27 de novembro de 2010

O-l-í-v-i-a.

Mirar o pau como quem vê um abismo.
E gosta do abismo e é amigo do abismo.
Mirar o pau porque assim se carrega a alma.
Diante do abismo há a buceta perfeita,
com flores e cheiros e orgasmos verdadeiramente violentos,
desses que na contração quase lhe arrancam o pau.
Abismos e mulheres que podem lhe arrancar o pau são como o próprio sentido da vida - e isso supondo que tal sentido que não existe, exista.
As flores aprecem sempre depois.
É decente.
Primeiro existir e só depois adquirir alma.
Porque sem alma não há abismo nem altura nem...
Alma.
Fetiche por almas retraídas ou por almas que têm medo de ser almas ficou pra trás.
Liberdade é outra bobagem que só se pode acreditar após certas coisas.
Como abismos, como bucetas floridas, como ataques de ternura quando a ternura ainda estava fora de moda.
Suportar-se à si
e dizer que o idiota diante do espelho
é você mesmo.
E sofrer um pouquinho,
e lembrar de nomes lindos,
e sonhar com as mulheres lindas que inventa
e que nem precisam existir.
Como um treinador de cães
que adora os cachorros
após muito treino.

25 de novembro de 2010

fifiti/fifiti.

Quiçá que seja
ou não seja.
E isso faz tempo
que tempo faz,
mas nunca me acostumo.
Culpa dessa vaidade
de querer mais.

Quem sabe com raiva,
quem sabe sem jeito,
quem sabe a palavra certa
acerte e seja nunca.
Ou sempre.

Quem sabe quiçá de repente?
Que também gosto de festa
e também sinto tédio.
Que há bucetas boas
e fumos de qualidade
e as noites lentas
onde mesmo o durante
provoca saudades.

Quiçá num dia cinza,
onde uma garota estrangeira
que não fale a minha língua
diga algo que eu não entenda
para dizer que a chance
é sempre igual:
erra-se bem
ou
acerta-se mal.

24 de novembro de 2010

o cretino com asas.

ele voa. e a cada três meses se manifesta. nesse caso, a cretinice é não saber morrer.
morrer decente, de terno, como foi o Seu Batata, pai do Tél. a vida inteira um bebum de chinelos.
mas no caixão a morte decente e formal: terno, algodão no nariz e mãos sobre o peito.
mas o cretino não. o cretino não entende nem mesmo que morreu e que, como morto, deve estar num caixão, desfrutando a paz gelada e inevitável de quem está embaixo da terra.
mesmo lá de baixo o cretino põe suas mãozinhas pra fora. é como um filme de terror b que se esquece do humor que ser 'b' deveria ter. mãozinhas em agonia que se levam à sério.
o cretino é isso. leva-se à sério e nem desconfia da estupidez que lhe é própria e percebida por todos. o cretino é puro e cheio de boas intenções.
ele dança, ele ressuscita, ele multiplica peixes e faz ressalvas sobre suas ações estúpidas. o cretino é sempre sincero e, ainda pior, sensível. ele sempre faz questão de dizer: sou muiito sensível.
quando ele tira férias, ele anuncia: vou tirar férias.
quando ele come sushi, ele diz: comi sushi.
quando ele participa de uma promoção, ele põe o site no facebook para os amigos desfrutarem: www.cretinofeliz.com e, na mesma hora, ele curti a si mesmo.
o cretino sempre curti a si mesmo, além, claro está, de compartilhar qualquer coisa com qualquer um.
quando o cretino morre, ele não morre. porque o cretino é eterno e sempre será. a cada aniversário de morte do cretino haverá uma festa. se há uma chance do defunto-cretino aparecer, ele aparecerá.
o cretino sempre aparece.
além de curtir à si próprio, ele é coerente: nasceu cretino, viveu cretino e morrerá cretino.
e... bem... para o cretino...a morte... - até ela - ... é apenas uma passagem.

22 de novembro de 2010

Os infernos são particulares e assim devem ser.

O mínimo de dignidade é isso: levar à sério os próprios infernos: sem excesso de simpatia e sem sorrisos abertos que não dizem nada.
Minha desconfiança com gente simpática demais é uma tônica.
Quem, que possua alma, confia nesse eterno otimismo TUDO LEGAL?
Prefiro o tio Buk que, como diz o Bortolotto (tio também), "descobre a pérola no fundo do copo".
E isso é gosto. E gosto, a gente sabe, não se discute. Só os chatos discutem tudo - incluso gostos.
Seja como for, peido alto e sinto o cheiro fabricado nas minhas entranhas. E isso é real e patético.
Cada um se protege como pode e vive como dá.
Eu entre idiotas é meu bordão da vez.
Participar do mundo não é virtude, é apenas (e apenas!) uma necessidade.

21 de novembro de 2010

Tesão por aí, né??

Todas as crianças me dizendo: como vai? como tá?
E sou educadinho e imagino que satisfação seria apontar a guria do bar e dizer: Tô comendo.
Igual a criança que fica satisfeita por ter o pai mais forte.
(Se isso existisse... se eu fosse criança... se as crianças fossem apenas fofas e nunca chatas... como se 'fofo(a)' fosse um adjetivo decente para adultos que já têm pêlos nas genitálias.)
De modo que confesso: orgulho mesmo era comer a Maiara. Não que ela seja a mais tesuda ou mais surpreendente. Apenas porque se a comesse sentiria esse orgulho de macho que aponta o dedo e a pica na mesma direção.
Maiara, meu amor. Você me dá? Fica de quatro apenas pra eu ver? Nem ligo pros seus ex e seus filhos.
Maiara de quatro, Maiara eu te amo.
Sou um tipo bem comum, afinal.
Idiota entre iditotas: nós dançamos forró, gostamos de sambinhas e preparamos feijoadas para o casal de amigos que nos visitam aos domingos.
Mentira.
Nós vivemos bem, não é benzinho?
E Maiara iria sorrir e dizer que é a mulher mais feliz do mundo.
Ela acreditaria nisso e eu também. A gente morreria juntos. Um ao lado do outro sem nunca querer saber como as coisas seriam se não tivessem sido como foram.
A paz. A paz dos idiotas satisfeitos. Desses que acreditam em destino, Deus e coisas do tipo.
Como se viver e nascer fosse o mesmo. Como se não houvesse opção.
E, ao morrer, a família estaria próxima e o céu seria uma imagem do céu do Chico Xavier.
Como se tudo fosse eterno, como se não vivêssemos no Tempo.
Como se o Tempo fosse uma idéia e não um fato.
Como se viver fosse apenas mais uma brincadeira.
Como crianças, afinal.

20 de novembro de 2010

Tesãozinho de ocasião.
Sente-se aqui e sente-se ali.
Há que se tomar cuidado:
não levar esse tesãozinho tão à sério,
não ignorar o tesãozinho que há.
-
Assim até eu.
Eu vejo as criancinhas e eu gosto delas.
Converso, sou simpático e sou legal.
As criancinhas com peitos minúsculos
e promessas de amor incondicional.
As criancinhas que fazem promessas
porque não acreditam em promessas.
-
Nem só de belas tetas vive um homem.
Ouvir as tristezas dela é como
ouvir um relógio que reclama
por ser obrigado a contar
cada segundo que passa.
Um relógio que reclama por ser o que é:
um relógio.
-
Pede-se pouco.
Fosse só burra ou só gostosa.
Fosse o que fosse,
mas que fosse apenas o que é.
Ah... Assim pedia luz pra Jesus
e lhe alimentava todas as noites:
leite morno para os bons sonhos.

19 de novembro de 2010

Show dos coleguinhas.

Eu estou lá. Táxi, entrada, bebidas e táxi: tudo é dinheiro e tudo é bobagem.
Gosto de estar lá. Nunca estou lá e por isso gosto.
Os coleguinhas, a banda, o rock.
Rock, eu repito.
São três. Eles tocam e às vezes cantam. Meus amigos de maneira geral. Estou lá por isso, pra ver o trabalho dos meus amigos.
E eu gosto.
O simples fato de eles não tocarem sambinhas-na-lapa me acalma porque isso é menos normal do que eu gostaria que fosse.
Me divirto. Há gente. Eu estou lá e não aqui. Há gente. Eu gosto.
Agora, confesso, eu gosto de tudo.
Sou um cara legal e generoso, mesmo que me provem o contrário.
E vivo, nénem, vivo.
E vejo. E imagino. E estou aí - mesmo que nem sempre eu emplaque.
Decência, eu diria.
Céu e inferno, em outras palavras.
Satisfação, e me recuso a dar explicações.

