14 de maio de 2009

O equilibrista.




Nada pra ser dito. Ta tudo lá. Tudo que importa, tudo que faz sentido. Grandes histórias, grandes sonhos, grandes amores.
Uma coisa inexplicável. Tem que ver.
Depois todas as mulheres eram bonitas na rua. Milhares de mulheres lindas passeando pelas ruas de Botafogo. E nenhuma tinha pressa.
Essa coisa sem explicação que temos ao ver uma obra de arte. Uma obra de arte sim. Mas sem o discurso tacanho da semiótica tacanha dos explicadores tacanhos do que não precisa de explicação. O Por Que dos americanos, ele diz.
Soube desse filme aqui. E aqui diz algo que sempre me comove: falta capacidade de acreditar no impossível.

-l-



Morde - se fronhas,
lambe - se cus,
sente amor por gatos, peixes e cachorros.
Dá uma volta na quadra,
olha pro céu,
e repete pra si mesmo
a mesma velha ladainha:
- todos mortos,
todos mortos e tristes,
todos mortos e tristes com um sorriso na boca.
Caveiras também sorriem,
ele pensa
achando que
quem sabe o que
e que agora sim
a coisa vai.
Cinema sozinho na tarde de outono,
uma gorda que lhe masturba com alguma ternura
e não esquecer de anotar que:
olhar pras próprias mãos quando se está bêbado é apenas uma maneira discreta de se lembrar da própria existência.

13 de maio de 2009


Foi isso
e foi
como foi.
Mais
um
bracinho
pra
nadar
no
oceano
de
bosta.

12 de maio de 2009

*

No metrô as palavrinhas formam as frases mais certeiras.

Eu novamente. Nenhuma vantagem ou novidade.
Essa história de vantagem me incomoda. Muita gente esperta por aí. Esperteza a encher os sacos vazios.
Tudo certo. A mesma jogada. Pulo pra frente e pulo pra trás / ah!, como me sinto em paz.
Encontrar ritmo é o grande lance.
Sem pressa e sem afobação: mirar o pau, rever a vida e esquecer da morte.
O quadril voltando a funcionar.

wm.com


Você peida e alguém te elogia.
Pense bem no benefício que isso pode ter.
Nenhum.

Mas há os grupos de peidos organizados.
Alguns são ongs,
outros são igrejas
e tem também os mais pobrinhos,
que são apenas comunidades de orkut.

11 de maio de 2009

flor no asfalto -




Ver o grande foda-se.

Libertar-se das grandes correntes.

Acho justíssimo cuspir pra cima. Mesmo quando o grande cuspe me cai na cara. Não é de um dia pro outro. O cuspe tem um tempo de queda lento e irresistível. A precisão tem um tempo próprio. É-como-deve-ser.

Na peça de hoje tem a máxima fatal: estar pronto é tudo.

Por mim é isso. Até o fim. Não acredito facilmente nas coisas e por isso sou sério. E também não me sinto mal por me achar um cara inteligente. Quiseram me por culpa. Eu mesmo me pego querendo me por culpa.

Mas tenho lá as minhas garras e os meus. Os meus é um círculo pequeno, mas fatal. É uma meia dúzia que gosta de mim e que me quer sem medo.

É isso. É uma boa explicação: os meus são aqueles que me querem sem medo.

E apenas eles importam nesse mundo imbecil e mesquinho, onde o encanto está mais na marca da cerveja do que no sabor. É a meia dúzia que eu levaria pro abrigo. Simples assim.

Minhas contas são modestas e meu delírio de grandeza é extremamente pessoal. Não atrapalha ninguém, além de mim mesmo.

Com todas as doenças e todos os delírios. Mesmo os piores e mais loucos. Com toda a merda que jorra de todos os cus imbecis que cruzam a minha vida.

Com tudo isso, e por isso, a paz só existe em 2 lugares: na meia dúzia que importa e nas coisas em que eu acredito.

Sem medo. Como deve ser.

9 de maio de 2009

Labirin*




O ponto é que a gente se acostuma. O ser humano tem essa dádiva. Para o bem e para o mal, como não poderia deixar de ser.

O lance da capacidade de se adaptar é bacana e bonitinho. A merda é que isso é feito pra sobrevivência. A vida, ou melhor, o júbilo, o tesão, é bem diferente da sobrevivência.

Macacos sobrevivem na selva, rinocerontes na lama, homens nos bares e putas nas pistas.

Os cavalinhos do carrossel tem olhos vidrados e andam em círculo.

6 de maio de 2009

Como não bastasse agora tem esse tipo de água na minha cabeça. Entre o cérebro e o crânio. É uma coisa que pede pra eu ficar parado. Bem estranho. Depois de qualquer movimento um pouco mais brusco, sinto que lá dentro chacoalha. Como se fosse o fim daquela tontura que se tem depois de girar sobre si mesmo. Um mistério.

5 de maio de 2009

--

Perde-se a mão, morre-se sozinho.

Muito percalço, tropeçada com charme e discurso no final. E nem digo nada daqui, apenas assim, como quem olha e repara só pra antagonizar quem olha e não vê.
É claro que enquanto isso tudo ocorre, a multidão dança e comemora. O Flamengo é campeão e não é necessário desculpa nem motivo. Dançar por dançar, comemorar por comemorar: a grande festa de não parar nunca. Defender minhas ideias e meus modelos eu também sei. É aquela parte de mim que se manifesta no espaço. Que acha importante se afirmar diante dos outros. A velha conhecida teoria da arte: 'a arte existe pra provar pros homens que eles existem'. É bonito sim. Assim como beleza nunca pôs mesa e banquete é pra gula e não pra fome.
Depois: cócegas no queixo, sacanagem no corredor e uma punheta com objeto de carne.
Daqui 10 anos espero apenas não escrever o mesmo texto.

()

com as mãos crispadas sob os seios pequenos:

- ah,
por favor,
fale sério comigo.
se você não entende
o que eu digo,
eu nada posso fazer.

4 de maio de 2009


Garotas de 16 anos dando pra desconhecidos e se sentido muito espertas.
Garotos de 16 anos jogando futebol e se sentindo muito machos enquanto as garotas que eles queriam comer dão para caras mais velhos.
-
O mundo é um circo dourado e idiota.
O bizarro é que você é a próxima atração.


3 de maio de 2009

*


Sem ter que provar nada à ninguém, eu chego quase longe.





Acho que essa é grande vantagem da solidão. Nada te atravessa. Você só e cagando pro mundo. Ou melhor: cagando no mundo. Liberdade de peidar alto, de enfiar o dedo no próprio cu, de usar a mão ao invés do papel higiênico.

Sua própria sujeira não lhe assusta. São velhos amigos.

Claro que a loucura passa por aí, pelo excesso disso aí. Mas usando a solidão em doses certas, ela é a coisa mais preciosa do mundo. É o veneno bom, que dá mais anti corpos do que doenças. Quase um banho gelado.

E loucura mesmo é esquecer que o mundo existe. E isso não acontece na solidão. Na solidão o mundo está distante, mas está lá, como um John Wayne pronto pra puxar o gatilho.

(Lembro do livro que li sobre contos infantis e que falava da mania das crianças quererem ouvir sempre a mesma história. Coisa que irritava os pais. Mas lá explicava o lance da auto-afirmação pela repetição. Dizia que era uma coisa importante pro desenvolvimento da criança. Ela gostava daquilo que lhe era conhecido. Ela se sentia bem por já saber que as aconteceriam da mesma forma que ela já conhecia. A clara evidência é sempre encantadora. Crianças ou adultos, tanto faz.)

Seja como for, gosto da minha solidão, mas desconfio dela. É simples: solidão é sempre conveniente. Nada te assusta e você não precisa de ninguém. Cagar é um grande prazer. Cagar pra tudo, mais ainda.

Então crio minha fórmula de doses homeopáticas do mundo e do que me atravessa. Saio pra ver gente e conversar com desconhecidos. É uma receita eficaz e prazerosa.

