24 de fevereiro de 2011




  1. Ouvir música clássica como quem bebe uma cerveja. A intenção por trás da coisa é a mesma: sentir-se bem, viver melhor, essas bobagens.

  2. Música clássica é o fino. Será que um dia só ouvirei música clássica? Lembro do bom Buk falando de música clássica. Faz todo sentido. É como se tudo estivesse lá. É como se fosse uma arte superior. (e sim, sim, sei que esse papo de arte superior é algo velho e chato)

  3. Arte é do caralho. E nem toda manifestação artística é do caralho. Mas pra quem gosta de arte há momentos em que tudo é aquilo. Pode ser uma música do Lobão, dos Beatles, um trecho do Domingos Oliveira falando ou o início de O Idiota. Tanto faz. De repente, por algum mistério, a gente sabe que está diante de um treco fodão. Pode ser uma tela do Picasso ou a Laura de Vison no teatrinho gay que ficava Travessa dos Tamôios. O que quero dizer: Arte não é um monte de perguntadores malucos diante de um quadro. Arte é e é imediata: ocorre diante de todos.

  4. Esse papo de que todos são artistas potenciais é a coisa mais imbecil que já se disse. Um auto ajuda destrutivo, desses que supõe a solução ser a auto estima (outra falácia). Uma pessoa feia sabe-se feia e reconhece a feiúra e a beleza. Ela não precisa estimular sua auto estima diante do espelho. Ela sabe quem é e faz o que faz. E, caso esse/essa, seja artista ele fará um quadro fodão, como o bom anão Lautrec. (Ou alguém acha que as putas que serviram de modelo para nosso anão não cobravam por hora?)

  5. Que venham os anões fodões e as músicas clássicas. Que o Dostoievski continue ensinando as coisas pros seguidores de Freud e que o Bortolotto explique por quê é sem sentido querer ser famoso. Que Reinaldo Moraes mostre que o sexo é divertido (e constrangedor) pra caralho e que o Nelsão nos diga sobre a importância de ter manias, taras e obsessões em geral. Que haja Picasso pra mostrar a guerra e Oticica pra revelar que o Brasil consome os ícones americanos como quem consome cocaína. Que os sambinhas representem nossa dor de corno e melancolias de machos latinos, que a MPB seja nossa inteligência e que o Win Wenders nos mostre o jeito certo de olhar as paisagens.

23 de fevereiro de 2011

(sr)

  • Ver filmes de boxe e se acalmar. Boxe é realmente legal. E, fato, rende bons filmes. Homens que lutam é o máximo resumo. Faz sentido. Acho que sempre fará.
  • Das manias recorrentes: Rádio UOL, música de Cello. E, Meu Deus, é tão triste e tão bonito. Imagino-me velho, com uma rotina e salário fixo resolvendo aprender tocar Cello. Seria uma boa velhice, acho.
  • No bar da esquina bebo duas cervejas. Penso na janta. Preguiça do peixe que não descongelou para o almoço. Na esquina as pessoas passam. Reparo que os shorts das adolescentes estão cada vez mais curtos. É bom ver as coxas jovens: já meio escangalhadas, mas ainda jovens. Lembro do Nabokov com Lolita e concluo que Lolita é nova demais pra mim: garotas de 16 já me constrangem. Esse tesão sem direção é uma beleza, ainda que seja inútil.
  • Durante o filme cago regras: todo homem deseja uma mulher que lhe salve. É um fato e nem sei o que fazer com isso. Tem um monte de homem que me acompanha: o Vinícius, o Dostoievski, o Domingos, etc. Imagino-me cagando essa regra (e descoberta tardia) para uma mulher do nosso tempo e concluo que fudeu. As maiores revoltas viriam à tona. Querer uma mulher que nos salve é, hoje em dia, algo que não deve jamais ser falado.
  • Vencer uma luta de boxe deve ser do caralho. Da esquina eu reparava nos meninos que trabalham na farmácia e que brincavam de lutar. Um clássico. Lembrei das minhas lutinhas contra primos, amigos. Eram lutinhas de brincadeira, e, como toda brincadeira, serviam de ensaio para a vida adulta. É... filmes de boxe são mesmo ótimos: vou rever a saga do Stallone pra confirmar o óbvio.

22 de fevereiro de 2011

Faço as unhas, corto o cabelo e aparo barba e bigode.

Então é assim:
  1. Ou você é cínico ou é equivocado. O cinismo a gente entende e põe no bau idiota que leva a idiota etiqueta: 'coisa de gente'. Mas o equivoco... ah... o equivoco não tem baú e toca punheta com a mão esquerda por supor que, sendo destro, a mão é de outrem. Em outras palavras: lambe-cus só satisfazem imbecis. Ou será que realmente todos meus amigos que disseram 'a-do-rei sua peça' foram superrrr sinceros?
  2. Todo homem é uma criança. Digo: todo homem que inventa um programa com uma mulher é uma criança. Corrijo: todo homem que gosta de mulher e inventa um programa com uma mulher é uma criança. Demora pra ser indiferente ou pra ser amigo de mulher sem, secretamente, imaginar comê-lá. Diria que é questão de tempo e insistência. E com 'insistência' quero dizer uma íntima e solitária lavagem cerebral em que o homem repete mântricamente pra si mesmo diante do espelho: não quero comê-lá, não quero comê-lá, não quero comê-lá...
  3. Ter sucesso é o desejo mais imbecil e comum do mundo. E sucesso, se se pensar na palavra, é uma coisa estúpida e sem sentido. E nessas, a gente (os metidinhos de plantão com blogues e projetos artísticos variados), usa a palavra reconhecimento. Por um lado é decente e soa melhor, por outro apenas ratifica a idiotia dos nossos desejos diários. É um tipo de labirinto, onde os atores, mesmo com bons cachês, sentem-se envergonhados pelo sucesso que fazem.

-

De barba feita

e manguinhas de fora

meu pau precisa

descobrir aonde mora.

21 de fevereiro de 2011

fosse verdade que fosse mentira

*
Gordelícia de cachos dourados
que mora no Sul.
Quando passa,
cá comigo,
sempre penso:
- bem que entrava nessas carnes.
E vislumbro filhos,
polacos e ranhentos,
com brotoejas
espalhadas pela pele branca.
*
Que avião pegava por ti,
que frio passava por ti,
que orkut e facebook deletava por ti.
*
Gordelícia que não é gorda,
nem é do Sul e muito menos
tem cachos dourados.
Que gosta de homens femininos,
que mora no Rio,
que só goza em segurança
com homens magros e delicados.
Gordelícia que agora
- e só agora -
é apenas minha
e me ama profundamente.
*
Gordelícia com bracinhos de bacon
dizendo que tem vergonha
da própria vagina...
Veja só:
supõe os grandes lábios
grandes demais,
escuros demais,
tortos e/ou assimétricos demais.
Fala,
mas só entre amigas,
que acha o cheiro
da própria vagina
com cheiro demais.
*
Gordelícia com peitos sardentos
e mamilos rosas
dizendo que os queria marrons.
*
Que viu filmes na internet,
que ela não é daquele jeito
e que tem vergonha
de assumir em rodas de amigos
que adora a pornografia
vasta, gratuita e vulgar
que acessa entre um e-mail e outro.
*
Gordelícia falando sério
quando diz:
"- que não é porque tô te dando que sou puta."
"- você tem que tocar mais de leve, assim."
(e põe sua mão sobre a minha e faz movimentos lésbicos em torno do próprio clitóris)
"- não vou deixar você ficar olhando a minha vagina. Acha que é assim, é?"
"- você não imagina como é raro eu dar prum cara no segundo encontro."
*
Gordelícia com uma boca,
duas mãos
e os grandes lábios
mais tesudos do planeta
dizendo pr'eu colocar dois dedos
em seu ânus cinza e enrugado
que ela insiste em chamar
de bundinha.
*
Gordelícia, meu amor,
Gordelícia, não me esqueça,
Gordelícia, meu telefone
é o mesmo
e minha casa
ainda é minha.
*
Gordelícia se masturbe,
Gordelícia diga "safado",
Gordelícia eu sou esquecido.
*
Gordelícia...
apareça.