18 de novembro de 2010

Vai, Fernandinho.

A porra da vida bate na bunda. Então se sobe e então se desce. Montanha russa de caralhos e bucetas - e, pra que fique claro, digo isso da perspectiva de quem tem uma preferência entre os caralhos e as bucetas.
E na quarta eu era um imbecil suicida, na segunda um cretino satisfeito, na terça um deus discreto e por aí vai.
Até quando? Pra sempre, neném, pra sempre.
Sobe e desce filho da puta. E a puta pare. E a puta goza. E a puta apanha do seu grande amor.
E o leite derramado está lá. Faz um belo mapa no chão. Parece o sul da América do Sul, parece a ponta da bota que é a Itália. E os imbecis do mundo se reúnem num coro pra cantar: "não adianta chorar pelo leite derramado". Mas o coro esquece que "não adianta sorrir sobre o leite derramado" nem "fazer de conta que o leite derramado não existe".
Então segue-se. E velhas têm cataratas, crianças novos colégios, adultos novos empregos e jovens têm Internet e outras bobagens - como o show de rock-amigo que vou daqui a pouco.
Seja como for sempre confirmo que:
- não tenho vocação pra suicida.
- não acho a MTV super legal.
- sou católico porque fui batizado.
- os americanos fazem seriados como ninguém.
- a Internet é uma ferramenta de solidão.
- o álcool é uma terapia mais eficiente.
- toda merda é generalizada.
- um dia após o outro é o bom senso mais classe média da porra do mundo.
- há 6 anos atrás eu era 20 kg mais mais magro.
E vem dia e vai dia. E aqui estamos. E eu continuo. E você. E o blogue. E também tudo isso que chamamos de 'esperança', mas que, afinal, quer dizer mesmo é: ESTAMOS AÍ.

14 de novembro de 2010

Porque ao pensar "ela é bonita, mas é chata" haverá, querendo ou não, o lapso entre a carne e o espírito (e digo espírito por falta de palavras).
E se a beleza é óbvia, o espírito não é bem assim. Há que se ter paciência e dedicação. O espírito é qualquer coisa que surge com o tempo e com a generosidade.
Vê-se belos espíritos com olhos otimistas. E vice-versa.
Achar chifres em cavalos é uma habilidade humana. Somos, de maneira geral, generosos e bons.
E, quando tudo dá certo, gostamos de alimentar as pessoas que amamos.
O amor, seguindo essa lógica, é o sentimento que torna possível a generosidade. A mulher amada sempre será linda, mesmo quando vomitar ou cagar nas próprias calças. A beleza da mulher amada está na generosidade que o amor traz.
E apenas por isso acredito em amor. Amor é o que faz com que a gente tolere o intolerável. Um tipo de cegueira convicta, um modo de crença que nunca dá valor aos fatos.
E, infelizmente, os fatos existem.
Amores de vínculo sanguíneo são mais fáceis de lidar: mãe, pai, irmão(a), filhos(as), mães ou pais de filhos nossos, etc.
Amores de ocasião também: amor da minha vida antes de se mudar pra Manaus, antes de voltar ao seu país, antes de descobrir que é gay, etc. O prazo de validade pode ser uma bênção. Como a Cameron, d0 House, que casou com um moribundo.
Seja como for, há a carne e há o espírito. Não acho que equilíbrio seja a solução. Há a carne e há o espírito. A balança equilibrada é indecente. O lançe (penso agora) é quase cair um dos lados. Mas quase.
-
A balança em equilíbrio precário me parece uma boa imagem:
de um lado o coração cru, do outro a fumaça chamada espírito.
Um lado quase cai, mas não cai.
A balança nunca está no meio,
mas tá equilibrada lá do jeito dela,
mesmo que torta.
meu amor


é uma criança triste


quando pensa bem


sempre desiste.

11 de novembro de 2010

existe

a paz, o gozo,
o tempo desperdiçado sem ser perdido.
gosto do que gosto.
melhor assim.
e nem posso reclamar.
pai e mãe vivos,
sobrinhas sem doenças
e esperanças que brigam com o tempo.
-
o dinheiro aumenta meu pau
e gente quer me dar.
isso passa, eu sei.
mas passando, eu fico.
porque é melhor lembrar disso
do que lembrar
da puta burra que
me cobrou 150 pratas.
-
contas de mais
e contas de sim e não.
o corpo comprido ficou caro,
o corpo magro não ficou.
-
a gente mente
e a gente se diverte.
a gente se resolve.

10 de novembro de 2010

Teimodinho, eu aprendi.

Não gosto dessas metáforas mal usadas e tenho raiva de tudo que se diz em nome da sinceridade. Como se sinceridade fosse desculpa pra idiotez.
(Ela diz: sou muito sincera por isso digo merda)
E vejo sua burrice cheia de brilho que crê, como burra que é, que em nome da sinceridade todas as imbecilidades podem ser toleradas.
Há que se pensar o que se fala. Ou então viver falando tudo que se pensa como uma criança que ainda chama a mãe após cada merda no vaso.
(Um clássico: manhêêêê... acabei.)
Estou velho e estou intolerante. Minha solidão é sincera e, portanto, estúpida. Não topo tudo e nem gosto de jogadas. Pago meu preço, mas o preço que eu pago eu rôo sozinho. Minhas invenções são gloriosas porque são minhas e porque são invenções. Não posso - nem acho importante - cobrar invenções de gente alheia.
(Que cada um com seus problemas, mesmo que a dor seja coletiva)
Tenho meus cigarros, meu tédio e eu mesmo para suportar.
E esse papo de se amar ser importante nunca me convenceu.
Simplesmente porque conheço muita gente que diz 'eu me amo '.
-
mais um post na caixinha
e mais uma dose de própolis
a vida
é cheia de picuinha.

9 de novembro de 2010

listinha

  1. As queridinhas. Elas me amam quando estou no metrô e leio meu livro. No metrô as queridinhas me amam e ignoram minha pança branca e redonda. Mas dar pra mim que é bom, nada. As queridinhas me desejam apenas entre a Glória e Botafogo.
  2. Faço julgamentos. É arriscado. Julga-se mal, julga-se bem ou simplesmente se faz um julgamento equivocado. Seja como for, meu julgamento me diz: D é carente. Apenas isso. D. é profundamente carente. Freud deve explicar. Coisas sobre papai mau. Freud, com certeza, explica.
  3. J sem soutien é meu delírio. Peitos pequenos e atentos sem soutien. Mulheres de peitos pequenos deveriam ser proibidas de usar soutien. A gravidade age menos em peitos pequenos(taí mamãe que não me deixa mentir). É como uma vingança retroativa: a peituda da 7° série segura canetas bics com seus peitos enquanto a peito pequeno precisa apenas de uma camiseta branca e de um ar condicionado. Tesão. Tesão em J. E também tesão generalizado. Prefiro os peitinhos de J. Tesão, tesão.
  4. Gostar de si é tão necessário quanto não gostar de si. É o erro fatal de todas as auto ajudas. A vida não é tão simples. E esse sobe-desce nosso de cada dia é, mesmo que inevitável, uma bobagem. Somos crianças diante do doce. Somos crianças diante do quiabo. Mas, pra amenizar nossa culpa, afirmo: ser criança não é um ideal, é apenas o que ocorre.
  5. Fazer planos. É normal e idiota. Meu plano agora é assim. Queria um escritório. Isso mesmo: um escritório. Faria a mesma coisa que faço aqui. Mas em outro lugar, com contas a serem pagas e, principalmente, com bancos de horas. É uma mentalidade de macaco: cria-se a circunstância para depois se criar a necessidade. Como a frase-punhetinha para atores: você corre de um urso / pode imaginar o urso e o medo que ele te dá pra depois correr / ou pode correr e depois ter medo do urso / você que sabe. (é quase isso. o original sempre é melhor).
  6. punhetinhas jogadas. Escrever mensagens no facebook é soltar pólen. Aleatório, sincero e virtual. Uma nuvem de talco. Primeiro derramar o leite. Depois chorar sobre ele. Como se só isso fosse, como se não houvesse ceú e inferno, como se no xadrez os peões não fossem menos importantes que a rainha. Coisas jogadas. Jogos de maneira geral. Eu me divirto e ela também. Quem sabe nos divertiremos juntos.

8 de novembro de 2010

here-me.

