11 de abril de 2013

A vitalidade dos 30 começa à me bater (lembro do meu pai falando sobre isso).
Tenho medo porque é uma vitalidade real; que me alimenta e me dá perspectiva. Novas carnes para assar e uma sensação estúpida (porém não menos real) de que sim, sou novo ainda, e tenho bastante vida pela frente.
Tenho medo porque sou um homem inteligente, que leu, e aprendeu, via leitura e via vida, que também isso (como quase todas as sensações que nos invadem) é passageiro.
Então chupo minha fruta. Espero o bagaço e sugo e sugo, enquanto der pra sugar. Não é o caso de temer a ilusão. A ilusão já temi e não temo mais. Entendi, por teimosia, que ilusão ou desilusão não importam. São coisas circunstanciais e que devem, como não?, serem aproveitadas nas devidas circunstâncias.
Então a tranquilidade, a calma, o sonho-que-é-prazer-consciente. Então o cinismo, a elegância, a ansiedade controlada por drogas ilícitas ou não.  
Poucas coisas importam. E quase nada importa sempre. No entanto, há sempre algo que importa. O importante muda, depende de fatores diversos. Apegar-se ao importante é loucura, doença, obsessão. Ignorar que há coisas MUITO importantes em determinados momentos é burrice, falha, pecado para além da moral cristã.
O importante muda, mas não deixa de existir. Sem uma ou duas coisas importantes para se importar, atravessar a rua é apenas coisa de galinha: depois de olhar os dois lados, corre apenas pra frente: esquece de pensar (e analisar) durante sua travessia.
Estou falando da sabedoria minima: agir sabendo que age e quando age. 
Sem burrice e sem inocências: adultos que assumem suas responsabilidades e percebem suas limitações. Sem culpar terceiros, sem escravizar inimigos, sem depender de marés boas ou ruins.
Estamos vivos e adquirimos inteligência. (E esse texto é para os inteligentes: os capazes de acumularem conhecimento e sagazes para forjar utilidades para o conhecimento acumulado.)
a- Por isso o otimismo, o 'vai lá!', o 'para de covardia'.
b- Para o peito aberto, para vida não simples; para que toda felicidade venha da consciência e não da espontaneidade.
c - Para que sejamos donos da parte que nos cabe. Que é pequena, mas é nossa. 
c2 - Porque pouca coisa importa e porque podemos decidir o que importa mais (ou menos) quando (e como).
d - Pela vontade de potência e para que a covardia-cega não cegue nunca para sempre.
e - Para que toda cegueira melhore seus cegos.
Tirésias (cego porque tudo viu); 
não Édipo (cego porque não suporta a visão).        

2 de abril de 2013

reza-rezinha-amém.

um dia de cada vez.
até o fim.
e sem achar que a vida é boa
e sem achar que a vida é ruim.
um dia de cada vez, 
enquanto der.
sem perder tempo, 
sem achar que o tempo não existe,
um dia de cada vez,
rezando a única reza que há:
'quero coragem, quero coragem,
santinha,
essa coisa que Deus Nosso Senhor
nem pensou quando tava na cruz'.

28 de março de 2013

s.r


  • repare nessa beleza toda. desconfie dessa beleza toda. repita baixinho: julgar é um tesão.
  • um casamento acaba novamente. e há muita satisfação em todos. os separados dizem que tentaram TUDO, os outros dizem EU JÁ SABIA. a satisfação em todos é profundamente suspeita.
  • defendo: os líderes são importantes. líderes devem continuar existindo. devem ter fetiche pela sua capacidade organizacional e não pelo poder. o poder, como simples fetiche, é um equívoco tremendo. 
  • minhas mensagens inspiradas o facebook apaga. Por que? prefiro pensar em deus. Deus sabe o que faz, eles dizem.

23 de março de 2013


  • há muito tesão na solidão. esquecem-se os bem acompanhados que trepam mal e metodicamente. 
  • criar desafios só vale se não levar à sério. é como lista de ano novo. Quem, sendo decente, cumpre sua lista impassível?
  • A felicidade como meta é atestado de burros. Só amigos/conhecidos burros dão valor a felicidade. Minha irmã, por exemplo, acha que a felicidade é uma obrigação. 
  • A vida não é boa. A vida não é ruim. A vida, infelizmente  tem menos importância do que gostaríamos. 
  • El bigodon, sempre fatal, diz mais ou menos assim: a vida só tem importância porque dura pouco e há muito a fazer. Tivéssemos a eternidade perderíamos menos tempo pensando na vida. 
  • Maldito tesão que é coceira nas partes. Queria mesmo é fazer amor. Brincar de morte, por assim dizer.
  • Volta e meia sonho com minha primeira namorada. É estúpido. Uma ideia de passado encantado, de fraquezas toleradas. Como se houvessem casais admiráveis hoje em dia.
  • A única coisa que me incomoda: o desânimo como se desânimo fosse inerente à vida.
  • Garanto: ser feliz é ser desanimado. 

19 de março de 2013

EXERCÍCIO PARA O CINISMO. (essa habilidade que me inibe)
p.s. é meu blogue e é tudo sobre mim.
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Na atual conjuntura temos três lideres. E os julgo como segue.

  • LÍDER 1: É simpático, mas fala demais ou fala mal. Tem carisma e pode ser o líder ignorante e carismático. Temos diversos modelos. Lula incluso. Aproxima muita gente e não se sente muito à vontade como líder. Tem que resolver isso e assumir-se líder: saber que ser líder implica em ser vidraça e ser pedra. Ser pedra, no caso do líder 1 - um agregador por natureza -, é o grande desafio.
  • LÍDER 2: É habilidoso e adora a posição de líder. Gosta de centralizar, de mediar, de estar alí como líder. É bem informado e leu os livros sobre liderança. É percebido como agregador e tem no discurso relativizante seu grande trunfo. Raramente se posiciona. Seu pendor à dúvida revela sua fraqueza: precisa que o reconheçam como líder para que, de fato, exerça sua liderança. Tem 2 grandes desafios: não ser tão dependente do efeito que sua imagem construída causa e usar suas informações como consequência (e não como causa). Seu erro é supor que suas informações não são vulgares e comuns.
  • LÍDER 3: Tem habilidade e carisma. É o mais predestinado. A liderança, em seu caso, parece natural. Ainda se debate sobre o quanto deva exercer sua liderança, o que é desperdício e revela sua crença em "a voz do povo é a voz de Deus". Caso seja menos moralista é capaz de assumir que Deus tem voz própria e mais eficiente que uma voz coletiva. Questiona-se por motivos errados e deve compreender plenamente (já o faz por instinto) que sua liderança é resultado da utilidade que impõe. O fato de ser útil tem que ser usado para que aprimore sua liderança e para que deixe a 'boa' moral democrática de lado. Sua utilidade torna legitima a pedra que sempre tem a mão nas horas certas. Deve para de frescuras e saber: suas pedras devem ser lançadas por que são úteis. Caso aprimore sua consciência de si e se imponha como útil-em-si, será o líder da eficiência que tão bem pode fazer para a evolução de seus liderados.

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Assim me posiciono:
3 em primeiro lugar. Sabe tudo, sabe que sabe tudo, mas teme saber que sabe tudo.
1 em segundo lugar. Estude mais e não queira ser tão agradável. Seu carisma sem força é apenas carisma - coisa que é espontânea e frágil, como são as coisas espontâneas.
2 em último lugar. Manipula e investe sua manipulação nos manipuláveis. É medíocre porque gosta da média e é eficiente apenas na média. Prefere 1000 homens à 10 grandes lutadores. Preocupa-se demais com si mesmo - o que, afinal, é perda de tempo.    

16 de março de 2013


  • o absurdo são os sorrisos. essa gente sorridente, esse branco nos dentes. os dentes todos. essa simpatia suspeita e essa beleza tão aceitável. prefiro ainda os feios, os desdentados, os muito gordos ou os muito magros. essa gente, que sem opção, só tem a inteligência como ferramenta de aceitação.
  • agora tenho um inimigo bem construído. ele é fácil de odiar. é estereotipado    sorri e fala com facilidade, é bonito, mas se compadece dos feios. meu inimigo é um jesus que não expulsa a chicotes ninguém. ele diz pra todos: vem! meu inimigo tem, contra ele, uma rima.
  • amigos perdidos. com consciência e afeto. pergunto a mim mesmo: é o caso de estabelecer alguma rotina para recriar um vínculo possível? minha dor: não é uma pergunta retórica.
  • não precisar é diferente de não querer. há muito erro aí. uma desculpa de confusão que agrada aos que sentem tesão pelo não saber. eu não sei um monte. e sofro. não saber é dor, não é prazer. só eu desconfio dessa gente que insiste que a dúvida é uma virtude?
  • tudo está em paz quando o entendimento é compartilhado. se todos dizem sim, o talvez é decente. não dá pra acreditar nos chatos: esses seres que querem ter prazer na hora errada. tipo ejaculação precoce: gozar cedo ou tarde é menos importante do que gozar melhor sozinho. o chato, esse profissional de calças largas, goza sozinho mesmo quando contribui para orgasmos múltiplos. 
  • minha inteligência é meu triunfo. e isso combinado a decência e tesão de criação conjunta. meu melhor sou eu com outros. eu só sou bom, mas não compensa. não nisso. no caso, esse teatro que tem sempre muita gente. tesão é gente junta sendo melhor do que normalmente se é. percebendo, sem racionalizações, que a vida é pouco e pode ser mais. inveta-se labirintos por tesão e não por desafios. o labirinto, meu amor, é só uma desculpa para aumentar a vida.
  • adeus e até logo. meu inimigo é bom e esse combate me interessa. sou discreto e não minto. isso não é virtude, é tática. vida afora meu caminho nunca teve reconhecimento. em arrogância lhes digo: nunca dependi da bondade alheia.  

7 de março de 2013

UMA ANEDOTA:
Repare no cretino.
Ele não informa, ele destila o seu conhecimento sobre a informação.
Por exemplo: o cretino sabe que dois mais dois é igual a quatro. Mas quando ele fala disso, ele explica:
"o um é a unidade mínima. o dois são duas unidades minimas somadas. por isso temos que duas unidades mínimas somadas com duas unidades mínimas somadas são quatro unidades mínimas. e assim chegamos ao quatro."
Quando o cretino explica, ele destila. E, se é inteligente, entende que seu campo de ação é impressionar idiotas. Ou seja: o cretino tem uma platéia sem muito senso crítico que não percebe que sua informação não precisava de tantos floreios. Os floreios, e a impressão que eles causam, é o lugar de excelência do cretino.
O cretino pode ser inteligente ou burro. Não é isso que está em jogo. O cretino é um hábil e sabe, como poucos, manipular suas informações. E, se é inteligente, tem consciência de que ao florear sua simples informação, ele a torna complexa e, portanto, aparentemente profunda.
O cretino turva as águas para fazer a poça parecer um rio.
UM TESÃO:
Reconhecer os cretinos. Reparar nos padrões que se repetem. A roupa do cretino, os olhos do cretino, a voz com pausas do cretino. (Pausas: essa farsa que o cretino usa para aparentar estar pensando. porque o não-cretino, se inteligente, pensa muito bem antes de falar)
Entender que, cedo ou tarde, o cretino será reconhecido como o cretino que é. Quer dizer: se ele se mantiver muito tempo com as mesmas pessoas, ele se tornará reconhecível. De modo que o cretino circula. Participar de tudo é um meio para aumentar seu campo de ação. Ele aparenta generosidade e sempre usa a primeira  pessoa do plural. O cretino não diz 'nós', diz ' a primeira pessoa do plural'.
VAIDADE:
Ter certeza de si, ser bem informado e calar diante de informações vaidosas que informam mal.
Algum pau na mesa.
E acreditar que a única virtude possível é não virar gado.  

3 de março de 2013

Os porres de domingo perderam sua importância. Acontece. E o tempo, essa puta vingativa, tem sua crueldade. Falo de mim como sempre. E como não? E me esforço para não falar mal do facebook, essa 'ferramenta' (palavra da moda, né?) que monopolizou a navegação.
Eu mesmo, algum prazer e os dentes doloridos. A cabeça cheia, o medo latente e um desprezo que, infelizmente, tem razão de ser.
Estou falando do mundo, essa puta abstrata.
Só é possível entender certas coisas se optarmos por acreditar que há gente má, VERDADEIRAMENTE má, no mundo.
A coluna do Merval Pereira hoje, por exemplo. Ele mente, está mentindo e, muito provavelmente, ele sabe que está mentindo. Se não soubesse não seria tão elaborado. E, mesmo sempre tendo achado o Merval Pereira, um tipo de jornalista Heliodora - no sentido em que sua fama vêm do fato de dar porrada ou ser severo -, fico admirado por ser tão deliberado assim. Inclusive misturando tudo para se colocar em um lugar que deseja: no caso do Merval, a Yaoni. (O título da coluna é "meu dia de Yaoni".)
Mas deixa pra lá. Ver absurdos não é virtude. Assim como cutucar ferida nunca foi mérito em si. Há muita ferida cutucada inutilmente - digo por mim e por outros.
Então isso: os amigos pras picas e uma tristeza que só fica bonita porque azeitada em álcool e nostalgias atávicas.
A certeza que o mundo está errado e o desespero de saber que é assim mesmo. El bigodon de um lado e o jornal do outro. O equilibrista bêbado que cai em todas apresentações.
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porre de domingo e uma nostalgia estúpida: a m. Bethânia era bonita e o p. da viola parecia ter alma (e também rosa-maria, essa mulher que chorava porque amores morriam)
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2 de março de 2013

comezinho.

EU PODERIA TE AMAR, MAS JAMAIS TE AMAREI. VOCÊ GOSTA DO CIRCO PELOS MOTIVOS ERRADOS E SOU ARROGANTE. SEU DESEJO DE LINGUAGEM É SEU DESEJO DE SER COMPREENDIDA POR NÃO FALAR CLARO, POR FALAR MAL. COMO UM VELHO ACADÊMICO QUE ACHA NOBRE O QUE NÃO É ENTENDIDO. VOCÊ ERRA ONDE DEVIA ACERTAR. O ERRO EU ACEITO. A FALTA DE MIRA TAMBÉM. O INACEITÁVEL É CONFUNDIR MIRA COM ERRO. OU PIOR: CULPAR O ALVO POR FALTA DE ACERTO.

1 de março de 2013

Um homem tem que fazer suas pequenas tarefas e aprender a apanhar com alguma elegância. Tem que entender que há muito urubu no caminho e que , portanto, um homem tem que ter certa arrogância. Desprezar os imbecis ou então ficar lamentando a imbecilidade alheia. Reconhecer o desejo de domínio e domar o devaneio de poder para viver em uma sociedade medíocre que insiste em uma igualdade que é tudo menos justa, tudo menos correta, tudo menos honesta.
É necessário ter saído na mão algumas vezes. Ter sentido gosto de sangue na boca e, de preferência, ter perdido um ou dois dentes em uma boa briga de homens. Como aqueles bichos que chifram um ao outro para júbilo da fêmea.

27 de fevereiro de 2013

a única dor é a indiferença.
não é o ódio, a raiva ou o tesão vulgar.
é o placebo dos rostos,
os sorrisos sem alma,
as almas sem linguagem.
a indiferença machuca
e todo o resto é suportável.
não é o silêncio
nem é a meaculpa.
é esse animal absurdo
que não pensa e nem age.
que só reage quando é inevitável.
essa gente que vive de choque,
uma tristeza.

23 de fevereiro de 2013

Tesão na priminha e aquela loucura.
O tempo passa, meu bem, o tempo passa.
Estou aqui, barriga à postos, e 31 anos de dor e glória.
O exagero como o último charme infantil:
sem cartinhas, sem blogue, sem mulheres loucas querendo me dar e sem os bons amigos que me chamavam de 'seus'.
Então a internet toda, o facebook monopólio e uma estranha nostalgia da época em que blogues eram visitados e havia uma lista diária de alguns preferidos.
(Penso nas drogas de farmácia, no 'soma' do Huxley e na estranha viúva do Saramago)
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O tempo passa, coração, o tempo passa.
Você aí, meio em segredo, a ver meu blogue e pensar no marido tão bom que Deus lhe deu.
Eu aqui, uma incerteza estúpida, e a certeza de que o passado como memória é sempre uma imagem barroca.
Então el bigodon, os caga-regras frutíferos e a nova mania de colar bilhetes na parede.
(Penso que a realidade estraga o sonho, que eu te chupava melhor do que seu marido e que, entre tristes e alegres, ainda prefiro os que não se importam com isso)

5 de fevereiro de 2013


  • Uma da manhã e meu tesão passeia. Tão fácil e tão conveniente: tesão sem eira nem beira à vagar. Repare: não falo de amor. Repare 2: nem penso no tesão consumado. Coisa gratuita. Como é. Como vem sendo. Esse sexo fodido que é masturbação ao mesmo tempo.
  • O velho amigo. Gente boa, alma boa. ALMA, coisa pra poucos. É papo de 10 min. e o mundo está em ordem. Vejo, novamente, um brilho em seus olhos. A-L-M-A, eu deliro. Comento com ele. Ele é generoso e topa. Incentivo seu modo de usar o facebook. Ele dá sentindo ao facebook, eu tenho certeza: opinião, auto-deboche e humor para assuntos sérios. Ele vai bem. E tem os olhos sem opacidade. Eu lamento: salário é tão barato, ele é tão melhor. Essa mania messiânica de salvar as pessoas.
  • Teatro bom. Ao mesmo tempo: não entusiasma. Penso em mim, em como faria. Erro inevitável, eu acho. Erro, eu insisto. Essa limitação de pensar em si próprio. No programa vejo que a peça tem 15 anos. Faz sentido. Faz sentido pacas. Tenho faniquitos ao lembrar que o Brook diz que 5 anos é o máximo. 
  • Sua imbecilidade é seu compartilhamento. E o facebook está aí e não nos deixa mentir. Mas não esqueça: há muita margem de erro. E tá tudo certo. Não vale é dizer "eu não sabia da margem de erro". Porque há atestado de burrice. Porque saber da 'margem de erro' é o mínimo. De forma que não acredito. Não acredito em absoluto. Assim: errar o alvo é normal. Achar que o alvo era o que não era, também é normal. O que não suporto é o que faz: culpar o alvo pela mira errada. Entenda: até a culpa tem limites. Se confunde o alvo e confunde a mira, meu Deus, não tenho o que dizer. Se insiste que o 'alvo' e a 'mira' depende de circunstâncias, eu insisto: você é burra, burra demais pra que eu te leve à sério.
  • Em outras palavras: não separar o joio do trigo pode ser uma decisão. Não separar o joio do trigo porque não sabe o que é joio  o que é trigo é estupidez.    

29 de janeiro de 2013

Antes que.


  • Ser sincero é dizer não aos idiotas. E saber que os idiotas são numerosos e que sinceridade não é uma boa política. Ser sincero tem a ver com convicção e com teimosias formuladas. Essa estratégia de pensar e confrontar. Teimosia é o mínimo de ideologia que se exige.
  • Muito amor no facebook. Um ideia besta de causa e efeito. Propaga-se amor e recebe-se amor. Como se fosse matemática, como se o universo levasse em conta pensamentos positivos e coisas do tipo. Muito amor no facebook: mais um motivo para desconfiar do amor indiscriminado. 
  • Divulgar os 'amigos da pesada' é uma nova forma de interesse. Perigosa e sedutora. Compartilhar pega bem e o dono da página ganha números. Reparem nas palavras que se repetem: galera, afeto, rede, revolução-dos-afetos, rizoma, movimento, queridos, movimentos, etc. (sem contar o 'vamo que vamo', essa abstração que supõe um movimento que sempre evolui... como se andar pra trás não fosse possível).
  • Muito amor pra pouco coração - já que é pra vulgarizar.
  • Fica a raiva que ninguém explicou. A injustiça que ninguém reclamou. A solidariedade que ninguém anunciou. Fica isso. Que é uma rejeição fascista aos sentimentos mesquinhos e fisiológicos: a raiva, o ódio e o velho instinto de sobrevivência. E nem comento sobre as ações do ventre...
  • Esse adeus delícia, essa falsidade agradável, esse tesão inesgotável que confunde 'eu trepo contigo' com 'eu sou livre'. Todo amor, toda subjetividade e todo rizoma: essa capacidade de participar de tudo e de não pertencer à nada ou ninguém. 

27 de janeiro de 2013

O otimismo que cresce com planos e algum álcool.
Há muito a fazer e só o 'eu' faz, aprendi com el bigodon.
E tem uma tragédia para a comoção nacional e prevejo que culparão todos menos o poder público. E também que a solidariedade mostrará sua face perversa e vaidosa.
Então me apego. Eu mesmo, muito prazer.
Tento imaginar o que fazer no aniversário da minha irmã. Uma carta, um telefonema. O que pode ser dito? E dizer o quê? A carta, pelo menos, têm um lado de opinião que pode florescer. Reparem o óbvio: estou pensando em mim mesmo. O nome da vaidade é: fidelidade à si próprio e suas opiniões.
Esquece. Agora esquece.
Volte.
Os planos e o otimismo:
trata-se de boas ideias que merecem ser postas em práticas. Coisa minha que não depende só de mim e que seria estúpido fazer sozinho. Planos grandiosos que envolvam alguns. Que respondam à todos e que seja diferente. Porque 'diferente', nesse caso, é sair do cérebro - esse órgão fascinante que os pró-índios e pró-aquieagora tentam sabotar. (Como se do corpo não fosse o cérebro o pedaço mais legal de todos)
Então meu cigarro, minha cerveja e meu macarrão de domingo. Enquanto cozinho, ouço a cbn. Informações que nem sempre ajudam a pensar, mas distraem. A tragédia, o pré-carnaval, um ou outro blogue que resiste.
Os planos, os planos.


22 de janeiro de 2013

As crianças choram também por prazer e é isso que sempre esquecemos. Estou falando da gente. Que é bicho e estranho e que, vez ou outra, lembra que um dia vai morrer. É o tesão que minha ex-namorada tinha por insegurança, é minha solidão que disfarça o medo, é a mulher casada que vê meu blogue secretamente. Porque nossa matemática é estranha e não respeita as regras. (Aí é onde a psicologia falha tantas vezes: prever causa e efeito - a mais encantadora e limitada das sabedorias.)
Por isso o encanto com as ações inexplicáveis: o homem-bomba-que-é-bom, os-americanos-armados-em-dias-de-fúria, o-japa-que-comprou-um-quadro-famoso-pra-ser-cremado-com-ele, a-atleta-torta-que-teimou-em-cruzar-a-linha-da-maratona. Etc.
A dúvida apertando os calos. E doendo nos calos. Porque os calos doem. E, repare, a dúvida não é virtude, é condição de ser pensante. (Por isso implico com os exaltadores da dúvida, que julgam mérito serem torturados por suas dúvidas. Como se isso fosse mais do que é: pensar apenas um pouquinho além de viver simplesmente)
É isso que me faz lembrar: desconfiar é quase o mínimo. Porque o Nelsão disse e porque só pode estar muito errado um pensamento que seja aceito por todos. É o risco. Como o povo ser a voz de Deus. O povo não é justo, mas faz justiça; Deus, se existe, tem que pensar além - como um que julga as ações por suas consequências e não por suas intenções. A deturpação que el bigodon me ensinou.
Fica assim: meu blogue, meu problema e meu prazer. Escrever aqui é uma maneira de falar sozinho. Falar sozinho é uma maneira de organizar a vida. Organizar a vida é uma maneira de viver sem ser apenas reação.
E por aí vai.  

20 de janeiro de 2013

Tem um erro que esquecem: há muita coisa chata quando o assunto é arte.
Assim, de certa maneira e com certo sentido, é imbecil classificar arte por chato ou legal. Mas, vá lá, diante de tanta chatice, o que fazer?
Não defendo que a Ivete Sangalo seja uma grande artista porque levanta a galera, nem tão pouco acho o Warhol fodão por ser àquele estranho dado à devaneios e profundidades questionáveis.
É mais reto, mais pessoal, mais viadinho - na medida em que 'pessoalidade' é um argumento covarde  e não uma opção sexual. Assim: muito artista satisfazendo artistas, muito povo e consciência social criando obras que respaldam os novos paradigmas sem serem grandes obras.
Então me fodo. Fodo-me sozinho. Porque nem isso nem aquilo. E, veja, algo há. Sou um tipinho artístico que vê várias coisas.
Teatro: gosto menos quando o que está em jogo é a capacidade intelectual de cada espectador. O mérito da sacada do iniciado. Prefiro o Z. Celso e suas massas de pelados , o Antunes e seu desejo de coros perfeitos, o Bortolotto falando com sua gang. Quero dizer: esse teatro que agrada aos fazedores de teatro é altamente suspeito. Uma coisa elitista que sorri e não gargalha. Prefiro os palhaços cabotinos dos circos pobretões.
Música: reflete o facebook e a moda alternativa compartilhada por todos. O amor na moda, as canções na moda, a simplicidade na moda. Prefiro o Iggy Pop, sempre excessivo, o C. Buarque quando não faz discos e a Ivete Sangalo quando não se leva à sério como cantora. Quero dizer: o bom mocismo e o amor não resultam em boas canções.
(...)
Ia falar de cinema e literatura, mas desisti. Uma hora eu volto. E explico melhor. Com sorte, explico melhor.
Assim: muita peça pra pouco teatro, muito teatro pra pouco público e muito público pra muita afetação.
(...)
Deixa pra lá.
(...)
Os dentinhos dos bebês coçam quando encontram a gengiva.

18 de janeiro de 2013

Um dia depois do outro até que a morte nos separe.
A carne e a alma (seja lá o que isso for) em um último adeus. A ternura mais bonita, a ternura mais dolorida: o último movimento da consciência dando sinal de adeus - o tchau derradeiro.
E o mundo ainda estará por aí e girará em seu eixo com a mesma velocidade de sempre. Um ou outro amigo a lamentar. Quem sabe um filho ou filha como contribuição concreta. Com sorte, um livro, uma peça; um treco pra chamar de obra.



17 de janeiro de 2013

soltar as pernas e perder alguns quilos. os planos e os medos dos planos. as crianças apáticas e uma triste sensação de que não se pode fazer muito. ao mesmo tempo ouvir as dicas: imposição da vontade, vislumbre de poder - tesão de bicho que caça e se alimenta do animal caçado. ouvir música alta e ter algum método. usar o tempo sem essa bobagem do aqui-agora. fumar menos, fuder mais e conhecer mais gente: porres inesquecíveis e grandes papos.

9 de janeiro de 2013

antes que vire rascunho

A tequila é cremosa depois do freezer.
Há ainda uma lata de boêmia na geladeira e estou na casa de papai e mamãe.
O cachorro late porque pode e, mais distante, outro latido surge como resposta.
É uma casa e não um apartamento. Pés medonhos sempre se arrastam pela rua. Bêbados, vampiros, ar gelado e Curitiba - cidade natal.
(Poderia culpar Curitiba por todos os meus males. Mas sou bom curitibano e discreto. Apenas sorrio. Mesmo quando surge medo, sorrio.)
É 2013 e deveria acreditar em promessas de ano novo. Mas quem, sendo decente e tendo alma, é otimista na época otimista? Eu não. Por incapacidade e, claro está, culpa de Curitiba.
Tem uma lógica que gosto: fuja das filas. O inferno não são os outros, é a maioria. A maioria sempre estará errada. Os publicitários sabem disso e, por isso, ganham dinheiro. Apostam no erro e enriquecem. Exploraram o gosto médio, amam o gosto médio, ficam rico exaltando o gosto médio.
Ah, esses cachorros que nem imaginam que são escutados...
Teve muita coisa, mas nada falei ou escrevi. Tenho lido pouco e, ainda pior, tento entender a economia da cultura.
(Em última estância, queremos apenas ser ricos. A vaidade, em meu caso, é tão grande que deliro em ser rico sendo artista. Um desperdício. Eu, um desperdício. Tanto estudo pra tão pouco dinheiro.)
Lembro, depois de um latido agudo e medonho, que não respondi ninguém do meu afeto. Meu afeto tem só uma matemática: gente que gosto à toa. Sem razão. Nem sangue, nem sexo, nem promessas. Gente que gosta de mim e que por mim são gostadas. Como se tudo fosse tão simples...
Penso em drogas. Assim: eu deveria usar mais drogas já que estou apático. Existem várias drogas. E drogas, em si, não são nocivas. É o velho papo da diferença entre remédio e veneno... Pena que não conheço nenhum médico inteligente, desses que sabem indicar as boas drogas...meu primo da farmácia não tem a ritalina e, vá lá, nem sou tão descolado assim. Quem sabe um psiquiatra da pesada? Quem sabe o plano cobra? Boletas pra sacudir, pilulas pra não se tornar chato, essas coisas...
É 2013 e há apenas um post aqui. O Facebook é culpado assim como Curitiba. Tenho humor e quase não gasto dinheiro quando há comida e álcool em casa. Um mistério. Mentira.
Eu sorrio, lembra? Sou discreto, sabe? E, por motivo que jamais saberei, todos os cachorros pararam de latir. Vai entender...

 

4 de dezembro de 2012


  • A mania de amor e aquele tesão à flor da pele. Era um farsa como sempre é. E era real. Não havia mentira ou traição. Apenas erro, apenas equívoco. A loucura fazendo ciranda, ideias vagas sobre a virtude da sinceridade e um prazer auto destrutivo em ser incompreendida. 
  • Raras mulheres que realmente fazem da vulgaridade uma coisa. Porque a vulgaridade real e plena dá esse tesão imenso e mortal. O abismo da fêmea vulgar a fazer promessas. Eu conheço apenas uma assim: realmente vulgar, lindamente vulgar. A maioria apenas estilo, apenas consciência de que a vulgaridade é atraente pacas.
  • Preferiria que a partícula de Deus fosse chamada de "a partícula da alma de Deus". Porque alma é uma palavra incrível, uma dessas coisas que faz você pensar em "experiência linguística . A alma, feita verbo, criou o homem que pensa em Deus e em morte e que, por isso, vislumbra sua intervenção no mundo. E, caso a tal partícula fosse assim renomeada, não tenho dúvidas, seria bem, mas bem mais, compreendida. 
  • Ainda desenvolvo uma teoria na qual provarei que o Facebook limitou a internet ao juntar tudo em um único lugar. Navegar não mais. E, a cada dia, há mais páginas que levam para página dentro de um mesmo e único lugar: o facebook. É a cobra que morde o rabo no sentido mais perverso da imagem. A autossuficiência que elimina os outros, sejam quem forem: sites, negros, judeus ou twitter's. O Facebook, nesse sentido, é uma grande ameaça. 
  • Pensar em tanta coisa e lembrar de tanta gente. E onde fui parar? A solidão como condição e a descrença em 99% dos bem acompanhados. Porque a muleta conforta o corpo, mas não melhora a perna. (E hoje houve uma muleta esquecida na porta do teatro - algo que me causou frenesi e que merecia um curta metragem, um micro conto, uma história curta e esperta.) Assim: 99% das muletas são facilmente esquecidas se coragem - ou distração - houver.
  • Devo ouvir os conselhos de mamãe e sair de casa. Quanto mais deliberado mais eficiente. Ou alguém, sendo inteligente, ainda acha a espontaneidade e a natureza o grande conselho? (Não falo de intuição pelo mesmo motivo que não questiono a afirmação de um bêbado. O álcool faz falar mais do que se deve, mas jamais faz falar o que nunca foi pensado.)
  • um adeus um até logo e um nunca mais: as cartinhas, como os blogues, ficaram pra trás.    

27 de novembro de 2012

-

vem tu. esse amorzinho na varanda e aquela ejaculação precoce que causou risos. e ele melhorou o mundo, ela disse. essa habilidade de usar a língua, de usar os dedos, de lembrar que há o ânus e todas as ramificações nervosas. e então elas, os dedinhos duros, a habilidade de se masturbar enquanto fode em todas posições. mania de gozar, mania de repetir que goza assim, fácil, fácil. que leu todas as revistas. que sacou os truques. que não não, eu não cozinho, não faço bifes. minha geladeira vazia é minha liberdade, minha autonomia de mulher do século 21, ela diz e ri. e bem linda ela rindo, devo dizer. dentões enormes, uma sobrancelha fina demais e a boca laranja de batom. então as falas, as cervejas. o beijo, o beijinho, o riso frouxo movido à álcool e baseados e lembra de como ria quando tava lendo o r. moraes falando de peidos, de fanchas, de arrotos e balas perdidas. ela ria. os dentões em polvorosa e eu cheio de tesão. tesão tesão. a velha mania de misturar o tesão e o amor e quem não entende? sexo faz amor, a gente sabe. muito sexo com a mesma pessoa e algum amor. assim: o corpo interferindo nos sentimentos. àquela perversão. cadê a liberdade, cadê? e insiste: o amor é livre. mas não é, ela não sabe. o amor é prisão: o que fazer, quando e onde comer, tudo passando pelo crivo alheio. pode valer a pena: os filhinhos, a tranquilidade de domingo, a televisão de mãozinha dadas. o risco que o amor exija que você tolere: o z. camargo é um grande comunicador, a 'avenida brasil' foi uma novela inovadora, o importante é a felicidade, né benzinho? a televisão distraindo, a solidão confortável da internet, o sexo pago e a generosidade das putas, tão lindas e tão baratas e tão esperançosas quando perdem a hora e dizem que querem casar e morar na Itália, esse país tão fascinante.  e tão próximo, né? elas são sonhadoras e amam também, mesmo que incompreendidas, mesmo que loucas, mesmo que com uma história velha e conhecida: a cidade do interior, o marido agredia, o filho que merece tudo que o dinheiro compra. dez anos nessa vida passa tão devagar, elas confessam. e o impulso é só um: põe no meu nome, faz um bife pra mim, esquece que o mundo é real, dinheiro dá-se um jeito.
As saudades, a ideia de que algo foi perdido. Que houve um tempo, que o tempo passou. O sorriso da cavala, a mulher linda e enorme que te amava. O tempo. O adeus, o adeus. A saudade do melhor boquete do oeste. Toda ternura. Que nem havia oeste naqueles tempos saudosos.

16 de novembro de 2012

=-=

Eles se fortalecem ao lamberem um o cu do outro. Um tipo de roda. Um comportamento gregário e, portanto, de auto-preservação. É o rebanho unido e mais forte porque unido. Não há mal e muito provavelmente não há também nenhuma reflexão; auto-reflexão, quero dizer. Lamber cus para ter o cu lambido poderia ser uma estratégia da mente sagaz, do comportamento frio de um bom líder. Mas não creio ser o caso.
Há intensidade e passionalidade. E crença, muita crença. Não há visão, há cegueira. Cegueira livre, cegueira plena, ignorância que crê em gênios, em talento nato, que é indiferente à sorte e cogita que tudo é fruto do trabalho, do suor.
Eles são felizes e bem-sucedidos. O mundo gosta deles e, por isso, eles gostam de si mesmos. Não há pecado e mesmo a malícia é natural. Porque são todos naturais. Como as ovelhas, como árvores na floresta.

15 de novembro de 2012

Amorzinho generoso,
cheio de adeus.
Quando eu disse 'eu te amo',
ela disse 'até mais'.
E por isso,
apenas por isso,
vivemos felizes pra sempre.

12 de novembro de 2012

Ele é um tipo bicha-diretor de teatro. Magro, óculos de aros grossos e razoavelmente bonito.
Quando digo bicha-diretor de teatro nada tem a ver com ser gay, hétero, pan ou que diabos. Estou falando de estilo, de personalidade, de tipo. Etc.
Ele é talentoso, pelo que disseram. Faz peças que saem da média e que  - e isso é um mérito bem concreto - fazem mais de uma temporada.
Ele me incomoda. Os motivos são vários, mas não são reais. Quero dizer: me incomoda pelo que posta em seu face, em seu blog, ou então pelo que ouço falar dele. (sempre lembro, nessas horas, da anedota que diz que o Meyerhold disse sobre o O. Wilde: "eu gosto da obra dele; não gosto dos que gostam da obra dele".)
O fato é que ele está lá. Meu facebook, minha linha do tempo - puta nome 'linha do tempo', né?, eu acho.
E vejo suas perguntas retóricas, seus posts-sacadas e até suas inusitadas fotos de perfil. Irritar-se é uma forma de prazer ou apenas uma resposta ao tédio?
Também tenho perguntas retóricas e post-sacadas, ainda que me contenha nas fotos. Quero dizer: que diabos, é isso mesmo? Posar-bem-posado cola mesmo?
Ok, ok, estou sendo moralista. Essa coisa de desconfiar da verdade das coisas é sempre moral, eu aprendi. Mas porra... mas poxa... nenhum deboche sobre si mesmo? Nenhuma auto-ironia?
Posso usar um único e implacável argumento: falta humor. Que essa coisa de divulgar as profundidades da subjetividade profunda é cafona, muito cafona. Taí o C. Veloso - quase o dono da palavra 'cafona' - que não me deixa mentir. Cafona pacas. E nem comento sua coluna no Globo porque, vá lá, não é o caso.
Fico com a bicha-colega e reflito, subjetivo, né?, que o blogue é a terapia pós-moderna. Deus, se vivesse no céu, riria entre as nuvens. Deus, se existisse, só seria aceitável com humor, bastante humor.

9 de novembro de 2012

Tenho um bourbon de 70 pratas contabilizado como presente da avó.

há muita confusão. E isso é normal. E tudo é normal. E há muita coisa errada. 
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Sempre, ou quase sempre, as dores e as glórias vêm do mesmo lugar: vaidade disfarçada. Há muita vaidade em estar no topo do morro ou no fundo do poço. E a confusão, sempre esperta, tá no meio do caminho. Vaidade, a bruxinha que el bigodon me deu e com quem, em noites inúteis quando planejo maravilhas, faço amor.
-
Ela poderia ter uma buceta mais ostensiva. Buceta dessas que cismam(?) comigo e ameaçam: vou te comer. Sinto falta delas porque elas já existiram. Rendiam histórias e causos pra contar. Como uma que chorava e achava um absurdo eu não amá-lá. Ela tinha razão e sua buceta estava ali, sempre ali. E foi bom porque bom é e é bom. E, vá lá, amor, hoje em dia, nasce com a repetição do sexo. As cartas dos antigos amantes eram mais simples. A gente gosta da nostalgia. 
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A cor bonita do bourbon. Os pequenos estalos que o gelo faz. O gelo geme e o líquido é tragado: deixado no céu da boca antes de ser sorvido. Sempre lembro que canos de cobre transportam o álcool quase puro (98%) para o tanque de carvão. Acho que é isso. Gota à gota e tanques gigantes. A mesma formula e água de uma fonte única. O barril queimado, bem queimado - e o segredo parece estar no barril e no jeito que é queimado.  E há quem acredite que a felicidade surja em 'horinhas de descuido'.
Meu puta porra / Meu trocadilho engatilhado / E ela demora no banheiro / Suponho que esteja cagando.
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Uma Dalila pela frente. Ela tem 15 páginas, se não me engano. Penso nela, mas me recuso. Estou aqui. Quero fazer. Sou o animalzinho bíblico que se orgulha do próprio suor. Fiz 8 flexões de braços hoje. Pensei que aumentar as costas é mais fácil que perder a pança. Peguei um alteres de 2 kg que tenho e criei um tipo de exercício. Olhei-me pelado no espelho e lembrei das mulheres que me amaram. Que disseram que me amavam, que acreditavam que me amavam. Tanto faz. Meu exercício é meio dança e meio gay. Não sei. 8 flexões e meus ombros de fisioterapia: mundo louco.
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A maldição das fotos. A maldição do facebook: ver o que não se quer. E perco muito tempo. E perdemos todos. Tão precioso não ter a vida como um livro aberto. Se fosse o da Costa ou L ou M, diria: falta campo de ação para as subjetividades. 
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É uma agonia fina. E íntima, terrivelmente intima. Não é tudo que pode ser compartilhado. Sente-se em solitude (aprendi com fran-fran essa palavra) a agonia fina. E é bonita essa agonia. E até há desejo de dividi-lá. Mas não dá. É impossível. Intima, terrivelmente íntima.   
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Tarefas de amanhã: pequenas conchinhas. E metas para um futuro brilhante. Não se trata, todavia, de manter a chama da esperança acesa. Isso é coisa de quem acredita em felicidade. Eu não. É mais simples: coisas pra fazer. Correio e papelaria, por exemplo. Uma ou duas laudas, outro exemplo. Lembrei do comercial que dizia 'matar um mamute por dia'. Era um comercial eficiente e perverso como são os bons comerciais. Não é necessário matar mamutes, mas, sem cuidado, eles te convencerão que não há carne fresca no supermercado e que o sucesso (seja lá o que isso for) depende apenas de você... Coisa de criança isso de achar que fazer sua parte é suficiente... Como se sorte e grandes jogadas não existissem.


7 de novembro de 2012


  • os pontinhos são guias e Deus abençoa à todos porque é Deus. Deus não existe, mas só faria sentido se fosse só perdão. Sou romântico, sempre fui. Cago-me de medo de me apaixonar.
  • tem os livros. Eles salvam e nem são o bezerro de Deus. Hemingway dá letras. Do tipo: ame-as, envolva-se, mas não as deixem estragar sua vida. 
  • Faz todo sentido o Buk atacar o velho Hemingway. É decente, é ancestral. Se fosse profundo falaria de Édipo e tudo isso. As frases curtas, a narrativa objetiva e despretensiosa é provocação para qualquer um que pense em escrever contos.
  • o único tesão real é pela garota da padaria. Vulgar, cabelo colorido e uma sensualidade que confunde até os mais machos do boteco. O gaúcho, por exemplo, jura que ela gosta é de buceta. Acho que ele tá errado. Ele também acha estar errado, mas desconversa. Tesão: ela tem uma tatuagem mal feita no pulso com seu apelido de infância.
  • Amizade é tipo amor. No sentido de lealdade. Essas coisas antigas que me comovem e fazem sentido pela teimosia. Toda lealdade profunda é fruto da teimosia. Por isso a aceitação de chatices variadas e coisas do tipo. Lealdade, minha bandeira anti-natural que não defende os mais fracos.
  • Pensar nos sonhos, pra alguém como eu, é idiota. Na medida em que sonhos é tudo que tenho. Mas pensar em sonhos, pra gente como maninha ou jotinha ou kázinha, é uma absurdo. "Como, assim, sou eu que faço certas coisas, seu bobo? Eu não controlo o mundo, sabia? Pra sua informação: a vida é dura."
  • o ódio não é virtude. E, pelo mesmo motivo, o amor também não é. Pense e diga o que quiser, mas, vá lá, não acredite que seu amor, por si só, possa salvar o mundo. Ou os índios; ou os pobres, ou, sei lá, transmitir consciência pelo facebook.   
  • a solidão não é boa, mas é decente porque não permite que você culpe os outros. Culpa só vale quando extremamente pessoal. Culpa compartilhada é culpa rota.
  • tesão, meu amor, tesão. Mas ela não ajuda, ela não entende. É impossível um casal, ou uma dupla, com dois cheios de preguiça ao mesmo tempo. Tentei avisar, mas ela não entendeu: '- diga 'eu te amo' e me persiga por uma semana. Serei teu pra sempre.' Ela apenas me pediu: '-me liga aí.'
  • Porque a internet é má e dá acesso, fiquei horas vendo fotos da minha ex-vizinha. Brinquei de tempo, de destino. Ela era linda em 78% das fotos. Delirei tanto que concluí que ela era insegura e não se achava linda. Porque existem pessoas que pensam que jamais viverão um amor. Pensei que a ex vizinha podia sofrer desse mal e arranhei sua porta vazia: eu te amarei, eu te amarei. 

2 de novembro de 2012

Voltando à vida real - seja lá o que isso for. (Mas, esclareço, a 'vida real', jamais é ou será o que a maioria das pessoas chamam de 'vida real')
Releio, numas de terminar, meu primeiro Zé Rubem, que foi como aprendi a chamar depois de velho e gostei (Diana Caçadora me ensinou). Livro afetivo, tipo primeiros livros e que me fez achar que ler é bem legal. Eu tinha 15 anos e o 'simples' fato de ler perversidades variadas abria o mundo e o tornava maior e mais divertido. Li mais.  E, em momentos românticos, acho que ainda leio por isso, 'apenas' por isso. Esse tesão que é pensar algo que jamais se pensaria se aquilo não tivesse sido lido.
A releitura é um risco e sempre será. Mas não importa. Leio, acho bom de modo geral e tenho ataques de nostalgia ao lembrar daquele que era eu e lia. Deus, os palavrões tinham uma força que hoje desconheço.
Mas é tudo pra começar de novo, pra se preparar, pra sentir o cheiro da merda. Sou sistemático e me antecipo: faço planos, prevejo dores e administro agonias. Vá lá, maninha, querendo ou não somos agentes das próprias merdas, entende? Não, maninha não entende. Maninha é triste. Maninha é burra. Maninha achar que tristeza e burrice é culpa do mundo e não dela.
Ah, maninha, a culpa é tão decente de sentir e carregar. Triste mesmo são os falsos que acham, e insistem, que a culpa é uma simples invenção judaico-cristã.
Então minha música alta, meu porre ensimesmado e a certeza de que jamais devo ser natural. Porque me isolo, porque me escondo, porque aprendi, lendo e como não?, que a natureza tem pouco de espontâneo e muito de conforto. E, vale reparar, há pessoas que sentem muito conforto vivendo dentro de uma caixa de sapatos. "O corpo se acostuma, sabia?"
Amanhã a retomada: café, leituras e alguma sistematização. Amanhã a vida real: nada de natural, nada de deixa rolar. Amanhã: aquilo tudo que hoje preparei.



25 de outubro de 2012

Minha solidão com meta é tudo que há. Estou falando de mim, como não? De mim, minhas mentiras e também do que não é o caso de alugar os amigos.
Minha solidão com meta é um edital-mira, umas apresentações ainda esse ano - à revelia de condições ideais - e ler meus livros ali, logo ali, sob o abajur de luz fria que tenho.
A vida prática, o dinheiro, o sexo e as moças generosas me afligem pouco. Talvez menos do que deveriam. Tem um amigo que quer que eu coma alguém a qualquer custo. Ele fala de saúde e coisas do tipo. Desconfio porque sou desconfiado, mas sou leal e penso 'é um bom amigo'.
Em última instância é sempre vaidade. Eu li e aprendi e dei razão. Nisso incluo os livros sob o abajur, a auto suficiência, as desconfianças e o bom amigo.
Muita confusão. Deve ser culpa da internet, do facebook. Do botão compartilhar - nome semi-bíblico, né? Então consumo os índios fudidos, os idiotas pró-índios-via-de-regra e lembro que essa coisa de tradição é um perigo: para os índios, para os idiotas e, como não?, para mim mesmo. Repetir-se é conforto. Sempre e sempre. As razões disso variam e não importam tanto. Quero dizer: ainda me impressiono com a exceções.

23 de outubro de 2012

preparar a alma e inventar os pequenos milagres. lembrar que é um dia depois do outro e fazer de conta que isso é uma novidade. passear pelo belo rio de janeiro e, quem sabe, ir ao cinema na sessão das 17:oo. Há muita paz em um cinema na sessão das 17:oo. pegar dinheiro, fazer telefonemas e cumprir as pequenas tarefas. se a dor vir, inventar um método para torná-la útil. lembrar que apenas ação existe, que só depois de sua consequência podemos ver se foi boa ou ruim. que intenção é inversão, uma vez que ela é anterior e indiferente as causas que a ação cria. ler àquele que abre a cabeça e ter elegância de se rejubilar sem nada dizer diante de algum imbecil que faça ode ao tempo presente. como se o tempo presente existisse, como se o tempo presente fizesse sentido fora de circunstâncias muito raras, como o orgasmo, o ator em cena ou outras horas onde a técnica tempo presente pode ser útil, mesmo que jamais seja real. quem sabe, se estiver bastante inspirado, cutucar alguém no facebok.
  

14 de outubro de 2012

O importante de ler é porque a gente se torna menos mesquinho e tacanho. E, ao mesmo tempo, a gente se torna mais esperto e cascudo; não cai na falsa profundidade que engana os imbecis. Lendo eu me torno melhor do que a média. É arrogante, eu sei. E é assim. Na mesma medida em que é real. Não vale a sabedoria instintiva. Quer dizer, vale. Mas é instintiva e, por isso, não há mérito real. A inteligência é construção. Por isso me sinto só e por isso não creio no sucesso aceito por uma maioria. Veja, estou sendo elegante. Quem acredita em inspiração e/ou liberdade jamais concordará com isso. De toda forma, me sinto bem e com raiva: ainda não me conformo quando o lugar comum mastigado é aceito como 'texto bonito'.

28 de setembro de 2012

o maldito tesão que passeia. e tá tudo certo e tá tudo. e, sendo franco, depois do dia 01, já sei que nada será como antes.
estou falando de otimismos insuportáveis e de enganos generosos.
seria Deus, se Deus fosse o caso.
Não é:
  1. lá fora tem a guria da padaria. É vulgar e decente. Assim: -  essa sua tatuagem me faz pensar em tantas coisas.
  2. seu Amor mais real não te ama como seria o certo. Penso que 'o certo' seria do caralho. Então os projetos e a eternidade como meta secreta. Naquelas: esquece ele e pensa em nós.
  3. tenho vislumbrado daqui: sua vida besta, seu marido de boné e a academia para cuidar do corpo. Não tenho metade do conforto que ele tem pra te oferecer, mas SEI diabolicamente: comigo, sua vida, meu anjo, seria bem mais vital.
  4. pense nos filhos que não nasceram. Pense bem. Tente ver se há, se realmente há, tanta graça em ter filhos. O risco é sempre grande: os cretinos muitas vezes tiveram pais amorosos.
  5. meu esforço é não falar de mim. Quero dizer: alguma elegância para ser discreto. De todo modo, posso apenas lamentar: minha vizinha é tão discreta quanto eu.
  6. rasgar o blá-blá-blá. Como se não fosse ou como se fosse 'natural'. Natural, essa palavra que o hortifruti de botafogo usa pra falar de alfaces hiperinflacionados e orgânicos.
Adeus coração. Àquela mensagem pra ti e o segredo de rir. Pelo boné, pelos amores calmos, pelo dia após o outro e a ilusão de que "fantástico" aos domingos é um puta programão.
Sou mais a pizza, sou mais o hotdog.
Fim de semana, meu amor, não é dia para comer feijoada no restaurante.

26 de setembro de 2012

20 de setembro de 2012

Estou falando de gente morta.
De casais que se definham mutuamente e que acham o processo natural de desenvolvimento do cactus algo encatador.
Estou falando de mortos que gostam da boa companhia de outro morto.
Alguma coisa que ficou pra trás. Algo que se perdeu no caminho ou então, e isso é muito pior, que nunca existiu.
(Porque há essas pessoas que não pensam, que são extremamente burras. Que são levadas ao sabor da maré e que nunca lembram que sim sim, existe opção e não não, optar não é garantia de nada. Gente burra, tão burra, que nem cogita que optar não é ser racional, mas apenas não ser bicho-idiota que come apenas e somente em maré cheia. Como minha irmã - que é esse animal no lugar de gente: que reclama por ser bicho e não ser gente)
Então é disso:
gente morta, gente triste. Gente que se preocupa se está ou não feliz.
Perde-se tempo, erra-se o inimigo e usa-se a boca cheia pra falar d'a injustiça do mundo'.
O mundo é injusto e todas as pessoas decentes sabem disso. A coisa é pior;
é: - quer mesmo que eu acredite que você é tão idiota apenas porque o mundo injusto?
Gente morta do caralho. Que só ve o inferno. Que só vê a escuridão. E que, como não?, exige ser comprendido. - você não vê o inferno e a escuridão por incompetência, tá ligado?
A velha vaidade dos mortos: - eu sofri muito mais que você, sabia?
O sofrimento como virtude...a merda mais velha.
Vampiros que desfilam sem charme, zumbis que passeiam encantados com a descoberta da mariposa albina, lobisomens que 'entram em questão' com a própria sexualidade.
o pior.
os mais afetados.
os menos tristes e os mais sinceros:
a escória,
a ciranda.
E eles e elas e todos estão aí e estão sempre entrando em sua vida. Como sangue-sugas que são. Como idiotas que são. Como bichos de maré que são.
A casa mais linda,
a irmã mais burra
e uma única certeza que ulula:
tudo, menos isso.

11 de setembro de 2012

para ex namorada


Fernandinho varre a casa e passa pano.
Surpreendentemente, Fernandinho não sofre muito com isso.
Fernandinho, acho, está virando hominho.

10 de setembro de 2012

  • Minha vizinha se tornou linda em segundos. Quero dizer: tornou-se. Porque assim foi. De repente, em questões de segundos, ela era linda. Verdadeiramente linda. Disse pra ela: L-I-N-D-A. Mas acho que ela não entendeu. Supôs que era frase de efeito. Pior, disse: é só porque vou me mudar, né? Não era. Mas, vá lá!, ter uma vizinha que se torna mais linda porque vai se mudar é uma história bem melhor do que perceber que a vizinha é linda depois de a ver em um Karaokê Gay. Eu entendi. Meio triste, mas entendi.
  • É você. E você é si mesmo. Quero dizer: não importa ninguém. Porque motivos para 'não' não importam. O egoismo é a velha lição.
  • Egoismo bom é meio assim, disse el bigodon: se te dá conforto é bom, se não, cai fora. A não ser que queira ser mártir. E ser mártir, se bem lembro e entendi, é a vaidade mais escrota de todas.
  • Deixei um bilhetinho embaixo da porta. Bilhetinho-sincero-tipo-bêbado: Vizinha, você é linda.
  • Penso em Deus. É inevitável. Mulher me faz pensar em Deus. E isso não no sentido positivo da coisa. Porque Deus, a gente sabe, faz mais sentido quando é mal. Aquela justiça primitiva de olho por olho, dente por dente: mulher.
  • Minha vizinha vai só melhorar, eu sei. Mas sou discreto e tenho auto-controle. Ouço sua porta e reprimo meus impulsos mais primitivos. Agradeço ao Deus mal que ela vai se mudar. Porque Deus sabe das coisas, eu aprendi. Mas, de qualquer maneira, sempre espio sua janela quando penduro meus lençóis.  

8 de setembro de 2012

a ideia é que há algo a entender, mas não há algo a entender.
você pensa em deus, pensa nos amigos mortos, tenta lembrar de um ente querido.
inventa, como não?, uma possível mensagem subliminar.
- e então? qual vai ser?
você disfarça, faz uma piada boa, solta uma frase de efeito e lembra que o nelson rodrigues sempre foi genial.
- mas afinal quando é que você vai terminar o serviço?
não há nenhuma chance de interpretação, nenhuma metáfora. piadas e frases sem o gênio do nelsão.
- minha casa é pra lá e a sua pra cá. qual vai ser?
você lembra das danças, dos poucos boquetes perfeitos que existiram.
você lamenta profundamente não acreditar em deus.

2 de setembro de 2012

Fazendo gestos com as mãos e fazendo de conta que é expressivo. A confusão mais antiga de todas. A confusão bíblica. O suor como virtude para o pão, o macho e fêmea os criou como coqueluche cúmplice de merdas variadas.
A maioria absluta e terrível. Os casais de merda - minha mais sincera tristeza.
Quero dizer: por não querer comer merda sozinho, arranja-se alguém para comer junto.
A triteza mais triste: gente incapaz de comer merda sozinho. Ou pior: gente que esquece que come merda porque não come só.
Mas não há nada a ser provado.
É mais a pulga que coça e lembra que o óbvio é discreto a olho nu.
...

25 de agosto de 2012

O que sempre falta, então a gente faz. Teimosia, meu amor. Tesão de teimosia, conhece? Lembra?
Essa coisa de ir, de fazer, de mexer o corpo pra se enganar e dizer pra si próprio: estou vivo. Participar da mentira e se divertir com isso. Dar oi para desconhecidos, comprimentar, dizer prazer e dizer o próprio nome. Tomar carona e falar ao celular. Dizer até logo. 

20 de agosto de 2012

aquele amorzinho antigo que coça.
tipo frieira; dor e coceira - prazer misturado.
tem a ver com muito tesão e pouco sexo,
com rancor enrustido e ultrapassado,
com prazer de dizer adeus.
aquele tesãozinho chinês,
a oriental que sempre geme de um jeito estranho.
o amorzinho
e o tesãozinho
andando sempre
lado a lado.

27 de julho de 2012

Faz tempo que não venho aqui.
Os sentidos se perdem. Às vezes para sempre. Às vezes não.
Não sei qual é o caso, mas não importa.
Tava nos meus arquivos catando coisas e caçando sentidos. Daí vi isso, que é bem antigo e sem data. Lembro que comecei em 2.000 ou 99. O alimentei por um tempo e depois parei. Quando tentei retornar, acho que 2006, não consegui.
Na época pensei que era um pedaço da adolescência impossível de ser retomado ou mexido.
A última vez que alterei o arquivo foi em 2009, mas não sei se foi quando escrevi isso.
De toda forma, segue:
=
=
herói e fernando:
 

Fernando: herói me diz uma coisa.

herói: fala.

Fernando: você tem medo da morte.

herói: ...não, acho que não...

Fernando: Faz tempo que eu não venho aqui...

herói: eu sei...

Fernando: você deve Ter mudado muito, deve estar diferente...

herói: não sei...

Fernando: Você me irrita, herói..

herói: Por que?

Fernando: Porque você está aqui há muito tempo. Não caga nem sai da moita(herói o olha) É uma expressão herói(ele o olha) Uma maneira de falar...

Herói: E você? Você faz diferente? Caga e sai da moita?(fernando fica em silêncio) A única coisa que eu posso dizer de mim é que eu faço muita coisa, mesmo que eu não cague e nem saia da moita...

Fernando: Eu odeio isso em você herói...essa mania de repetir as coisas...parece que é uma maneira de você ganhar tempo...Ter volume...

Herói: (revoltado) Volume de quê? Volume...

Fernando: Como de quê? De páginas, meu bem, de páginas.

Herói: Mas isso é coisa sua. Não me diz respeito. Eu apenas sigo suas manias...

Fernando: Então é culpa minha?

Herói: Claro! Claro que sim. Você fala e não chega a nada. Parece até que você foge, sei lá....será que você foge?

Fernando: Como assim? Fugir de que?

Herói: E eu sei lá? Mas as vezes eu penso sozinho, sem ninguém dizer nada, e eu penso que você me usa...assim como sempre as pessoas fazem se fazer de conta que a vida tem algum valor, algum sentido, sei lá.

Fernando: Porra, herói, se você disser isso fudeu de vez.

Herói: Eu to cansado, cara. Eu me repito e você não me ouve. 

Fernando: Mas não é assim, Herói. A gente tenta chegar em algum lugar. Todo mundo tenta. É normal que essas coisas demorem, é normal que essas coisas se confundam...

Herói: Ta, ta. Pode ser, mas vamos combinar que isso cansa, oras. É demais, é tempo demais.

Fernando: Ta, ta. Mas o que você que que eu faça?

Herói: Quero que você decida e pare de me usar. Pare de fazer de conta que ta tudo bem e que as coisas têm que ser assim. Não têm que ser assim. Isso só depende mesmo é de você. Decida aí, cara.

Fernando: Herói, mas você nem fala cara. Por que ta falando ‘cara’?

Herói: você é mesmo muito cínico...

Fernando: ta, ta. Eu admito: sou cínico. Então vai lá e resolve tudo. Eu vou ficar aqui, do mesmo jeito, vou ficar inventando minhas mentiras e vou te usar de novo. Pô, herói, achei que teria jeito, sabe? Quando eu comecei isso aqui eu achei que teria jeito, mas não tem. Sei lá. Mas é como se antes as possibilidades fosse maiores. Agora não. Agora tem eu e você. Você que é meu produto, entende? Uma merda.

Herói: Ta. Mas o que eu faço então?

Fernando: eu não sei, não sei.

Herói: você que manda. Então vou ficar aqui. Esperando.

Fernando: Espera herói, espera.

2 de junho de 2012

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  • A enorme capacidade de amar que ela tinha. Era superior nesse sentido. "Ser amado" é confortável e acalma. Ela não: ela amava e sabia que 'ser amado' não era tão importante assim. Então amava, e amava muito, e, por isso, por poder amar só, era feliz. E por algum tipo de magia sempre ocorria o encanto: ao amar tanto acabava sendo muito amada - e isso, infelizmente, é muito raro.
  • A cocaína nunca foi um problema. Era uma droga recreativa, uma diversão de 4 ou 5 vezes ao ano. Deixou de ser quando vi a merda toda: a compulsão do viciado virando garras e ferindo os outros. Virou tabu, gerou sisma. Hoje, ao ouvir uma história, tive a triste certeza: ele usa cocaína. Mas não falei nada porque não sei de nada e porque apenas supus. Meu achismo comprovou o óbvio: a cocaína virou tabu.
  • A inteligência sempre é admirável - mesmo quando não fala nada ou fala pouco. A inteligência, de forma geral, não é chata. Um chato inteligente não existe, por exemplo. Mesmo que um chato possa ter muito, MUITO conhecimento, ele jamais será inteligente. Ou se é chato ou se é inteligente. E vale lembrar: o chato, na média, faz muito alarde; já o inteligente tende a passar despercebido.
  • Lembrei da frase que escutei e que não lembro o dono: " A ironia é a tristeza do inteligente." Puta frase, né? Eu acho.
  • Eu poderia me apaixonar por aquela guria. Por achá-la gostosa, por acha-lá bonita, por imaginar que conversaria horas com ela. Mas a paixão não depende só disso: tem o tempo, a repetição e a manutenção das primeiras impressões. A paixão se diverte porque deseja ser corriqueira. Mas a paixão, como tal, é bem mais imprevisível. Talvez por isso eu implique com gente que diz: "sempre me apaixono", "vivi várias paixões" ou "sou um apaixonado(a)."
  • Percebo o nó na garganta da amiga. Digo: chora aí, bate aí, grita aí. Ela grita, bate um pouquinho na almofada que lhe mostrei, mas não chora. Tudo certo. O ser humano é essa coisa estranha. Muita dor presa, sobretudo nos mais livres. Doer é existir - e dor, em 99% das vezes, se sente lentamente e sozinho, é inevitável. Então amiga, te digo: põe aquele disco triste e bebe aquele vinho guardado; e não esqueça de estar só, muito só.
  • O tempo apaga as pessoas. Amigos que passam e deixam de existir. Ainda existem, mas não são reais: a amizade que só faz sentido em outras épocas e outros contextos. Lembro do meu pai dizendo: " a gente era muito amigo e viajávamos juntos, mas acabou: os filhos cresceram, os sonhos e trabalhos mudaram e fomos perdendo contato. É assim, é normal. As amizades tem muito a ver com uma época."
  • Nem toda despedida é triste. Perde-se contato, muda-se de idéias e, querendo ou não, as coisas mudam. A mudança, per si, não é boa ou ruim. A mudança ocorre, apenas ocorre, e, de repente, geralmente atrasado, nos perguntamos: nossa, por que tudo mudou tão de repente? Mas nem foi de repente. Foi lento, foi imperceptível. A gente é que só nota depois.
  • Acendo aquilo que deve ser meu último cigarro hoje. Há um silêncio na casa que posso ouvir. Porque sei que em breve, muito breve, não haverão silêncios. E gosto disso também: a casa cheia de gente, as gentes invasivas, o vínculo sanguíneo como um dado real - coisa que órfãos entendem muito mal. Vou ligar meu gravador, vou falar para o mp3. É assim, nessa mistura tímida e involuntária, que eu me torno eu mesmo: e, vá lá, isso nem é tão simples quanto parece.  