17 de fevereiro de 2011

Pacífico e infantil como toda paz.

1.
Amar pra sempre
e dizer até logo.
Como quem vira a moeda,
como se o abismo
tivesse dois lados.
2.
Ver os adolescentes
que se beijam
nos bares da Voluntários da Pátria
e lembrar que pau duro
já foi sinônimo de constrangimento.
Os amigos que diziam:
- quem fica de pau duro quando beija é porque tá beijando pela primeira vez.
Então inibia-se a pau-durecência
em beijos públicos
para que sarros variados
ocorressem em frestas de festinhas americanas:
Meninus-Bebis/Mininas-Comis.
3.
Era bem simples
e bem decente
e intenso.
Tesão era uma mão na bunda,
uma roçada mais agressiva
ou mesmo o simples desfile com a garotinha.

14 de fevereiro de 2011

sobre teatro -

Não parece, mas é.
-
Não me infernize.
Deixe-me mais ou menos em paz.
É mais uma reclamação, mais uma raiva, mais uma injustiça.
Que o mundo apenas roda em torno do sol enquanto dá voltas sobre si mesmo.
E imbecis recebem medalhas. E dinheiro.
E a conveniência é um treco que ganhou importância. Ser bem relacionado, se juntar aos bons nomes, participar de festas e gostar de coisas que não se entende é mais importante do que alma, amor, decência ou, no mínimo, capacidade de se comunicar.
Seja simpático, tenha um exército à sua volta e compre imovéis para empreendimentos culturais. É velho. É falso. É uma ''jogada'' que agrada aos que lhe beneficiam. Ser bem relacionado, garantir os amigos, lavar a mão que lava a sua. O equilíbrio social e a condenação à quem fuma, quem bebe, quem gosta de café e também à quem acredita em histórias.
Houvesse justiça e raios cairiam. Porque nem questiono a injustiça que julgo sofrer, mas sim os benefícios de quem, mesmo sendo chato e incompetente, consegue colher flores por ser bem relacionado. Alimenta-se defuntos com homenagens que apenas reforçam que o defunto em questão é um bom nome para se ganhar dinheiro. E dinheiro existe, e dinheiro ganha-se.
Então reclamo. E fico só. E nem quero parceiros pras minhas reclamações.
E mesmo sem acreditar em Deus imagino justiças divinas: um filho viciado em crack, por exemplo. Seria chocante para um ser humano que nem em vícios acredita. Até o arquétipo do desejo de matar o pai, ele nega.... Meu Deus! Crack ou algo que ainda será inventado.
-
Pai Comerciante, Mãe Dona de Casa, Esposa que Nem Importa-se em Ser Corna E Filhos Loiros em Colégios Bilingues.
É disso que se trata, é disso que estou falando. A Morte não é um problema, mas algo à ser retardado. Viver até 100 anos é seu objetivo. E ele conseguirá. Morrerá com 101.
Alma, ele me ensinou, é coisa pra fracos.

13 de fevereiro de 2011

Todo Domingo Faço Planos.

Nada mais estúpido e natural do que fazer planos. É algo inevitável em nossa espécie. Somos gente e é natural. Natural como matar, foder, morrer, etc. Natural... E há sempre um idiota que defende a Natureza e toda sua crueldade como modelo a ser seguido. Tio Brecht condenava o "natural" por motivos bem mais nobres do que os meus.
Seja como for, naturalmente eu faço planos. A cerveja e o jornal de Domingo parecem impor isso. Planos variados, simples ou complicados, tanto faz. Recortar matérias de jornal é um deles. Consumir cocaína para fazer ligações importantes e constrangedoras é outro...
E por aí vai. A maravilha dos planos, em outras palavras.
Lembro que existem amigos/conhecidos que seguem seus planos. Penso neles e me impressiono. Ele têm missão, têm força da vontade, têm crença e nunca duvidam da própria crença. Acho admirável, confesso.
Essa gente com metas definidas e planejadas me deixam de boca aberta. Por um lado o sangue correndo nas veias que querem alcançar seus desejos, por outro a frieza intrínseca à quem segue obstinadamente seus planos. (Não sei se me fiz entender, mas é mais ou menos assim: ele farão e acontecerão. Eles têm força e são determinados. A vida é deles e eles a usam. Não estão à passeio e jamais questionam seus planos a ponto de desistirem.)
E eu me impressiono. Porque sou fraco, porque sou volúvel, porque me abalo se, por exemplo, J me diz que G ou H não presta. Os auto-ajudas que leio (o Lowen e a Bionergética) dizem que meu Ego é mal formado: ou oral ou esquizóide.
O fato é que Domingo é dia de planos. Faço contas, projeto rotinas, estruturo pensamentos e até planejo emagrecer quinze quilos. Domingo de sol, Rio de Janeiro no verão e o poema triste da Maria.
Lembro da Ivana e seu jeito de falar as coisas. Sinto-me íntimo dela sem o ser e concluo que isso faz um bom blogue. E fico delirando ao imaginar os planos dela e, durante o delírio, imagino mandar uma carta pra ela que nunca escreverei.
Porque meus planos não são planos, são delírios.
Penso no Lobão, no livro que devo ler, no trabalho que tenho que fazer, nas crianças que brincam no corredor do meu andar, nas minhas sobrinhas que precisam saber se os pais estão separados ou não, em meus pais que se agridem porque não podem conversar sobre o plano (olha ele aí de novo) de aposentadoria, no Aramis em seu ceú-inferno Maceió, no Luiz se impondo como um cego que ignora estar cego, na minha barriga que cresce despudoradamente, no Festival de Teatro que achei que seria selecionado e não fui e chorei, no estranho filme que vi ontem e que, misteriosamente, ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes, na Clara que está na Argentina, nos meus próprios planos de ir à Argentina, em Nova Iorque, em cidades pequenas onde há apenas um bar e uma mercado, na P que me amou com devoção e agora ama outro com devoção também, no prazer proporcionado pelo álcool, nos cigarros-muletas, na vida, nas meninas que me mandaram cartinhas quando eu tinha 15 anos, na J. Joplin e seu charme datado, etc.
-
Pra finalizar:
Que venha, que seja:
estamos aí.
Não faço o tipo que se mata,
é tudo que posso dizer.

11 de fevereiro de 2011

Anúncios: O Globo - 13 Fevereiro de 2011.

  • Preciso de gente chupando o meu pau. Não precisa ter boa feição ou habilidade em engolir porra. Nem mulher precisa ser. Exijo ausência de barba, bigode ou língua áspera. Não é necessário amor, alma, dedicação. Precisa-se de técnica e capacidade de ficar calado(a). É proibido falar e não pode abrir os olhos durante a felação. Há restrições quanto a excesso de saliva e boca de velhinha(o).
  • Pago bem por boas punhetas. Tem que ser mulher. Não quase mulher e/ou homem e/ou travesti. Mulher com mão de mulher: pouco (ou nenhum) pêlo e sem sudorese. Unhas longas e, preferencialmente, mal pintadas ganham mais. O ideal é esmalte vermelho descascando. Aceito anãs, velhas e portadoras de vitiligo. Não precisa ficar de olhos fechados que eu mesmo fecho os meus.
  • Aceito bucetas para um fraterno e inofensivo papai-e-mamãe. Não pode ser de quatro, frango assado, de ladinho, por trás ou em pé. Papai-e-mamãe é a exigência. A dona da buceta pode ter nascido homem. Não exijo uma buceta nata. Basto-me com a racha e o papai-e-mamãe. Beijo na boca, nessa clássica posição que a língua inglesa -debochadamente - chama de missionária, é um mal necessário. De forma que bigodes, barbas e pêlos excessivos não serão aceitos.

9 de fevereiro de 2011

Relatinho: cinema antes das 18:00 é a solução.