Nada mais solitário do que: tenho meus amigos.
Solidão partilhada entre solitários. É justo. É justíssimo. Mas, ainda assim, é triste. E só.
Estou no mundo e vejo toda tristeza. Tristeza que é minha também, mas que só noto quando ocorre com os outros. Divide-se comidas e tardes de domingo por pura falta do que fazer. E há sempre uma leve frustração no ar. Aquela coisa estranha, estúpida e comum: fiz comida pra mais gente. Esperava mais gente.
Mas estamos calejados e velhos. Não podemos reclamar, não é o caso. A gente sabe: dez dizem que vêm e dois estão aqui. Um equilíbrio errado entre intenção e realidade. E a gente entende. E eu estou lá. Sou um dos dois que foram onde disseram que iriam. E estar lá é legal. Pra mim, pra ele, pra nós. Nossa solidão é amiga.
Depois: pequenas obrigações que satisfazem. Fazer algo por muito tempo faz com que a satisfação ocorra. E, bem, há dinheiro na jogada. Ganho pra fazer minha obrigação e me sinto bem. Sou um macaco. À cada nova banana, um novo truque. Novamente afirmo: é justo, justíssimo. E, claro está, a justiça é apenas uma ideia de equilíbrio. Que seja.
Pego táxi, pego cervejas, chego em casa. É madrugada. É domingo e amanhã é segunda. Tenho minhas horas e minhas obrigações. Eu faço as coisas. E não sei o que isso quer dizer. Estou aí e, às vezes, emplaco. Fase boa de maneira geral. De maneira geral, eu repito.
Tenho meu blogue. Tenho minha cerveja. Tenho minha casa. Meus cigarros e meus CDS eu tenho também. É bom - e isso não quer dizer que seja perfeito.
Mas quem, cargas d'água, acredita em perfeições?

6 de novembro de 2010

Eu que vi eu que sei.

Toda tortura que é minha. E vaidade também, como não? A tortura é, em última análise, a vaidade mais brutal que há: sofrer só, sem dizer pra ninguém, sem ter ninguém, sem se quer reclamar da vida. Sofrer como se fosse uma sina. Como se o destino estivesse traçado e como se apenas a dor enobrecesse o homem. Sofrer pode ser um estilo.
Então, pra ser do contra, afirmo: não falo de mim. Não mesmo. Sofro também, mas nem me engano. Eu mesmo com meus dedos em meus buracos. Só sofre quem acredita e eu, infelizmente, não acredito. Acho tudo velho e malfadado. A ilusão é a mesma. Minha vaidade é ter a ilusão de que sei da ilusão que há.
Mas não importa. É um belo sábado de chuva e meu Dom Quixote de lata (presente de uma amiga) está na minha estante desafiando a parede azul que ele supõe ser o ceú. Por incrível que pareça não falo de mim ou do meu umbigo. Ainda tenho cartas na manga e a alegria de mentir deliberadamente. Inclusive pra si próprio.
É o paradoxo da mentira que tá no seu Aurélio de maneira mais elaborada: se eu afirmo 'eu minto' e o que estou dizendo é verdade, a mentira está em fazer tal afirmação.
De modo que me faço entender. Para os que têm dicionários e para os que gostam de pôr chifres em cavalo. Os que acreditam em unicórnios, em outras palavras.

5 de novembro de 2010

Toda Sexta às Duas da Tarde.

Uma tarada de botas que olha o meu blogue.
Que não existe, mas eu invento.
E ela dança (Sem roupa, mas com botas.)
enquanto escrevo isso e reparo no seu tufo de pêlos.
Ela gosta de reggae e fuma maconha.
Ela tem ataques de riso quando fuma maconha
e isso quase irrita, mas eu bebo álcool
como um recurso simples de amortecimento.
Fala da natureza, fala do ceú azul, fala do Cristo Redentor que vê da minha janela.
Fala sobre coisas que só mulheres falam
e isso me agrada.
Tenho tesão,
tenho pau duro,
tenho um blogue
e uma mulher de botas
que dança sem roupa
enquanto publico uma nova postagem.

3 de novembro de 2010

Põe a rodinha pra mexer e se satisfaz

Fazer.
Fazer como um macaco faz. E macaco faz que faz. E bate palmas. E vê os humanos que o vêem preso na jaula.
E, mesmo assim, não se pode dizer que o macaco está triste. Assim como não dá pra dizer que o macaco está alegre.
O macaco, bicho do bom, nem pensa se está triste ou feliz. O macaco faz macaquices.
E isso é bem decente. E civilizado.
Mas o macaco não pensa nisso. Ele pensa em macaquices, em sexo oposto, em castanhas escondidas em cascas e em banhos de mangueira.
Macacos adoram banhos de mangueira. Porque a água é corrente e macacos sabem que nem existem muitas fontes de águas correntes.
Por isso o macaco não liga pra jaula. Ele não sabe que está numa jaula. Por isso ele adora banho de mangueira. Porque ele nem desconfia que existem torneiras, água encanada e tubos de borracha que se chamam mangueiras.
Macaco vive bem, mas ele não pensa nisso porque macaco não pensa.
Então ele faz. Com as castanhas que cutuca, com o sexo oposto e com a água abundante que vem de fonte desconhecida.
Macaco bate palma e se vicia facilmente com os cigarros que a galera do zoológico joga pra ele.¹
Ele fuma. Ele recebe pipocas. Ele copula com o sexo oposto. O macaco tá vivo e faz parte do planeta - ou seria biosfera ? - mesmo estando dentro da jaula.
Macaco bom.
Macaco vacinado.
Macaco fazendo participação na novela da Globo.

31 de outubro de 2010

Omelete de claras, ela explica.

Seis ovos e apenas uma gema. Sal, pimenta e muita cebolinha. Tem que ser fresca e tinha na sua geladeira, ela sorri.
A camista branca é minha. Vi primeiro de costas: um lado da calcinha enfiado num dos lados da bunda. Achei bonito. Um tipo de imagem infernal: mulher com sua camiseta e calcinha semi-enfiada sem querer. O chinelo, claro, era meu.
Senta. Quer café?
Eu quero o mundo. Quero meu chinelo também. Ele é parte do mundo, sabe?
Ela lhe acha engraçadíssimo. Deus, no alto de seu trono, deve saber o motivo. Ela tá feliz e prepara o tal omelete. Faz explicações que você nem queria, mas ouve:
- só depois de um minuto que se põe a cebolinha. tem que estar quase desgrudando, mas com a parte de cima ainda mole. daí põe a cebolinha, dá mais um minuto e vira.
Você ri e reclama do seu chinelo de novo. Ela ri. A calcinha é cor de pele. Não deveria ser sexy, mas é. Mas o que sabem as revistas femininas?
- manteiga é o certo. gostei de ver manteiga na sua geladeira. e com sal... eu não entendo que tipo de gente compra manteiga sem sal...
O café é forte e com pouco açúcar. Lembro da minha mãe. Lembro do diabo à quatro. Ela prepara o omelete e parece não lembrar de nada. Ela está calma e sorridente: como sua bunda com metade da calcinha enfiada. Ela fala.
- nunca imaginava cebolinha aqui. ainda mais assim, fresquinha. foi só deixar na água um pouquinho que ela inchou. já reparou como cebolinha incha depois de você deixar de molho?
Eu falo pouco de manhã e ela não. Talvez seja nossa primeira diferença.
A calcinha tá lá e meio que me pisca um olho.
- delícia, né?
- hum, u-hum...
- nem precisa escovar os dentes, né?
Ela gargalha. Acha tudo engraçadíssimo. Come narrando os sabores e eu nem me incomodo. Comenta o curry, a pimenta, a clara que predomina, a cebolinha semi-azeda e a manteiga... fala horas sobre manteiga. Manteigas caseiras, temperadas, trufadas, com queijo, com lascas de sal, de garrafa, líquidas, misturadas, etc.
Manteiga parece ser uma especialidade.
Ela toma um banho e anuncia que vai embora. Adora domingos, ela diz.
Eu fico. Tomo banho depois dela sair.
- estranho isso, bem estranho.
Nem parece ser verdade. Ela sorri mais uma vez.

