esses erros.

3 de março de 2010

03032010


Minha princesa gigante me telefona de seu castelo. Gostou da pequena cabeça de dragão que lhe enviei. Uma cabeça que caçei e que me deu certo trabalho. O dragão nem era daqui, pertencia à outros asfaltos.

Exigiu alguma luta, mas foi abatido.

Eu, Quixote gordo, estava num dia dos infernos. Noite mal dormida, boca de cinzeiro, pulmão no talo e obrigações idiotas a se cumprir. Tomava um café após a primeira obrigação idiota quando o telefone tocou.

A voz dela estava doce e pastosa. Minha pequena cabeça de dragão havia chego em seu castelo. Ela estava feliz com a oferenda e comentou sobre a casinha que acompanhava o pacote. Achei curioso o destaque dado a casinha e pensei que isso era bom porque, de tudo, a casinha é o item mais resistente.

Meu mau humor infernal se dissipou enquanto eu saia do Shopping. Terminei o café, acendi um cigarro e caminhei lento pra casa.

Na passagem subterrânea reparei no rosto das pessoas que passavam. Muita dor e loucura, muita força e desespero. Pensei que é isso. Viver não é a aventura dos filmes. Eu pensava na satisfação da minha princesa gigante e me sentia bem, apesar de tudo.

No metade da passagem subterrânea, onde é possível ver o céu, cruzei com o Fortão que mora no 2° andar do meu prédio. Nós sempre nos cumprimentamos com um aceno curto de cabeça. Dois machos que se cumprimentam com formalidades ancestrais.

Acho que por estar pensando na minha princesa gigante, o cumprimentei com um aceno de cabeça mais largo e um sorriso satisfeito no rosto.

Pra minha surpresa o rosto do Fortão carrancudo do 2° andar se transformou. Abriu a boca fina num sorriso frágil e sincero. Os dentes, muitos pequenos, se mostraram pela 1° vez.

Até acenamos com a mão.

Só me ofereça
o que me interessa.
Ou então
nada ofereça.
Não sou homem
de me bastar
com pequenas promessas.

2 de março de 2010

Dia de misteriosa paz.

Foi assim.
E é estranho.
Você termina seu dia e está satisfeito.
Feliz até, você diria.
-
Nada aconteceu. Minha vida correu lenta do jeito que sempre corre.
Tive a maravilha de acordar cedo. Eu gosto de acordar cedo. Não assim e não sempre, mas, como hoje, eu gosto: eram menos de 7 e eu acordei antes do despertador. Até tentei dormir mais, mas não consegui.
Levantei e café na fita. Café bom, desses que a gente acerta. Antes louça e tarefas domésticas. Acordar sem despertador é ótimo. Mesmo o mau humor se dispersa.
(Já reparei nisso e deveria fazer experimentos. Dormir entre 5 e 6 horas pra mim é ótimo. Se durmo mais, a preguiça é bem maior.)
Li como um cretino durante o cafézinho da Roca e me empolguei. O livro nem era tão chato assim e eu sofrendo por antecipação. O mundo é mesmo cheio de gracinhas.
Pensar coisas que não se pensa pode ser um prazer.
Depois outras tarefas e tarefinhas e um pequeno soninho de 30 min antes do almoço. Nesse soninho me esforço pra sonhar com aquilo que eu decido. Explico. É simples: fico lendo e sentindo o sono vir, daí o olho pesa, marco a hora no despertador e me concentro naquilo que quero sonhar. Quase sempre dá certo, quase sempre é ótimo. Cada boquete sonhada que nem comento.
Daí almoço e tarde. Sempre assim, sempre lento. O dia tá chuvoso e cinza e me sinto em paz. Tô em casa, tô em Curitiba, não sou dependente do sol carioca.
Várias coisas que não precisam ser ditas e mais umas outras que deixo pra lá.
Arranjo o feijão, preparo o macarrão e armo a sopa. Tá frio no Rio e isso é quase um milagre.
Cervejinha pra ver o mundo e pra escrever e banho quente.
Tudo lento e calmo como as vezes, e só as vezes, pode ser.

28 de fevereiro de 2010

Não sei viver e nem sei se quero saber.