28 de maio de 2012

\lista/

  • O amor passeou tanto dentro de você que se perdeu.
  • A alegria dela sempre me pareceu estúpida. Não que não fosse alegre ou verdadeira. Incomodava-me que era alegre demais - como o amigo suicida do Tchékov.
  • Irritar-se com a carioca burra e afetada de 18 anos é normal. Ficar irritado por isso muito tempo não é inteligente. 
  • Tristeza é voltar com a mesma quantidade camisinhas.
  • Meu caráter circunstâncial prova minha fraqueza. Lembro que existem medicamentos para esse tipo de coisa. Não querer drogas químicas é uma burra questão moral.
  • Conversar com gente nova quase sempre me dá mau humor. Os jovens precocemente velhos são, via de regra, mais interessantes.
  • A felicidade nunca será a prova dos nove. Em última estância só o chato é eterno.
  • Ouvir alguém que fala alto me irrita muito. Ouvir um que pergunta a outro algo que poderia descobrir sozinho me irrita muito também. Conclusão: vivo irritado por causa dos outros.
  • A culpa existe sobretudo para aqueles que dizem que ela não existe. E aquele que diz "pra ser sincero" está apenas sendo cretino com mea culpa. Repare: o 'sincero' costuma dizer que a culpa não existe.
  • Sob qualquer circunstância usa a palavra América 'auto-estima' será um ato falho.
 

25 de maio de 2012

A impossibilidade da beleza nunca me incomodou. Assim como também nunca achei ruim o fato do amor não ser um sentimento espontâneo. "Amor à primeira vista" é um discurso bonito, mas pouco verdadeiro. Inclusive por isso a beleza é impossível. A verdade não permite a beleza - essa linda ilusão que alimentamos com alguma consciência. Todavia, a beleza é legítima como invenção: pelo prazer da carne, pelo devaneio dos sentidos. E taí a arte que não me deixa mentir. Um belo quadro muito e tantas vezes não tem nada de beleza. É belo pelo que nos causa e não pelo que é.
E o amor espontâneo é minha sobrinha quando tinha 5 anos e me disse 'eu te amo' após eu ter preparado sua refeição. É coisa de bicho: amamos quem nos alimenta, com comida ou não.
Então olho pra trás e lembro dos meus amores rotos. Verdadeiros enquanto alimentavam e eram alimentados. E penso nos casais que continuam juntos mesmo sem alimentação e me recordo que o hábito é um conforto e que se sentir confortável é se sentir bem e feliz. A felicidade, muitas vezes, é perversa. Por isso, por estar vinculada à idéia de conforto e por se esquecer que tantas vezes o conforto é apenas um costume adquirido.

22 de maio de 2012

(s.r)

Seu amor é uma desculpa para sua mania de amar.
Amar tanto é um jeito de nunca amar muito.
Conta-se as gotas, faz-se as contas
e imagina-se o impossível.
Amar, assim, meu coração,
 é apenas
 levar
 o cachorro
 pra passear.

17 de maio de 2012

relatinho

  • Acordo cedo, mas me enrolo um cadinho. Passear pela cama é um prazer de bicho. Os gatos ensinam suas lições.
  • Há um mal humor sem razão de ser. Explico fácil: coriza e vias aéreas entupidas. Depois de expelir meus mucos, acendo a luz:  um jeito caipira e cristão de não voltar a dormir. Vejo o envelope embaixo da porta.
  • Volto para o quentinho da cama com o envelope na mão. Acendo e leio. É ancestral: entendo tudo, tudo mesmo, que está escrito.
  • O vício pede café e o mal humor se acalma. Cagar depois do 2° café é um tipo de benção. Imagino essa gente que precisa de activia e dou graças por ser um bom cagão.
  • (O cigarro é bom, é sempre bom. O grande erro dos não fumantes e das campanhas anti tabaco é só um: achar que o cigarro não é bom. [ E ser bom e fazer mal são coisas distintas. Como sexo sem camisinha, por exemplo. É mal, mas é sempre melhor do que com camisinha. Até o Papa concorda.] )
  • O mundo é cheio de gracinhas. A professora me dá atenção porque conheço a palavra 'espístola'. Na sequência me junta com a pior americana do mundo e da América: incapaz de olhar pros lados e centrada em si e suas dificuldades. Tento explicar que traduzir ao pé da letra é impossível, mas ela não entende porque nunca entende. Ela tem esse defeito: jamais entende ou entenderá e, muito possivelmente, acha que os outros são muito intolerantes com ela. 
  • Estar em grupo é fácil. É coisa de animal, da natureza. Grupos sólidos impõem indivíduos. Aproveito isso, mas, cá comigo, confirmo meu preconceito: os de mil amigos ainda são os mais solitários.
  • Outra americana, agora a melhor da América e de outra turma, usa meu grupo para falar comigo. Sinto-me bem, falo com ela e lembro da música que representa nossa nação atualmente: delícia, delícia, assim você me mata.
  • Penso em ficar aqui por mais um mês. Sinto a atração irresistivél e concluo: nada a perder, tudo a ganhar. Isso não vale pra dinheiro, mas... Aqui é melhor, simples assim. Porque aqui não é lá - onde meus demônios têm força e não admitem tranquilidade. 
  • Não estar lá melhor do que estar aqui. Quero dizer: o mundo é vasto, enorme, e, a bem da verdade, não o conheço. Veja: conhecer não é fazer turismo de dias em cada capital. É outra coisa: ficar mais de mês e notar que existem outros jeitos de viver. Quiçá tenha começado isso muito velho.
  • A biblioteca é linda e tem a peça que quero ler. Leio um pouco, mas meu nariz entupido me intimida. Sou o tipo de pessoa que tem vergonha de assuar o nariz em público. Volto, volto logo: a biblioteca é linda e tem a peça que quero ler.
  • Ficar mais é ganhar mais tempo. Ganhar mais tempo é brigar com a morte. Morrer é natural e normal. Morrer não é desejo, é fato. Fatos são o que são e nos animalizam. Porque escolha é a lição humana e a briga Trágica. Édipo luta por isso, Antígona também. Até a Eva - mesmo que no caso dela a escolha já venha como erro. Quero dizer: escolher sempre será o prazer - por mais abstrato que seja. 

p.s

Primeira coisa do dia:

- ler a cartinha da Fabiana.

Poderia ter chorado, mas não chorei.

Em outras palavras: - te amo.

14 de maio de 2012

dia de/da lua é melhor do que segunda.

Espalho os livros pela casa e acendo os abajures.
Ler tomando Malbec é o cão que treinei para me dar a pata e que me satisfaz toda vez que faz o que ensinei.
Deixo os arquivos abertos, o blogue aberto. Encaro el bigodon por duas ou três páginas e volto ao primeiro G. Marquez não-traduzido.
Meu cão treinado se satisfaz com a minha satisfação e lambe minha mão e mexe seu rabo.
É cômodo viver assim.
Fumo os malditos Gitanes e lembro que até nisso já houve glamour. Não lembro quem começou, mas acho que foi o Camus.
Eu, agora, sou uma bicha gorda que tem um castelo no deserto e que, em noites frias, se sacia com  eunucos de 13 ou 14 anos.
O frio promove a elegância e estar longe colabora com certezas antigas e desprezos que têm sua razão de ser.
Troco de livro uma ou duas vezes e releio as coisas antigas.
Imagino Deus, velho e barbudo, achando graça de tudo isso.