29 de outubro de 2010

Sundae de caramelo. Há o ar condicionado e as lojas. Passeio aqui e ali. Lembro que preciso de tênis e vejo os preços. Não consigo perceber a diferença entre o de 130 e o de 250. Meu pai(ou seria minha mãe?) diria: calça eles.
Prefiro o sundae à 3 reais. Caramelo. O que, afinal, é caramelo? Existe uma fruta chamada caramelo? Ou uma planta, tipo baunilha que é aquele cabinho fino e preto?
Passeio.
Na livraria sinto calma. Fazia tempo que não zanzava ali, o sólo do Solar, a música do Caetano que eu achava legal quando cheguei aqui. Rio de Janeiro, Deus abençoe o ar condicionado. Saio com 2 produtos.
Planos vem e vão. Isso apenas em uma tarde. Dormir, telefonar, escrever, procurar, decidir, goolgar passagens pra Argentina, preparar qualificações, etc. Nenhum plano é consumado: hortifruti aí vou eu, quero é carpaccio!
Mulheres lindas. Várias mulheres lindas: de salto, de saia, de tênis, de casaco, etc. Uma comprava doces - ja na loja Americanas - enquanto eu reparava nela. Loira séria de aliança e bico fino. Parecia estar triste e eu queria que ela me visse. Ela meu viu e disse SEXTA FEIRA. Eu disse ÉÉÉÉ... e paguei minhas cervejas.

28 de outubro de 2010

quanta belezinha.

eu meio que sinto tesão. mas é mentira. gosto de falar sobre tesão. e sobre peitos e decotes. sobre bucetas também. eu falo. eu gosto de falar. eu falo aqui. se fosse uma pergunta eu responderia que sou tímido. mas gostaria de dizer outra coisa. eu diria discreto. discreto é legal, tímido não. mas não sei se sou legal. têm 3, talvez 4, que acham. eles me acham sempre legal. tem uns outros. eles acham legal quando a gente se encontra. a gente se encontra pouco. é legal a gente se encontrar assim. e se encontrando pouco é fácil ser legal. é um mundo justo, nesse sentido. eu gosto de trocadilhos. o aramis gosta mais. mas quem manda nos trocadilhos - no sentido de deixar claro o humor dos trocadilhos - é o seu bill. ele é pai do aramis. não é meu pai. o bill é legal. e bebe. meu pai também bebe. mas meu pai nem é fã de trocadilhos. é um mundo justo e confuso, pensando bem.
por excesso de punhetas tenho pensado que o consumo excessivo de pornografia não é saudável. veja só. é fácil se desdizer. e mais fácil ainda se confundir. não acho que se confundir seja bom, mesmo que eu me confunda. tem gente que gosta da confusão, eu não. gosto do quê? de beber, ler, escrever. de foder eu gosto também. mas faz tempo que eu não fodo e nem sei se isso é ruim ou bom. teve uma adolescente que me acusou de super valorizar a foda. ela era idiota, mas acertou nisso. quer dizer, ela me abalou com isso. eu me abalo. eu sou fraco. eu tenho blogue, por exemplo. fraqueza, né? hoje mesmo eu pensei. de novo, eu pensei. pensar é errado. pensar faz mal. ter amigos é mais importante e saudável. vive-se melhor sem pensar. minha avó morta. ela tinha a coisa de ser curandeira e acreditar em deus. ela não pensava. era bicho. era triste e feliz. mas o que acho legal é que era triste e feliz sem pensar. não pensar é bom. é burro, mas é bom. c não pensava, g pensava torto, d pensava sempre com dor, c2 pensava, mas só sofria. quem entende? eu não entendo. mas agora eu to legal. agora eu sou legal. eu gosto da música que tá tocando e tenho dinheiro. dinheiro é legal. eu também sou legal, né? lembra? teve sua mão. eu adorei sua mão. amei mais sua mão do que você. eu falhei nisso, né? amar é dureza, a j disse. a j é linda e a m também. as duas se reconheceram como mulheres lindas e me emocionei. eu sou fraco. acontece. meu pai mora em brasília e minha mãe em curitiba. eles sofrem. eles são sós. eles não conseguem conversar muito bem entre eles. eu consigo. me dou bem com os dois, mas moro no rio de janeiro. é um mundo estranho. tem muita tristeza no mundo. mas o que importa nem é isso.
digo: o problema é a tristeza daqueles importantes pra você. o mundo em si nem é o mundo. a não ser que o mundo pense sobre o mundo. mas ele não faz isso. o mundo gira. eu não giro. até tem gente que gira. mas ninguém gira como o mundo. acho.

25 de outubro de 2010

depois dos rastafáris.

Não gosto de escândalo,

não gosto de piti.
Estou velho,
estou acabado
e - por ironia - me sinto bem com nunca.
Não gosto do grito que você dá,

e acho que você deveria deixar o corpo resolver.
(as bucetas falam, sabia?)
Mas você tem cadência,
você tem dicção,
você geme como se estivesse sendo filmada.
(as bucetas, além de boca, têm língua, sabia?)
Quero uma mulher

que ande de Ceci rosa
pela orla do Rio
enquanto toma um sorvete.
Não me interessa sua habilidade em ser do contra.

E muito menos seu ex namorado zen e Indiana Jones - ao mesmo tempo.
Eu quero a orla como paisagem,

um sorvete chicabom
e um bifo frito.
Não

me parece
que
eu queira
muito...

24 de outubro de 2010

Domingão na cabeça

Música alta. Penso em falar sobre papai triste e mamãe melancólica. Penso. Tem minha irmã em seus labirintos, minhas sobrinhas. Tem eu mesmo. Cheio de queixas e dores velhas. Tem os planos também. Tem, é bom não esquecer, as órfãs e órfãos que sofrem sempre culpando a orfandade. E os cachorros... como se esquecer dos cachorros? Abanam o rabo, latem e choram com a mesma convicção. Ah, os cachorros...
Por ora, nada disso. Eu mesmo e minha teimosia. Escrevo por tédio, confesso. E também porque ta aí o domingão e ninguém aguenta o Gugu ou o Raul Gil. Até os porres de domingo perdem sentido. Ah... bom era ter a namorada que tive: adorava trepar de porre aos domingos. Era católica e tinha coerência. Trepávamos aos domingos como o dia sagrado que ele é.
Mas falar de si é facilitar. Fale dos outros ou do mundo. Fale. Ou tenha um blogue, um twitter, um facebook, um caderno de capa dura... essas coisas. E repetimos. Repetimos com eficiência e tecnologia: somos nós mesmos.
Fronhas sem travesseiros e meias sem pares. A matemática que era pra dar certo, mas não deu. A confusão de achar que a tragédia é isso, uma algebra sem exatidão.
A boca sem dentes e o detalhe das dentaduras e jaquetas. A raivinha, o tesãozinho, a vidinha.
A sobrevivência, em outras palavras.

22 de outubro de 2010

-

aqui eu mesmo. minha bela pança berrando vaidades que não existem e nem procedem. ser mal, ser bacana, ser a farsa, ser o que se inventa. a liberdade como uma moeda de 50 centavos no chão: a gente se abaixa pra pegar. e nem percebe que os 50 centavos custaram o cofrinho e, junto com ele, toda a dignidade.
dignidade... legal... bela palavra, reconheço... mas lembro o meu avô dizendo dignidade e ele dizia absurdos, mesmo sendo o homem mais digno que conheci. ele dizia: 'nordestino é vagabundo' - ele era nordestino. fazia sentido. ter ódio do que se é e não se pode fazer nada. uma fraqueza e uma tolerância. fraqueza dele. solidão minha porque repito: ele era digno.
nasceu em 1918, mas foi registrado em 19. era teimoso e, pra sua época, era inusitado: achava que suas irmãs mulheres também deveriam ler e escrever como os homens. o pai dele, meu bisavô, não entendia. achava que suas filhas iriam escrever pros machos e virar prostitutas. a ignorância é um tipo de paraíso: nada se sabe e tudo se condena.
meu avô teimava em relação a escrever e ler, mas, mesmo assim, achava que mulheres desquitadas era uma coisa errada. ou os homens eram canalhas ou as mulheres eram putas. sempre assim: ou um ou outro. o sistema binário mais coerente que já vi.
e ele agonizava. câncer. câncer no estômago comendo sua velhice e sua satisfação. ele mantinha sua dignidade e me dava seus toques. ele tinha ido pra guerra e não tinha morrido. era um pracinha. foi quando as coisas melhoraram... a aposentadoria, essas coisas.
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estamos em 2010. você me dá lições de vida post morten. o diabo sorri. nem deus nem diabo existem. a garota me disse que vivo do passado. ela nem me ama nem me odeia. ela também tem avô morto e entende sobre dignidade. ela imagina ser livre. eu também. nossos avôs, os verdadeiros portadores da dignidade, estão mortos e rezam no caixão. eles ainda nos amam e também nos influenciam, mesmo mortos há muito tempo atrás.
dignidade... essas palavras terríveis.