Nem é nada disso. É simples. Não quero topar tudo que se topa por aí. Tenho lá meu critérios. E critérios são aleatórios, a gente sabe.
Critérios a gente inventa. Com mais ou menos convicção, a gente inventa.
É por isso que cago minhas regras nesse blogue.
Esse blogue é meu, apesar de tudo.
É meu, apesar de eu saber que ele é pouco frequentado e que 70% das pessoas que vem aqui, vieram por outros motivos, tipo:
limpar meu umbigo, meu umbigo fede, sexo sujo, pnht, peitos pontudos, peitos sardentos, bukowski contos, cinema e amassos, virgem mas só vive de pau duro, etc.
Mas não importa, meu caga regra ainda me satisfaz.
Não quero precisar de platéia pra cagar minhas regras, mesmo que não negue o prazer que a platéia pode proporcionar.
Tanto faz.
Gente não é simples e gente que se julga simples não é confiavél. Por mais simples, cheia de boas intenções e honesta que seja.
Ser gente acarreta certas coisas. Ficar entre o bicho livre e o humano consciênte é uma delas. Ser gente é ser partido, diria eu no máximo da minha egotrip.
Mas não importa e tanto faz. De novo e de novo.
Acho que as coisas ficaram confusas por aqui. Acontece.
Mais um textinho na fita e mais coisas estranhas que acontecem, como esse latejar da minha bola esquerda nesse domingo.
Vai entender. Eu não e menos ainda agora.
Esquecendo tudo ainda acho a elegância e a discrição uma grande parada. São coisas que tem a virtude de se bastarem em si. Elegância e discrição para os outros não cola e nunca colou.
Melhor assim, é como prefiro.
elas
nunca
nos
dão
aquilo
que
a gente
quer

esquecem
que
dar
é coisa
típica
de mulher

27 de fevereiro de 2010

delíriozinho na tarde cinza.

Noite de pipoca e filme. Guaraná ou Mate. Muito gelo nos copos e play no aparelho. Daria um jeito de me recostar nos seios. Brincar de almofada no corpo alheio. Ouvir a respiração e, com sorte, perceber a pulsação. Ficar sem pensar. Filme simples, nem cabeçudo nem babaca. Woddy Allen talvez. Notar os pedaços do filme que mudam ali: nos seios, na respiração e na pulsação. Encaixar um beijo na hora certa. Sem língua só boca. Mudar de posição, descobrir um outro encaixe. Roçar a pele lenta, notar o sangue fluindo e os créditos que começam a surgir na tela. Mais pele roçada e um silêncio bom. Encaixa-se melhor, beija-se mais. Língua agora e língua lá. Entrar e sentir o risco. Os riscos. A aventura dos corpos, os sons sem sentido, o excesso de ar, a morte e seu arrepio. A boa derrota, a derrota de quem se entregou. Mais silêncio. Vontade de falar, mas não se sabe o que. Um sono, um soninho bom e o nariz grudado na nuca.

- boa noite.
- durma bem.

2° Coimbra do Ano.