Pouca e previsível gente e eu quase me emociono. À minha frente duas adolescentes e a avó. Tudo é suposição, mas não importa.
Estou em paz, estou até feliz... Bobagem... Dizer estou feliz sempre é bobagem.
Mas estou lá e me sinto bem, mesmo chegando a triste conclusão de que eu suo muito mais do que a maioria do mundo.
Ouço as adolescentes com a suposta avó. Doze anos de diferença fácil. Nem é tanto, mas é. 30 e 18: um mundo.
Harry Potter é uma referência que não tenho mesmo tendo lido dois (ou seriam três?) livros da série e gostado.
Malu de Bicicleta. Título fodão e, bem, eu gostarei, gosto e gostei. Questão de estilo, por assim dizer... seja lá o que isso for.
Lembrei do Marcelo Rubens Paiva dizendo que não gostava do rótulo 'comédia romântica' no blog dele. Mas quem se importa? Eu não. Sou dado à comédias românticas e nem acho que seja o caso, já que o final explicado e feliz tão característico ao gênero falta.
Não acho que seja O filme. Mas que filme é O filme? Dez entre duzentos, no máximo. E quem se importa?
(O Kafka, por exemplo. Não consigo embarcar no Kafka. Fico confuso, acho meio chato e penso que me falta a devida cultura. Quero dizer: sou um consumidor de Arte voltado pra empatia. Se não me causa empatia, eu estranho e acho suspeito. Não sei explicar, mas o Kafka é um bom exemplo: um cara que têm delírios de uma luta que não existiu é um puta mote, mas, no desenrolar da trama, esqueço o que acabei de ler e nem lembro da luta que parecia ser um puta mote. Empatia, em outras palavras).
No Malu de Bicleta (puta título!) o que me bate é superrrr empatia: Meu Deus, como dói amar. Porque é real: amar dói. Dói muito e ciúmes, meu Deus, ciúmes é o cúmulo da dor de amor: irracional, idiota, desnecessário, fatal, real e , sobretudo, dolorido pra caralho. Mas ciúmes, em si, nem vale. Ciúmes de amor dói. E é triste e terrível. E amor dói. Sempre e sempre. É nessas que me lembro de frases que defendem a solidão como uma maneira de ter mais paz. Faz sentido. Seja no MaluDeBicicleta, seja ao ver o inferno que minha família vive. Tanto faz. Paz só é possível em solidão.
O filme não tem fim e isso me agrada. É o que é. Têm coisas que não tem fim. Cisne Negro entende isso também. Deixar mal explicado pode ser uma arte. E que me abençoe o Cassavetes que nem sequer nos prepara para isso que chamamos de fim. E alguns filmes dele (Cassavetes) estão entre Os puta filmes.
Na volta do filme, reparo na paisagem do Rio. É realmente linda e perturbadora. Lembro da frase do Reinaldo Moraes "o Rio é uma paisagem na memória - ou seira "cabeça"? - do Paulista" e acho que tudo faz sentido.
Está calor e amar dói.
A gente sabe, mas precisa ser lembrado. É um dos motivos para existência das Artes.
Está claro, eu acho.

7 de fevereiro de 2011

relatinho-cinemá.

Fui ver o Cisne Negro que queria ver. Diretor de O Lutador que me fazia queria ver.
Deixo logo claro que não vou falar do filme. Não sei se gostei ou não.
Mesmo com a certeza de que não se trata de um puta filme, como é O Lutador.
A história é boa porque os americanos são bons nisso. Mas nem por isso a coisa (a garota maluca que a delícia boa atriz faz) se justifica.
O melhor e o pior da América - pelo menos, no final, não há gente morta como em Sexto Sentido ou duplos como em Clube da Luta. Melhor assim.
O fato é que cometi um erro estratégico. Fui numa segunda feira às 19 hrs achando que seria calmo. Ledo engano. Cinema lotado, fila, poucos lugares pra escolher.
Ao meu lado duas velhinhas Galvão Bueno, ou seja: repetindo tudo o que a gente viu um segundo atrás, mas com comentários ninguém precisa. E a massa, afinal, age como massa: ri porque tá escrito masturbação, por exemplo.
Com isso quero dizer que bom mesmo é ver filme em cinema vazio. Mesmo egoísta, é isso. Gente quer, e precisa, se manifestar. E gente vai em grupos pro cinema de modo que há muito comentário e riso e comoção que você ouve, mas que é só compartilhado pelos que são do grupo. Um inferno.
Eu lá, exercendo minha solidão, e o mundo se manifestando com Galvoas Buenos, namorados que acham graça em uma mulher tocando siririca e outras coisas do tipo.
Seja como for, o filme tá lá. E eu queria ver e vi. E nem gostei ou desgostei. Estou morno e Deus me cuspirá.
Ainda acho a N. Portman uma beleza que só me atrai ao mostrar a buceta em Close. Ela é linda e boa atriz. Tesuda são outros quinhentos. Tesuda é mostrar a buceta ao afastar a calcinha apenas - e insisto no 'apenas' - para alimentar uma doença que precisa ser alimentada.
Então aprendi: dia de semana não é solução para o cinema. O lance é a hora: tarde de mais pra quem tem que acordar cedo ou cedo demais pra quem tem que trabalhar até às 18.
A gente aprende. É otimismo: a gente aprende. Malu de Bicicleta antes das 17:00.


(acordei com essa música na cabeça e Deus, que nem existe, sabe por que)

5 de fevereiro de 2011

que não há.

