19 de fevereiro de 2010

Minha vantagem é que meu demônio tem chifres e é vermelho.
É alguém.
Ele me conhece e eu conheço ele.
Somos velhos conhecidos, por assim dizer.
Ele é assustador e eu me assusto,
mantemos o respeito, um pelo outro, dessa maneira.
E isso não impede as danças,
longas, lentas e torturantes
que ele exige.
Eu topo,
eu tenho que topar.
Dançar com o demônio é,
muitas vezes,
tudo o que se tem que fazer.

18 de fevereiro de 2010

Idiota Satisfeito.



eu mesmo com minha silhueta arredondada e riso bestial.


Combino de me encontrar com os caras. Papo de macho, jogo de futebol e os cambau.

Me sinto muito macho só de pensar.

Vislumbro a mesa cheia de garrafas, os papos sobre as piranhas e algum comentário sobre a última a matériabomba do Fantástico.

Serei feliz, eu sei. O mundo é besta, eu sei também. Extravasar o ego-falo e contar mentiras pros amigos mais íntimos é uma maravilha, eu vislumbro.

Chego e tá tudo errado.

Três fêmeas: uma ex-mulher-atual-mãe-da-filha-do-amigo, outra ruiva que mora em Curitiba desde os cinco anos, mas que se acha supercarioca e, finalmente, a filha linda e radiante do amigo com a sua ex-mulher-atual-mãe-da-filha.

Tudo certo. Eu me adapto. Eu até me adapto bem, por sinal.

A ruiva é gostosinha e se acha liberal. Eu, cá comigo, a acho travada. Supertravada, eu diria se supertravada eu dissesse.

Mas que seja: to adaptável e solto minhas frases de efeito. Solto as frasezinhas de um jeito que só um gordo convicto pode fazer, ou seja: sem achar que a tal ruiva chupará seu pau no fim da noite.

É divertido competir a atenção de uma ruiva com os amigos. Mesmo que ninguém a coma. É que isso não importa, sabe?

O que importa é você e seus bons amigos sendo cúmplices numa competição por um ruiva que, como mais tarde confessará, nem ruiva é. Se é que você me entende...

Então eu converso com todos. Sou sincero ao conversar com todos. É uma questão de saber onde se está e com quem se fala.

Com um amigo pergunto sobre a nova pauta no teatro paulista. Com outro, especulo sobre o futuro do mundo. Com a ex-atual-mãe tento entender o porque dos novos planos. Com a filha deslumbrante, digo apenas vou te pegar! e ela ri.

Já com a ruiva é mais complicado: pergunto como anda o Movimento Hippie e a ambição por um mundo auto suficiente.

A única regra que obedeço é: eles querem falar. Deixe eles falar.

E eles falam e tudo ótimo. Sou um bom ouvinte. Mesmo. Sem ironias.

A coisa anda e mudamos de lugar. Na esquina é possível ver o jogo e vamos que vamos.

A cerveja ajuda de novo. A cerveja ajuda sempre.

Os papos variam e, graças ao álcool, a ruiva fica mais divertida. Tenho mais sacadas de gordo-sacana e descubro, no papinho besta, que ela não é mesmo ruiva. Ela é esperta, devo confessar. Sabe, como pseudoruiva, que ruiva mesmo é as que têm todos os pêlos avermelhados.

Mais uma ilusão pra coleção, mas apenas isso. A diversão nem era os pêlos, mas as possibilidades dos pêlos.

(Agora me lembro das mulheres-depilação-a-laser e do tédio que elas representam. Poucos pêlos, poucas possibilidades, me diz meu desejo de variar com uma única e eterna buceta.)

A noite é longa e vão quase todos embora.

Botafogo ganhou do Flamengo e eu sei lá o que isso significa.

Sobra eu e mais um amigo. Há certos papos a se conversar e as saideiras são quase uma obrigação.

O papo é bom e vital, mas não pode ser reproduzido num blogue. Questão de confiança e elegância.

Na maioria das vezes, as saideiras são tudo que importam.

Assim como as ruivas verdadeiramente ruivas.

São as saideiras - e as ruivasnãoruivas - que causam a ressaca do dia seguinte.





17 de fevereiro de 2010

A garota de quatro pálpebras tinha razão: é sentar o cu e escrever.
É uma coisa que quando acontece me comove: uma garota bonita, no meio de um monte de falação, nem faz ideia do que foi que ela disse e que você guardou.
E o que você guarda quase nunca é o que ela disse para ser guardado.
Mas o que importa é um senso prático feminino que sempre me surpreende.
E também, e como não, e talvez até sobretudo, pelo fato de eu ter conseguido, num trabalho acadêmico, colocar os seguintes textos:

  • Assim como o palhaço que, dentro da sua máscara de ternura, é um ser trágico e perigoso que escancará sua bocarra para todas as coisas sérias. Mas não por não as levar à sério. Justamente o contrário. A boca imensa do palhaço é causada por seu eterno espanto.
  • Não sei determinar as razões ou os motivos disso. Talvez o hábito de fazer teatro a qualquer custo – usando cada oportunidade como se fosse a última. Talvez pelo desejo, quase infantil, de descobrir outras formas e outros métodos. Como uma criança que num quarto cheio de brinquedos novos acaba por não brincar com nenhum.

Pra ver e pra ouvir. Meus números.

1 -
Pra lembrar de nostalgias antigas e chorar.
Porque sempre choro com os filmes americanos, mesmo quando não consigo soltar as lágrimas.
Tenho que confessar que acho os filmes americanos uma coisa impressionante.
O último eram dois irmãos: ela com um filho de 8 anos e ele sem ninguém e se aventurando pela vida afora.
A história do filme é o tempo que ele fica com ela.
E é bonito à beça. E triste também. Triste e cheio de beleza, eu diria.
2 -
Mas nem é disso que eu quero falar.
Quero falar dessa coisinha chamada mundo e do qual, as vezes, eu sinto falta.
Porque tenho uma capacidade pra me isolar que é quase incrível. Mas minha mãe diz que não é saudável e eu confio nela.
Mãe, a gente sabe, mesmo quando faz merda, quer o bem da gente. E é por essas que mãe é imbatível.
3 -
Mas volto?
A atual foto dela tá bem mais bonita do que ela era. Me pergunto porque. Tento entender o que faz com que ela seja mais atraente hoje do que era a 2 anos atrás. E o mistério é quase misterioso até eu lembrar que agora ela namora.
E, como namora, agora ela é mais segura e calma - coisa que não era. A ironia é que na época em que em que ela era minha, eu pensava: ela precisa namorar alguém para saber que pode ser amada.
E ela soube e tá mais bonita.
Faz sentido, mesmo que eu não seja mais o cara que tem direito à suas carnes. Uma pena.
4 -
Devo dizer:
Mania de escrever é terrível. Pensa bem. É só ver eu aqui. Estou quase tarado e quase doente. Escrevo apenas por compulsão, como é com o álcool e com o cigarro. Jesuisolhosazuis, onde vamos parar?, é a minha pergunta engraçadinha, mas sincera.
5 -
Na verdade queria escrever sobre a guria de 4 pálpebras, mas acho melhor não.
É que ela me disse que lê menos o meu blogue agora pra me deixar mais a vontade.
Eu entendo. Eu acho até bonito.
Mas, na verdade, eu nem entendo e nem acho bonito.
É que eu prefiro mulheres obcecadas por mim. Eu funciono melhor assim. Simpatizo quando as loucas gostam de mim por motivos que eu desconheço.
Como se o milagre só existisse em territórios estranhos.
6 -
Sei que, em última análise, é uma pulsão boba e infantil, mas fazer o que?
Ainda não me contradisse nesse aspecto, pelo menos.
Repito que prefiro assim.
É como posso marcar meu território já que eu não sou o cão-macho-fodedor que mija nas paredes e reza pra que o cheiro do próprio mijo seja reconhecido pelas fêmeas quase, e apenas quase, perfeitas.
7 -
A saudades é um tapete de grama verde num domingo de sol.
Isso não quer dizer que eu lembre de um dia, ou de uma grama, assim.
Quer dizer que eu acho que saudades é isso.
É como eu tento entender a saudades.
E veja, saudades mesmo, só sinto de uma coisa.
E essa coisa tem um nome que não digo, mas que era a coisa mais estranha e louca que eu sentia por ter certeza que essa coisa existia.
8 -
Independente de tudo:
as simpatias ainda são feitas por pretas feias e cheias de espírito.
A conta de 2 mais 2 só funciona no primário e ainda
prefiro choros do que sorrisos.
Por motivos que mesmo eu, pleno e arrogante, desconheço.

16 de fevereiro de 2010

Como se fosse domingo.

Fui almoçar no bar. Gosto do hábito e da repetição da coisa. Como um pequeno ritual: pede uma e o cardápio, escolhe e pergunta o que acompanha só pra ouvir a mesma resposta de sempre: arroz, feijão, farofa e batata frita.
Bebo a cerveja tranquilo e acendo um cigarro. Fumando reparo na vida alheia e vejo que tem uma garota me olhando. Olhando mesmo, apenas olhando. Sem nenhuma intenção objetiva. Assim como reparo na vida alheia ela repara em mim.
(Me lembrei da minha ex que sempre que alguém a olhava, dizia que o alguém tinha dado em cima dela. Era um traço quase inocente da personalidade dela. Nessas todo mundo já tinha dado em cima dela, inclusive a finada Cássia Eller.)
O prato chega veloz e o cigarro nem acabou. Mais um gole e um traguinho e repito outro ritual: o feijão primeiro e direto do pote pro prato, sem auxílio da colher; depois 2 colheres de forofa e então o arroz e a batata frita. O arroz e a farofa sempre sobram, a batata frita não. Sal, azeite no feijão e a carne assada com molho de tomate deixo onde está, pegando uma fatia por vez.
Como devagar e dou pequenos goles de cerveja - o que é raro, pois, na média, ou como ou bebo, nunca misturando as duas coisas.
Almoço terminado e comi bem menos do que eu pensava. Na calçada, uma preta de rua e feia, que até me deixa na dúvida se é homem ou se é mulher, berra: - dá um pouco desse arroz aí, colega.
Faço sinal de positivo e peço pro garçom preparar a quentinha pra ela. Do meu lado, duas pessoas me olham como se eu tivesse sido supergeneroso e eu penso que o mundo é mesmo muito mesquinho.
O garçom me mostra a quentinha que ele fez e ressalta que acrescentou um feijãozinho. Resmungo um legal e ele entrega a quentinha pra ela. Depois vem até mim e diz:
- pô, pensei que era um homem...
- eu também...
- sorte que é carnaval, né?
Ele sai sorridente e faço sinal pra conta.
Venho andando pra casa e penso que hoje o dia tá foda. Tento entender o meu ranço e concluo que a culpa foi eu ter dormido sem querer, diante da tv. Dormi de roupa, óculos e sem escovar os dentes. Quando acordei eram 5 e 30 da manhã e sentia um ódio de outra vida. A minha boca era um cinzeiro molhado e eu não fazia idéia do que fazer.
Tomei banho, arrumei a cama e vi uma besteira ou outra no computador. Voltei a dormir e acordei as 12 e 30 cheio de culpa porque o texto-obrigação que eu tenho que fazer anda à passos lentos e dolorosos.
Pronto, o ranço tá explicado.
Agora é esperar o sol cair fora e ver se a noite vai trazer suas belas corujas.
Talvez eu desça pra comprar um sorvete,
talvez eu faça um telefonema,
talvez eu fique apenas contando os segundos pra um outro dia começar.

15 de fevereiro de 2010

Ouço Angela Ro Ro e bebo mate com limão. Os cigarrinhos parecem eternos e infinitos. Fumaça pra dentro e pra fora. Quantos cigarros resultam num câncer, eis a questão.
Avanço no meu arquivo e tomo porres diários. Mas sem excessos: porres de 2 cervejas, 3 whiskys e 1 ou 2 páginas escritas. Adoro beber pra escrever as histórinhas. Entorno umas no bar como preparação e depois subo pra minha casa azul e abro o arquivão.
Este arquivo da vez parece mais viável do que o outro que já terminei. Esse outro não sei, tenho dúvidas. É necessário algum enredo quando se escreve, não é? E esse outro é uma grande falação sem fim. Tem uns pedaços bonitos e tudo, mas não sei. A falta de trama meio que chapa a coisa. Porque a trama, percebo quando leio os que gosto, é apenas uma 'desculpa' pra falar sobre o que realmente importa. Mas, de qualquer maneira, essa trama-desculpa não pode ser babaca e muito menos aparentar aquilo que é: uma trama-desculpa.
Já o arquivo da obrigação vai mais lento. Sabe como é. Sou mimado e gosto de fazer apenas o que gosto, o que é péssimo e revela toda a minha incapacidade de viver no mundo prático e objetivo dos adultos.
Whatever, como diz a garota de quatro pálpebras.
-
Agora uma pequena volta para mexer as pernas e,
quem sabe,
comer arroz e feijão
como fazem os adultos.

14 de fevereiro de 2010

pra deixar de fora.

Meu bem,
estou tão breaco
que não prometo
sexo nem alegria.
No máximo
uma boa companhia
que de tão sincera
pode até dormir.

Meu bem,
não sou o tipo
que você espera,
mas te garanto
que nunca,
e nunca mesmo,
vou mentir.

Meu bem,
se quiser jantar
eu posso até
pedir uma pizza.
O telefone está ao lado
e,
com fome,
não se brinca.

Eu a alimento,
meu bem,
desde que você,
como uma santa,
seja boa e
nunca minta.

Meu bem,
não se engane comigo.
Eu gosto de falar
e de dizer,
mas eu não sou
o meu próprio
umbigo.

Tenho minhas diferenças
e rôo meu osso.
E se falo tanto
é porque eu acho,
na maioria da vezes,
o mundo
muito pouco.

Mas não se esqueça,
meu bem,
de vir me ver e
de me beijar
antes de dormir.

Eu não ligo
prum monte
de coisas,
mas pra você
eu tenho
que contar:
- pode parecer que sim
e pode parecer que não,
aquilo que se adivinha
é a única,
e impossível,
solução.

13 de fevereiro de 2010

Ouvindo voodoo blues e com vontade de escrever.