Deve confessar que fico muito satisfeito em dizer que é a 2° vez que vou naquela decadência chamada "Bar do Coimbra" nesse ano.
Não estou, de modo algum, negando minhas raízes. Sei, e jamais duvidaria, da importância que o Coimbra e sua turma tiveram praquilo que eu posso chamar de "minha formação no RJ".
Acontece que esse boteco decaiu muito. Antes até jantava/almoçava lá. Havia o Bigode, o Sassá, o Sorriso e sempre, como o copo d'água que melhora a imagem da TV, o Coimbra.
Ele, o Coimbra, ainda está lá. Mas, na prática, só ele. Jamais comeria as iscas de frango que ele, ele mesmo, prepara. Ainda mais quando só ele tá no bar e sabendo do fascínio que a TV exerce sobre ele.
Tenho bom senso.
E agora o Coimbra tá dez anos mais velho e fica sentado com o pé esticado e uma faixa amarrada. Uma veia do pé dele estourou fazem dois anos e, bem, é o tipo de coisa que nunca teve e nunca terá cura prum cara como o Coimbra.
Não entro numas.
Vou lá por praticidade. É em frente da minha casa e posso trazer garrafas pra cá sem ter que me preocupar com os cascos. Se eu tiver sem dinheiro posso até fazer fiado. Se eu tiver sem dinheiro e com uma mulhézinha na fita posso até pedir dinheiro emprestado.
- pô, Coimbra, descola vintão...
- ...
- to com essa mulhézinha aí e tá foda...o banco tá fechado...
Ele olha a mulher. Faz cara de quem come muitas mulheres e solta.
- tranquilo, conheço você.
E por essas ainda vou lá.
Mesmo quando não é o caso como hoje.
Hoje nem precisava de cervejas e nem tinha mulhézinha.
Bebi duas no balcão e vi o mundo.
Agora, pelo bem/mal da lei anti fumo, fico no balcão da frente. Sem me esconder lá dentro e sem livro pra ler. Já li um bucado no Coimbra, mas isso não vem ao caso agora.
O caso são as duas garrafas do balcão e as coisas que eu vi.
  • o jogo dos caras é pif-paf, descobri. é um jogo simples que conheço. 9 cartas, vale trincas e sequências de 3. se se compra o descarte tem que mostrar. descobri que eles apostam alto. um ganhou 150. se fosse aposta mais baixa me arriscava com os canalhas. por 2 pilas o bate, eu toparia. mas não entendi quanto vale cada rodada. melhor assim, né não?
  • uma menina do outro lado no ponto de ônibus. eu sou um cara que usa óculos e que está no balcão de um pé sujo. ela me nota. eu noto que ela me nota. eu a julgo: semi gostosa e semi bonita com sandália e meia que espera o ônibus. divertido. olho pra ela de um jeito vulgar e estúpido. quero que ela fique sem graça e consigo. me sinto bem e vital. quando ela entra no ônibus levanto meus óculos pra dizer adeus. ela vê e enfia a cabeça no chão. eu me divirto. eu me acho "o cara".
  • a filha sapatão da dona da padaria imita a mãe. a mãe nem é sapatão, mas é como se fosse. a filha deve ter 13 anos e me causa medo. é dessas sapatões bem macho, que são grandes e debochadas. já vi ela discutindo com o pai que sabe, mesmo negando, que a filha é mais macho que ele. deus, eu me impressiono. é macheza demais pra uma garota que começou a menstruar no máximo há 4 anos.
  • a guria bonita do meu prédio mora ou no 2° ou no 3 ° andar. digo porque ela vai de escada. quer dizer: pode ser dessas que vai de escada pra se exercitar. mas daí, sei lá, meu preconceito já não a achará tão bonita. seja como for, adorei ver que ela parou na escada pra me olhar. e sou desconfiado. e digo sem margem de dúvida. ela parou pra me olhar. no canto da escada vi ela, achando que não era vista, parando e virando pra trás. meu ego gosta e meu pau se mexe dentro da cueca.
  • terminei uma histórinha aí. da Angélica. to com uma euforia boa e estranha. sou quase uma bicha, penso ao reler isso. mas a histórinha cola e é o que eu queria. final melhor do que eu imaginava. viva a Angélica que não existe. que é só minha porque eu que a inventei. Angélica é, agora, a única mulher que importa.

26 de fevereiro de 2010

As sacolas tavam cheias de latas de cerveja vazia.





pra atualizar o blogue misturo merda velha com merda nova. caço arquivos, vejo as lutas e cuspo pra cima.