Se eu te disser EU TE AMO bêbado, você acredita?
E se, por acaso, eu tiver cheirado e te ligar pra dizer QUERO TE VER AGORA, você vem e pergunta algo como O QUE DEU EM VOCÊ HOJE?
Talvez, depois de fumar um baseado,
a gente se falasse pelo msn, o que acharia:?
(- nossa, quanto tempo.
- pois é, pois é.
- vai achar idiota eu dizer TO COM SAUDADES.
- claro que vou.
- hum... que pena...
- tá mesmo com saudade?
- sim. cheio de saudades.
- sério?
- nunca minto, lembra?
- rs.)
E se o Rio De Janeiro estivesse sob ameaça de traficantes articulados e - verdadeiramente - organizados e eu descobrisse o telefone da sua melhor amiga pra falar com você.
Acharia isso admirável?
Desculpas, você aceita?
(- Desculpas pelo o quê?
- Desculpas por tudo).
Acharia minha barriga branca uma coisa charmosa?
Repetiria ESTRANHO COMO UMA PESSOA PODE FICAR BONITA?
E se eu fosse legal e quisesse ser seu amigo e confidente? Você me chamaria de BOBO e sorriria com os dentes mais brancos que já vi?
E se nos encontrássemos, por exemplo, na Argentina, você iria dizer EU SABIA ou NÃO ACREDITO?
Casaria comigo? Brincaria de escolher nomes pra filhos no pós sexo?
Falaria SEU ANJINHO EU NÃO ABORTO?
E se me procurasse e eu me fizesse de durão, seria esperta o suficiente pra saber que gosto de você e que até TE ADORO?
NUNCA IMAGINEI VOCÊ DIZENDO 'EU TE ADORO', você diria?
E no Carnaval? (Meu Deus, o Carnaval!)
Você toparia ficar em casa e ver filmes em preto e branco?
COMÉDIAS ROMÂNTICAS... EU PRECISO SABER O QUE VOCÊ ACHA DE COMÉDIAS ROMÂNTICAS...
Você teria coragem de dizer EU ADORO COMÉDIAS ROMÂNTICAS?
E se você fosse espírita, acreditasse em Karma, Jesus e Allan Kardec, diria pra mim?
Falaria O GRANDE BUDHA e explicaria o porquê do H?
Diria EU TE AMO MESMO ASSIM ou DEUS SABE O QUE FAZ?
E se o mundo acabasse em 2012 na data final do calendário Maia, você me passaria uma mensagem com as palavras EU-TE-AVISEI?
E se eu tivesse uma doença fatal? Teria coragem de me ligar? Ligaria quando sua mãe morresse?
Pediria conselhos sobre o que fazer com seu filho rebelde que vai mal na escola e me confessaria que o nome dele é Fábio porque começa com F?
Teria coragem de largar sua vida pra viver comigo?
E dizer ABANDONA A IDIOTA DA SUA NAMORADA, teria coragem?
E se fosse Segunda Feira, Quatro da Tarde, e eu telefonasse porque sonhei contigo?
Ouviria ou nem atenderia?
Diria DESISTE ou diria NÃO DÁ PRA TE ENTENDER?
Se eu te perguntar VOCÊ ACREDITA EM AMOR, você tem coragem de dizer NÃO?
E o contrário? Você suportaria?
(O dinheiro. O dinheiro é importante.)
Se mais do que não ter dinheiro eu fosse um cara que faz dívidas, você casaria comigo de papel passado?
Teria capacidade de jurar na frente de um padre NA POBREZA E NA DOENÇA?
Teria coragem de dizer PRA SEMPRE? ETERNO? ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE?
E se o padre fosse lindo, você o julgaria menos ou mais sincero?
E se o padre fosse acusado de pedófilo, você acharia que as juras que ele pede são apenas sintomas de um mundo doente?
CORAGEM.
Você me perguntaria se eu gosto dessa palavra?(CORAGEM) Se eu uso essa palavra?(CORAGEM)
Se eu falo essa palavra por aí? (CORAGEM)
CORAGEM É VIRTUDE OU ESTUPIDEZ?, você perguntaria isso?
E se a resposta fosse a errada, você desistiria?
Se eu acreditasse em CORAGEM e fosse medroso, desistira de mim?
E seus peitos?
Se eu reclamasse dos seus peitos?
Se eu, sem querer, espalhasse que você tem displasia mamária, você me perdoaria?
Você acha possível um homem amar uma mulher feia?
Acha que existe chá de buceta?
Amor de pica?
Sexo simples?
Amor a primeira vista?
Destino?
Sorte?
Encontro de Almas?
Azar é real?
Orgasmos múltiplos são bons ou ruins?
Vagina e clitóris são duas coisas ou uma é apenas extensão da outra?
A velhinha do Multishow ajudou seu desempenho?
Você goza melhor por que leu? Por que viu? Por que se masturba? Por que ama?
O amor melhora o orgasmo?
Quem ama menos goza menos?
É real a diferença entre orgasmo vaginal e orgasmo clitoriano ou é apenas um recalque machista?
A Marina Colasanti já foi Utilidade Pública?
Se um homem (ou uma mulher) diz EU TE AMO, isso te oprime ou liberta?
Amor é ideia? É texto? É invenção? Fetiche?
Desculpa para broxas? Para frígidas? Para promiscuidade? Amor é real ou é apenas uma ideia que dá frutos?
Ama-se porque quer ou porque é inevitável? É legal? Pega bem? Ou não? Amor tá na moda ou fora? Ter discursos pró amor é coisa de quem ama? Ou discursos pró amor é resultado de quem nunca amou?
Filhos promovem amor? Filhos podem salvar o amor? Filhos podem materializar o amor?
Misturar os gametas dá tesão? E um homem e um homem? Uma mulher e uma mulher? E o pan sexualismo? O bi sexualismo? O tran sexualismo?
E filhos de viados têm Complexo de Édipo? De lésbicas de Jocasta? Como é que é?
E, de novo e de novo, o amor?
Que porra é essa?
Que assunto é esse?
Por que, afinal, se fala tanto nisso?
Quem ama é melhor?
Quem nunca se sentiu amado se tornará um serial killer?
E o resto?
E a vida?
E o medo?
E a loucura?
Amor tá na moda, não tá?
Diria TE AMO PORQUE AMOR TÁ MODA?
Diria AMAR É BOM PARA TREPAR MELHOR?
Diria SÓ AMANDO SOU FELIZ, mesmo sabendo que isso é estúpido e triste e que felicidade não existe?
QUERO TE AMAR, MAS NÃO CONSIGO, você diria?
E, estando bêbada, explicaria
CHORO PORQUE TE MALTRATO,
TE AMO PORQUE VOCÊ ME INCOMODA e
TENHO MEDO DE TE AMAR PRA SEMPRE?
Falaria sobre exames de DST'S?
Sobre camisinha e falta de contato real?
Sobre dar o cu apenas por generosidade?
EU TE AMO SEM TITUBEAR, você diria?
Gostaria da frase QUEM AMA, NÃO TITUBEIA?
Ou então QUEM AMA, NÃO PECHINCHA como uma tatuagem alí, bem alí, no lombo e em letras coloridas? Apenas acima do fim do fio da bunda?
-
E se depois do não a cada pergunta
eu disser que nem ligo e que nem acredito,
você me achará esperto ou otário?
Você se importa?
Vai me adorar por eu negar o óbvio
ou me odiar por eu insistir no óbvio?
Tem coragem de me dizer?
Ou é melhor fazer de conta que NÃO SEI QUEM SOU?
Você sabe, não sabe?
E se eu não souber é porque sou fraco?
E você?
E eu?

3 de fevereiro de 2011

relatinho - blablabla

Vou ao cinema para interagir com o mundo. É estúpido, mas é o que é. Três filmes desde segunda feira e nenhum que realmente valesse a pena. Mas não importa. Ir ao cinema sozinho em dias de semana é uma boa maneira de ser solitário. Todos somem diante da tela. E em teatro isso nem sempre rola. Fora o risco de um conhecido, ou pior: um semi-conhecido. Então cinema, mesmo achando que teatro é mais útil. Com "útil" quero dizer que peça ruim é melhor do que cinema ruim. Sei lá. Teatro pode ser chato pacas, mas, mesmo assim, há a certeza de que só aquele dia rolou aquilo. Talvez o lançe do ao vivo. Que é diferente de show, onde o ambiente é disperso e o show, em si, nem é o motivo da maioria estar lá. Mas estou falando de mim. Só falo de mim. Não to falando de teatro, cinema ou show.
Então vejo esses filmes mais ou menos, bebo uma única cervejinha no bar e volto pra casa. Não é sensacional, mas é bacana e me sinto bem. Em casa ponho música, estalo uma possível cerveja da geladeira e abro meus arquivos de texto. E é estranho, estúpido e meio triste.
Leio o que escrevi/escrevo, penso continuar isso ou aquilo, futuco blogues meus e alheios e um leve desespero me arrebata. Como explicar? Arquivos abertos e nada de nada. Escrever. Escrever apenas nunca é apenas quando há arquivos abertos. Parece que tem um lugar pra chegar, mas é bobagem. Não há lugar pra chegar. Não há nada.
Então cogito ler a Bíblia, pra ser mais exato O Livro de Jó. Porque hoje vi uma entrevista de um cara falando sobre esse pedaço do velho testamento, onde, segundo ele, Deus deixa claro: o problema é de vocês, eu os inventei e me arrependi, se virem. Mas não vou ler O Livro de Jó, vou? Talvez. Mas, mesmo assim, os arquivos estarão abertos e a tristeza estará presente. Escrever...cada idéia. Talvez apenas me falte canais à cabo.
Seja como for, semana que vem quero ver Cisne Negro(?). Semana que vem que eu é que não vou ao cinema sexta, sábado ou domingo. Esse filme quem dirigiu foi o cara de O Lutador, que vi e entendi tudo. Lutador de Telequete preso ao passado... claro que adorei e entendi tudo.
Chega agora: talvez a Bíblia, talvez o X-Salada, talvez os arquivos abertos.

2 de fevereiro de 2011

Se você fosse chata apenas comigo

me sentiria exclusivo.

Mas como é chata com todos,

resolvo: é só chata mesmo.

1 de fevereiro de 2011

minha visita excessiva.