Ver a loucura alheia sempre prova que você não é louco.


(acho que todo mundo mundo já reparou como os idiotas sempre dizem que são loucos. é um clichê e pega bem. mal do mundo moderno, por assim dizer.)

Novo Marcador.

Zero à Zero é bem diferente de Um à Um!


2 de maio de 2009

¨¨


Esse sonho bizarro que não me sai da cabeça:

Eu estava com P. e o tempo era o atual. Nós estávamos juntos e queríamos voltar a velha forma.
Era um quarto.
Ainda não tínhamos trepado nem nada. Mas P. havia feito uma cirurgia pra diminuir seu peito.
Ela explicava sobre o problema de coluna e essas coisas.
Então ela ía se vestir e precisava de ajuda. A operação era recente e a coisa ainda tava sensível.
Ela tirava sua blusa e eu via seus peitos após tanto tempo. Ela dizia, com aquela cara que ela costumava fazer, que era pra eu ajudar.
Os peitos dela não eram pequenos, mas eram inteiriços e correspondiam a metade do original. Eram rijos como aqueles peitos de silocone.
Minha ajuda era colocar um tipo de elástico neles. Uma borracha redonda e marrom que era pra por em volta de cada peito. Parecia a borracha da cafeteira italiana.
Eu punha aquilo no peito dela e tentava chupar os peitos. Ela fazia aquela cara que costumava fazer. Eu dizia: que isso. E ela dizia: ainda não.

Eu e o mundo:

Dois estranhos e tudo certo. Ver gente é uma coisa importante segundo a minha mãe. Eu a escuto porque sei que ela quer é o meu bem.
Com 10 min. meu desejo de cair fora é enorme. Duas bichas novas estão atrás de mim e conversam sobre atores e gente do tipo. Gente de teatro é insuportável, eu penso e resisto. 20 min. depois meu amigo chega e me alivia. Esqueço das bichas que comentavam o último ator famoso que conheceram.
Durante a peça consigo ter paz. Me concentro no texto fodão e não fico raivoso. A peça é ruim e o texto é bom. Me apego no que importa e sigo em frente. Não se deve reclamar da trombada quando já vimos o muro logo adiante.

Eu no mundo:

Até que me viro bem. Essa coisa de não querer agradar me convém. Converso com os dois chegados e vejo uma ou outra bunda que passa. Bom estar alí e bom voltar pra solidão, penso durante o papo mais animado.
Depois vejo meus vermes particulares e me preparo pra minha solidão. Minha solidão me agrada e assusta e vice-versa.
Domingo é dia de índio e índios se reúnem aos domingos. Maravilha.

Agora:

Depois do elástico posto ela vestiu uma blusinha de babado roxo que eu gostava. Quando a gente saiu do quarto ela perguntou: será que isso vai dar certo.

29 de abril de 2009

===



Hoje vi a gorda que me dava mole. Ela ta magra. Nunca tive a intenção de pegar essa gorda, mas agora a chance é zero.
Ela era bem gorda e farta. Achou que eu era judeu. Me disse um monte de coisas sem graça e simpáticas. Sempre demorei pra entender quando uma mulher me dá mole. No caso dela também. Mesmo sendo gorda e judia eu não tinha clareza da coisa até que me disseram: X ta toda-toda pra você, hein?
Só peguei uma gorda uma vez. A situação foi bem determinante. A gente morava junto e fumava muita maconha. Nesse dia tava só a gente em casa. Sei lá porque. E a gente tava lá, jovem, e fumando muita maconha. Daí a gente se pegou.
Não lembro direito como foi. Lembro que antes da pegação em si teve uma bolinação estúpida sem beijo. Como se só o beijo definisse a coisa.
E foi bom. Se bolir e se sarrar emaconhado é quase sempre bom. E nos roçamos a beça, mas ela não quis me dar. Achava a coisa complicada. O fato de morar na mesma casa, as outras pessoas que moravam com a gente, essas coisas.
Eu teria comido essa gorda.
Seja como for, digo, com tranqüilidade, que não gosto de gordas. É uma matemática simples da qual já falei por aqui: dois gordos juntos são mais um fetiche do que uma trepada. E eu, cá comigo, ainda prefiro a trepada. Fetiche, pra mim, é sempre posterior.
Lembrei de tudo isso porque vi a gorda que ficou magra. Achei aquilo bem triste. Uma ex gorda.
Nada mais triste do que uma ex-gorda.
Uma pena.
A gordura dela não me agradava, mas era bonita.
Naquelas banhas havia ternura.

28 de abril de 2009

63 dias.

Fosse como fosse, eu continuava vivendo. Morrer não era uma opção decente. Nunca seria.
A jogada era a mesma: um alguém que espera um outro que deseja uma coisa que nem sabe o que é. A merda velha e fedida. Fedida porque velha e vice-versa.
No horizonte tinha aquela mulher magra. Nunca tinha me imaginado com uma mulher magra. Parecia estúpido. Um casal freak: gordo de 1, 70 e magra de 1, 80. Era errado. E se não fosse errado, era feio.
A tosse piorava, mas isso não queria dizer muita coisa. Era até o contrário. A tosse me deixava mais bonito e mais viril. E o fato de eu insistir com o cigarro fazia de mim um herói.
Não teve nenhuma revira volta e isso me entristeceu. Eu achava que teria qualquer coisa. Tapa ou cuspe na cara tava bom. Pareceria, então, que as coisas voltariam ao seu lugar. Cada um na sua. A solidão honesta. O desespero constante.
A coisa do sangue vazar pelos buracos era constrangedora. Mesmo a merda da morte parecia melhor. Aquelas mulheres delicadas e sorridentes me passavam algodão no cu, nos olhos e nos ouvidos. E elas faziam tudo assim. Como se tivessem nascido pra isso. Como se limpar sangue do rabo fosse uma vocação divina. Um horror.
Os espertos caem fora quando aperta. O idiota me disse e achou que tinha dito a melhor frase de todos os tempos. Como se frases mudassem alguma coisa. Idiota e burro isso sim.
Pro constrangimento da minha magra eu sobrevivi. E ela tinha raiva de mim com alguma razão. É compreensível. Quando se está doente, o doente, se for honesto, tira vantagens da própria doença. Eu tinha sido um bom doente. Morrer era me redimir. Mas não aconteceu.
Minha chance tinha sido perdida, mas eu me sentia bem. Cuspir sangue era quase elegante. Eu era um homem elegante. Eu cuspia de maneira discreta no guardanapo. Aquela coisa de aproximar o pano, ou papel, da boca. Como o caroço de uma azeitona.
A magra ainda do meu lado e dois anjinhos no céu. A insistência é mais surpreendente do que eu imaginava. 2 meses de gestação e um sorriso em cada boca. A vida sempre continua. O óvulo e o esperma ainda têm o seu papel.

27 de abril de 2009

voar é algo errado e toda pessoa decente sabe disso. só idiotas voam com indiferença. ou melhor: só idiotas que não pensam voam como se voar fosse normal. voar só é normal pros pássaros e olhe lá. a pomba desconfia do próprio vôo, o besouro voa por otimismo segundo o b. de itararé e por aí vai. nada mais clichê do que a garota que depois da primeira foda lhe fala: - eu queria ser uma pássaro e voar. e você, com o pau pingando, pensando sozinho: - se isso acontecesse, eu queria ter um estilingue.
então quando faço esse absurdo que se chama voar, eu me concentro em ser idiota e não pensar. olho pras imbecis que me dão instruções mecânicas e que se maquiam como as mais tristes e decadentes vadias. e elas escorrem em suas instruções com suas maquiagens roxas e morrem de uma maneira estúpida e lenta de quem brinca com a vida e acha que voar é normal.
quando já estou alto e reto, interrompo minha leitura e olho pra todos a minha volta. penso que todos disfarçam como eu. que todos alí fingem, e apenas fingem, que voar é normal, mas que alí, no fundo da alma de todos nós, sabemos que estamos voando e que isso é uma ousadia sem tamanho e arriscada. (lembro do grande f dizendo: - eu sei que tem mais acidente de ônibus do que de avião, mas em acidente de avião todo mundo morre. grande f é um gênio subaproveitado por ele mesmo, eu penso.)
em terra firme sinto a paz possível e fumo meu cigarro sem pressa. no carro que voa em cima de 4 rodas mando uma mensagem pra minha mãe: Rj. 27 graus. A vida pela frente. Fique bem.

