25 de maio de 2012

A impossibilidade da beleza nunca me incomodou. Assim como também nunca achei ruim o fato do amor não ser um sentimento espontâneo. "Amor à primeira vista" é um discurso bonito, mas pouco verdadeiro. Inclusive por isso a beleza é impossível. A verdade não permite a beleza - essa linda ilusão que alimentamos com alguma consciência. Todavia, a beleza é legítima como invenção: pelo prazer da carne, pelo devaneio dos sentidos. E taí a arte que não me deixa mentir. Um belo quadro muito e tantas vezes não tem nada de beleza. É belo pelo que nos causa e não pelo que é.
E o amor espontâneo é minha sobrinha quando tinha 5 anos e me disse 'eu te amo' após eu ter preparado sua refeição. É coisa de bicho: amamos quem nos alimenta, com comida ou não.
Então olho pra trás e lembro dos meus amores rotos. Verdadeiros enquanto alimentavam e eram alimentados. E penso nos casais que continuam juntos mesmo sem alimentação e me recordo que o hábito é um conforto e que se sentir confortável é se sentir bem e feliz. A felicidade, muitas vezes, é perversa. Por isso, por estar vinculada à idéia de conforto e por se esquecer que tantas vezes o conforto é apenas um costume adquirido.

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