21 de outubro de 2010

duas cervejas.

A mulata está acompanhada, mas talvez seja seu irmão. Ela passa por mim: peituda e cochuda.
Mulata tipo prata. Em outras palavras, ela brilha.
"Poxa, que coxa", eu penso bestialmente. Estou bêbado, confesso. "Poxa, que coxa" é engraçado e estar bêbado é bom.
Ela amarra o cabelo. Lança o pescoço pra trás e se apoia na cadeira. Faz um nó no cabelo. O pescoço brilha e eu me emociono... essa coisa de beber deixa a gente um bocado suscetível. As lembranças me invadem... "Meu Deus, por que que essa mulata não é minha?".
Seu irmão (ou seria seu namorado?) vai até o balcão e paga a conta. Não gosto dele. Usa brinco. Tão antiquado usar brinco... coisa de índio. Ela já tá com a bolsa no gatilho e levanta. "Bunduda também", eu penso.
Os dois saem e os perco de vista. Uma pena. Ela era linda e farta. Ele tinha brinco, era mulato, mas sem brilhar. Eu ficaria horas olhando pra ela - apenas olhando pra ela - e me sentiria ótimo.
A minha cerveja acaba. Eu volto pra casa.

18 de outubro de 2010

A chuva parece acalmar.

Há quem não goste de chuva, há quem não goste de sol. Há o mundo inteiro. E o mundo inteiro é enorme e perturbador. Muita gente espalhada, muita ideia solta, muitos lugares pra conhecer, muitos dias, muitos anos (antes e depois de nós). O mundo imenso, a cabeça como um balão de gás hélio e nós todos que, por ora, somos/participamos do/o mundo.
Existe uma gente que está na batalha, querendo conquistar isso ou aquilo. Existe a galera do bar, sempre bêbada e festiva. Existe o namorado da amiga, cheio de sonhos decentes e bonitos. Existe as crianças que crescem e que agora têm peitos e lhe desafiam no elevador. Existem as senhoras elegantes que estão surdas. Os cachorros que rosnam, as mulheres que amam, as traças do banheiro, os acadêmicos de palavras difíceis, as crianças órfãs, o Tom Jobim bêbado e risonho, o García Márquez desconfiado por estar na moda, os pernilongos que chegam no 6° andar, os homens que insistem em mijar na via pública, os casais que não se entendem, a dona da padaria da Rua da Passagem, a Solange comemorando aniversário com salsichas empanadas, a Branca com vestido de noiva e magra demais, o primo que lhe fornece viagras, a vizinha chata e falsa pra quem se diz bom dia, boa tarde e boa noite.
O mundo inteiro, o mundo todo.
A síntese bonita e sem frescura:
MUNDO VASTO, VASTO MUNDO
SE EU ME CHAMASSE RAIMUNDO
SERIA UMA RIMA
NÃO SERIA UMA SOLUÇÃO.*
*(clica no título, clica)

escreva no muro:

SEJA
FELIZ
COM
A
SUA
TRISTEZA.

15 de outubro de 2010

de 17:30 às 18:23 - relatinho.

No meu sonho ela dançava. E também me fazia dançar. Era um tipo de valsa. Eu demorava a entender como a coisa funcionava, mas pegava o jeito e dançava também. Eu gostava de dançar. Era bom dançar com ela. Era tesudo e bom dançar com ela.
Ela usava uma saia branca. E a gente dançava essa valsinha e ela também era um tipo de cantora. Eu a acompanhava. Era meio que um show. Nós dois estávamos no centro da roda. Mas não era bem uma roda. Era mais show mesmo. Inclusive ela cantava. Acho que primeiro rolou a valsinha, depois ela cantar e só depois essa dança mais tesuda.
Nessa dança mais tesuda a coisa começou com ela cantanto. Como se ela dançasse comigo enquanto cantava. Tinha até um microfone na jogada. E lembro bem disso porque o microfone tinha fio. Depois era como se ela tivesse deixado o microfone e a gente continuasse dançando. Era uma roda, mas não era bem uma roda. A gente tinha certo destaque, meio que ficava no centro da coisa - como se fosse casamento. Poderia ser casamento, mas não tenho certeza. Lembro bem da saia branca e também de uma blusinha que era azul claro e colada no corpo. Não lembro como eu estava vestido.
Lembro que a dança ficou tesuda e que a gente enroscou nossas pernas e meio que descíamos rebolando até o chão - como tem nas danças nordestinas. E a coisa era cada vez mais tesuda e eu sentia o elástico da sua calcinha e investia por ali.
Nessa hora era como se já não tivesse tanta gente. E a gente se bolia e se bolia. E dançava esse troço que era meio nordestino.
Quando acordei queria que ela tivesse um rosto. Quero dizer, um rosto conhecido. Mas ela não tinha. Era um rosto próximo à um rosto, mas mesmo assim sem nome ou clareza. Uma pena.
Meu pau tava à meio mastro e encostei nele. Era uma pena não ter um rosto definido pra me punhetar. Seja como for, eu sou teimoso. Em outras palavras: me punhetei mesmo assim.

13 de outubro de 2010

Entre os livros chatos, o telefone e as obrigações diárias.

Às vezes a vida parece insuportável. Então a loucura desponta, mas é apenas outra vaidade. Como se houvesse fuga, como se fosse remédio. A loucura associada a ideia de liberdade é um desses equívocos enormes que insistem em se repetir.
Dom Quixote é belíssimo, mas é triste, triste pra caralho - o que, todavia, nunca impede o humor. O riso bom, quase complacente, quase cristão, como se todas as ações maléficas pudessem ser perdoadas quando sussurramos pra nós mesmos: perdoai-os, é muita dor e muita tristeza.
A dor e a tristeza me explicam muitas coisas. Ou então as pessoas seriam apenas mesquinhas, ignorantes e agressivas e, de fato, más e perversas - o que não faria nenhum sentido e só deixaria tudo ainda mais trágico.
São por dores antigas que serial killers se manifestam, são por tristezas profundas que tratamos mal à quem se ama. A impossibilidade de realmente compartilhar uma dor/a solidão de querer entender o que não tem explicação.
Acho que a Arte, de maneira geral, vem pra tentar dar conta disso. E mesmo que não consiga, ainda é - dos paliativos - um dos mais concretos. A Arte como salvação, mas sem frescura: sem florear lixo, sem pôr perfume em bostas, sem disfarçar dores e, principalmente, sem compromisso com a realidade ipesliteres. A Arte como compreensão e tolerância, mesmo quando deseja agredir e lançar merda no ventilador.
O Dom Quixote sendo levado dentro de uma gaiola e morrendo no final.
A esperança sem final feliz, mas ainda assim, a esperança.
Não
escrever
é
igual
a
ver
televisão.

10 de outubro de 2010

dora

Assim
e pra sempre.
Sem boca
e sem dente.
-
O humor do Barão de Itararé
e a raiva sempre discreta.
Lições da vida
e outras bobagens.
Há que ser discreto,
há que ser esperta,
há que ver sua própria tristeza,
há que apaixonar
quando o amor
demora a aparecer.
Há que não se confundir facilmente.
-
Eu tenho o meu jeito
e você tem o seu.
Melhor não falar sobre isso.
Eu sei,
você sabe
e também o mundo inteiro.
-
E há milagres no caminho
e excesso de tédio,
também desprezo e raiva,
também rotina
e amor por teimosia.
-
Como se resistência fosse o único sentido do amor,
como se você se chamasse Maria
e eu me chamasse João.
-
Como
se fossemos
apenas
uma música.

9 de outubro de 2010

sexta: é quase isso.

Sento na mesa e vejo as pessoas. Não me sinto bem. Penso que estou no lugar errado e encho meu copo com pressa. Talvez o álcool ajude. Talvez.
É uma gente bacana e tranquila. Eu mesmo não entendo porque me sinto tão tímido e deslocado. Lembro do Buk falando do Fante. Salvo as proporções parece ter sentido... sentido... meu reino pelo sentido.
Imagino e deliro. Dentro da minha cabeça há proteção. Eu encalacrado em mim mesmo sou forte e calmo. E ser calmo e forte não quer dizer nada, mesmo parecendo que diga.
As pessoas entram e saem. Bebem, fumam, odeiam, amam, querem saber, querem perguntar, as pessoas. Eu ali e o mundo inteiro. Tudo que passa pela cabeça e, no caminho, tanta bobagem. As pessoas sou eu, o mundo e tudo o mais. O inferno sempre aparece com as mãos dadas.
Falo por segundos. A unidade e a circunstância facilitam. Sou eu falando. Nem minto nem nada. Sou eu. Me acho legal e deliro de novo: eu sei falar com estranhos.
-
Depois.
Eu no bar de sempre. Ouço o que dizem mesmo escondido no meu livro da vez. Tem um idiota que berra contra o Lula... é idiota apenas. A Solange chega e está só. O João, seu namorado(amante na verdade, ele tem família em Maricá e trabalha em esquema de plantão), não está. A Solange está pior do que sempre - mais bêbada e mais infeliz, em outras palavras.
Fecho meu livro e volto pra casa. Meu whisky, minhas músicas e minha timidez idiota. Eu mesmo.
A vida vindo sempre e sempre com as manguinhas de fora... quem entende?