Certezas estúpidas porque inúteis:
  1. Faltou trinta coisas, mas principalmente amor. Quando se ama! Ah... Quando se ama! Queríamos amor, acreditávamos no amor, desejávamos amor. Mas amor, amor mesmo, é. Não diz respeito a desejo ou impressão. Só um idiota diria: "acho que ele/ela me ama". Amor é certeza sem margem para achismos. A regra é clara: ou amou ou não amou, ou foi amado(a) ou não foi. O amor é real e palpável, não é um UFO que vemos no céu. É, no máximo, o balão à gás que soltamos e chamamos de UFO. Ñão é, definitivamente, um objeto voador não idenfiticado.
  2. O erro também é bastante claro: supôs-me apaixonado e não recebeu as delicadezas como simples delicadezas. Isso deturpa. Põe o tempo na frente sem nem sequer pensar no atrás. Erro. Meu, seu e nosso. Somos (seríamos) um casalzinho cheio desses defeitos que encantam a humanidade. Casalzinho que vira assunto de filme e teses de doutorado. Casalzinho moderno e estúpido como é, enfim, todo casal moderno.
  3. O amor é uma invenção, a gente sabe. O fato de sê-lo não o faz menos real e até o contrário. Leminskão falou disso com bem mais inspiração. Seja como for, digo: o amor é o que sempre foi desde inventado: uma teimosia, uma rejeição ao mundo apenas real. Amor não é o amor de hoje, amor é o amor de sempre. Não é mutável nesse sentido mesquinho de um dia após o outro ou de regar plantinhas. É fatal como uma planta carnívora, dessas que se alimentam de insetos voadores e outros sangues.
  4. Pra me culpar: meu erro é velho. Espero superar o primeiro-idealizado amor. Erro terrível e inevitável: ou você é melhor do que ela ou não é. Se não foi, a culpa é minha. Porque ela é minha e porque nem me deixei levar. Tem a ver com crença. E com teimosia. E, como não?, com insistência. Insistência que seria nossa, assim: por que essa mulher/homem me ama tanto? Resposta: porque o amor existe.
  5. Ao notar que seu afeto se manifestava por patadas e agressividades eu me senti feliz. Ora, eu havia entendido seu afeto. Mas entre entender e topar há um lapso enorme. O mesmo que separa o UFO do balão de gás que eu soltei. Se notei isso e te falei foi pra dizer "deixa disso" e não pra repetir "é um UFO, um UFO."
  6. Meu tesão existe porque você é bonita. Como explicar? Impossível. Mulher bonita é mulher bonita. E ser bonita é ser bela, gostosa e tesuda e, ainda assim, deixar um naco de alma transparecer. É por esse naco de alma que não serei seu amigo, seu bródinho ou seu confidente. E bonita é bom pra mim: sou gordo e pouco atraente. Sinto-me ótimo em desfilar com belezas que me dão ou querem me dar.
  7. Se você acha que o você desse texto é você, eu afirmo: você está errada e nunca entendeu o que digo. Eu falo de mim, apenas de mim. Por incompetência e limitação. E se misturo verdade e mentira é porque também dependo das minhas invenções. Fraquezas antigas e desejos bregas de ser original. Ser original? Sim, como a cerveja que todo mundo bebe e acha ser encorpada. Em outras palavras: uma imagem bem vendida.
  8. O UFO são meus sonhos e sua data de nascimento. Eu gostava daquilo: signos, cadomblés e Jesus Cristo no pacote. Um lindo exemplo de sincretismo, uma beleza mal disfarçada em insatisfação. Sua bela e irritante insatisfação. A gente amava quando queríamos amar e não quando estávamos juntos. Era inocente, pensando bem... como se amor fosse apenas desejo de amor.
  9. Pra terminar: o tempo avançando e nós deixando que o tempo passe. Como vítimas, como quem berra "as coisas mudam" sem perceber que a mudança ocorre também por causa da gente. Amor, nosso sonho. Sinceridade, nosso delírio. Erramos porque não houve nós, porque não soubemos de tudo aquilo que seria inventado. Porque, enfim, achávamos que o amor era natural e espontâneo.

30 de janeiro de 2011

relatinho.

Baixo um disco do Otto e ouço a Amy Winehouse na rádio da UOL. Penso se isso quer dizer alguma coisa ou se é apenas mais uma aleatoridade da vida. Porque é triste, mas é isso: a vida não tem nenhum sentido. E espero estar errado, espero que o Chico Xavier apareça e diga ''tudo é pra sempre... a alma tem consciência''. Mas ele não vai aparecer e eu vou continuar tentando achar lógica onde lógica não há.
Mas quem se importa? Nem eu me importo. Estou no blogue. E com isso quero dizer que estou escrevendo por tédio e falta de sentido. Porque sou tímido demais pra fazer do facebook meu palanque. Meu máximo de discrição é o blogue. 6 leitores fiéis e uns que vem ou vão, mas que o querem mesmo é socializar. E não quero socializar. Simplesmente porque não tenho habilidade e porque se for uma mulher, vou pensar (e nem importa o real) que ela quer me dar.
A exceção é mamãe que me lê sempre simplesmente porque ela é minha mãe e eu seu filho.
Então, de novo, fui ler jornal na esquina. Isso quer dizer cervejinhas e jornal. E cervejinha e jornal não quer dizer nada. Mas, mesmo assim, é lá que formulo meus delírios enquanto vejo as mulheres lindas que passam e crio uma frase que só eu entenderei: A MULHER PERFEITA NÃO TEM ENDEREÇO. E adoro minha frase porque ela é só minha, só minha, e sou dado a pretensões de exclusividade. Que bela palavra: EXCLUSIVIDADE. Mas quem entende?
(É como os sonhos eróticos dessa noite. Tão perto e tão longe. O W. Wenders com sua camêra que se arrasta pra focar anjos feitos de mármore. Eu tô lá também, mas nem sei: a beleza engana, a feiura engana também. Porque queria mesmo não pensar e jogar nessa espera que jogam os que acreditam que o presente é importante.)
Ontem fiz pastéis e hoje fritarei um bife. Baterei nele com um martelinho e cortarei alface e tomate. É minha saúde após a cervejinha. É minha tia falando: - importante é ter saúde. E, bem, ter saúde não é importante, é necessário. Importante é outra coisa: algo que não tem a ver com necessidade, mas com o ine-cessário. E isso aprendi com Leminskão e outra galera. Que a gente aprende apesar de tudo.
Então concluo: domingão e trinta mil vantagens e desvantagens. Otto, quase chato, me disse: pra morrer é preciso existir. Penso nos peitos sem dono que quero chupar, nas bucetas que quero comer e nos domingos de inverno que estão acima da linha do Equador. E também no Chico Buarque que, ao se tornar escritor de livros, se tornou mais chato e mais óbvio do que deveria.
Mas, em verdade-verdade, digo: isso tudo porque tenho blogue e porque, como não?, sou mais tímido do que gostaria.
Trinta coisas
e nada na fita.
Ser esperta é melhor
do que ser bonita.

27 de janeiro de 2011

mi corazon que nunca entende

Fumar era um dos traços antigos da minha personalidade. E também dizia que a minha falta de fé lhe parecia muito grave. Quando me dava anunciava transcendências que nunca eram alcançadas. Falava: liberdade, justiça, superação, auto-consciência(?), aprimoramento, etc. Quando estava inspirada, soltava: - bora comer um japa, monamur?
Eu não tinha estilo nem elegância. Eu era fraco também, ela dizia. Falava que eu desconhecia a nocividade da nicotina... (logo eu que fumo tanto?) e fazia planos que nunca executaria: viagens, vendas e compras de imóveis, projeto de integração(?), livros para adolescentes com síndrome de down.
Por ironia e tédio a gente se adorava. Mil discussões, mil questões, mil trepadas sem transcendências, mas ainda assim boas trepadas. Quando falei de jantar com um casal amigo ela disse ECOLOGIA e nunca mais tocamos no assunto.
Faltava. Ela que falava. Pra mim era bom. Lento, estúpido e sem sentido: a vida. Ela queria mais e caí na burrice de perguntar o quê. Haviam várias constelações e mundos, muitas possibilidades e tudo era líquido, espécies evoluídas, tá ligado? e também "o fim do maniqueismo".
Secretamente agonizava. Buceta, punhetas: vantagens e desvantagens em tudo. Pornografia variada na rede X o quentinho real da carne.
Um dia me pediu em namoro que, por ignorância, disse não ser o caso.
Buceta-Beleza. Punheta- Eu Só.
Daí o de sempre. O até logo. O te adoro. Época errada. Momento errado. Faltou algo. Onde foi parar a intengração(?). As demandas reais(?). Meu seriados americanos. A falta...
Que falta?
Ah... não importa. Nunca importou.