  • nem tenho bebido tanto, mas também não tenho tirado o lixo. Minha média ideal são 6 latas. E, de preferência, escrevendo alguma coisa. De maneira que não penso, só escrevo. Uma paz que se procura, mas que nem sempre se acha. Paciência. As letrinhas, as vezes, têm vontade própria.
  • quando sinto raiva de você estou lhe demonstrando todo meu afeto. não devia explicar, mas explico. explico demais, falo demais. pra não me deixar abater eu explano a merda, remexo pra que ela feda. táticas tacanhas, ok. mas táticas ainda. porrada eu não sei levar. melhor, eu sei. qualquer idiota sabe. mas não quero. não acho bonito ou comovente a imagem do cara que se levanta do chão. ninguém sacode poeira porque quer, mas porque precisa. eu prefiro o querer. com doença ou não. querer é querer. saber o que quer é precisão. quero o cassius clay. ele sim. até toma porrada. até dá porrada. mas sempre tá com a guarda abaixada. é isso que faz dele, ele. só as pernas que mexem muito. a guarda, a guarda mesmo, está abaixada. é quase constrangedor lutar com um cara que abaixa a guarda. lutar com a guarda baixa é o que chamo de estilo. ou charme. ou alma.
  • Sua solidão mata as pessoas. E me sinto morto. Você provou que é forte. Mas eu não queria sua força, nunca quis. Eu queria justamente a outra coisa: onde eu, ou você, poderíamos ser fracos sem se sentir mal ou culpado, porque seriamos fracos em companhia divina. Companhia divina é o amor. E Chega. Nunca tem fim uma dor. Adeus. De novo. Despedidas são ruins, eu aprendi com você.
  • Hum. Bodinho vem e bodinho vai. Meu Deus. Quanta jogada e loucura. Todos cheios de idéias. Todos patinando na bela pista de gelo. O u-lalá da dançarina só excita gringos.
    Bem, a solução de ontem, hoje é menos encantadora. E então? Como faz? Mija pra frente e caga pra traz. Quando pararei de me identificar com Jesus? Quando deixarei as ovelhas em paz?
    Ah. Essa coisa de escrever é uma grande punheta. Escreve como quem faz terapia, como quem não se compromete muito. O sistema: uma pitada de amor, uma mijada fora do vazo e uma bela briga pra esquentar o relacionamento de 22 anos.
    Sem muito mais, mas, mesmo assim, cheio de desejos secretos e mesquinhos. Sim, mesquinharia grossa. Que que há? Não há porque não rir do tombo alheio, não há porque não se divertir da desgraça do outro.
    O outro é o outro e você é você. De onde tiraram essa idéia idiota de que não se deve achar melhor do que os outros? Pelo amor. Do bom Deus, claro está. Se achar melhor que todo mundo é uma auto-ajuda legítima. Assim como rir da própria merda é auto-ajuda.

25 de fevereiro de 2010

Veja você.

Você que some e deixa que eu fuja.
-
Ontem me masturbei pensando em ti. Fazia tempo que não me dedicava tanto a uma punheta. Você sabe, a Internet e sua pornografia incrível acaba criando maus hábitos. Confesso que fazia anos que eu não tocava uma punhetinha apenas usando a imaginação.
Há punhetas e punhetas. As vezes é só uma questão de esvaziar. Ou de ter sono. Ou de falta do que fazer. O tédio é, muitas vezes, o agente da punheta.
Mas não foi o caso.
Estava lendo, com o ventilador na fuça e deitado na cama. Luminária ligada, pernas cruzadas, uma mão segurando o livro e a outra coçando o saco.
Por algum mistério lembrei de você. Seu corpo comprido, seus olhos enormes, sua boca bem desenhada e uma nesga de bunda que guardei na memória.
Nessas o pau começa a se espreguiçar. O sangue ganhando o corpo cavernoso e o pau, semi-duro-semi-mole (ou demibombê, como diz o R. Morais no Tanto Faz) ganhando destaque na cueca.
Tiro a cueca e decido: ela merece.
Agora sou eu e meu pau. São duas horas da tarde e ele incha cada vez mais. Começo os movimentos. Crio cenas com você e aciono as imagens que guardei. Os pés no meu peito, o balançar dos seios, o pescoço dobrado, a nesga da bunda, o olhar depois do beijo roubado, os pêlos e a umidade cheia de sangue.
Outras lembranças tentam me invadir. Ex namoradas, outras fodas, mas eu não deixo. To resolvido: essa punheta é tua, só tua.
Invento coisas que nunca fizemos, posições e mordidas que não existiram, confissões que não houveram. São duas e dez e o pré-gozo começa a se manifestar na espinha. Mudo de posição e, quase descontrolado, mordo o bico do seu seio esquerdo com mais força do que deveria. Há um pequeno grito e um desculpa ofegante.
Estamos em sintonia fina. A pressão aumenta gradativa e ritmada. Você abre os olhos e eu mordo o seu queixo.
Gozo.
Gozo invocando seu nome e num esforço irracional de onde ela estiver, ela lembrará de mim agora.
Minha barriga está melada. Meu umbigo é um poço de porra em sua homenagem. Penso se isso é normal ou se sou maluco. Decido que é normal e não penso mais nisso.
O papel higiênico faz a higiene e se esfacela. Olho o montinho de papel na minha mão e digo pra você antes de o lançar no lixo.
Me visto. Há coisas pra fazer.
Nenhuma flor em nenhum asfalto. Apenas carnes que se roçam e evitam o tédio como podem.
O abatimento é antigo e o tempo age com seu conta gotas fatal. Nenhum mistério de amor e nenhuma mulher generosa com braços e pernas abertas. Porque não há mais mulheres que saibam abrir as pernas. Agora elas apenas se arreganham e confundem entrega com dar de quatro. Como se habilidade fosse o que importasse.

