5 de março de 2010

3, 2, 1.

1 -
Os caras tão atrás do seu pózinho. Tudo certo. A gente tenta se divertir como pode. Se não consumo pó é apenas por falta de habilidade pra lidar com traficantes. Acho eles chatos e pegajosos. Não é uma gente direta, que faz negócio e pronto. É uma gente que sempre te supõe como amigo de infância. Um inferno.
2 -
O carro é pequeno e cheio de vidros fumê. Impossível perceber quem está dentro. Para, confere e anda. Depois da uma ré e liga o pisca alerta na frente do prédio. Sai um e põe um tipo de papelão no porta malas. Playboy perfeito. Cabelo, roupa, o estereótipo quase irreal. O amigo sai e o ajuda. Playboy perfeito também. Dois playboys perfeitos, uma dupla e tanto: um preto e outro branco.
Demoram horas. Conversam sem entusiasmo. Entram e saem do carro.
A piranha 1 desce. Não lembro de ter visto a fuça dela no prédio. Usa uma blusa que brilha e mantém o sorriso estúpido das piranhas tristes. Papos e papinhos sem nenhum entusiasmo à vista. A piranha 1 usa seu celular cor de rosa e está de saia jeans - mal tesudo que me excita nesse tipo de piranha.
A amiga, piranha 2, surge. Não sei se do prédio ou da rua. O modelo é parecido. As duas são uma, ainda que os cabelos sejam diferentes. Mais papos e papinhos sem entusiasmo e entram no carro.
Uma-atrás-outra-na-frente. Esquema armado e sei lá pra onde essa gente vai.
Boate? Sambinha? Bar com música ao vivo?
Tento pensar onde eu levaria uma mulher que usa blusas que brilham. Se fosse só ela, levava num restaurante Japônes - um tiro certo e óbvio, mas que sempre cola. Comer Japa tá na moda.
Mas nessa coisa de duplinhas eu estaria fudido. Não sairia nesse esquema, é a minha conclusão. Mesmo que me custasse uma buceta a menos eu não saia.
Será que me falta o carro com os vidros fumê?
3 -
Em um só dia o inferno e o céu.
Acho que isso acontece com todos, mas não consigo achar normal.
É um intervalo muito curto pra pensar tantas e tão diferentes coisas.
Picos de euforia plena com picos de confusão extrema. E tudo misturado e permeado com a mesma frase-refrão que digo a mim mesmo: te acalma, te acalma, te acalma.
E passa e volta. Como um diabo de estimação por quem se tem muito apreço.
O céu e o inferno, eu repito. E pobre daqueles que não acreditam nem em céu e nem em inferno.
Tanto um quanto o outro estão logo ali. São ideias-potência que merecem ser frequentadas.
O céu ou o inferno não são ruins ou bons, mas existem. Basta ir até um deles e perceber o quanto eles te atingem. Para o bem ou para mal. E tanto faz. Tanto faz mesmo.
O céu e o inferno são apenas dois lugares.
Não são quem você é ou o que você quer. São lugares que recebem visitas. Como a boate, o sambinha e os carros com vidro fumê.
E, os visitando ou não, eles não deixarão de existir.

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