6 de julho de 2011

A cigarra canta lá fora e isso deve significar alguma coisa.

Olho pra frente e vejo belas bundinhas que passam. Estou no cinema e chego antes por puro fetiche. As gurias do cinema, as gurias que vão sozinhas ao cinema são, por ora, meu fetiche. Gosto do cinema antes, com luz acesa, silêncio e um desconforto generalizado. Desconforto que creio vir do fato que gente vai ao cinema para sumir diante da tela que brilha: a paz de não ser visto, a plateia como uma reunião de individualidades(coisa bem diferente do teatro, por exemplo. Porque, via de regra, no teatro chega-se antes e entra-se junto. Não há trailers no teatro)
Ao meu lado, já protegida pela escuridão, senta uma moça. Tem pipocas, refrigerantes e chicletes. Penso em absurdos, mas apenas penso. Cinema, eu me lembro. Estamos aqui pelo saudável isolamento. Ao lado esquerdo tem um velho que também está só e penso que a fila P é uma bela síntese de um tipo de gente, o tipo de gente que vai ao cinema sozinho em uma terça feira à noite.
O filme é bom e o Woody Allen é do caralho. O assunto é algo que posso chamar de meu assunto: nostalgia. Recebo o filme como quem tem tesão em apanhar e sabe que um tapinha não dói.
Deixo a luz acender e os créditos subirem e vejo os que tem pressa em sair que, como era de se prever, na grande maioria está em grupo. Grupos têm pressa, não indivíduos. A comedora de pipocas, vejo agora, é uma bela guria que me sorri semi-cúmplice e semi-constrangida. Penso novamente absurdos, mas deixo pra lá. O velho da esquerda demora mais do que eu e saio antes não sem reparar que trata-se de um ótimo velho - até cogitei ser o E.Coutinho. Acho que não era, mas poderia ser.
Na fila do banheiro há a comedora de pipoca que, exposta à luz fria, não me olha - o que entendo e respeito. Vou ao mercado do outro lado da rua e penso que adoro as cidades e seus bairros com super-mercados até às 22:00. Nas gôndolas descubro que nem a matemática tem sentido: o livro que paguei $45 foi caro, o whiskey à $49,80 foi uma pechincha. Mundo estúpido.
Bar da esquina e F que resolve parar. F, como eu, faz teatro. Tem a cara abatida de quem faz teatro. Sinto pena dela e sinto pena de mim, mas resolvo que pena, por ora, não é algo (pena é um sentimento?) a ser alimentado.
Casa, casinha, o primeiro LP do Lobão tocando e a Rádio UOL depois disso. Os Americanos são fodas, eu penso. Os Americanos gravam músicas do Brecht e, também por fazerem filmes sobre Paris, são fodas. Lembro do post-it-pálpebra-lenta que recebi e entendo que hoje não sai nada pra responder.
Casa, casinha, super-mercado. Há ovos, hambúrgueres, tomate e pão para a janta. Ao escrever ovos, hambúrgueres tomate e pão lembro da América e o L. Armstrong, em misteriosa sintonia, solta um agudo de seu impressionante trompete.
Casa, whisky-pássarofamoso e caminha. E também a América, a maldita-bendita América. Além dos projetos, os eternos projetos - meus e dos outros.

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