24 de fevereiro de 2010

aquilo e eu depois.

Depois de fazer certas coisas é possível morrer. Morrer em paz, de olhos abertos e sem frescura. A morte já não importa porque você fez AQUILO. E AQUILO é um milagre, um sentido que pode bastar pra sempre. Depois de AQUILO há a tranquilidade e a paz. A vida inteira só serve pra AQUILO, o resto é ensaio, cumprimento de função, obrigações miúdas que se cumpre bestamente: banco, contas, projetos, jogadas e etc.
O AQUILO pode te abastecer por meses. Ou então pela vida inteira. Depende do AQUILO.
Os AQUILOS que considero de morte - pois fazem com que a morte não seja mais um tormento - são alguns.
Mas cito 3 agora:
"Todas Mulheres do Mundo", do D. Oliveira.
"O Caminho de Los Angeles", do J. Fante.
e o "Cello Suite N. 1", do Bach.
-
E é ele que segue aí em baixo. Se possível, apenas escute. Sem pensar. O AQUILO fará a sua parte. O AQUILO é sempre fatal.


(e viva Karen Coelho)

recado.

Deixo mais uma postagem sem publicar. Como se eu fizesse contas por motivos misteriosos. Que de misteriosos não tem nada. Se não publico um post ou outro aqui é porque eu tenho uma razão muito clara pra não publicar. Quando não publico é justamente porque sei que vai parecer um recado.
E claro está, pra qualquer idiota que leia meu blogue, que volte e meia eu o uso para mandar recados. É confortável pra mim. Sei que fulaninha vai ler e aproveito. É uma diversão bem conveniente prum cara como eu: que prefere à si mesmo do que ao mundo.
Então se não publico é porque não quero mesmo publicar. Se depois eu reler e achar o post bom, eu vou publicar. Muito provavelmente mudando o título ou então usando o marcador memória.
Pode não parecer, mas, na média, na grande média de merda, eu sei o que eu faço. O que não quer dizer que eu acerte sempre.
O fato é que esse post é um recado. Nem era pra ser, mas eu tava sem assunto e os idiotas que me lêem sabem que tento escrever todos os dias. É uma maneira que tenho de provar algo pra mim mesmo e que não precisa de nenhuma justificativa clara.
Então fica tudo assim. Um post recado pro post não publicado e a minha vaidade satisfeita por ter escrito aqui mais um dia.
Cada um se satisfaz com o que quer. Eu me satisfaço com isso.

23 de fevereiro de 2010

pra uma mulher bonita.

A mulher que não peida
não sabe de nada.
Não entende
como pode ser
íntimo
o cheiro
do peido
da mulher amada.

22 de fevereiro de 2010

Acordei bem antes do relógio. 4:30. Fritei um pouco, li outro tanto e quando vi que amanhecia, desisti.
Antecipei a lista e fui pra tal caminhada. Gordo caminhando é uma coisa triste de se ver. Digo por mim e pelos outros. Andamos tortos e suamos tanto que chega ser ridículo. Sofri e praguejei, mas fui até o fim. O cérebro frenético e o pulmão apitando quando eu respirava mais longamente.
Já em casa tive o requinte de pegar o pesinho e fazer exercícios para os ombros. Porque meus ombros podem cair segundo os médicos. E dia desses eles tavam doendo.
Até aí tudo certo. A gente é um bicho estranho e patético que fica muito serelepe e faceiro quando faz o que disse que faria.
O foda são os cigarrinhos. Já estou no 2° cigarro do 2° maço. Até tentei marcar o tempo no inicio pra evitar os cigarros que vêm em sequência compulsiva. Talvez tenha dado certo e eu não saiba, já que nunca fiz a conta de quantos tubinhos eu como por dia.
Seja como for, hoje sou um animalzinho satisfeito. Mesmo que o mundo e a felicidade não sejam meu forte.

Pra pisar no chão do inferno.

(Posso dizer que estou livre porque meu pacote foi completo).

