6 de novembro de 2010

Eu que vi eu que sei.

Toda tortura que é minha. E vaidade também, como não? A tortura é, em última análise, a vaidade mais brutal que há: sofrer só, sem dizer pra ninguém, sem ter ninguém, sem se quer reclamar da vida. Sofrer como se fosse uma sina. Como se o destino estivesse traçado e como se apenas a dor enobrecesse o homem. Sofrer pode ser um estilo.
Então, pra ser do contra, afirmo: não falo de mim. Não mesmo. Sofro também, mas nem me engano. Eu mesmo com meus dedos em meus buracos. Só sofre quem acredita e eu, infelizmente, não acredito. Acho tudo velho e malfadado. A ilusão é a mesma. Minha vaidade é ter a ilusão de que sei da ilusão que há.
Mas não importa. É um belo sábado de chuva e meu Dom Quixote de lata (presente de uma amiga) está na minha estante desafiando a parede azul que ele supõe ser o ceú. Por incrível que pareça não falo de mim ou do meu umbigo. Ainda tenho cartas na manga e a alegria de mentir deliberadamente. Inclusive pra si próprio.
É o paradoxo da mentira que tá no seu Aurélio de maneira mais elaborada: se eu afirmo 'eu minto' e o que estou dizendo é verdade, a mentira está em fazer tal afirmação.
De modo que me faço entender. Para os que têm dicionários e para os que gostam de pôr chifres em cavalo. Os que acreditam em unicórnios, em outras palavras.

Nenhum comentário: