19 de julho de 2009

Era uma borboleta no meio da cara dela, batendo asas e mostrando aqueles dentes brancos e grandes que me agradavam. Os caninos não se destacavam, mas ao olhar com cuidado dava pra ver quer eram mais pontiagudos do que a média.
Eu gostava disso. Mulher carnívora que não se importava com o sofrimento da vaca ao ser abatida. Parecia uma coisa rara nesse mundo de teatro e fêmeas vegetarianas-engajadas.
Ela não. Adorava pernil e cupim. Comia em boteco, pedia miúdos ao molho e sempre colocava mais comida na boca do que sugere o bom gosto.
E comia como um peão, prato cheio e sem medo de perder sua feminilidade fina que se manifestava quando ela mexia as mãos e falava sobre suas preocupações.
E falava muito e com muito detalhes, como uma mulher deve falar.
A gente conversou 3 vezes apenas. Os mesmo papos, as mesma comidas, porções de torresmo e a cerveja abundante quase inofensiva pela ação da gordura. Ela que me explicou: - torresmo com cerveja é quase tão perfeito quanto whiskey e cocaína. É como se o óleo do torresmo estabilizasse o álcool.
No último dia houve um silêncio longo enquanto almoçávamos comida nordestina barata e farta. Estávamos tristes, mas não falamos sobre isso.
Quando nos despedimos, eu disse: - nôs falamos.
Ela me mostrou pela última vez a borboleta branca do meio da sua cara e disse: - não, não nôs falamos.
Virou-se e foi andando. Fiquei olhando pra ela até que entrasse no prédio de sua amiga. Usava uma bermuda até o joelho e uma camisa xadrez com um nó na frente e, mesmo assim, era linda.
Ela sabia das coisas.

17 de julho de 2009

Fazendo os deveres de casa de novo. Na escola há toda aquela coisa encantada e misteriosa que revivo ao ver o genial "Anos Incríveis". Estou baixando tudo e prepararei um dvd pra minha sobrinha. É o tipo de coisa que faz um bem danado de ver na época certa.
Mesmo agora, ao rever, acho fodão e vejo que é ainda mais fodão do que eu imaginava. Winnie Cooper é a única mulher que importa.
Agora, algumas missões de leitura e ter sorte. Porque sorte é real e faz mais diferença do que imagina o idiota que acha realmente que decide tudo que faz. O idiota quer ter controle e isso é normal. O anormal é achar que se controla TUDO ou que não se controla NADA.
Seja como for, a sensação estúpida de dever cumprido consola os bons animais que somos. Melhor assim. Um animal satisfeito não ameaça seus pares.

16 de julho de 2009

meu cu
rejubila
de baixo
pra cima.

os cabelos bonitos.

Meu bom caralho balança com convicção. Isso não é felicidade ou milagre, mas é bom. Faz sorrir porque sorrir é simples e fácil, e também porque...bem...porque gosto muito, muito mesmo, do meu caralho.
E meu caralho amado é meu! Só meu! Coisa muito relevante prum tipo possessivo como eu.
Daí que ando à passos largos e me saboreio solitário e impassível. Aquele tipo de desprezo e indiferença generosa que só sendo solitário e inconsequente pra sentir e perceber.
Que seja.
Em poucos dias formulo um desafio e ponho uma bela bagagem na mala. Vou sorrir e ser simpático e falso por aí. É conveniente e me dá prazer. É estúpido e simples...quase delicioso.
Depois uma punheta executada por mão alheia e infantil: um belo jorro de esperma amarelo que me dará as boas vindas.
Ao longo e ao longe pelos delírios que se inventa.
Que seja.

14 de julho de 2009

*


O cavalinho na chuva
e a bocazinha torta.
- Pra nunca esquecer
que a boa ternura
também arrota.

Ah, um dia após o outro até o fim.
E quem é que dá conta disso? Eu que não e eu que nunca.
Depois da raiva plena um coisa fantástica via e-mail e que nem caibo em mim. Como se só fosse aquilo, como se Deus fosse real e dissesse: é isso aí!
E vamo-que-vamo-no-vai-que-vai. É bom ter ódio quando o ódio pinta. É bom saber que o ódio pode acabar via e-mail.
Como se fosse simples assim.
Como se em si coubéssemos.
Que seja:
Minha ternura esparramada a partir de um e-mail:
O ódio se foi e nem se lembra de que porque motivo veio.
Com apenas 4 horas de diferença o mundo pode ser outro:
ter calma no momento ruim é sempre pra esperar o conforto.