25 de abril de 2009

Arranque
a camiseta
e tenha pressa.
Daqui a pouco
a gente morre
e,
daí,
como
é
que
faz?

24 de abril de 2009

***


Céu e precipício.
Dia assim, indo assim, seguindo assim. Cervejinha doce escorrendo lenta pela boca. Há paz mesmo na queda. É bom cair com os braços abertos, imitando o Cristo e trombando o chão. O chão enorme, tão grande quanto o céu. Céu cinza e chão azul, Curitiba tem esse tipo de charme.

A tarde encaro minha obsessão. Uma dança desengonçada e prazerosa. Gosto disso: meu delírio de grandeza fazendo promessas de sol pra quem precisa mais da promessa do que do sol. Alimentar animais ainda é permitido nos zoológicos do Paraná.

22 de abril de 2009

#

Solto no ar e com a cabeça rodando.

Gosto das coisas lentas que evoluem, o tempo escorrendo fino e contínuo. Há um ritmo decente pra se viver. Sem euforia desnecessária ou loucura vaidosa. Apenas você mesmo se observando e sacando se é ou não é.
Hoje me preparo pra amanhã. Desde que acordei faço essas contas e coisas e me vejo fazendo esses trecos sem pensar muito.
Eu quero que a coisa escorra gradativa. Meus arroubos raramente procedem e todos esses gritos no escuro são apenas uma brincadeira de criança que a gente inventa pra se distrair, pra forjar uma vida mais intensa que nunca ocorre de fato.
A velha ladainha de que a vida é o que é, de que ela é aquilo que acontece enquanto estamos fazendo planos. O besouro mor que disse e tinha lá sua razão.
Então eu mudo de planos, telefono pra 2 ou 3 e exerço minha simpatia. Um e-mail pra um desconhecido, uma piada pra moça da fila e uma aposta na megasena acumulada. Acho que é mais por aí.

19 de abril de 2009

***

é bom estar nesses lugares que não me dizem respeito. eu sinto paz assim. vejo tudo e não me sinto bem nem mal, apenas estou ali. não acredito em grandes alegrias ou em grandes tristezas. as coisas apenas correm lentas e infalíveis. a tragédia é a luta contra o tempo, eu repito. essas euforias todas passam e é isso e tá tudo certo. pra mim o lance ainda é o mesmo: aquela coisa que gosta dos meus dedos, aquela língua que lambe meus lábios, o etc e tal, as migalhas de milagres que alimentam descrentes.
e depois desse mês eu aponto pro meu umbigo e rio sozinho e triste e sem pressa. suicidas têm pressa, crianças espertas se concentram no que fazem.
a justiça capenga de um mundo engraçadinho e besta.

16 de abril de 2009

O Palhaçinho


A gente participa das danças, sabe como é.
Claro que isso não quer dizer que você dance bem. Você apenas dança como todo mundo. Como todo o maldito mundo.
Passinhos e coreografias. Uma beleza e uma estupidez.
E eu não gosto de dançar, mas eu danço. Aquele charme vulgar com o cigarro na boca e a cerveja na mão. Como diz o genial Pereio: você não precisa ter pau grande, basta fazer cara de quem tem pau grande.
Então eu visto meu sapato de bico quadrado e saio pra dançar. Chamo a menina com cara de cavalo pra vir comigo e ela se sente muito lisonjeada quando lhe pego em casa e pago a conta. Ela acha tudo muito chique e se impressiona com os livros que li.
Tá tudo certo e a cara de cavalo dela nem é tão má assim. Tem um charme naqueles dentes grandes. Fora a belíssima insegurança dos 20 anos.
É conveniente pra mim dançar com ela.

13 de abril de 2009

MERDA CARALHO E CU.
PERDI O TEXTO QUE TINHA ESCRITO.
TAVA PRONTO E EU TAVA DEIXANDO ELE BONITO: COLACANDO EM NEGRITO, ESSAS MERDAS.
ME FODI.

7 de abril de 2009

cricocrecotu



TODO MUNDO vive como quer ou como pode. Cada um procura o que inventa, e apenas inventa, ser algo bom/nobre de se procurar.
Amor pra vida inteira, felicidade, paz, fortuna.
Tanto faz e tanto fez. Procurar é praxe. Qualquer cachorro faz isso. Milhares de ossos à nossa volta.
Mas o ponto nunca foi TODO O MUNDO.
TODO O MUNDO nunca interessou. Quer dizer, idiotas se interessam por TODO O MUNDO. Mas idiotas são idiotas, afinal.
A batalha é o sentido e o objetivo é o alvo: lançar flechas sem direção é estúpido e falta do que fazer.
Na média, as pessoas querem chegar à algum lugar. Sabe como é:
Você se envolve porque vai que é ELA,
você investe porque quem sabe renda mais que o esperado,
você joga na loteria porque 1 chance em 100.000.000 é uma chance
e você até compra uma casa no campo.
Nisso tudo o que se repete é você e não o TODO O MUNDO.
O senso de sobrevivência é pouco pra quem pensa.

(ainda defendo cá comigo, e com uns que leio, que há de se ter uma idéia da vida como coisa grandiosa. Você é do tamanho dos seus sonhos, diz o refrão. Diminuir os desejos e as necessidades é sempre eficaz: se sentir bem desejando pouco é viver bem. A maldita ONU nos ensina que ‘quanto mais miserável um povo, maior é o seu índice de satisfação’. A lição é clara: seja medíocre e ignore o que não se tem. A ignorância ainda é a melhor arma pra quem quer ser feliz, ou ter paz, ou achar o amor pra vida inteira, ou fazer fortuna.)

Seja como for eu luto com o TODO O MUNDO.
TODO O MUNDO é sempre o grande e único (sic) culpado.
É ele, o TODO O MUNDO, que jorra a merda generalizada com seu cu à jato:

crianças famintas e estupradas, maridos medonhos, mulheres burras, guerras em nome do bem, passeatas pela paz, espiritualidade interesseira, desbundados virando artistas, idiotas virando artistas, órfãos virando artistas, bêbados virando artistas, tias avós que odeiam negros, revistas pra negros racistas, Willian Bonner e Fátima Bernardes fazendo o último filme da Brasileirinhas, Rita Cadilac dando o cu com cara de dor e nojo, Suzana Vieira, Suzana Vieira, Suzana Viera, o Jô Soares como intelectual, o Chico como escritor, a preocupação com o aquecimento global, a importância do renascimento do samba na lapa, a superioridade de São Paulo, as novas mídias democráticas, a quase eleição do Gabeira, a esperança torta, a Xuxa como modelo de otimismo, a Suzana Vieira de novo, agora como modelo de superação, a supervalorização do clitóris, os orgasmos de grelo, o guiness book, os blogues pretensiosos, as dançarinas que são gordas, as prostitutas que são felizes, os filmes do diretor do 6° sentido, o quem quer ser um milionário?, a bipolaridade, a pátria, a depressão, o talento da Marisa Monte, o mundo sustentável, o vídeo mais visto do youtube, a simplicidade como virtude, a humildade como virtude, a qualidade de vida, a importância de ter dentes bonitos, o marketing pessoal, etc.

O Nelson Rodrigues tem sua frase imbatível e dela nem o TODO O MUNDO discorda.
O gênio tem poder de síntese e os bêbados ainda falam demais.
Os livros de auto-ajuda vendem e os blogues são consumidos por blogueiros.
E TODO O MUNDO faz parte disso. Uma desgraça.

