29 de agosto de 2011

  • As lufadas de ternura / Um dia após o outro / É essa a tortura.
  • Ela me elogiava e eu achava bom, bem bom. Secretamente pensava: ela quer dar pra mim. Podia ser, ainda pode ser. Mas vi, pelas maldições do mundo em rede, que ela bate palmas pra idiotas com bastante desenvoltura. Fiquei triste. Pensei: ela pode até querer me dar, mas não será a mesma coisa.
  • A dor é minha e o problema sou eu. Essa frase é toda minha vaidade. Simples: ser vítima é generosidade demais, uma vez que pressupõe um algoz. Sofro sozinho. Não sofro nem mais nem menos, mas sofro sozinho. É vaidade, eu sei.
  • Saudades de brincar com os lábios que lentamente umedecem. Aquela bába fantástica que a vagina produz. Lembro de uma bába dessas que grudou em minha barba e que esticou sobremaneira. Fio longo e transparente que cintilava na luz indireta que há agora em minha casa. Olhei aquilo e pensei em dizer pra ela reparar também, mas não o fiz. Medo de ser mal interpretado, essas coisas. Uma pena.
  • Os planos, os projetos, as boas intenções. A coisa toda que é sincera, mas e daí? Sinceridade é super estimada, amor também. Há, de modo geral, um excesso de valorização dos bons sentimentos. O que é meio estúpido e tem a ver com o mundo de hoje: a ilusão da voz que a Internet dá e coisas do tipo. A individualidade como um tipo de virtude. E que Deus nos perdoe e ignore as bobagens que são escritas em rede. Porque a palavra escrita já teve força de lei, porque a palavra escrita já foi a palavra de Deus em pedras que versavam sobre a moralidade do planeta. E agora é o que? Um feed cheio de sacadinha, uma reclamação engajada que deseja ser curtida por muitos ou uma expressão de idiotas que se sentem únicos?
  • A originalidade é um fetiche que faz mais sentido para uma gôndola de supermercado do que para a expressão artística. Mas estou por fora e há muito a ser feito, eu aprendi. E o que é feito tem grande capacidade gregária e pouco mérito artístico. Aprendi, mas não concordo: se todos lhe disserem um gênio, um gênio será.
  • Arrancar caspas com as unhas é minha última mania. Além de tudo, que é: a farta barriga, a boca aberta, o sotaque confuso, os dedos amarelos, a raiva inevitável, o pouco interesse pelo desconhecido, os porres diários, os olhos arregalados, etc. É mais um nojinho na fita. Mais um problema que uma boa mulher tentará resolver e com quem implicarei por não me aceitar como eu sou. E sei que é um absurdo e que a boa mulher tem sempre razão e que, com a devida paciência, me convencerá a ser quem eu não sou e eu nem me importarei. Porque será a boa mulher. E irei a praia, e farei exercícios, e deixarei de fumar, e pararei de roncar, e verei filmes sem falar, etc. E direi eu te amo e será verdade. E ela dirá eu te amo e será verdade também. Morreremos velhinhos, bem velhinhos. Com diferença de dias entre uma morte e outra - que é como sempre teremos desejado.      

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