25 de janeiro de 2011

*-*

Toda
mulher linda
é inventada.
Feita
pra mim
por mim.
Toda
mulher linda
é minha
e me inclui
em sua reza
quando fala com um Deus
que desconheço
ou nem acredito.
Toda
mulher linda
me frita bifes
me leva frutas
e aos sábados de manhã
fala sobre o que fazer aos domingos.
Toda
mulher que invento
e acredito
é minha
é linda
e nem precisa ser real.

23 de janeiro de 2011

Cerveja na Esquina e Jornal O Globo./s.r/

De novo e pra sempre. Imagino-me um velhinho idiota. E se aquilo e se isso. Só não sinto tédio porque bebo. E estou ali. E acho a repetição uma beleza, uma arte.
(O que não impede que eu eu pense: queria ser o Domingos Oliveira e seu otimismo, o Bukowski e seus olhos calmos já no fim da vida, o Zezé que limpa as calçadas como se contribuísse prum mundo melhor)
Jornal de Janeiro. Aquela coisa. O Caetano tem uma das piores colunas dos últimos tempos, mas ele é o Caetano. Prefiria ele antes. Quando era novo, morava com meu pais e apenas ouvia suas músicas. O Caetano e o gênio que fui ao 19 anos são da mesma ossada, aprendi com Mirisolão.
Mas é domingo e o Rio de Janeiro é ótimo. No facebook quase todos falam sobre praias, dias azuis e coisas que, ao serem comentadas, se tornam idiotas. Penso em culpar alguém, mas não consigo. O Rio é realmente lindo e o dia está de fato azul. As pessoas precisam compartilhar suas alegrias, não precisam? Até acho que sim, mas prefiro as mais discretas às que não fazem de qualquer movimento intestinal um feed atualizado. Questão de gosto e preconceito. Preconceito... meu amor. O papo bom que o facebook estragou: quem seria eu sem os meus preconceitos?
Então penso no meu cu inchado, na mistura de álcool e antibiótico e na minha irmã. Pensar é tão estúpido e sem sentido. Pensa-se em tudo, mas e daí? Tá lá o Zezé varrendo a rua e se sentindo ótimo. Eu, por ora, tenho o meu jornal.
Leio sobre economia criativa e concluo que isso é uma nova moda e que, por ser o que é, é uma chatice que ganhou status de conceito e secretaria no novo Ministério da Cultura. Meu Deus, eu não devia ler essas coisas. Me irrito, me confundo. Penso sobre velhas idiotias: o eterno lapso ente criar(inventar) e fazer(faz a invenção ocupar espaço).
E isso me lembra outros horrores como "viver no presente". Meu Deus. Como aguentar? "Viver no presente" como sacada contemporânea. E o presente que nem existe, que está esmagado entre o antes e o depois, como se o tempo fosse uma simples abstração capaz de ser manipulada por não-físicos. O tempo tão real... data de nascimento, hora do óbito, essas coisas. Porque o presente não existe, o presente está sempre passando, eu aprendi com o chato do Bergson.
Fecho o meu jornal e deixo o dinheiro na mesa porque estou no Rio e os atendentes não são tão atenciosos quanto a gente gostaria. Dou adeus pra Maria que me acena atrás dos seus óculos. A Maria vive no presente, pensado bem. Mas quem se importa? A Maria é uma bêbada de bar e óculos fundo de garrafa. Ela não faz nada, mas aparenta viver bem. Em outras palavras: a Maria não tem facebook.

21 de janeiro de 2011

Arranque a camiseta

e tenha pressa

daqui a pouco a gente morre

e como é que faz?

Sentindo o último suspiro,

a última imagem de um sorriso maternal

e as flores que não compramos

decorando a casa que não tivemos.

O tempo é veloz e fatal.

Daqui 30 anos onde poderemos estar?

Duas carcaças se arrastando pelo mundo

tentando descobrir os erros que não existiram?

17 de janeiro de 2011

diante do conta gotas.

A bobagem confunde a cabeça
e ter foco é difícil e raro.
Que há o papo do mundo líquido e fluído
e que esse papo, cá pra mim,
não presta: diz mais respeito à incapacidade de afirmação
do que ao erro convicto.
Gente radical ainda me comove mais.
O Jesus cheio de vigor vingativo dos Evangélicos,
a implacável justiça olhoporolho dos Espíritas
e o delírio de beatitude resignada dos Católicos
são as crianças mais lindas pro meu colo.
Que decidir e fazer as cisões é o humano todo em toda dor, loucura e faniquitos.
E esse jogo de dados, esse é-não-é, esse sim-sim-não-não é uma coisa inútil que nunca fecha portas e que vive em eternos corredores sem quartos, camas ou lençóis limpos.
-
Porque adoro o cheiro do lençol limpo e
quando durmo pelado meu pau fica facilmente duro
ao roçar no algodão que acumula meu amaciante FOFO - onde um ursinho marrom me faz promessas de ótimas noites.
O ursinho FOFO que me diz alguma coisa
e faz promessas de cuecas cheirosas e meias renovadas.
O ursinho FOFO que diz sim sem medo de dizer sim -
que, em seu corpo de pelúcia, faz a plena falsa promessa:
a afirmação de conforto.

16 de janeiro de 2011

A belezinha é aquela praia. E também o sono. E o domingo passando lento. Fazer o que nunca se faz pode ser um prazer.
E têm as tesudas mulatas do Rio. Cada bunda, cada peito... A pele morena e o recheio impossível. Mulatas cor de prata com minúsculos bíquines saindo da água. E meu tesão sem direção se consumindo sozinho entre um trago e outro. Mulata da bela bunda, eu te amo.
Os pés na areia... estupidez cheia de sentido e paz. Ver tudo como quem rói distraidamente uma espiga de milho.
(Que teve essa hora que me lembrei dela. Que sempre lembro dela. E que hoje, ao lembrar novamente dela, pensei que é culpa. Tenho culpa por ela. Porque a culpa ficou e ela foi. Porque acredito em culpa e não confio em ninguém que ache que culpa não existe. Que culpa é saber que se está vivo e que se age no mundo e que toda ação tem consequência. Em outras palavras: não ter culpa é nunca ter feito nada consequentemente.)
E as horas passam e de repente é noite e o lusco-fusco parece melhor do que era.
Então travo meus dentes e entro no táxi. Home sweet home. Uma punheta pra ti: mulata da boa bunda.

15 de janeiro de 2011

De novo o inferno passeava pela cabeça.
As perguntas chatas:
- o que faço aqui?
- quem são essas pessoas?
- como se resiste?
- por que a solidão parece tão doce?
A mesa cheia, os rostos calmos e os momentos em que se esquece de si - a paz lenta até o estranhamento que diz: "você se esqueceu de si".
Então voltam as garras do inferno, o lar quentinho, o anonimato pleno que é estar em casa sozinho numa sexta feira à noite.
-
(As paisagens do Win Wenders com aquela maldita camêra lenta. Tão bonito, tão bonito. Vejo aquilo e não entendo porque gosto, mas gosto. E é tão bonito e calmo e decente. E apenas vejo aquilo. Horas e horas de paisagens. Calma e decência. A vida mais ou menos regulada.)

14 de janeiro de 2011

Era uma criança triste que babava de noite. Às vezes fazia xixi na cama e achava engraçado não acordar com o próprio mijo quentinho. Os faniquitos noturno, o pau duro pela manhã e as cuecas com freadas incríveis eram a inocência manifestada em suores, porra e merda.
Achava graça de tudo e ria muito. Gostava também de falar no diminutivo, de ver cachorros atrás de cadelas no cio e de Sessão da Tarde, onde jovens se reuniam para atravessar com um carro roubado a imensa América.
Era feliz.