1 -
Domingo sinistro nas ventas. O dia mais longo do ano de 2010. Por algum mistério do maldito cosmos é assim que estão todos. A amiga que terminou seu romance, a outra amiga com sua intensidade interna em conflito com seu instinto de preservação e o amigo que, do contra, mas cheio de sentido, se sente bem pela possibilidade de um futuro verdadeiramente novo. Estamos todos lá. Fazemos firulas e implicamos uns com os outros. Por prazer e intimidade.
2 -
O motivo da reunião é nobilíssimo: uma criança que comemora. Cerveja e salgadinhos pros adultos e escorrega e trepa-trepa pras crianças. Um equilíbrio quase perfeito. Claro que há muitas ironias no ar. A tristeza de um casal que finge não ter tristeza, a ruiva-falsa e sua mudança de data de retorno, a mulher mais bonita que é lésbica e nunca olharia pra mim - mesmo que olhe de um jeito que não é o que eu gostaria.
3 -
Mas não importa. Estamos no mundo e ele gira cheio de crueldades. Reparar em flores é sempre uma fraqueza: pra mim, pra nós e pro ser mais poderoso da terra. Em outras palavras: o mundo só gira porque não repara nas flores.
4 -
Volto antes da expectativa. Eles reclamam e argumentam que agora é a hora: a maioria irá embora e haverá cerveja e maconha. Concordo com o bom argumento, mas volto mesmo assim. Ando com uma gravata de Carnaval pelas ruas. Gravata da festa e que pus pela festa. Vermelha de bolinhas amarelas. Passo em frente a uma casa e abaixo a cabeça. A ironia é eterna e o mundo é cheio de gracinhas.
5 -
Decido que devo tocar o chão do inferno. Se a loucura existe eu não posso a ignorar. Na caminhada decido que vou até o fim. Farei o circuito, me entregarei na mão de um monte de trágicos-palhaços e dormirei bem morto hoje. A morte, ainda que me pareça terrível, pode ser a paz.
6 -
Estratégia feita e Coimbra na fita. Faz anos que não vou lá e por isso hoje eu vou. Vou mijar na privada mais nojenta da Z. Sul e vejo as marcas de merdas de vidas passadas. Tento, como um herói sem um dragão, limpar, com o jato do meu mijo amarelo, a bosta ressecada e marrom que está incrustada na louça. Perco a tentativa e assumo que a bosta incrustada é a vencedora. Bebo uma aqui e levo o resto pra casa.
7 -
Bebendo no Coimbra penso em 3 coisas e leio o papel sobre Jesus que fala sobre ovelhas que recebi no meio do caminho. Reparo no jogo de cartas dos caras e acho que é melhor mesmo eu não saber jogar o que eles jogam. Acendo um cigarro pra ver se a lei anti-fumo já chegou aqui e fico contente ao saber que não. Respiro fundo e sinto o cheiro de mijo de cachorro misturado com amônia que prevalece no bar.
As baratinhas passeiam por perto, mas não as deixo passear pelo meu copo. Eu é que mando. Sou um local, um caiçara. Peço o saquinho pras cervejas que levo e ouço a velha e repetida piada machista. Ok, se eu sei do se trata, eu topo.
8 -
Em casa o arquivo aberto e uma ou outra navegada na Internet. Nenhuma novidade e nenhum milagre, infelizmente. Decido o sabor da pizza, mas seguro o pedido. Quando eu for comer é pra dormir. Abro pela primeira vez a agenda/2010, faço uma lista fria e preparo meu dia de amanhã: incluo horário pra acordar e caminhada.
Espero que eu siga a lista. Ela é fria, mas tem bom senso. Decido terminar meu whiskey entre uma cerveja e outra. Como uma despedida com cara de até logo.
9 -
O dia foi longo, mas foi o que poderia ser. É estúpido esperar milagres em paisagens desertas. As coisas são lentas e fatais. "Um dia depois do outro", como diz o velho Buk querendo ser mais razoável e dividido pela briga entre o velho que tá pra morrer e a vitalidade que se sente na alma, mas não no corpo. Porque o corpo, querrendo ou não, sempre envelhece pela ação do tempo.
10 -
Já que todos falaram, eu repito também. É amanhã que o ano começa. Primeira segunda pós Carnaval é a explicação/consolo pra todos que sentem cansaço e outras tristezas discretas. Por isso a lista e os planos repetidos.
O ano não começou e só começará amanhã. Amanhã será bem melhor. É sempre bom pensar assim.