8 de outubro de 2010

sambinha

- Que tipo de idiota usa a palavra burguês hoje em dia?
Eu não queria concordar com ela. Mas era uma grande pergunta a ser feita. Eu soltava sons idiotas, tipo: ahan, humhum, pssss, pssss.
Às vezes ousava um pode crer.
Garotinha tesuda me dizendo pra eu mandar à merda essa gente toda - inclusas as que usavam a palavra burguês. Eu me sentia eufórico. Imaginava que amor passava por aí. Só te ama quem te defende, ela disse.
Guria frasista do cacete. Eu tava onde nunca estou: na balada. Ela era simpática e falava merda de um jeito encantador e... por que não dizer?... profundo... isso mesmo... profundo. Enchia a boca pra dizer merda. Um sotaque sem endereço e uma boca vermelha de batom e também um riso exagerado.
Eu me conhecia e dizia pra mim mesmo: Se ela não me irrita com o riso exagerado é porque eu a amo. Eu estava bêbado, é verdade. Mas meu raciocínio tinha sentido, não tinha? E quando você está bêbado, você não inventa nada, você apenas fala o que já pensou em falar, mas que não teve coragem por não estar bêbado. (Estar bêbado é, antes de tudo, uma desculpa).
Fumava com elegância. Dava tragadas longas em cada cigarro... a bituca vermelha sendo pisada pelo salto... quase um inferno... e as sombrancelhas que eram finas, muito finas, e vulgares. A gengiva grande, os dentes de cavalo e os peitos pequenos... Meu Deus... quase uma adolescente. 24 anos. Chamava-me de cara como se eu fosse seu bródinho.
Queria trepar com ela.
- você é o tipo que se envolve com sexo, cara.
- então me dá, porra.
- hoje não, mas te dou... quer dizer... eu daria pra um cara como você.
Devia ser um elogio já que ela soltou mais uma estúpida gargalhada que não me irritou. As gengivas rosas opacas e os dentes brancos. Tesão...
Garotinha de cinema. Estudante de cinema, quero dizer. Se eu tivesse máquina fotográfica tiraria uma foto dela igual à Lolita: deitada na cama, vestidinho, barriga pra baixo e canelas pra cima. Ela toparia se eu falasse da Lolita. Diria: - sempre quis ser musa, cara.
Mas estávamos na balada e a coisa anda mais rápido do que imaginava. Segunda bituca borrada de batom sendo pisada no salto e ela diz, quase condencendente: - daqui meia hora devo estar aqui, cara... daí você me passa seus contatos... puta prazer.
Eu soltei meu pode crer e ela saiu. Área de fumantes é uma benção pensando bem... voltei meia hora depois e ela não estava lá.
Balada, cara, balada.

7 de outubro de 2010

São crianças que choram e adultos que brigam

.
Eu não entendo porque eles brigam tanto, parecem estar velhos pra isso. Mas o que posso dizer? O que sei eu das mágoas ancestrais e das dores que não passam? Eu apenas os vejo e não entendo. É tipo um ciclo: cavar abismos com pés e depois pedir ajuda para sair do buraco. Tortura mútua, práticas sadomasoquistas e resistência estúpida, dessas que batem no peito e dizem: Eu sou forte. Qual a vantagem real de ser forte? Geralmente é uma gente dura e orgulhosa, cheia de vaidade e auto-suficiência que tenta, em vão, disfarçar o medo. O medo, o velho medo. O medo tá sempre lá. A frase batida pixada na porta do banheiro sujo: quem tem cu, tem medo.

6 de outubro de 2010

não é crueldade, é amor.

É algo parecido com a merda e o desespero. Depois de anos ninguém se entende. E, pior, confunde-se. Culpas em pessoas erradas e friezas cheias de medo e loucuras. Eu sinto o cheiro. Eu conheço. Eu sei. Sou eu mesmo mais velho e mais triste. Enroscado nos meus delírios de grandeza.
Pode não parecer, mas estou falando de coisas objetivas. Tristeza, por exemplo. Isolamento também. Digo pra mim mesmo e pra ele que sou eu mais velho: há mulheres chatas, porém generosas. Mais desesperadas que você, mais solitárias que você, mais loucas e absurdas que você. Mulheres sofrem. E se elas te amam, já era. Você tá fudido. O amor de uma mulher é o que há de mais desejado e mais opressivo. Ao mesmo tempo. Ela te ama e isso é um peso terrível - e é o que você espera e deseja.
Mas existe o inferno compartilhado e também aquele que é seu, só seu. Profundamente seu. O inferno compartilhado tem poucas opções: mata-se a paisagem ou os outros que moram nele. O particular, não. O pecado, nesse caso, é confundir os dois infernos e achar que a sua merda veio de um cu alheio. Não culpe o cu alheio. Ele também tem seus próprios infernos.
Quero dizer: lide com seu próprio inferno e não o misture com o inferno compartilhado. No seu inferno faça o diabo: minta, traia, tente fugir, ria, tome porres, escreva diários, toque punhetas para milfs do facesex. O inferno é seu e estará lá, você reagindo ou não. Convenhamos: ser deprimido pega bem e é uma desculpa quase eficiente. Há drogas cheias de ciência que corrigem isso. Há médicos e há dinheiro pra curar isso. A fuga pode ser uma saída, mas apenas se você REALMENTE conseguir fugir. Fugir pela metade é entalar no buraco: a bunda de um lado e os braços viris de outro.
Eu cago regras, eu minto, eu sofro mais do que você. Eu uso o álcool como muleta e a cada gole, eu bato no meu peito: Fernandinho, o álcool é sua muleta, panacão. E isso é uma estupidez. E é o que é. Não há desculpas ou culpados. Há sonho com medo de sonhar e blogues arrogantes, há sexo como prática de alívio precário e há eu diante do espelho. Eu mesmo. Eu, meu inferno e minhas fugas. Estar vivo é também estar deprimido. Apenas imbecis acreditam em felicidade eterna.
A vida é real e acontece mesmo quando somos cegos, tristes, ricos e solitários. A felicidade é a ilusão de que estamos APENAS vivendo. E nunca estamos APENAS vivendo. Viver não é APENAS. É inferno e gozo, loucura e distração, burrice e ignorância também. A vida é a merda da qual não há saída - e mesmo suícidios são manifestações da vida.
Ela mesma, a vida, essa lazarenta que faz a gente passar por tudo que passa - para o bem e para o mal. Sem critério e sem piedade: a vida.

5 de outubro de 2010

Regrinha.

As santas não frequentam o mesmo lugar que eu e por isso eu fico triste. Ao mesmo tempo prefiro assim: como uma santa estaria ali? É uma gente estúpida e desprezível. Falam merda com a mesma pose dos conhecedores de vinho. Os conhecedores de vinho... quem os suporta? Só os compreendo se os imagino usando esse 'conhecimento' para foder.
Fode-se cus e bucetas com esse papinho que eu sei. Vinho goela abaixo e extremidades se abrem... ah, seu eu tivesse essa frieza toda.
Uma vez ofereci vinho do Porto pra uma guria. Deu certo. Mas eu sofria: o mérito era do vinho e eu me ressentia. Sou um cara limitado. Queria espontaneidade e essas coisas. Eu me fodia. Quer dizer, eu fodia menos que os meus amigos. Paciência...
Então já era hora de assumir: o problema é você mesmo. Parecia uma grande sacada, mas nem era. Apenas um idiota diante do abismo tentando ser sincero: - Deus, perdoai-me, eu sou idiota. E Deus ria seu riso de Deus. Um riso tremendo e fatal. O idiota ficava impressionado e caia no abismo. Deus ria ainda mais. Eu era o idiota.
Não tinha milagres. Havia, no máximo, equilíbrio nos humores. Assim: eu cedia, ela cedia, eu era generoso, ela era generosa. Amor não é bem isso. Quer dizer, pode até ser, mas, definitivamente, não é SÓ isso. Mas eu dizia 'eu te amo' e ela 'eu também'. Imaginava que dali a alguns anos ela estaria perfeita. Ela devia imaginar o mesmo de mim. Justiça Divina, em outras palavras.
Depois? Ah, toda a raiva acumulada e falta de sexo realmente satisfatório. Estou falando do tio Reich dizendo: "Gozar é fácil, gozar bem é que é difícil". Claro que o tio Reich falava disso de um jeito mais elegante, algo como descarga orgástica... não... potência orgástica, ele dizia. Tio Reich sabia das coisas...
Por ora apenas eu. E meu pau - que sou eu em variação de duro, mole e meia-bomba. Por ora eu e meu amor, ops... eu deveria estar falando de vinho e transcêndencia... foderia mais que eu sei. Mas, sabe cara?, é que eu sou muiiito sincero...