13 de julho de 2009

Essa raiva que me consome e que não tem nenhum sentido. Porque eu poderia morder os canalhas e chutar os cretinos, mas não mudaria nada: os canalhas continuariam como são e os cretinos talvez até piorassem. Mas dar vazão ao ódio me parece saudável e precioso. Questão de estar vivo e de ser capaz de sentir as coisas. É nessas que não compreendo quem está sempre feliz ou sempre triste ou sempre mal humorado ou sempre sorridente. Falta ser atravessado, mas não atravessado assim, como quem quase cai, mas não cai, como quem quase voa, mas não voa. A derrota tem que ser total e profunda, assim como a glória quando a glória vier. Porque ela vem, e também vem a derrota, e ficar passando de uma pra outra com a mesma cara blasé e prendada é fazer de conta que você não tá no meio do turbilhão doente, louco e encantador que é a vida. A vida sim. Sempre a vida, só a vida, o único assunto. Então que seja o ódio e a raiva de agora, mesmo que sem sentido. Querer sentido é diferente de saber, e as vezes sofrer, pela falta de sentido que nos ataca quando temos da vida uma ideia de grandeza. Porque querer ser melhor não é ser louco, porque ser louco não é bonitinho, porque jogar dados só tem graça quando se aposta muito. É fácil perder ou ganhar quando se aposta pouco. Nem muito rico e nem muito pobre, a média morna e fedorenta que acha que o ser humano deve ser de ferro e/ou estável e/ou ponderado e/ou seguidor do caminho do meio. Só idiotas no caminho do meio, lutando contra as coisas que podem lhe abater. Esquecem-se que ser abatido é parte da aposta e pode ser um prazer imenso e fodão: nada desse roçar de grelos, nada dessa punheta auxiliada por sites pornográficos, nada desse riso causado por cócegas, nada desse mar sujo de copacabana, nada de fazer sua parte e se sentir bem. Nada dessas coisas que evitam a dor, mas que diminuem, na mesma proporção, a chance de prazer imenso. Desses que dissolvem o ego, desses que despertam a besta fera que carregamos dentro de si. Porque as explosões devem ser doloridas, mas são reais e criam universos carregados de potência infinita. E é para o infinito que se deve caminhar, mesmo sabendo que o abismo será inevitável.

12 de julho de 2009

uma forma de adeus.

Meu bom Jesus arrota com a graça de Deus Nosso Senhor.

Não espero milagres, mas quero ser capaz de reconhece-lôs. Como quem vê de longe e que, por isso, tem o privilegio de primeiro ver e depois pensar. É estúpido achar que o milagre, além de milagre, é surpreendente. O milagre não acontece de uma hora pra outra. O milagre-é-um-milagre-é-um-milagre pelo impossível que ele carrega e não pela sua velocidade de acontecimento.
O combinado me parece claro: o milagre é cultivado, mas quando surge é maior e mais inviável do que havíamos imaginado.
Só dessa maneira, pra mim, o milagre terá sentido.
Antecipar o milagre é fazer dele estratégia. E estratégia é coisa de guerra e não de amor.
(27/08/07)*
* texto antigo que gostei. título e sub-titulo inventei depois de reler.**
** é que agora sou uma pessoa séria e cronológica.

ONTEM UMA PEÇA RUIM E HOJE UMA PEÇA CHATA. SOU MAIS A DE ONTEM: PREFIRO UM RUIM AO CHATO. SEJA ALGO OU ALGUÉM. CHATOS ANDAM EM GRUPOS E SE PROLIFERAM. IDENTIFIQUE UM CHATO PELOS CHATOS QUE O RODEIAM. É UMA APLICAÇÃO LÓGICA, MAS NÃO IMPLACÁVEL.
SEJA COMO FOR, PRO RUIM HÁ ESPERANÇAS.
MELHORAR É POSSÍVEL AO LONGO DO TEMPO. JÁ O CHATO, NESSE SENTIDO, TEM ENORMES DESVANTAGENS. ATÉ PORQUE O CHATO, AO SER RODEADO POR GRANDES TURMAS DE CHATOS, RECEBE MUUIITTOSS ELOGIOS E SE SENTE MUITO-BEM-OBRIGADO.
O RUIM PODE MELHORAR, EU REPITO.
E ME PEGO PENSANDO QUE:

  1. - fazer força não é ser forte.
  2. - olhar pra frente não é ver as coisas.
  3. - saber de si não é uma solução.
  4. - chorar pelo leite derramado pode ser sinal de inteligência.
  5. - ter esperança é uma convicção possível e bela.
  6. - achar que convicções são ruins é não entender a imensidão do homem.
  7. - nunca mudar de convicções é estúpido.
  8. - ter boas lembranças de tragédias não melhora nem as lembranças e nem as tragédias.
  9. - sorrir pra desconhecidos é mostrar os dentes pra otários.
  10. - abraçar o mundo é achar que o mundo cabe no abraço.
  11. - resolver milhares de coisas por dia não é necessariamente viver.
E ISSO E AQUILO E MILHARES DE COISAS QUE ME DÃO PRAZER, MESMO QUE PELO LADO ERRADO: COMO VER UMA PEÇA RUIM OU CHATA.
GOSTO DE TEATRO, POR ASSIM DIZER. ASSIM COMO GOSTO DE GENTE, MESMO QUE ISSO NÃO INCLUA O MUNDO INTEIRO.
TEATRO BOM EXISTE E GENTE PRA SE GOSTAR TAMBÉM.
TODOS NÃO INTERESSAM E TEATRO NUNCA É A MELHOR GARANTIA DE DIVERSÃO.
POR ISSO, E PELO PRAZER, EU DIGO:

- O PEITO ABERTO E O PRECONCEITO NO GATILHO. MUDAR DE OPINIÃO NÃO É O GRANDE OBJETIVO, MAS FAZ PARTE DA JOGADA.

11 de julho de 2009

então digo:

  • me comovo facilmente e bato palminhas. é bom isso: a fase, o pode ser. a esperança berrando porque é o que ela sabe fazer.
  • a esperança é limitada e sabe disso: logo será trocada e aproveita.
  • eu vejo sempre distante porque é esse meu estilo e, por que não?, minha desgraça. e digo pra mim mesmo: 'calma lá, rapazinho, desconfie sempre porque essa é sua regra'.
  • contrariar a regra é bonitinho, mas é estúpido, não é?
  • menos idiota que a média tem sido minha ambição. parece decente e palpável.
  • o que não quer dizer que meu tropeço não seja enorme e meu vómito nem se fale.
  • mas é assim: menos idiota ao longo do tempo. é bom e confortável. hum!
  • gracinhas variadas e pops. meu momento de adaptação e idiotia consciente.
  • berrar é um estilo que respeito e sigo. como se fosse só isso.
  • a vantagem de estar só é que os demônios são íntimos e velhos amigos de infância.
  • sempre eles: com ternura e chifres, entre pesadelos e delírios.
  • beleza enorme e sem sentido. me calo porque ainda tenho bom senso.
  • coisas belas e surpreendentes me fazem idiota e feliz.
  • é bom saber disso: idiota e feliz ao mesmo tempo.
  • chega chega e vamo que vamo. hum, eu repito.
  • ai, que agora vai, ei, que agora pode, ufa, que tudo acaba, eita, que a merda assusta menos do que antes.

10 de julho de 2009

é uma beleza
esse suor
que as vezes se faz:
seja pra melhorar a vida,
seja pra cagar em paz.

8 de julho de 2009

  • - pra mim mulher tem que ter pele bonita. Pode ser até feiazinha, mas a pele, ah...a pele tem que ser bonita.
  • - o bom não é ganhar muito, é gastar pouco com remédio.
  • - ela tava fora de si, dizia 'eu te amo, eu te amo, eu te amo'.
  • - eu não vou falar pra ele aquilo que eu sei que ele não gosta. É estúpido.

6 de julho de 2009

Tenho blogue há algum tempo. E gosto. Gosto mesmo. Fez com que eu escrevesse mais, fez com que tivesse pretensão literária e os cambau.
Ter blogue, nessa coisa de internet/orkut/msn, é parte da jogada. E mesmo que eu não jogue sempre, eu gosto de jogar.
A coisa blogue surgiu como princípio de diário virtual. E, mesmo tendo se expandido, pra mim, ainda hoje, um blogue bom mantém isso. O que não quer dizer que lá no meio, e de vez quando, o blogueiro não ponha suas asinhas de fora. Sejam grandes ou pequenas. Tanto faz.
Blogue, pra cagar uma regra, prova que tamanho não é documento.
E tudo isso porque hoje escrevi um textinho em papel e caneta que resolvi não transcrever aqui. Porque aqui, num blogue, poderia parecer uma coisa outra e que nem seria o caso. E isso é uma das peculiaridades brutais de um blogue: ele será lido, mesmo que apenas por sua mãe ou seu melhor amigo, ele será lido.
E nessas de saber que x ou y lerá, eu resolvi que hoje, apenas hoje, não era o caso de por esse textinho aqui.
Não que seja um texto grandioso ou coisa do tipo, mas apenas porque soará como recado pro meu pai ou pra minha mãe. E nem é esse o caso.
Então deixo esse textinho de papel pra depois e escrevo isso.
Porque tenho a coisa de diário e porque acho divertido.
É mais simples e evita constrangimentos. Ainda não estou na fase de mandar recados, afinal.
Beijos de orkut ou saudades de Msn é um apenas um jeito prático de encerrar a questão.
E praticidade nunca foi meu forte.

