13 de agosto de 2009

2° Feira.

E no meio do Norte me aprece essa mulher que se oferece pra tirar uma foto minha já que me viu fazendo pose pra mim mesmo enquanto esticava o braço com a camêra na mão.
Ela tem uns quase 50 e fala mansa. Diz tiro uma sua e tira uma minha.
Tudo certo. A fala mansa dela é calma e triste. Só depois entendo porque.
Tava lá numa casa de umbanda que usa daime. Veio pra tentar entender melhor as coisas e, principalmente, o filho. É um rapaz de 26 anos e, ao que tudo indica, viciado em pó. Desses viciados que se destroem. Quando pergunto isso pra ela, eu digo: tem gente que cheira e não fica auto destrutivo. Ele não? É isso? Ele é auto destrutivo?
Ela diz que sim, que ele não consegue dormir e que toma bola pra baixar a ansiedade, essas coisas.
Daí, no papo, descobrimos que nós dois somos do Rio, que o filho trabalha na Parmê e que, nessas coincidências loucas que ocorrem, ela e sua família também já moraram em Curitiba.
E vejo toda aquela aflição materna. Aflição tão grande que vai tomar daime umbandista no Norte pra tentar entender as coisas. É um retiro espiritual, coisa de uma semana ou mais. Todos dias, trabalhos e daime. Pra entender, pra entender, pra viver melhor, pra entender.
E no pacote do papo, descubro que tem uma filha que morreu de leucemia e que o filho, o atual viciado, foi o doador de medula pra filha que, mesmo assim, não resistiu. E que foi depois da morte dela que ele se mudou pro Rio, e que foi no Rio que o vício piorou e que então, ela e o marido(não entendi se há outros filhos) resolveram se mudar pro Rio pra recomeçar. E que o marido, agora, é sócio de uma Parmê em Nova Iguaçu.
E senti uma puta vontade de chorar porque era um monte de coisa injusta e ela tava lá, no daime umbandista, tentando entender um sei lá o quê que me dava arrepios e medo da vida.
Então percebi uma culpa terrível naquela mulher de fala mansa e disse que o fato da filha dela ter morrido era errado, que nunca será certo uma mãe perder uma filha e que também o filho viciado e auto destrutivo não era culpa dela e que ela tentar achar uma razão pra isso era loucura, pois nada no mundo justificava a perda de uma filha. E repeti e bradei: é errado uma mãe perder uma filha, é errado!
E nós dois tivemos vontade de chorar, mas não choramos porque éramos desconhecidos, e porque era tudo tão estranho e cheio de coincidências que ficamos sem falar um tempo e nos despedimos assim, como os dois estranhos que éramos.
E penso nessa mulher desde então. E penso que deveria ter lhe dado meu telefone e ter dito que ela podia me telefonar sempre que quisesse pra reclamar das coisas. E lembrei da minha coisa messiânica, da minha vaidade de salvar gente e me senti bem e mal ao mesmo tempo porque isso me alimenta, mas tem cara de doença e quase nunca adianta.
E mais um monte de coisa que nem adianta escrever. Porque aquela mulher de fala mansa tem essas dores todas e ta aí, como todos, tentando achar explicação pra coisas que acontecem, mas que, na verdade, não deveriam acontecer.
E é triste, e é triste à beça, e é terrível também porque, por mais que se queira, não se pode fazer nada nem por ela e nem por ninguém. E aquela tristeza que ela sentia deveria ser raiva porque raiva é a única resposta pra uma mãe que perde uma filha.
E sei lá. E chega. E ufa.

3 comentários:

Anônimo disse...

Miau...ao ler seu comentário, cheguei mais uma vez à conclusão, que sou muito feliz.Não perdi filha,não precisei do daime...você vê, como as pessoas têm vontade de conversar,colocar suas dificuldades, não importa, se está vendo a pessoa pela primeira vez, o que interessa, é desabafar.Com certeza essa mulher de fala mansa, se sentiu aliviada.
Ao ler este comentário, já deve estar em Sobral...Obrigada pelo lindo cartão postal que me enviou .Tudo de bom ,aproveite bastante essa experiência..beijos da vó miau.........

maria rezende disse...

então que tinha muito tempo que eu não passava aqui, e adorei chegar e encontrar você diferente, escrevendo diferente, de um lugar diferente, olhando o mundo diferente, mas preciso e afiado como sempre. um beijo, maria

fmaatz disse...

Vó:
que você teve sorte, ninguém duvida! 81 na carcaça e pé no acelarador não é pra todo mundo.
bjs.
Maria:
é bom isso, quando isso rola, e nem rola sempre, mas quando rola, é bom e, bem, ser sempre o mesmo nunca foi meu objetivo de vida. tenho lá os meus momentos de paz. rá.
p.s. recebeu?