Deixo a obrigação de lado e caio dentro das minhas histórinhas. Me sinto em paz, apesar de tudo. Mesmo sabendo dos prazos, me sinto em paz.
Talvez seja a cerveja, talvez seja a histórinha. Quando rendo nas histórinhas preciso de pouco, pouco mesmo. O que é ruim de maneira geral, já que essas histórinhas são apenas arquivos no meu computador e não livros e mais livros escritos.
Paciência.
Meu delírio e meu tesão é isso. Precisar de pouco, não precisar de ninguém e ficar feliz com mais 2 págs. no arquivo.
E 2 págs. no arquivo duram horas do mais tesudo sexo. É isso mesmo. Há tesão em ficar ali, escrevendo e se bolindo em si. As benditasmalditas palavrinhas na tela brilhante.
A coisa é tão tesuda que cogito escrever uma carta. Mas desisito e escrevo no meu bom e velho e blogue. Pra ganhar do tempo, acho. E ganhar do tempo nesse caso não tem nada a ver com o cumprimento dos malditos prazos.
Então tô aqui e ouço as vozes dos negros americanos. São demônios dentro da minha cabeça. Demônios que falam coisas que eu não entendo, mas que me contemplam quando sentem as dores que as mulheres provocam.
Mulheres, a dor contida em um corpo tesudo e perigoso. Diabo, tua forma é mulher. Deus me livre e etc aos mil.
A 7° lata acabou de estalar e agora só há whisky na casa. Melhor parar por aqui. Ainda não conheço bem o tempo do whisky. E conhecer bem o tempo da sua droga é o que te difere de um amador. Desses que bebem apenas pra espanar (e não espantar) o tédio.
Acordo tarde e me chapo de café.
A culpa tenta bater, mas finjo que não é comigo e tudo certo.
Cada coisa ao seu tempo.
-
Cago com o meu primeiro cigarro do dia na boca. Não sem antes posicionar o ventilador pro banheiro. Os peidos, antes reprimidos, saem velozes e sonoros. A merda desliza pelo meu cu e me faz me sentir muito bem, obrigado.
Essa coisa de ter um corpo é um mistério. Os dejetos e a glória. As vezes ao mesmo tempo. Lembro de uma frase do Saramago que é mais ou menos assim: para inventar o céu e o inferno não seria necessário nada além de conhecer o corpo humano.
Puta frase, não? Eu acho.
-
Hoje devo tomar uma pequena dose de mundo com meu amigo Z. Será bom e tranquilo. Conversar com homem é completamente diferente de conversar com mulher. E isso não é machismo. É apenas um fato.
-
Agora ir pro arquivo
e escrever.
Não as palavrinhas que quero,
mas as que tenhoque.

12 de fevereiro de 2010

Por motivos que não conto fico na minha. Porque conheço meus delírios e pavores. Porque o pavor mora ao lado.
São coisas que rondam a minha cabeça e que finjo ignorar.
E finjo mal. E ignoro menos ainda.
(O diabo tem asas, a gente sabe.
Ele dança bem e sai, literalmente, voado.
Como só um ser com asas pode fazer.)
E nessas seguro meu rojão sem deixar de admirar as belas asas do capeta: um branco quase transparente, as penas bem distribuídas e uma envergadura que surpreende e encanta.
Seja como for há a minha casinha e minha doce solidão. Prefiro ver do que participar. E isso acho que desde criança. Porque minha mãe disse que eu sumia nas festinhas e que quando me procurava eu estava no meu quarto, brincando sozinho.
Faz sentido. Faz sentido até hoje, acho.
Brincar sozinho pode ser fuga ou auto conhecimento, tanto faz.
O fato é que não consigo confiar em quem sempre precisa de alguém pra brincar. É uma limitação que não quero ter.
O diabo sempre existe e é sempre os outros - como o inferno do vesgo.
Ter medo dele é um tipo de decência na minha cabeça.
Achá-lo bonito, também.

querer é pouco.

Queria ser exato e escrever as palavrinhas certas. Mas não tenho conseguido escrever. Não como gostaria, pelo menos. Talvez porque eu TENHA que escrever. Um trabalho chatinho assim que me dá nó nas tripas. É o desafio de exercitar o meu próprio cinismo. Coisa difícil pra um cara mimado, gordo e romântico como eu.
Queria falar do meu pau. Falar de como ele age por conta própria em horas inconvenientes.
Queria falar da guria de quatro pálpebras. Da guria que surgiu como um milagre de natal e que tem a boca pequena, bem desenhada e grossa. Da guria que quero e não quero desvendar.
Mas nem sempre dá certo. Então começo 30 posts e não acabo nenhum. Arranho 1 ou 2 paragrafos na minha obrigação e lembro das belas imagens que agora fazem parte da minha memória.
A vida voltando lenta a ser como é: no bafo do Rio, numa solidão introspectiva, numa noite de porre e ternura, na casa azul com belas marcas de sangue, no ler pra ter sono, no rádio ligado na cbn, nos cinzeiros entupidos, na piada machista do Coimbra, nos copos com muito gelo, no andar pelado pela casa, no Cristo solitário de braços abertos, nos banhos com o pau esfolado, na cama sem lençol, nos telefonemas da minha mãe e, finalmente, nos delírios de grandeza e no desejo de profundidade.
Como se tudo fosse menos.
Como se tudo pudesse ser mais.