30 de março de 2009

()

Agora bebo vinho por dica de mamãe. Ela quer o bem da minha pança e tudo certo. Curitiba é fria e aconchegante. Acredito mais nisso do que naquele maldito calor carioca, embora beber cervejinha no Coimbra seja mais familiar.
A semana foi cheia de migalhas gordas e tudo pareceu ótimo e belo. Aquela satisfação inexplicável que o teatro dá. No último dia havia umas 200 pessoas. E olhei pra elas atentas e elas olhavam praquilo sérias e calmas.
Pensei na satisfação que o teatro pode proporcionar pra quem o faz. Você não se sente útil fazendo teatro, mas se sente satisfeito. É estranho e agradável. E provavelmente é muito diferente do que sente um médico ou um juiz. Mas tudo certo, já que os médicos ainda se vestem de branco e os juízes aplicam as leis.
Agora é estar por aqui e ver o cu fazer bico.
Seja como for, cada um tem sua fuga na manga. Uns inventam novos sonhos e outros insistem no mesmo. Questão de gosto.
Particularmente ainda prefiro as obsessões.

19 de março de 2009

então acontece.


e é sempre assim. e não sei, e não sei mesmo, se isso é bom ou ruim.
tava numa sequência ruim de ensaios. aquela desgraça de sempre: você, e seus parceiros, reconhecem que aquilo não tá como deveria estar, mas você, e seus parceiros, não sabem o que fazer.
nós contemplamos a merda juntos. e acho isso uma virtude admirável.
um dia ponho essa imagem numa peça: 5 idiotas sorridentes que olham prum grande cagalhão como se dalí pudessem tirar a esperança.
meu barato com teatro (e com arte de maneira geral) passa por aí: um esforço incrível pra descobrir o que pode surgir de Realmente Importante de um imenso cagalhão.
parece uma coisa subjetiva, mas não é. quando você tá nessa situação de artista, de quem quer fazer arte, isso é claro e calmo e, mais que tudo, a única possibilidade real de fazer algo Realmente Importante na merda da vida.
(confesso que pra escrever o parágrafo anterior fiquei cheio de dedos. essa coisa artista é um perigo. e sobram idiotices que usam arte como justificativa. e também idiotas que por não saberem viver acabam por se dedicar à arte. de forma que isso é mesmo uma sinuca de bico e que, embora seja arrogante, eu também enfio o dedo no meu próprio cu. é uma defesa, claro está.)
mas volto:
o ensaio hoje aconteceu e, finalmente, meu pau tá duro.
o merda disso é que é isso, isso-mesmo-um-bom-ensaio, que me alimenta. me sinto tão bem que seria capaz de achar a lua estonteante, seja lá o que isso quer dizer.
e hoje a gente se entendeu e aquele sentido maluco de dever cumprido da maldita lógica cristã se fez e, portanto, proporcionou a única paz possível em que realmente acredito:
- é ruim, mas tá bom.
- a pérola no fundo do copo.
- coragem não é ausência de medo.
- solidão nunca dependeu de companhia.
- ri quem tem dente, chora quem pode.
- esperança não precisa acontecer, precisa esperar.
- quem não tem mãe, caça com rato.
- melhor tá vivo que tá morto.
- um pássaro na mão, uma gaivota na cabeça.
- 5 tiros, 4 acertos e 1 solução.
- de nó apenas a corda.
- o máximo da vaidade é o suicídio.
- 3 ferraris e uma pista.

18 de março de 2009

j.

Minha querida J, minha única tara real, me diz sobre como viver e sobre a beleza de se fazer e conquistar coisas por aí.
Eu concordo em tudo com ela e eu lhe tiro o chapéu e reforço minha tara.
J é admirável e elegante. Come batatas fritas em duas mordidas e tem um sarcasmo que, quando não perde a mão, é de um charme irresistível.
Lembro do amigo macumbeiro da minha mãe que disse, como quem está em transe:
- J é tudo que você precisa. Nunca perca J.
Amigo de mãe é quase tio ou tia. A gente ouve mesmo quando não escuta.
E J quer ter um cachorro e (disso só eu sei) tá com um infernal instinto maternal.

16 de março de 2009

ui.

Apenas eu na minha solidão fraco e cansado. A única tristeza real é um ensaio ruim e a cabeça funcionando mal e lerda. Preciso de bons ensaios agora: questão de ego, sobrevivência e prazo. Daqui há uma semana a água estará na bunda e os anões morrerão se não aprenderem a nadar. Feliz ou infeliz é sempre passageiro. Ou mesmo questão de estilo: felicidade acontece na merda e infelicidade acontece na glória, tanto faz.
Seja como for, o tempo é veloz e concreto. Um dia depois do outro até o suspiro final. E que eu tenha a competência de não culpar o mundo pelas minhas próprias desgraças, é minha oração.

15 de março de 2009

*


porque meu saco balança todo dia de manhã
e penso em fazer exercícios
e comer melhor
e beber menos
e até fazer novos amigos.
e tenho a Internet
e o telefone
e, mesmo assim, fico aqui,
cá comigo,
já que sou o único
que não posso evitar.
e ainda me prefiro
à maioria dos outros
e acho coerente
achar isso.
e todo domingo
é lento e terrível
com ou sem companhia.
e apenas aos domingos
eu lembro do que eu não tenho
e daquilo que eu desejo.
e percebo o lapso
entre um e outro
e sorrio besta
sentado no bar.
e o inferno é quente,
e a loucura é grande,
viver, pra mim,
nunca será simples.

14 de março de 2009

o mundo é cheio de gracinhas.

mandei uma carta prum ilustre desconhecido e recebi isso:
-
hoje é o pior dia da minha vida
terminei um namoro há menos de 24 horas
seu e-mail carta me ajudou
vc é carioca e é legal, olha que coisa
-
e ainda
há quem ache
que as coincidências são bacanas.

13 de março de 2009

''''''''''''

De noite eu acordo suando e tossindo como um louco. O acesso me tira o sono e, durante o banho, me masturbo como uma maneira honesta de extravasar as revoltas diárias.
As revoltas diárias existem. São necessárias pra mim e brotam sem precisar de muitas explicações. Lembro apenas de todos que não sou eu e me revolto. A limitação e a tristeza (e mesmo a glória) é que somos só nós mesmos e disso a gente nunca foge.
Não tenho medo da vida, embora muitas vezes não faça ideia do que eu devo fazer. É que tem essa coisa ancestral e perturbadora que me martela. Porque um dia falaram sobre o trabalho que dignifica o homens. Porque, quando morei com a minha vó, notei que fazer é, muitas vezes, o único sentido da vida. E porque, ao mesmo tempo, tenho uma consciência má que me deixa claro que todos esse excesso de atividades é mais desespero do que paz.
É simples: quando não se tem pra onde ir, você pode ficar em casa ou ir pra vários lugares. As 2 opções apenas confirmam que você não tinha pra onde ir.
Não me acho arrogante, mas me acho vaidoso. A arrogância precisa de outros e a vaidade se basta no ato de lamber o próprio rabo. Por essas sou mais vaidoso que arrogante. Minha platéia é meu próprio delírio e o que eu vejo, apenas eu vejo, já que essa é a vaidade máxima que posso ter. Não me considero o dono da verdade, mas me adoro e até me amo - justamente por ter a pretensão de nunca participar dos chás e almoços com gente que nunca me interessou.
Organizo minha vida através de livros e filmes. Não vivo bem, mas essa pretensão eu, graças ao bom deus inexistente, eu nunca tive. Vivo como eu tenho vivido: reclamando um bocado, mas no fundo falando só sobre mim mesmo.
O nome desse blogue é mais sério do que imaginam as 5 cabeças tolas que acompanham o que eu escrevo.
Apesar das aparências imbecis, eu acredito realmente na doçura e na delicadeza. Acredito em relações que se estabelecem a partir disso e acho, acho mesmo, que tais relações devem ser conquistadas e preservadas. Nunca de um dia pro outro, nunca por um verão, mas por uma coisa lenta que faz com que, finalmente, você veja o que está além da casca.
Além da casca é tudo que importa. A sujeira tem cheiro e, portanto, é logo percebida. A sujeira se limpa e fica tudo claro e aparente. A sujeira sempre é circunstancial e apenas por isso o sujo não me choca.

