23 de março de 2010

quando beijo minhas mãos.

Gosto de quando minha cabeça funciona de um jeito lento. Explico: minha tendência é ficar eufórico ou puto. Ouço e reajo como um bicho burro. Mas não agora. E não por isso e esses que estão acontecendo.
Tenho esperança de ser um velho esperto, já disse isso por aqui. Toda essa euforia, essa passionalidade, esse amo/odeio, essas paixões súbitas e esses ódios de picuinha me parecem, mesmo que ainda sofra com eles, coisas de criança. E criança eu sei que não sou.
O tempo passa e é real. O tempo não é relativo fora das formulas matemáticas. É concreto e altera nosso corpo, pele e cérebro. Negar a ação do tempo é negar que a vida real existe.
E claro está que não gosto da vida real.
E claro está que mesmo sem eu gostar, a vida real continua existindo.
Saber disso me parece, as vezes, toda liberdade possível.
Então leio minhas coisas. Distribuo meus livros e os leio em doses homeopáticas. Meus livros acabarão um de cada vez, eu sei. Por isso leio mais de um ao mesmo tempo. Pra regular o fim que fatalmente virá.
(Meu J. Fante passou da metade e já sinto saudades. Nessas horas ouso dizer que tenho 82 anos).
E há esses movimentos estranhos do mundo cheio de gracinhas: pessoas que voltam, lembranças que revivem, desespero infantil com insetos, músicas que não se ouvia há anos, mortes e nascimentos de crianças bonitas e feias.
Tudo certo. Minha cabeça não tá com pressa, eu disse. Apenas vejo daqui.
Minha pança é redonda e brilha com a luz da lua por ser muito branca. Não quero dançar sempre pra agradar moças tristes e também não quero nunca dançar pra agradar moças tristes. Tenho lá minhas contradições e ser contraditório não é mérito, é apenas parte da coisa.
(Talvez por isso me irrite tanto com quem acha a contradição uma grande coisa. Contradição é apenas outra falta de opção. Ainda prefiro as escolhas que acarretam em perdas conscientes.)
Seja como for, ainda tenho essa paz e sei que paz não dura. Aproveito agora e me sinto bem. É o que posso fazer e o que faço. Não sou criança pra tentar parecer inocente aos olhos de adultos.
Carrego minhas dores com o máximo de elegância possível e me esforço pra não as negar. É apenas parte da jogada de novo. E eu ainda quero as escolhas e os erros dos quais serei o único responsável. Cada um com sua própria merda me parece uma boa sabedoria.
O velho esperto que quero ser passa por aí.

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