3 de outubro de 2010

mideliron

Eu sentado, vendo as coisas, penso que a putaquepariu é um lugar para se chegar. O FODA-SE regendo uma vida que sabe que viver é uma palhaçada confusa e importante. Porque a vida bate na bunda e tem muito talvez e bom senso, e também loucuras e euforias. E dá sempre empate. 1x1 ainda me soa melhor que 0x0, mas, claro está, isso é só um julgamento moral.
Mundo comezinho... cheio de namorados angustiados, mulheres masculinas e animais treinados para competições diversas.
Sou bobinho e tenho sonhos de pureza, eu confesso. A justiça como se a justiça existisse. Deus barbudão e contando histórias. Deus cheio de perdão e compaixão. Deus com respostas pra tudo e simpatia de Sr. Miague do Karate Kid na sessão da tarde.
Eu me sentava no sofá e era o Daniel San. Eu achava incrível a superação e gostava de ver ele porrando os caras no final. Era A JUSTIÇA. E a garotinha beijava o Daniel San na boca e o universo era lindo como um astrolábio. Justiça... maravilha.
Mas nunca mais vi sessão da tarde com aquela paz. E os filmes da sessão da tarde agora são bem diferentes dos de antes. Nem melhores e nem piores, apenas distantes.
Afinal quais são os filmes da sessão da tarde hoje em dia? Não sei responder, mas imagino a Julia Roberts em um deles e acho que a namorada do Daniel San era bem mais bonita.

eu e meus dez dedos.

Roer o osso e ver as pessoas. Elas estão vivas e respiram. Poderia ser um milagre, mas não é. Na multidão de rostos engraçadinhos apenas dois se destacam: a moça à minha frente que usa blusa rosa e a mais simpática do oeste que parecia me conhecer, mas não me conhecia e ria e soltava gritinhos sem me irritar.
Sou simpático. Dou olá e dou adeus. Falo apenas com quem devo. E ouço e falo. E papo bom é pra poucos e raros. Sem desperdício, em outras palavras.
O álcool é um azeite e sorrimos. Estamos felizes, estamos tristes. Catamos nossas conchinhas e choramos pelo o único sofrimento real: estar vivo. E sorrimos pela única coisa chata: deixar de estar vivo. Marionetes usando as bebidas e a fala. Planos e países incríveis: sorrisos e desesperos de mão dadas.
Minha casinha e rádio uol. Música clássica e torturas em notas geniais. E também mistérios, tesões, tédios, perda de tempo e esperanças vãs.
Somos tristes, mas vivemos bem. O coração, a mente e o pau após o esporro. Vazamos, vazamos sempre. Há uma constância de qualquer forma... coerência torta e fatal.
O berro mais frágil e mais bonito, a criança mais feia e mais amada... a música cheia de notas loucas e climas terríveis... o tesão... o tesão...

1 de outubro de 2010

relatinho.

  • Fechar os olhos e sentir o gosto do whisky na boca. Lembrar dos sonhos que existiram. Das promessas de amor, das fodas perfeitas, da sopa de um dia de inverno. Era estúpido e feliz. Pra sempre... o riso e as repetições que confirmavam o sentido. Tão bom saber, de antemão, como ela reagiria.
  • A megasena à 76 milhas. Ficar milionário deve ser um problema. O que fazer quando você pode fazer tudo? É indecente... tão mais fácil ser obrigado a sobreviver, se sustentar e suar pelo pão. A alegria mais genuína: animas satisfeitos com o próprio suor. Quem entende?
  • Conversando com amigos vejo que os artistas são uma gente fudida. Sempre esperando, sempre achando que, cedo ou tarde, AQUILO virá. A vida real arranhando nossas costas e endurecendo nossas articulações. Crueldade de mãos dadas com os sonhos. É insuportável. E, no caminho, a desistência de gênios incompreendidos. E tanto faz se fossem gênios ou não. A desistência lá: tornando amarelas as páginas escritas, fazendo a boca do cantor ficar torta, deixando rouca a soprano... essas coisas.
  • A auto-critica nociva e perturbadora. Bem mais simples dizer: faz e depois vê. Habilidade distante, gente distante, mundo distante. Qual a vantagem de saber do erro e da farsa? A verdade é que não tenho a elasticidade suficiente pra chupar meu próprio pau. E as opções são poucas: ou isso ou a cegueira. Desconfiar de tudo é uma prisão.
  • Nunca mais uma foda genial após um domingo bêbado. Assim: prepara almoço, resolve beber com o almoço já pronto, bebe e fala, bebe muito e fala muito, resolve-se trepar e trepa-se bêbado e insano num domingo lento, daí dorme e acorda às 17. Esquenta-se a comida e come como só a ressaca e o pós-sexo incrível permitem. Há paz. Ver Fantástico pode ser uma bênção.
  • Senta o cu e escreve. Faz de conta que a vida não é real. Escreve. Faz isso por horas. esquece a merda e a vida real e também os idiotas que ganham dinheiro mais por capacidade social do que por competência. Ignora o real simplesmente porque o real não presta e nem é justo. Seja egoísta, mas não faça concessões pra si próprio. Se quiser ser vegetariano, seja - mas não ache que está contribuindo para a melhora do mundo.
  • Deixar a platéia ouvir o bolero de Ravel no escuro será a próxima cena da peça que não fiz e que talvez nunca farei. A evolução lenta bem lenta. A luz vindo lenta bem lenta. Em cena só uma garota com um cesta de flores na mão e dois caminhos pra escolher. Enquanto a luz e a música evoluem, a garota apenas olha pros dois únicos caminhos que pode pegar, mas não consegue se decidir. Quanto mais forte é a luz e a música, mais indecisa ela fica. Subornos e vantagens aparecem de um lado e do outro. A indecisão só aumenta.
  • A chuva acalma os otários e eu estou entre eles. Sinto-me bem com o barulho da chuva e também com a tarde cinza. Parece provar alguma coisa. Bobagem, eu sei. Mas saber que algo é bobagem não quer dizer nada. A gente gosta da merda e têm piedade. A gente é legal e educado: damos beijinhos ao nos encontrar.

30 de setembro de 2010

merda.*

Acho viver bem estranho
e isso já faz tempo.
Mas agora apenas digo:
eu nada entendo.
* há quem chame isso de serenidade... credo.

28 de setembro de 2010

Mulheres podem te acalmar.
Ou então te levarem para o inferno.
Mulheres são loucas e perigosas.
(Talvez seja
apenas por isso
que elas gostem tanto
de Budismo e religiões
que pregam
o caminho do meio
e a ponderância)

25 de setembro de 2010

"A memória é uma prisão"

Lembro dela exaltando a dor,
falando de como suas tragédias tinham a deixado forte.
Lembro dela em um dia de chuva,
reclamando e dizendo que a vida era uma merda,
que não havia justiça e que eu era um idiota machista.
Lembro de uma cãibra durante uma foda
e do desprezo que ela sentia por mim e
de como isso me dava um tesão estranho e doentio.
Lembro das tardes de inverno,
sempre lembro das tardes de inverno,
mesmo quando elas não existiram
e eu as inventava
bebendo whisky durante tardes de domingo.
Lembro dela exaltando a poesia do Renato Russo,
dizendo literalmente a poesia do Renato Russo
e eu sentia esse ódio cheio de tesão
e nós fazíamos amor,
mas só falávamos eu te amo quando
trepávamos de quatro.
Lembro dela colhendo flores e dizendo
que queria morar numa casa ensolarada,
onde teria um cachorro e dois filhos machinhos.
(Ela ria quando falava machinhos...)
Lembro dela preocupada com a feridinha que apareceu em sua buceta
e lembro da pomada que o médico recomendou
e que eu passava nela e ela em mim.
E o nome disso era Amor.
Lembro até da gente fazendo planos:
cachorros, gatos, filhos machinhos
e jardim com cebolinha, salsinha e manjericão.
Lembro de tudo ou quase tudo.
Lembro da noite fria em que ela teve pressão baixa
e peguei sal do cara que vendia milho cozido
e a gente sentou no meio fio
e ficamos beijando por horas.
Lembro do seu cabelo pintado de loiro
e das confusões que arranjávamos para espantar o tédio.
Lembro que, mesmo assim,
a gente não conseguiu espantar o tédio.