11 de fevereiro de 2010

9 de fevereiro de 2010

ELA SÓ PRECISA DO PRÓPRIO CARRO E DE UMA CÂMERA FOTOGRÁFICA.
É IMPOSSÍVEL CONFIAR NELA.

8 de fevereiro de 2010

Veja você.

É uma dorzinha boa, dessas que fazem o sangue rodar mais lento pelo corpo. E sangue mais lento, a gente sabe, dá aquele friozinho que qualquer mantinha resolve. Apenas para dormir melhor.
Como saudades. Saudades do jeito que os portugueses falam e sentem: a boca que quase não abre, o rosto trágico e o som cheio de Ss que sai: sauldadis.
Ainda há o risco, a gente sabe. Mas nem todo risco é ruim, a gente sabe também. Um amorzinho assim, pra dormir assim e dar bom dia depois de uma noite de foda fantástica. Talvez com café preto e forte, talvez com maçãs cortadas sem casca e distribuídas num pires azul.
É quase um mistério se se pensar bem. Tanta coisa que pode acontecer: filhos, família, morte precoce, tristeza de fim de namoro, etc. O fim fatal e sua sombra eterna: dor e mais dor, machucar quem se ama, ser machucado por quem te ama, tardes de chuva, pipoca e filme, aquela preguiça que só mesmo muito bem acompanhado pra se ter sem ter culpa.
Tudo isso porque tem alguém assim, distante assim, estranha assim que sei que sente, em outros oceanos, a inevitável atração pelo abismo. Que nada mais é do que o tesão pela queda. Mesmo que com medo da queda.

7 de fevereiro de 2010

em baixo do ventilador.

As coisas acontecem lentas como deve ser. As novidades ocorrem e são parte da jogoda, mas as euforias devem ficar com as festas de criança onde há um enorme balão cheio de doces para ser estourado.
Não gosto de gente que fica muito eufórica com uma ou outra novidade. É algo que me soa velho e falso. Uma mania de se auto descrever como intenso/intensa. Como se intensidade fosse virtude. Como se a vida só tivesse sentido numa sucessão de surpresas.
(Quando eu era adolescente eu usava essa frase de efeito: me surpreenda, por favor. E impressionava as gurias que gostavam de mim apenas porque eu já tinha lido 1/2 dúzia de livros. Era um mundo mais simples.)
E a vida não tem nada a ver com isso. Ela acontece, ela é o que é e o que você consegue fazer dela. As vezes a gente emplaca e as vezes não. Os milagres são possíveis e podem acontecer, mas não estão aí para serem manipulados como moeda de troca.
Os que gritam sobre a própria intensidade não se bastam e, por isso, me causam uma tremenda desconfiança. Como alguém que te encontra e diz: estou tão feliz. A única coisa que não dá pra entender é porque alguém que tá tão feliz precisa falar disso.
Seja como for, minha velha punheta é esse blogue e uma ou outra carne que me aquece. Nem todo dia existe paz e coerência, mas quando penso é apenas disso que se trata: uma paz possível e a beleza inventada.

6 de fevereiro de 2010

A gente pode fazer aquelas dançinhas.

Vocêsabecomoé.
A gente cola os quadris, mexe pra frente pra trás e põe as mãozinhas pro alto.
Chacoalha e se debate um pouco.
Depois bebemos drinkscoloridos e falamos sobre os últimos livros e recente amores.
Mil amores, você me dirá e eu farei minha cara cínica que é a mais sincera que tenho.
Você me chamará de p-r-e-c-o-n-c-e-i-t-u-o-s-o e eu falarei da sua vulgaridade doentia que confunde foda com sexo. A gente achará graça da nossa piada e passará para drinks sem cor que, indubitavelmente, nos levarão pra uma cama suja perto da sua casa.
Porque t-r-e-p-a-r na própria casa é coisa de namoradinhos e namoradinhos não somos, meu bem.
E haverá alguma ternura naquele quarto pago e até dormiremos semi-abraçados e humanamente bêbados.
Você acorda antes e deixa seu bilhetinho. O mesmo de sempre. As mesmas palavras. Como quem tenta provar algo pela repetição. Eu entenderei sua graça e lhe mandarei um mensagem.
E ficaremos sem se falar até dia 8.
Porque dia 8 é dia 8, meu bem.

