1 de junho de 2008

A. F. D. C.

Um novo projeto, uma nova punheta. Compro um livro novo pra começar. Um livro da pesada, desses que tem que se ler quando se pretende ser artista. Ao mesmo tempo que me sinto estúpido vejo que não há saída: querer - se artista é mesmo um tipo de pretensão. E é por essas que me seguro e sento minha bunda pra ler um livro cascudo. Leio como quem suga uma alma: lento e sem euforia. Deixo as frases e ideias irem me tomando. Resisto pra não me levar à sério de maneira precipitada. Nada de definir possíveis cenas, nada de criar uma trajetória dramática possível. E li o Sr. Gzinho que fala muito sobre a tentação. E ouço o que ele diz e faço com que a tentação aumente com a minha resistência. É um tipo de prazer frio que eu sinto, um prazer que vem do cérebro forjar as próprias sensações. Não sei se sei explicar, enfim.
E claro que faço isso tudo com um copo cheio do lado. Porque esse copo me ajuda a ser frio e pretensioso e também me ajuda a não me sentir um idiota por querer ser um gênio. Sim, sim, sim, eu também quero ser gênio. E, sim sim sim, se penso nisso me sinto idiota.
E conforme o copo esvazia vou ficando mais condescendente com as minhas ânsias idealistas. E confesso: é melhor ser mais condescendente consigo próprio, ainda que na louca pretensão da genialidade.
E leio que leio. E fumo que fumo. E bebo que bebo. As coisas borbulhando e a crença de que ainda é possível. Mais uma gota contra o tédio, mais um brinde pro copo vazio. Numa noite chuvosa de domingo as minhas possibilidades são as mesmas e ainda acontecem no mesmo lugar: em baixo do meu abajur.

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