23 de setembro de 2010

quinta feira no rio de janeiro.

Está um dia bonito e ontem (ou anteontem?) começou a primavera. Lavei roupas, comprei verduras, toquei 6 punhetas e agora fumo um cigarrinho enquanto mamo uma cerveja em lata.
Tenho coisas para fazer e para pensar. Todo imbecil na terra tem coisas para fazer e para pensar. Eu entre eles. É quase uma tristeza, mas apenas quase. A vida besta e bonita, em outras palavras.
Quero falar sobre São Paulo. Sobre beijos em calçadas e sobre porres cheios de vitalidade. Mas agora não. É como disse: tenho coisas pra pensar.
Então faço contas e programo grande textos a serem escritos. É o que os chatos chamam, com emissão afetada e sibilante, de processo. Ou melhor: proccessso.
Fico remoendo a imagem. No caso, beijos em calçadas. A partir daí vou inventando umas coisas e juntando outras, incluo delírios e deduções baratas, aumento mentiras, crio verdades e, quando for escrever, eu mesmo estarei confuso sobre o que pensei na hora e o que pensei depois quando já me imaginava escrevendo sobre. Uma confusão que me agrada e me dá tesão: deturpar a realidade que, enfim, nem existe assim tão real e absoluta. Uma merda velha.
(sempre lembro da pesquisa de alguma revista científica que li que dizia que pro cérebro não havia diferença entre o vivido e o imaginado, que no cérebro tudo [ verdade ou mentira ] era processado na mesma área)
Penso no risco e nas confusões. Lembro da louca que achou que eu tinha escrito pra ela e também da outra louca que me cobrou por coisas que eu nem pensava, mas tinha escrito.
A confusão que me agrada e me dá tesão.
Minha doença mais terna e gratuita.
Minha diversão de nerd.

22 de setembro de 2010

mulheres lindas do meu lado.

Elas falam sobre seus maridos e namorados.
Mexem as bocas vermelhas com delicadeza e precisão,
têm gestos elegantes e piscam de maneira belíssima:
as pálpebras descem lentas e
se apertam por um milagroso segundo.
Então os olhos surgem imensos, úmidos e pretos - e também profundos e abissais -
e revelam aquela coisa terrível que a gente chama de alma.

21 de setembro de 2010

meu a-ha, u-hu.

É tudo um golpe ou um tipo de golpe. Tanto faz. Estilo é a parada, né Tio Buk? Golpe com estilo e eu acredito porque sou fácil de enganar. Porque a realidade é essa bobagem que a gente toca adiante enquanto pensamos nas coisas importantes. Por essas os políticos são a corja que são. Eles fingem se importar com a realidade. Mas eu não estou falando de políticos. Estou falando de teatro. De milhares e milhares de teatro que fazem sucesso sem mérito algum. É isso.
Mas mérito é coisa de fracos, assim como decência, amor, competência e inteligência. É o Peréio quando diz: "não precisa ter pau grande, precisa ter cara de quem tem pau grande." Mas o Peréio tem o mérito e a inteligência do humor. Ele ri. Ele sabe rir. E quem realmente sabe rir? Eu não estou falando de rir com o Jô ou com Stand-Up. Estou falando do riso que brota a partir da visão da merda. Vê-se a bela bosta e ri. O deboche do capeta, tá escrito no livro. O riso é a máscara que o diabo deu aos humanos, tá em outro livro.
Mas quem ri? Quem ri mesmo? Rir e se enganar é possível? Deus! O Jô é apenas engraçado. Tô falando de riso e também de delírio. Sem concessão. Rir quando não pega bem e quando há sangue nas gengivas sem dentes. Rir sem dente, rir pela ausência de dentes.
Não dá para crer no sucesso das peças de teatro que fazem sucesso. Porque na grande média o sucesso é um engano. Ta aí o P. Coelho, o valor cultural do Funk Carioca, a consciência ecológica do J. Serra e a aceitação da diferença como estratégia de omissão.
Há que se ver a merda. Há que se ver a merda e rir. E só assim. Sem desculpas, sem sacadinhas, sem verdades da moda.
Só o hipócrita salva, só ele, só ele. Porque ele é cínico e sabe da farsa. Ele não acredita na farsa. Ele usa a farsa. Ele é hipócrita e mente em benefício próprio. Ele é bom por isso. Ele é o cretino que sabe que a mentira e a verdade são apenas convenientes ou não. O Hipócrita é o que eu quero ser, claro está.
Tirando isso há a curtição do facebook, os comentários em blogues e os seguidores de twitters. A farsa como instituição e o aumento da confusão: seja nas estátisticas eleitorais, nos imortais da ABL ou na criança que ganha prêmio por imitar adultos no programa do R. Gil.
São gracinhas e jogadas. A gente participa querendo ou não. Por inconsciência ou cinismo.
Cá comigo ainda prefiro o cinismo.

20 de setembro de 2010

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Cheiro meus próprios dedos pra me reconhecer. É uma tática antiga, estúpida e quase eficiente. Voltar demora, chegar em casa demora, sentir a doce e produtiva solidão demora também. Tento pensar pra frente, mas não consigo. O futuro é sempre um tipo de abstração. Faço minhas obrigações, cago no meu banheiro e, no hortifruti, compro legumes e saladas como se eu fosse o cara mais saudável do Oeste. O rádio tá ligado na cbn e tenho que lavar camisetas e cuecas. A vida parece besta, mas mesmo assim é agradável. Há coisas à fazer, sempre há coisas a fazer. Parece indecente esse fazer-fazer sem fim. E é.

11 de setembro de 2010

Deve rolar em Sampa/Capital no dia 18 de Setembro - se tudo der certo na Dona Roosevelt.

9 de setembro de 2010

essa euforia é todo um tesãozinho.

Ter paz na tarde chuvosa do Rio de Janeiro e ver que o cinza do dia nem é nada tão sério.
Porque tem essa gente que se deprime por causa do tempo e desse mal eu não sofro.
E tenho muita merda, sofrimento e revolta, mas besta eu não sou.
Que, cá comigo, acho bem patético e vaidoso essa coisa de se deprimir em feeds de facebook.
(meu limite de patético e vaidoso é meu blogue - essa coisinha aqui que até punhetinhas me rende)
Então mexo no meu pau sem foda e penso que tudo é uma grande bobagem. A euforia é uma grande bobagem. A depressão também.
No espelho do elevador reparei na minha pança. Ela é grande, branca e parece crescer. Mas o pior é: nem me importo.
Lembro do meu pai falando da diabetes que virá via gene, da ex que me queria saudável e da boa amiga que diz, quase suave: Fernando, você sabe que engordou demais nos últimos anos.
E, contra mim mesmo, reflito bêbado e falsamente profundo: melhor ter pança do que não ter alma.
Lembro de todo mundo e da última louca. Tento entender porque eu e as loucas nos aproximamos e tentamos, sempre com muita incompetência, nos envolver. E fico apavorado ao cogitar a coisa triste e óbvia: era claro que não daria certo.
E insistir no que não dá certo é a sabotagem mais clássica de toda auto-ajuda.
Agora ouço bebop e concluo que trompete é bem mais tesudo que violões, pianos e sambinhas tradicionais tocados por garotos da zona sul.
Eu já falei sobre alma nesse post, não falei?
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Mais um cigarro pra dentro e a infelicidade de imaginar que a vida longa parece ser a vida saudável.
É que preferia morrer velhobemvelho e fumante e bebendo e sem exercícios.
Mas quem sabe o que?
E o que seria da regra sem a exceção?
A cerveja é gelada, o cigarro é mais prazeroso do que imaginam os não-fumantes e meu pau, bem... meu pau ainda impressiona as adolescentes de Botafogo.