12 de março de 2009

a culpa não é do mundo.

Gosto de ouvir as histórias de outras pessoas. Me comparo com aquilo. Penso no que me aproxima e no que me distancia dessa gente. Essa gente que é todo mundo: amigo intimo, desconhecido de bar, caloura de teatro, etc.
O fato é que eu julgo as pessoas. Sempre e sempre. E julgo mesmo, sem ter medo de cortar ou salvar uma cabeça. A chance é a mesma e o único risco é eu estar errado.
Claro que não gosto de estar errado. Nenhum idiota gosta de estar errado. Mas acontece e é normal.
Quando estou errado contraio minha boca e digo a-ham.
Quando não estou errado abro minha boca e digo a-ham.
Merda velha, se é que não fui claro.
De forma que agora, depois de explicar, vêm as histórinhas. As adoráveis e criativas histórinhas:
  • com muita elegância j me desafia. E o jogo entre nós é bom. Ela diz a e eu digo b. O resumo disso não é nada, além da certeza de que j e eu somos ótimos parceiros, mesmo que pra essa bobagem gratuita, tola e sem explicação.
  • r sempre me enrola. sei lidar com r porque lhe dou o prazo da enrolação. depois do prazo da enrolação ligo pra ele e digo 'filho da puta'. tudo é simples e sem frescura. xingar os bons amigos é questão de dignidade.
  • s me procura e diz que desistirá. eu digo que ela que sabe, mas que acho que não deve. ela concorda comigo imediatamente e diz que por isso que ela precisava falar comigo. é bem claro: ela já sabia o que eu falaria, mas, mesmo assim, prefere que seja eu quem diga o que ela já sabe.
  • r2 me diz pra eu ser mais tolerante. diz que confusão é normal nessa fase. eu brigo e digo que não, que confusão não quer dizer sinceridade. r2 me xinga e sai. parece que nunca mais falará comigo, mas amanhã ou depois conversamos de novo.
  • a me conta tudo. faço o mesmo papel que ele faz. digo 'calma', digo 'espere'. a e eu temos nossas razões, ainda que por outros motivos.

10 de março de 2009

quando a escuridão acalenta


É bom sentir a lentidão nos poros.
É bom lembrar que você era diferente
há uns anos atrás.

As coisas mudam sim,
mas as mudanças
nem sempre
são importantes.

O bom é apenas mudar,
sem preocupação
com se tornar melhor
ou com ser feliz.

Olho aquela foto e penso:
era eu ali,
eu mesmo,
como sempre fui
e distante do que sou
hoje em dia.

A gente é tanta coisa,
a gente pensa tanta coisa,
e tão pouca coisa
realmente importa.

Quando eu era babaca e adolescente
eu falava pra todo mundo,
sem saber o que eu falava.
E repetia porque eu queria parecer inteligente:
"ser sincero contradizendo-se a cada momento".

E a frasezinha do Pessoa
tinha seu impacto
e fazia umas garotas
abrirem as pernas
pra mim.

Hoje já não me interesso
pelas garotas
que se impressionam
com a frase deveras genial.

Apenas observo o mundo,
mais ou menos como sempre fiz,
e repito a mesma frase,
mas apenas pra mim mesmo.

Talvez eu seja mais honesto,
talvez eu seja mais triste,
tanto fez e tanto faz.

A vida lenta nos poros,
a calma possível
e o conta gotas fatal
dizendo baixinho:
- sim, sim, continue.

9 de março de 2009

()

Minha antiga ex namorada sempre me falava dos benefícios da agua de coco para a flora intestinal. Deveria ser o 1° líquido a ser ingerido, segundo ela. Antes do café, ou mesmo da água comum. Ela dizia, também, que o cocô começava a sair lisinho se você fizesse disso um hábito diário. Lisinho, ela me explicou, era quando o cocô saia assim, sem força e nem mole nem duro, quando você tem a impressão que cagou tudo que tinha pra cagar.
Bem, tudo isso porque estou bebendo água de coco. Não fui rigoroso e tomei café e guaraná antes. De qualquer maneira o faço pelo bem da minha flora intestinal, pois no fim de semana as cervejinhas foram muitas.
O problema da cervejinha é que ela estufa a barriga. Não tenho problema com a gordura. Sou gordo desde que me conheço por gente e tenho me virado bem assim. Agora essa coisa da cervejinha estufar tão rapidamente é algo que me incomoda. É quase de um dia pro outro.
Saquei que minha barriga tava estufada no sábado quando usei calça jeans. O maldito botão apertando meu ventre. Quando tirei a calça tinha uma bola vermelha um palmo abaixo do umbigo, quase dava para ler a marca da calça.
De modo que, nessas decisões de segunda feira, resolvi que ficarei uns dias sem as cervejinhas. Será duro, mas é pelo bem da minha adorada calça jeans. Sou um tipo que prefere largar temporariamente as cervejinhas a ter que comprar uma nova calça jeans. Só de me imaginar numa loja sinto arrepios. E essa coisa de abrir o botão toda vez que sentar me parece muito decadente. Tenho lá o meu bom senso.

6 de março de 2009

-

(com a carta na cabeça e depois de ver o grande filme 'na natureza selvagem')

É quase uma gilete no meu cérebro. Porque tem gente que realmente sabe lidar com a vida. Pra mim isso sempre foi estranho e difícil. Só consigo organizar as coisas lendo, escrevendo ou vendo filmes. E organizo assim, dentro de mim, porque um livro ou um filme, é um mundo acabado e organizado. E isso me fornece uma paz que eu nem sei explicar. Nos ensaios isso também ocorre, mas é diferente. Nos ensaios me sinto exausto se paro por 5 min. É uma guerra íntima que eu faço alí. Força, muita força, pra tentar entender aquilo (atores, teatro, texto, comunicação diretor/ator, etc) de um outro jeito, num outro nível. Não sei explicar, mas é aquela coisa de alterar a própria percepção, aquela coisa de buscar um viés artístico que dê conta de toda essa confusão que chamamos de vida. Porque têm umas coisas que dão conta disso. Minha ideia de amor passa por aí também. São bolsões de paz. Momentos (ou obras) carregados desse milagre que é pleno e autônomo. Quando o sexo vira amor, quando você consegue mostrar pro outro aquilo que já tava visível, quando, numa apresentação, você vê um espectador olhando com atenção total, quando você faz a pergunta pela milésima vez e, finalmente, consegue a resposta. E por aí vai.
Na verdade vivo mais por esses momentos do que pelo resto da vida. Esses momentos me parecem mais vivos do que a própria vida e talvez seja isso a minha obsessão.
E uma obsessão pode ser boa ou ruim. Pode te dar o infinito ou te matar antes da hora.

5 de março de 2009

relatinho.

Meu vizinho fortinho e patola me causa inveja. Ele anda pendendo para os lados e tem, como sempre ocorre, um cachorro muito parecido com ele: pescoço atarrancado, patas curtas e flexibilidade limitada.
Mas meu vizinho tem agora uma arma com a qual ele atira nos malditos pombos. É uma coisa que sempre quis ter, mesmo antes dele aparecer com esse 'brinquedo' eu já tinha perguntado pro meu pai se ele sabia onde eu poderia arrumar uma dessas armas de bolinha.
Só que a arma do meu vizinho patola é realmente profissional. Acho que é de chumbinho, mas não tenho certeza. É uma espingarda com mira e tudo, um escândalo.
O chato é que o brinquedo é novo e ele atira o tempo inteiro. Um estalo chato e abafado a cada 3, 5 min.
A vantagem é que deixo minha roupa de cama no varal sem nenhum receio de que ela seja cagada.

2 de março de 2009

Sobe-se.