10 de janeiro de 2011

O tesão era um bebê em seus braços e eu me perguntava se isso estava certo ou se era apenas mais uma jogada para se sentir vivo. Havia o belo pescoço comprido que ela usava mal; e também aquele jeito meio desafiador que ela tinha e supunha ser charmoso.
Pra mim era uma chatice que eu não gostava e não entendia.
Os amigos dela usavam chapéus e ficavam bêbados e amorosos e eu me sentia deslocado com aquela felicidade toda que era manifestada em sorrisos sinceros e roupas claras e, vale ressaltar, o uso de chapéus como se usar chapéus fosse super normal.
E eles fazem vídeos de sua felicidade e colocam no youtube onde são vistos por milhares e milhares de pessoas.
Eu inclusive.

5 de janeiro de 2011

faniquitos de ano novo 3.

pau duro em piscinas aquecidas.


  • Lolita tesão, Lolita, meu amor. Livro bom começa logo e logo diz à que veio. Lolita, mil punhetas e Lolita porra pelo ralo. As palavrinhas se juntam, as frases saem boas e, após 15 páginas, tenho a certeza de que as meninas de 12 anos são a coisa mais tesuda que existem. Deus abençoe a América. Deus super-abençoe os russos que escreveram na América.
  • O casal de adolescentes estava em polvorosa. Pelo que entendi, era assim: pai separado em férias com os filhos - um de 8 anos e outro de 14. A namorada do mais velho tava junto: pais tranquilos ou liberais ou irresponsáveis ou confiantes, tanto faz. Ela tinha 14 ou 13 e os dois se amassavam lindamente em todas as piscinas. Ela pequena com aparelho nos dentes e ele mais alto. Brincadeiras incríveis de sunga e biquine. Joguinhos lindos na água: passagens embaixo de pernas, suportar o peso do outro com o benefício da gravidade da água, sumiços de beijos submarínicos, etc. Tesão é aquilo. Tesão não é o super-sexo narrado em mesas de bar.
  • Primas que afirmam nunca terem tocado siriricas. Eu acredito e lamento. Pelo que entendi há nojinho da própria buceta. Não sabem nada de nada e desconhecem, em absoluto, os benefícios da auto satisfação. Roçar o próprio púbis é tão cristão, tão católico... causa uma culpinha tão boa de purgar. Mas elas nem sabem disso, elas acham o órgão feminino muito feio.

4 de janeiro de 2011

faniquitos de ano novo 2.

as noites tristes depois do natal:


  • Casais se matam e se agridem. As unhas, postas pra fora, arranham as carnes que aparentemente se amam em noites menos (ou seriam mais?) frias. Ranhetices com prazo de validade suspeito: casais novos e velhos se matam com mais ou menos intensidade - ou seria competência? Seja como for, sinto-me ótimo estando solteiro. Meu inferno é apenas eu e não o outro. Parece-me justo e decente.
  • Ou você melhora com o tempo ou você tá morto. Isso não é virtude, é um mínimo de decência. Se você reclama há 30 anos da mesma coisa, há qualquer erro fatal que passa despercebido. Se você reclama há cada dia de uma coisa diferente, você tá fudido e mal pago, inventando micro-inimigos pra se sentir vivo. Uma mesma queixa a cada 3 anos me parece um bom número.
  • Ficar no banco do passageiro reclamando do motorista é um filme velho, chato e previsível. Pode-se dormir, assumir o volante ou simplesmente cutucar o nariz. Há a alternativa de ler ou ouvir música, mas nada disso será feito. Reclamar é quase um prazer - como alguém que inflama a unha do dedão do pé para sentir aquela dorzinha "gostosa" a cada passo.
  • A necessidade de plateia para mostrar os próprios sentimentos é uma dessas coisas que cada vez reparo mais e entendo menos. Por um lado é apenas vaidade, por outro é um golpe baixo que aproveita o grupo para se esconder. É como falar sobre sexo numa mesa de bar: todos se tornam muitos sexuais e lascivos.

3 de janeiro de 2011

faniquitos de ano novo 1

toda loucurinha amiga.


• Encontra-se pessoas e a tensão mútua é quase satisfação. Segundo minha irmã eu estava amarelo. Devia estar. Fazia sentido estar amarelo. 3 anos e uma vida. O tempo agindo. As mudanças sem volta e o constragimento inevitável. Foi tudo lindo e é tudo terrível.

• A tensão no rosto dela me acalmou. Eu conhecia aquela tensão. Já a vira antes e me era íntima. De uma forma gratuíta e estúpida, eu afirmo: entendia tudo, sabia de tudo, mesmo que visse pouco. Era como um cheiro que volta e que reconhecemos mesmo que sem decifrá-lo.

• Durante a volta, no carro cheio, entre as músicas e as brincadeiras com as crianças, sentia essa euforia sem mira que me subia e descia o estômago. Imaginava explicações, imaginava textos para o blogue que falassem sobre isso. Explicações sobre essa época (natal e ano-novo) que, inevitavelmente, nos fazem pensar em mudanças e transformações. Após o golpe de vista, da certeza do encontro improvável e à caminho do banheiro, pensei amarelo num riso bestial: - euforia sem mira explicada.

22 de dezembro de 2010

Dezembrão.

E todo calor e toda loucura.
E um tipo de fim que se aproxima
e o inevitável
que é pensar no ano que passou
e no ano que virá.
Que existimos no tempo e morremos no tempo,
que somos o tempo.
E o tempo passa mesmo que se fale sobre a importância do "agora" -
como se o agora fosse real...
como se ao dizer "agora" o "agora" ainda fosse o que não mais é.
E tem Natal
e Ano Novo.
E as datas todas.
E o fato de serem inventadas não quer dizer nada.
Que tudo que importa foi inventado: o amor, os laços, a arte, o sexo como descoberta, a ficção, os livros, a família, o espirito, Deus...
E daí que vejo meus amigos e tenho vontade de falar
e falo e lembro que somos amigos e vejo a fraternidade do planeta
sendo concentrada numa data inventada e bela e humana.
E lembrei dessa música.
Que tem a ver com tempo,
com coisas que existem no tempo,
que fala de gente que se vê
e se pensa e não se conhece
e, mesmo assim, se consome.
Que é Dezembrão e o sol é como um punhado de agulhas à entrar em nossa pele.

a música. pra quem tiver saco. e nem é uma boa versão.

20 de dezembro de 2010

o que se vê, o que se pensa, o que se lembra.