5 de fevereiro de 2010

Pra dizer a coisa certa,
para ser exato,
digo apenas que não sei
o que eu quero de fato.

4 de fevereiro de 2010

Segundas e Quintas.

Tem essa mulher que frequenta a minha casa. Ela carrega seus mortos e por isso sofre. Penso que tenho sorte por não ter mortos pra carregar. Mas ela tem e ela sofre. Por isso ela vai à igreja. E igreja a gente sabe como é. Na grande média não há gente boa. Há gente sofrida e desesperada. Gente que tenta tapar o sol com a peneira, que se entrega à Jesus pra não se entregar ao sofrimento. A merda é que quase nunca dá certo. Uma pena.
E quando eu digo tudo bem, ela resmunga algo inaudível e cheio de ódio mal disfarçado em sentimento religioso. As vezes ela para e sua cara pretolilás se contorce numa máscara estranha e irritante. Como quase sempre acontece porque, enfim, há muita vaidade em quem se sente triste e injustiçado. O velho lance de se apaixonar pela própria dor.
Não acredito em energia, mas acredito em vampiros. Vampiros em duas modalidades: um que quer que você fique feliz porque ele está feliz, e outro que quer que você fique triste porque ele está triste. A diferença entre eles é nenhuma. Todos se juntam numa única categoria matriz: O Chato.
E O Chato a gente conhece de outras vidas. Porque, sabemos, O Chato é eterno e tem muitos, mas muitos mesmo, amigos.
Inclusive você, à quem O Chato insistir chamar de amigão ou queridão.

2 de fevereiro de 2010

Ruminando em Curitiba.

A vida escorre lenta e insuportável. Seriados Americanos podem ser perigosos. Eles conseguem te envolver com qualquer coisa. Você pode comer merda e nem notar. Deus abençoe a América. Preciso de um livro novo, preciso de uma nova punheta, preciso descobrir um novo site de pornografia. Um que seja cheio de homemades com garotas burras e loiras e peitudas. Pornografia anti tédio. Venenos diferentes de cigarros e álcool.
Chega de sambinhas às terças e sorrisos para garotas que se chamam Raysa. Raysa com Y e número de telefone no papel amassado. Raysa branquela e dadeira querendo que você seja seu macho fodedor. Querendo lhe arrancar a alma pelo pau numa chupada sem vida e com excesso de salíva. As Raysas andam em bando e tanto faz o nome que tem. Raysas pretas, loiras, gringas e ruivas. Cheias de fetiche quando você diz tenho namorada apenas para ter sua alma sugada pelo pau.
A paisagem é cinza e todo dia chove pra caralho. Sempre alguém falando comigo, sempre alguém me contando uma história. Nenhuma solidão e nenhuma glória. A lembrança da menina bonita é um papel molhado pela chuva diária. A velha amiga não lhe deu a bela notícia de sua gravidez planejada como ato de amor.
Na internet mensagens positivas são escritas em profiles e feeds variados. Um otimismo mecânico e tacanho. O papinho de boas vibrações e adesivos ecológicos colados nos carros velozes dos jovens engajados.

1 de fevereiro de 2010

Entrar naquela carne e sentir a loucura de partilhar um corpo. Há mulheres que quando abrem as pernas fazem um tipo de oferenda. Prefiro elas. Mesmo que possam ser menos habilidosas. Não gosto de mulheres habilidosas na cama. Excesso de habilidade no sexo me soa como frieza, incapacidade de se deixar levar pelo delírio. Prefiro o delírio e a inevitável descoordenação que ele impõe.