De novo apenas eu na casinha verde. Um pouco melhor, com novas estantes e com minha solidão doce e amarga ao mesmo tempo. Ter mãe é terrível. Terrível é aquilo que te causa encanto e espanto ao mesmo tempo.
(E noto que escrevi 'ao mesmo tempo' duas vezes. e acho isso curioso e triste. porque 'ao mesmo tempo' é a regra geral e eu sei [e alguns dos meus] o quanto eu fujo dessa confusão da regra geral. porque a regra geral é chata por ser....geral. porque caço, bem ou mal sucedido, as coisas que fogem dessa regra geral. porque quero ser dono do mundo, mesmo que de um mundo pequeno. porque, e isso é uma confusão dos diabos, não quero achar errado não querer a regra geral.)
O fato é que mamis se foi e agora sou eu e apenas eu. Sem ser atravessado por nada, feliz por ter essa vantagem e louco pra que algo me atravesse. É mesmo irônico como estamos sempre insatisfeitos. E lembro do w. Allen e penso de novo: o bom da América.
Na insônia de ontem peguei um Rubem Fonseca pra ler e fiquei surpreso porque, na verdade, eu já li esse livro e não lembro de nada. Apenas soube que já tinha lido por conta da mania de riscar os livros que peguei da minha . E fiquei surpreso pelos meus grifos e grifei coisas completamente diferentes do que antes havia grifado.
E também fiquei horrorizado pela minha falta de memória. Mas isso superei quando lembrei da história de memória de elefante - que é um paquiderme que volta pro lugar onde nasceu quando 'sente' (um elefante sente, é isso?) que vai morrer.
Seja como for, lembrei que é mesmo muito legal ler literatura e que, de um tempo pra cá, tenho apenas lido teóricos malucos e/ou articulistas pops. O que não é ruim, mas completamente diferente do prazer de ler uma Estória.
Bem, bem,
blogue atualizado, casa vazia e caça de pérolas no mundo.
E também Seu Fonseca me dizendo baixinho:
" - aquele que procura pérolas deve mergulhar fundo"

1 de março de 2009

#

A maravilha do mundo é ver essa canção no filme do homem aranha e descobrir que música é cantarolando num site que descobri hoje.


28 de fevereiro de 2009

osquindo.

Avante e alucinado. As vozes são as mesmas e os delírios também. Uma loucura encadeada de maneira tão coerente que só sendo falsa. Ah, minhas possibilidades mortas, ah, meu esquecimento premeditado.
Sinto prazer nisso tudo e penso: fernandinho, escrever um livro é uma punheta boa.
E vejo uma pecinha muito legal, mas que tem mais a ver com livro mesmo. Boa história e bem falada é peça boa. Mas não é o teatro do bom. Não assim como imagino nos meus delírios de grandeza.
E faço contas e crio prazos. E sou metódico e me adoro. Vai que vai, umas das vozes sussurra. E é isso assim e tudo continuou igual. Sem afeto, sem ternura, sem desafios.
Mas tenho lá minha vaidade e digo pra mim mesmo, calmo e complacente: tua dor que é tua, tua glória que é tua, encare os demônios até o fim, dance com os demônios cheio de medo, mas sem arredar pé.
E me sento pra escrever no meu bloguinho-punheta. E minha mãe passa pra lá e pra cá enquanto escrevo e mamo a última lata.
Lá fora, um causinho que vi e quero contar:

" A menina tinha mais ou menos 6 anos e deu a mão pra mãe na hora de atravessar a rua. No meio da rua a mãe para e larga a mão da menina pra falar com alguém que a chamou. A menina berra MÃE!!!! e a mãe apenas a olha e sorri balançando a cabeça. A mãe termina de falar com quem a havia chamado e estende novamente a mão pra filha. A menina pega a mão da mãe pra terminar de atravessar a rua, mas assim que chega do outro lado, larga a mão da mãe cheia de birra. A mãe sorri pra menina e balança a cabeça de novo. A menina sai pisando forte na frente e a mãe a deixa ir. A mãe segue logo atrás."

26 de fevereiro de 2009

´´´´

Angustia filha da puta tomando conta de mim. Desde terça aumentando. Hoje dois ou três picos e fico numas de místico, cogitando a possibilidade de que haja algo acontecendo. Coisa de maluco. Pelo menos não me levo tão à sério assim. Arrumo a casa com mamis e leio e escrevo pra despejar. Daqui a pouco mais um filme americano. Nunca fui tanto ao cinema. Isso deve ser um bom sinal. Tô virando místico, já disse.

v.c.b

nem é e nem deveria ser. meu saco vai pra lua e lá, segundo os idiotas, não há gravidade e tudo flutua. mas os idiotas esquecem que gravidade mesmo na lua há, bem menor do que na terra, mas há. de qualquer maneira, mesmo na lua, meu cuspe cairá no chão. na lua demora mais, é fato, mas cai também. cuspe na cara e cuspe no chão. meu bom amigo diz que pode ser, que liberta e faz bem. ele diz que cuspir é melhor do que yakult e eu confio nele.
no filminho da vez o bom da América de novo. o desespero coletivo tá lá, mesmo sendo dito entre piadinhas tá lá. ah...a insatisfação crônica tão conhecida de todos nós. e sim, sim, sim, acho bom a berradora dessa loucura ter levado um Óscar pra casa.
pra ter uma sacadinha, eu digo: até tu, Óscar?
e ovalá. vale mais parecer do que ser, procurar que encontrar, reclamar do que solucionar. o disparate é o mesmo e nem muda de sexo. esquece-se do óbvio e cuspir é sempre pra cima: seja, encontre e solucione. fórmula bem mais simples do que viver na lua.
até porque os idiotas sabem, ou deveriam saber, que viver na lua ainda (e insisto no ainda) não é possível.

25 de fevereiro de 2009

Vamo que vamo nesse vai que vai.

Vida de nerd é mais ou menos assim:

  • Carnaval com pais e se vê e se comenta quase tudo. A falta de empolgação pra empolgação alheia vem do sangue. Consolo grande isso de se explicar através dos outros. Uma bobagem, mas eficiente: sou quem sou porque vim de onde vim. Tudo certo. Tentar se explicar é perca de tempo, mas cola. No mínimo pega bem.
  • Papai foi trabalhar e mamãe tá na roça. Cervejinha as 10 da manhã e papo e papos com mamis. Maravilha ter mãe e papear com ela. Ainda mais assim, semi embriagado e com a sensação de calma que o álcool proporciona.
  • O macarrão estará pronto na mesa enquanto escrevo isso. Sem pedir e sem agradecer. Liberdade passa por aí.
  • No fim, a mesma dor de sempre: odiar o impossível é bom senso. Queria mesmo era cagar pro impossível e achar que tudo pode e tudo muda. Mas impossível é não morrer e sei que morrerei e ainda acho isso uma desgraça.

22 de fevereiro de 2009

*

Alguma calma e algum delírio.

A vantagem de caminhar perto do abismo é contemplar o infinito.
A merda é antes de dormir,
quando você frita e um monte de coisas desagradáveis lhe invadem.
E há muito suor porque o Rio de Janeiro é mesmo um inferno:
gente com chifres por conta do Carnaval,
adolescentes que usam saias onde escondem enormes cacetes
e mulheres vampiras que sorriem demais.
E mesmo no inferno há alguma alegria que você não compartilha,
mas observa e reconhece:
velhos e crianças são os únicos que de fato dão sentido pra toda a loucura do Carnaval.
De resto, exibicionismos e sacadinhas
e alguma alegria
com prazo de validade.

20 de fevereiro de 2009

Cachorro, Gato, Galinha.