5 de julho de 2009

4 de julho de 2009

Os olhinhos pequenos e apertados dentro da cara gorda. As duas mãozinhas, gordas também, esticando os dedos pra pedir mais. Os bracinhos curtos e retraídos. Os olhinhos muito pretos, a pele muito branca e a boca vermelha-exagerada de batom com cheiro de morango. Uma porquinha à pururuca, deliciosa e bem assada.
Tudo isso servindo dois, e por apenas 60 Reais.

2 de julho de 2009

disso e dessa: a calma feliz.

Agora sim.
Devagarzinho: as bordas me comendo pelas beiradas.
Como deve ser, como acho bom, como acredito que proceda.
A euforia foi abanada sem pressa. Dia após dia com um abano insistente de uma única mão. Só a esquerda.
Apaguei e morri. Sentia-me ótimo e morto. Morto era ruim. Mas era e era mesmo. Morto sem esperança de ressuscitar.
Morto e livre: cirandas feitas em torno de um carrossel de cavalos de plástico.
Nunca imaginei cavalos de verdade. Eles eram de plástico e tinham aqueles olhos enormes e pintados de tinta vagabunda. Já estavam desbotados, mas, mesmo assim, me impressionavam.
Mas agora tem essa turma aí: juntando-se de novo pra tentar achar um milagre. A chance de dar certo é a mesma de dar errado. 50 a 50 avisados com antecedência. Sem enganos e enganações.
Mais uma vez um monte de coisa.
Talvez seja essa, talvez não.
O peito aberto não e uma virtude, mas ainda é tudo que posso ter.

1 de julho de 2009

minifisti - A Coisa.

Meus livros espalhados me consolam.
E me sinto como me sentia há 5 anos atrás,
quando acordava cedo e x me regulava o café antecipando minha morte.
Era só a ternura de x.
Só hoje eu vejo.
E nessa antiga tática reparo como eu sabia viver melhor do que sei hoje.
É assim: três livros na fita.
Como eu não tinha muitas 'obrigações', eu lia.
E ler, pra mim, é ser ativo.
Sinto - me radiante quando leio 100 ou 200 páginas num dia.
É algo que me basta, mesmo que seja inútil.

Há 5 anos atrás eu nunca questionava isso.
Era bom e útil ler, eu sabia.
E lia e lia.
Hoje leio também, assim como também não tenho muitas 'obrigações',
mas é uma diferença brutal.
Porque antes A Coisa era e tinha horizonte azul e de sol.
E hoje A Coisa pensa e faz contas querendo ser útil e eficiente.
Como se A Coisa pudesse ser premeditada e medida,
como se A Coisa tivesse que ser socialmente responsável,
como se um plano de marketing ou a auto promoção pudesse dar conta d' A Coisa.

Mas A Coisa não mora nesse lugar de auto controle e qualidade de vida.
A Coisa tá pensando em outros mundos possíveis.
A Coisa não sente culpa e nem tem medo de amar.
A Coisa não quer ser feliz ou salvar o mundo.
A Coisa quer ser.
A Coisa é.
A Coisa tem esperânça em chegar lá.

lá fora
os gritos
são os mesmos.
E aqui dentro também.
Gritar bem
é gritar com a voz que se tem
e não com a voz
que se deseja ter.

Nem bom dia,
nem com licença.
Delicadeza nunca foi
virtude de princesas.


29 de junho de 2009

Lóki - o filme.



Tem coisas que sei que me pegam. Por antecipação.
Quando li sobre o filme O Equilibrista sabia que seria o caso.
Assim como quando li sobre Lóki, o filme que conta a história do Arnaldo Baptista dos Mutantes.
E não deu outra. Fui pego.
Se o filme é bom ou ruim não importa. Se é bom ou ruim nunca importa. Só trouxas justificam suas experiências com 'foi bom pra mim' ou 'foi ruim pra mim'.
E o filme tá lá. Bonito pra cacete. Chorei duas vezes e me perguntei porque.
É um treco bonito ver a vida daquele cara.
Glória e Tristeza, a mistura infernal.
E também o desejo profundo e toda loucura que é querer se comunicar e outras milhares de coisas que sempre ficam estúpidas quando tentamos falar sobre elas.
Tem que ver o filme. Saber, de antemão, se te pega ou não. Ser pego de surpresa parece intenso, mas quase nunca é.
E no filme tá lá aquele quase demente querendo mais do que talvez se possa ter. E o demente é bonito e genial.
E você, na cadeira escura, se comove com tudo aquilo e entende o demente como se você pudesse alcançá-lo.
É bom, é bem bom.
E também é bem bom que eu já soubesse que seria.



  1. Cadelas tristes não latem de alegria.
  2. Você é o tipo de pessoa que sempre reclama do banheiro. Mesmo quando ele está limpo.