19 de outubro de 2009

domingo - senta de novo.

Descubro a coisa e deliro:
É quase normal. Só noto o quanto é estranho delirar assim quando saio de casa e vou almoçar no shopping.
Na rede desvendei tudo o que não era segredo. Passei horas nisso. Se o cigarro não acabasse, eu não saia. Tenho tendências a me encantar e hoje entendi o ponto disso.
Preciso de ternura, acredito na ternura. Ternura é um tipo de delicadeza que me comove. Uma coisa que não explico, mas que reconheço: em textos, em fotos ou em vídeos.
Sinto mais falta de ternura do que de sexo. Meu reino por uma ternura.
No delírio:
Seria uma coisa lenta e gradativa. Atração de estranhos, cheiros a serem reconhecidos e um charme artístico que nenhum dos dois deixaria de alimentar.
Charme artístico é isso que é: ter objeto pras metáforas das coisas que se pensa em silêncio e sozinho.
E nós nos amaríamos pra sempre. Você me entenderia na coisa que defino como:"A beleza possível será inventada." E, bem, seríamos felizes.
Felizes sem burrice que seríamos espertos. Um a salvar o outro como se isso fosse nosso destino. E usaríamos a palavra destino sem medo da tragédia.
Meu delírio corria solto e eu nem imaginava nada de ruim. Era só beleza. Eu pensava comigo mesmo: essa desgraçada me fará parar de fumar, essa puta me fará fazer exercícios, essa doida me convencerá até a parar de comer carne de porco.
Meu deus é tão bom delirar. Ela seria a mulher capaz de me modificar plena e puramente, como se mudanças assim fossem reais.
Meu delírio, meu delírio lento e vaidoso até ver, durante o banho: minha pança enorme, minha falta de ar, minhas espinhas na bunda e o excesso de vermelhidão que, de uns dias pra cá, aflora na cabeça do meu pau.
A felicidade é meu delírio nessa tarde de domingo: ouvindo cada coisa, vendo cada foto e reparando em cada imagem que queria passar rápida, mas que eu não deixava.
O mundo real:
A nova dor nas costas, a voz que assusta, a velha dor no pulmão, os vagabundos do bar, a comida sem vontade de comer, a tv ligada, o rádio ligado, a mina com o mano, a mina com o namorado, a mina amando, a mina amando e falando sobre o amor, a unha esbranquiçada, o peido molhado, o banho como obrigação, a punheta pra esvaziar, o sonho com os mortos, a casa limpa e vazia, a grosseria sem solução, o casamento que era seu, o filho que não teve, a vontade de fugir, o bar que teria, a grana da loto que mudaria o mundo, o arrependimento, a grosseria feita no passado, a mãe que telefona e ama, a dor da mãe que não pode entender por não ser mãe, o lixo cheio do banheiro, a merda que é aguada e preta, o bar que tava agitado, a música de velho que toca, a tela branca que não basta, a garota com quem delirou e que não existe, o namorado bonitão, o namorado saudável, o namorado cheio de gás, a mina com o mano, a merda espalhada, o blogue punheta, o sitemiter, o desejo secreto, a ruptura, a morte, o delírio do domingo, o etc que isso não tem fim.
Agora:
Aplacado e calmo. Sem raiva de ninguém e quase vazio. Queria trinta coisas, mas trinta coisas todo mundo quer. Saber que não é especial é parte da jogada. Sofrer em paz também é.
Conclusão:
Todo bloguinho é uma mal disfarçada terapia.

2 comentários:

Fayga disse...

my brother charles: o mundo real é uma loucura que a gente cria. continue criando.

obs: halishi.

fmaatz disse...

estamos melhorando que 'halishi' é um deus fodão de uma India inventada aí.
no mais criar tem seus riscos. nem sempre dá pra arriscar.
p.s. você foi a 1° pessoa a notar o 'charles' da coisa. agradeço porque achei, quando fiz, divertidíssimo.