21 de fevereiro de 2010

infelizmente não é um domingo qualquer.

Tomando cafézinho e tossindo todo o excesso de cigarros de uma vida puta. Placas amarelas, verdes e marrons sendo lançadas a cada contração do pulmão. Tosse com direito a bolinhas coloridas no final. As bolinhas do Tim Maia, as bolinhas da pressão.
Antes de dormir e depois de acordar toco uma punheta. Pra ver meu pau alí, pra ver que ele existe e espirra suas coisas. A bandeira de uma dança mal dançada. Um homem e seu pau é uma história pra se contar.
Por todo parafuso e por todo espiral que me puxou, tomo aquelas velhas e sábias decisões:


fumar menos, fazer exercícios, programar a leitura, programar o dia para um melhor rendimento, comer melhor, beber menos, levar as coisas menos à sério, acordar e dormir sempre no mesmo horário, visitar os museus, evitar as gorduras e o açúcar, aproveitar o plano da Amil e ir ver médicos, ver vários médicos, ver todas as modalidades de médicos, terminar o livro, publicar um livro, programar o espetáculo, ficar atento com as datas dos editais e festivais, não esmorecer, ter mil planos, separar as roupas velhas, dar as roupas velhas, limpar os papéis, abrir as pastas, tomar mais líquido, comer mais frutas, descobrir novas pessoas pra trocar cartas, ler os clássicos, se incomodar menos com a máquina, participar da máquina, ir no banco, abrir poupança, viver sem pensar, etc.

E hoje é domingo. E o café é bom e forte. E cagarei lento e de porta aberta - como se expulsar as merdas fosse apenas uma metáfora. Tomarei um banho onde ficarei por 5 min. me alongando e me esforçando para 'não pensar em nada'.
Então me preparo e vou ver uma criança cheia de vida. É a festinha de aniversário dela e eu não comprei presente porque eu sempre me enrolo. 2 anos no planeta e poucas marcas do mundo. A vitalidade que só uma criança e sua animalidade pode ter.
Sinto saudades de um monte de coisas. Lembro de outro monte também. Umas lembranças são ruins e outras bonitas, bem bonitas. Quase tristes de tão bonitas.
Nessa estranha tarde de domingo haverá os amigos, a cerveja e os cigarros e crianças que correm pra lá e pra cá sem nunca parar. A lição possível, o entendimento mais objetivo que se pode ter da vida: fazer.
E por lembranças de domingos de outras épocas, segue a música que quero cantar. A música que me acordava aos domingos em Curitiba com meu pai tomando caipirinha, minha mãe na cozinha e o cachorro na sala.



O egoísmo parece ser a solução. Sou exagerado e louco quando to no mundo em companhia. E não faz sentido. E não é assim. Falo demais, me perco, me confundo, fico inseguro, babaca e chato. Paranóico e perturbado disparando coisas de jeito estúpido, como se tudo que se pensa devesse ser dito, como se a verdade fosse apenas uma questão de falar muito. E não é nada disso .E não haverá nenhum entendimento numa euforia desse tipo. Porque não dá, porque se deve concentrar em uma ou duas coisas e não deixar 30 rodar dentro do seu cérebro. Como um carrossel suicida. É insensibilidade, burrice. É não entender que o tempo precisa existir, que a calma precisa existir, que as coisas correm lentas e podem, ou não, evoluir. Porque a chance é a mesma, o risco é o mesmo. Mas eu teimo e quero tomar pela mão o impossível. Destruir à barrigadas. Ser um Quixote sem charme e sem nexo. Uma chatice de confusão que o mundo em companhia me desperta. Com outros horários, outras interferências, com palavras que não conheço e datas que esqueço. O cúmulo de ser eu mesmo. A explicação do isolamento e um sol sem Lagoa ou Praia. Um sol que aquece e queima. Que faz queimaduras de terceiro grau. Um sol que queima porque não uso o bloqueador. Porque o sundown tá alí do lado, mas eu não uso. Porque não sei ser eu com os outros. Porque o eu sozinho tem alguma chance de paz. E o eu com os outros, pra ter paz, tem que antes passar pelo inferno.