16 de abril de 2008

exorcismo messiânico

- Sabe como é?
Você olha pro mar e acha bonito. Seus pés tão mais ou menos firmes na areia suja de Copacabana. Os bichos rondam sem parar.
Você se distrai vendo aquele mar cinza que é o mar de Copacabana e ouve os pequenos grunhidos que se aproximam. Milhares de ratinhos à sua volta. Mostram os dentinhos e arregalam aqueles olhos pretos e sem pupila. Param e coçam o fucinho quase com ternura. Você sente asco, aquele bicho nojento que mora no esgoto e que revira na merda. Você faz o que o pode fazer: bate palmas e chacoalha os braços. Faz um Xô! Xô! com a boca e eles recuam sem muita pressa, sabendo que daqui a pouco voltam.
Os piores são os mosquitos. Você não os vê e só sabe que eles estavam alí depois que já lhe picaram. Claro que se você os ver na hora em que picam, quando estão concentrados em tirar seu sangue, você pode os matar. É simples: basta dar um tapa em si mesmo. A mordida ainda coçará, mas não se pode ter tudo e, pensando bem, ainda é você que tá no lucro.
Os urubus sobrevoam e nem chegam a lhe ameaçar. São os mais feios e asquerosos, mas estão metros acima. Os urubus têm essa coisa de nunca estarem sozinhos. Eles são pacientes e comem muita carne podre por aí.
Eles esperam que você apodreça, mas você resiste. Você lembra que só ficará podre depois que morrer.
Antes de chegar em casa você senta de novo no bar e toma uma cerveja e pensa que bicho é você. Você não chega a nenhuma conclusão, mas se sente muito satisfeito. A cerveja lhe acalma e você nem é de praia. Os fantasmas só existem pra quem acredita neles.(13/02/08)

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