  1. Gor-delícia dentro do trem a caminho de Campo Grande. Entra depois da Central. Usa microshorts, blusa colorida que amarra sem sutiã e os malditos óculos escuros enormes que estão na moda. Mama um LATÃO de Bramha. Tesão. Gor-delícia, meu amor. Puxa papo com o coroa que vai pr'onde eu vou. LATÃO de Bramha substituído por LATÃO de Antárctica. Nariz fino, coxas brancas e exibição discreta. LATÃO mamado com calma e dignidade. Coisa fina. TESÃO.
  2. (Pau Duro e imagens infernais. Culpa da pornografia internética e do balanço do trem. Sem fumaça, sem piuí, sem belas paisagens. Pau Duro imbecil. Duro agora justo agora. Meu Pau, uma criança. Inocência por culpa de trilhos de trem.)
  3. Morena-Toda-De-Branco. Vestido ou vestidinho, não sei. Livro grosso de Biologia na mão e os mesmo óculos escuros da moda e enormes. O dela era marrom. Levanta os braços e vejo as axilas. Axilas são sem graça é a minha conclusão. Olho pra ela com ostentação. Quase idiota e quase santo. Ela nota e fico satisfeito. Quase santo e quase idiota. Ela limpa os óculos no vestido-vestidinho branco. É pra mim. Sobe o vetido-vestidinho e faz que nem nota. É pra mim 2. TESÃO. Livro de Biologia. O vestido-vestidinho subiu muito, muito mesmo e ela fez que nem notou que eu a olhava ostensivamente. É pra mim 3.
  4. (TESÃO. Pau Duro cheio de inocência infantil. Maldito trem. Há que se culpar alguém. Pau Duro, meu amor, a estação tá chegando e minha bermuda explana).
  5. Trem ainda. O puto - meio bicha, meio imbecil - comprou um sorvete de côco e jogou o papel de embrulho no chão. Fiz minha cena mais fraternal. Curitiba e menino-folha. Se-pa-re. Olho pra ele e pro papel. Mexo a cabeça mais do que o necessário. Ele se toca e empurra o papel com o pé pra baixo do banco. Sinto-me desafiado. Olho agora com a boca aberta e ele vira o rosto. Vitória é uma idéia estúpida que agora fez sentido.
  6. 60 questões que podem mudar sua vida. É estranho e sem sentido. Mudanças de vida são sempre suspeitas. Vejo velhos e muita gente conhecida. É triste. Decadente. Estamos todos ali. A tristeza se manifesta com "você por aqui?" ou "fez para o município?"
  7. Carona pra volta e carro de desconhecidos. Sou simpático e descolado. Os desconhecidos são fáceis de lidar. Dureza são aqueles que se conhece pouco ou que já se viu. O desconhecido absoluto não causa temor.
  8. Casais são tudo aquilo que entendemos por coerência interna. Tenho andando com casais. Eu e um casal, no caso. Lembro que segurar vela era terrível há uns 15 atrás. Agora não. Ser adolescente é mesmo terrível.
  9. Na VAN da Lapa o cara que cobra e berra é super descolado. Tenho delírios. Imagino-me milionário e o chamando para uma conversa. Eu diria: tu é esperto pacas, vou te montar um negócio próprio, pensa bem o quê pode ser. E ele se tornaria um homem de confiança do fernandinho-milionário.
  10. Entre o Rio-Sul e minha casa há esse mobiliário urbano que anuncia que o Planetário faz 40 anos. Lembro da Branca - a mais doce, a mais eterna. Ela queria que eu a levasse ao Planetário e eu não a levei. Ela nunca havia ido em um e dizia que poderia ser um ótimo passeio de sábado à tarde ou domingo de manhã. Eu era burro e não entendia. Reclamava das crianças estúpidas que lá estariam. Eu era burro e me achava esperto.
  11. Culpa, culpa, culpa. E lembro de todos idiotas que supõe culpa ser uma mera invenção da Igreja.

18 de dezembro de 2010

Eles são bonitos e jovens. Vestem-se bem e têm um estilo que eu desconheço por pura ignorância. Tênis com temas de grafite, mochilas com alças flutuantes, cabelos calculadamente desgrenhados. Eles sorriem e conversam com facilidade. Têm planos, são otimistas e têm desenvoltura para fazer elogios. Pra meu constrangimento eles não falsos ou coisa do tipo. Olho pra eles e tento desvendar algo que não existe. É que eles são o que são e, creio, vivem em paz. Consideram-se pessoas de sorte - e nem importa se a sorte é real ou não, importa que eles crêem nela e vivem bem.
#
Despeço-me com o máximo de educação e volto pra casa. No bar da esquina tomo cerveja e, ao saber que pegam cartão, invisto num gurjão de peixe. 2 cervejas e quentinha.

15 de dezembro de 2010

óvulo e espermatozóide.

papai e mamãe se matam em doses homeopáticas. é estúpido e pouco eficiente. há que se morrer com elegância: um ato suicida, uma queda no banheiro, uma cãibra de riso que chegue ao cérebro.

os demônios existem e é um fato. as possibilidades são poucas: enfrenta-se o demônio com suas garras e sede de sangue ou ignora-se o demônio como se fosse um brinquedo quebrado. o dêmonio, enfrentado ou ignorado, continuará existindo. o que fazer com o demônio é, nesse caso, a grande questão.

deve-se também tomar cuidado com ameaças que não existem. culpar os outros por mal próprio é tão natural quanto estúpido. se sua vida é ruim, a culpa - se culpa há - é sua. e digo isso sem nenhuma alegria. (adoraria culpar o mundo e os que nele vivem por minhas desgraças. mas o mundo apenas existe e os outros, como nós mesmos, vivem como conseguem e podem).

de forma que dou meu recado: pra mim mesmo, pra atualizar o blogue e também para a família e amigos. a vida é uma tortura lenta e, segundo o marcelino freire, o tempo é longo demais e daí o problema. que se fosse mais curta a vida, as dúvidas e as dores seriam menores. como um namorico que durou três meses e nem chega a afetar a existência.
fica a dica e o desabafo indireto fica também.
o tempo urge e, infelizmente, não há culpados. somos nós, nós mesmos, e toda nossa agonia de ser humano que existe ao longo do Tempo.
os problemas e os inimigos sempre existirão. e, por sempre existirem, devem ser renovados. porque há muita confusão e falta de foco por parte de quem encara os próprios demônios.
via de regra eles são vermelhos, chifrudos e carregam tridentes. também costumam espetar quando você está no caldeirão do diabo.
mas, em defesa dos demônios, eu afirmo: eles são o que são e obedecem ordens que não controlam. a exitência dos demônios nunca impediu que as coisas sigam e surjam, em outras palavras.
há que se parar de viadagem, frescura, demônios, previdências privadas e sonhos de se aposentar a beira mar. como se todos velhinhos fossem felizes, como se demônios pudessem ser eliminados, como se dinheiro fosse o único problema e não apenas um dos problemas.
tenho blogue, escrevo livros rejeitados e faço teatro sem patrocínio. e meus velhinhos? o que andam fazendo?

13 de dezembro de 2010

:~/

Mãozinhas para o alto
e danças desconhecidas.
Viver e se divertir
como o bom bichinho que sou.

Ao mesmo tempo as conclusões estúpidas:
- não gosto de Dezembro.
- sonhar cansa.
- animais são melhores quando são capazes de lamber a própria genitália.
- saber o que importa nem sempre é solução.
- o impossível seduz pelas impossibilidade.
- envelhecer não produz sabedoria.
- viciados em analgésicos são pessoas que tentam combater a dor.

E logo mais o natal e seu amor,
o ano novo e seu otimismo,
o Carnaval e sua alegria.
Bichinho sazonal eu também sou.
Antes disso:
- o conta gotas fatal.
- as rugas adquiridas.
- a pança que cresce.
- as cartas a serem escritas.
- os sonhos somados para o ano que virá.
- as tarefas de tédio e hipocrisia.
E mais um ano que vai
e um outro que vem.
E tudo que pensamos pralá e praqui:
bichinhos competentes
criando afetos, ternuras e derrotas.
Bichinhos que se salvam.

11 de dezembro de 2010

Machismo, idiotas diriam.

O problema das bucetas são as mulheres em volta.
Não que não haja mulheres cujas bucetas nem importariam muito,
não que apenas de entra-e-sai viva uma alma.
Mas a buceta - ela apenas e sem contexto -
parece melhor do que todo o resto.
Buceta-solução
como uma caixinha
que guarda mil encantamentos.
Uns bons e outros ruins
que nem dá pra ser/ter tudo depois do jardim de infância.
Mas tem que conversar antes,
desenrolar e fazer charmes dementes
que seduzem por mais estereotipados que sejam.
(somo animais, meu amor.
precisamos de carne e de sangue e de sal.
somos "parte da natureza" como você adora dizer.
e natureza, a gente sabe, não tolera as diferenças.)
Lembro da guria que disse: - minha especialidade.
E engoliu minha porra com tanto profissionalismo
que até esqueci que eu gozava.
Depois, bem depois, pensei sobre isso:
dedicação é diferente de especialidade,
uma alma dedicada ainda causa mais espanto.
É que fui batizado e sou católico,
à mim impressiona o sacrifício e o suor.
Gosto de ter tudo que todos têm,
mas, confesso, ainda prefiro o que é só meu.
(são limites, benzinho.
eu avisei que eu era limitado.
mas você errou ao me por no pacote.
não que eu não saiba que sou parte do pacote,
mas sim que não precisava berrar isso tão alto.
sou um machista 'bichinha', lembra?
gosto de me enganar.)
Concentro-me no bom triângulo
e me esforço pra ignorar o que é dito.
Como me dou mal
sempre repito pra mim mesmo:
- sou tão fraquinho, sou tão fraquinho.