Daqui a pouco minha mãe chega.
Então acordo cedo e dou um conferes em tudo. Farei barba, cabelo e bigode. Mãe é um ser que se impressiona com a aparência. Se ela me ver com essa barba e esse cabelo, vai achar que to péssimo e coisas do tipo. E nem custa nada eu cortar o cabelo.
Meu Carnaval será com os meus por aí. Meu pai chega amanhã e maravilha. Ainda tentarei convencer minha vó pra vir pra cá.
E minha mãe vai me mimar e querer melhorar a minha vida. Coisa de mãe. Vai dar mil palpites sobre tudo e é isso aí. Coisa de mãe. Faz sentido ela querer melhorar minha vida. Ela é minha mãe, afinal.
Meu pai chegará amanhã e iremos à restaurantes e beberemos à larga. Ele me fará umas perguntas que eu acho difícil de responder: - mas você não vai mesmo na praia?
E eu direi não e ele fará não com a cabeça sorrindo e semi inconformado. Também tentará melhorar a minha vida.
"Não acredito, Fernando, não acredito", ele dirá por causa de alguma lâmpada queimada.
E minha mãe concordará com ele e os 2 tentarão melhorar a minha vida.
Coisa de família. Faz sentido.

19 de fevereiro de 2009

Evaniracatibiribira.

Minha
tem 80 anos e caiu pela primeira vez.
É claro que ela tá arrasada e que se sente mais velha agora, depois que caiu.
Quando falei com minha mãe ela me disse pra eu ligar pra ela porque ela tava meio amuada em função da queda e etc.
Não liguei no dia que minha mãe falou porque eu não sabia o que dizer. E eu tenho essa coisa de pensar antes de falar.
E pensei e descobri o que falar:
- olha, vó, eu to te ligando porque eu to sabendo que você caiu e, como eu te conheço, imagino que você deve tá arrasada...mas o seguinte: você caiu pela primeira vez agora, aos 80...quantas velhinhas que você conhece que já caem com 60? você tá no lucro...sabe disso.
E ela me contou a história da queda e disse que foi dirigindo seu 'vermelhinho' pro massagista e que só depois de chegar em casa, com seu 'vermelhinho', que ela foi no médico e viu que nem quebrou nada.
Claro que ela tá com dor e tomando uns remédios. Quem quer que seja que chegue aos 80 sabe que isso pode acontecer.
O lance da minha vó é que ela é animada. Tem blogue, transita em computador e ganha várias multas de velocidade toda vez que pega uma pista lisinha.
No ano passado ela me ligou no meu aniversário e disse:
- eu não sei o que dizer, mas eu quero que você tenha uma vida tão boa quanto a minha.
Isso, como desejo pra aniversário, pode ser simples, mas como eu morei com ela 2 anos, sei que nem é assim. Foi algo que me impressionou. A vida dela nem sempre foi BOA, mas ela, com 80 anos, diz isso pra mim.
Não sei explicar, mas entendo. E entender é mais importante que explicar, afinal.
Dona Evanir, uma mulher que reclama, mas que, mesmo assim, acha que a vida foi boa.
Ela não acha que tudo é uma maravilha. Ela segue e inventa coisas pra seguir. E sua conclusão, depois de tudo, é que é a vida foi boa. Uma maravilha.
Vou sempre guardar o que ela disse depois de ver uma peça do Oficina: eu vi o cu do Zé Celso!
E todos rimos e foi um dia bom.
Os dias ruins nunca importam.
Não é mesmo?

18 de fevereiro de 2009

relatinho.


noite imensa.
45, mas parece 35.
descobri porque tem uma filha de 19.
na verdade 2 filhas e 2 casamentos fracassados.
conversou comigo por causa do filme 'o lutador' que eu também tinha visto.
ela e o namorado cocainômanos.
ela mais pegajosa e chata.
ele mais tranquilo e sempre mal tratado por ela.
ela fala mais e sempre pega no braço.
avisa que o cara do lado não é legal.
traficante de pó ruim.
vende vidro moído, segundo ela.
diz pra eu não falar com ele.
diz que ele a odeia.
os 2 falam de filme.
ele explica que eles, o casal, vêem 1 filme por semana.
não gostam do d. de oliveira.
eu não vejo 1 filme por semana.
ela é jornalista, mas trabalha na receita federal.
ele na petrobrás e mais nem consegue falar.
os 2 tem grana.
ela saiu de Brasília.
o irmão morreu e ela saiu.
não entendi se ele se matou ou não.
ela saiu de lá com 25 e adora o rio.
ele não gosta desse papo, segundo ela.
eu faço teatro e eles me elogiam.
alguém que pensa, eles dizem.
falam do Nelson Rodrigues.
leram tudo do Nelson Rodrigues.
a cabra vadia, o reacionário, tudo.
ele tenta falar, mas ela não deixa.
ele sorri mais e cheira menos.
carro bom e vida boa.
amanhã ela acorda cedo e reclama.
ele também.
quando me despeço eles dizem que é bom conversar comigo.
eu sorrio.
eles dizem 'até amanhã'.
sinto medo.
ir no bar pra conversar com viciados é estúpido, eu penso.
o elogio dela é porque a deixo falar.
medo de novo.
hoje não apareço.
único fato.
o resto, histórias.

do Galhardo. Fodão.




-

Na média tem sido igual: dia bom dia ruim. Hoje, se a média valer, será dia bom. Tenho que escrever as coisas e empaco. Então eu leio pra tentar desopilar. No sábado passado deu muito certo e escrevi numa só sentada algo que realmente gostei. Mas nem é simples. E o calor no Rio de Janeiro é insuportável. Em último caso, no fim do dia, andarei como um louco pela Urca. É outra maneira de desopilar.

noite fria.

A menina corre
pra atravessar a rua
e chega no bar.
Lá descobre
que o mundo é grande,
mas pode ser menor.


17 de fevereiro de 2009

Artaud e o calçadão de Copacabana.

Toda loucura pode ser comovente, mas nem todas podem nos envolver. Sabe como é. Há muito tédio espalhado nas calçadas e mais ainda no belo e fedido calçadão de Copacabana. Se eu fosse capaz de me alegrar com o mar ou com o sol ou com o carnaval, eu não seria eu. É simples assim. E confesso que acho o mar, o sol, o Carnaval e até o calçadão fedido de Copacabana, coisas belíssimas de se ver. Então eu vejo e acho belo, mas não me envolvo. E também não faço força pra me envolver - porque aqui, cá comigo, essa força que é feita por aí, pra fazer parte, pra agradar, pra não criar caso e etc, é um tipo de força que tem mais de desespero do que de desejo.
E eu gosto mais é do desejo, do desejo e sua loucura, e mesmo do desespero que o bom desejo causa. Lembro do Artaud, aquele louco genial, falando que é impossível viver sem exasperação. E que quanto mais exacerbado, mais puro. Questão de sentir a vida. E também que só se pensa na vida quando se tem da vida uma ideia de grandeza.
Ah! Isso sim é uma beleza!
Ainda mais bela que o belo e fedido calçadão de Copacabana.

4 contra 1.

Meu caralho é doce e eu olho pra ele com admiração. É mesmo uma pena não dar pra chupar o próprio pau. Foi o Bukowski que me ensinou isso, " geralmente é por milímetros que não conseguimos chupar o próprio pau." É fato. E como fato, é triste.
Seja como for, meu pau resiste bravamente a punhetas. Um auxílio cibernético aqui ou ali, mas tudo certo.
Já superei a ferida que surge onde roça o dedo indicador.
Aprendi a me masturbar com 4 dedos.
Maravilha.

15 de fevereiro de 2009

17 anos.

Ela passa
andando
e
balançando
os braços.
Mini saia
muito apertada.
Bunda imensa,
infantil
e infernal.


14 de fevereiro de 2009

sim sim sim.



chorando baixinho durante o filme. céus, como é bonito algumas coisas nesse mundo. e a vontade de chorar era justamente nos momentos sublimes, veja só. tudo lá. o melhor da américa é o meu caga regra. tem que ver e ver assim, apenas como quem vê mais uma histórinha. e faça força pra achar que é apenas mais uma histórinha. as coisas que importam estão sendo ditas, basta apenas reparar.

12 de fevereiro de 2009

sobre os butecos e pés sujos.

Há qualquer coisa ali que só se pode observar desse jeito: entre uma cerveja e outra, semi embriagado, com a t.v ligada e nenhum foco específico. Se um bêbado invade a espelunca surge um foco e, portanto, a observação discreta é limitada. Mas quando não há nenhum foco é uma maravilha.

Vejo coisas que entendo, mas que nem sei se sou capaz de explicar.

Sem dúvida ler o bom e velho Bukowski me ajudou a entender essa ternura que surge no meio da merda. Sou um tipo que me influencia, embora quem não me conheça ache que não. Sou mole e vulnerável como só um bêbado legítimo pode ser.

Mas o ponto é o bar e suas histórias. Então volto à ele.

Foi onde eu vi:


  1. Uma mulher, verdadeiramente vulgar, cantando e dançando uma música da Alcione que era um tanto feminista e tola, mas que ganhou um sentido absurdo com aquela preta ruim berrando aquilo como a última verdade do mundo. Depois de 1 min. o bar, que estava cheio e barulhento, calou e ficou por 2 min. a vendo cantar e dançar. Houve aplauso no final e foi sincero. Ninguém alí abordou àquela preta ruim depois disso. Só o "show" importou e, em um bar, isso é respeitado.

  2. A Solange e o Antônio discutindo porque ele não poderia estar no aniversário dela. Eu, mais que ele, vi a cara frustrada dela. Ela é mais bêbada do que ele e, confesso, ele é quase um santo. Ela e ele são incrivelmente parecidos, desses casais estranhos que parecem irmãos. Ele é agente da funerária daqui de baixo e ela é doméstica de uma velhinha que lhe libera pra beber e acordar tarde, "11:30", segundo ela. "Pra preparar o almoço", segundo ela ainda. O fato é que eles são amantes há 10 anos e ele tem família em Maricá. No dia do aniversário em questão ele não estaria no Rio e...sem chance. Mas ela, mesmo sendo bêbada e desagradável, sentiu uma dor grande e imensa. Dessas que a gente sente junto porque entende que não há mesmo solução pra algumas coisas.

  3. Um solitário que quer conversar com o Coimbra e traz um livro. Ele fica ansioso e, afinal, consegue mostrar o seu livro. Ele tá lá, citado no livro, pois, "sim sim, ele fez parte da Jovem Guarda". É um músico bêbado que responde ao desafio do maldito Coimbra atendente: "- olha aí, olha aí, eu te falei." E o Coimbra nem dá muita bola pra ele e ele fica ali, abraçado ao seu livro e ao seu orgulho de si. É um homem justo, por assim dizer. Tem aquele sorriso de bêbado melancólico e se agarra com o livro que tem a sua foto. É um homem justo, eu repito.
  4. O quanto os cocainômanos são desagradáveis e desnecessários. Com a palavra o próprio Coimbra: "- pô! só da confusão! nem consomem e sempre reclamam da conta! ah...meu amigo Alfredo é pra quem eu ligo amanhã!." O Alfredo é PM e toma coca-cola de graça. Apenas isso, por mais simples que pareça. ( O Coimbra fala isso pra mim porque sabe que eu, como ele, acho os cocainômanos uns chatos de galocha.)
  5. Uma mulher de uniforme entra. O Coimbra a respeita, o que não é comum. Ela é nova e deve trabalhar em alguma farmácia de manipulação. Comenta pro Coimbra que "o dia foi fogo e que precisava de uma cerveja hoje." Mas depois, quando venho pra casa e passo bem próxima à ela, eu reparo: é mais uma bêbada solitária que não chegou a decadência total. Conserva o corpo, eu penso. Sabe que o corpo acaba e fica feliz por ainda o ter, eu penso também. E ponho a mão no fogo que ela bebe em casa, escondida, pois ir ao bar todo dia 'pegaria mal'.
  6. A velha que bebe e é cheia de opinião. É uma velha de uns 70 que acabou de perder a mãe. E ela sempre chora quando bebe muito. E sempre lembra de sua "mãezinha' nesse momento. E todos do bar dão atenção à ela. E mesmo o Coimbra lhe dá atenção. Ela paga bebida pra alguns e se acha muito inteligente porque recebe O Globo diariamente em sua casa. E, invariavelmente, toda vez que me encontra no elevador ela pergunta: "E a globo? Como que é vai?"
  7. "Melhor encontrar essa velha no bar do que no elevador", eu penso, apenas antes de dormir e terminar a postagem diária do blogue.

11 de fevereiro de 2009

oiés.

Nada melhor do que um belo e besta Pipocão Americano para abrandar os nervos. É nessas horas que a gente pensa que o mundo é justo. Sem desejo de beber, ensaio cancelado, cansado de se forçar a ler pra se sentir útil. Prepara uma sopa e pensa que a noite será longa.
Então liga a televisão e vê que em 10 min. começará A Feiticeira. Finaliza a sopa e vê o filme.
A Nicole Kidman é mesmo linda.

pé quente cabeça fria.

- Alô?
- Alô. Tudo bem, Fê?
- Tudo.
- Sabe quem tá falando?
- Sei.
- Rs. Então. Como tá?
- Tô bem. E você?
- Bem também. Tá surpreso, né?
- Ô.
- Eu tive um sonho. E fiquei impressionada. Por isso que eu tô ligando.
- Um sonho?
- É, um sonho ruim. Você sabe.
- Ah...
- Tá bem mesmo?
- Tô sim. Nada demais ou de menos.
- Jura?
- Rs. Juro.
- Sabe que eu tenho as minhas manias, né?
- Sei sim. Só não imaginava...
- O que?
- Que a gente ainda tinha esse tipo de conexão...
- Rsrsrs.
- Que foi?
- Cê tá mudado, hein?
- Como assim?
- Nunca imaginei você falando 'esse tipo de conexão'...
- Rs...é...acontece...a gente muda...
- Parou de fumar?
- Nem tanto...
- Cervejas, amendoins?
- É, mudei, mas só um pouco.
- Bem, Fê, liguei só pra ver se tava tudo bem.
- Certo...
- Bem...
- Ah...posso te falar uma coisa?
- Claro, Fê.
- Eu to fazendo terapia, né? E aí...
- Rsrsrs...
- O quê?
- Tem certeza que não parou de fumar? Rs.
- Tenho, tenho...mas daí ela, a terapeuta...
- Rs.
- ...falou uma negócio que eu achei bonito a beça...e que na hora eu pensei que você ía gostar...
- Diz.
- Eu tava comentando uma coisa sobre você e ela disse: "ela, pra você, é uma dessas pessoas que a gente pensa em reencontrar quando tiver velhinho".
- Ela disse isso?
- Disse.
- Jura?
- Juro.
- Nossa, bonito mesmo, Fê.
- É. Eu também achei. E achei que você acharia bonito também.
- Putz, que legal, Fê. Quem diria? Terapia...Rsrsrs...
- É, é.
- Rs. Bem, vou desligar.
- Tá.
- Beijos. Se cuida.
- Beijos. Você também.

*

você sente cansaço, mas não consegue dormir. a cabeça frita. 30 pensamentos diferentes que não servem pra nada. um atravessa o outro. nenhum segue, nenhum. ler revista legal, ler peça sobre o descobrimento, ler livro chato. nada de nada. televisão, cigarro, pizza requentada. água, água, água. senta na beira da cama, olha pra fora, luz apagada e lua cheia. lua imensa. lua quase irritante de tão brilhosa. barulho de morcego, cigarro, computador. 04:47.
tudo pesado, tudo leve, tudo indiferente. nada pra fazer. esperar, esperar. ler mais. fritar mais. tomar outro banho. calor infernal. rio de janeiro. cansaço sem sono, cansaço sem sono. blogueblogueblogue.

10 de fevereiro de 2009

da janela do ônibus.

A cabeça é uma marofada de fumaça e dor.
Os olhos ficam se apertando num esforço de aparentar inteligência.
A boca sorri de lado e acha que o charme é fazer um tipo assim,
descolado assim,
que dança sempre do mesmo jeito em qualquer ocasião.