26 de janeiro de 2008

Agora eu sou uma criança abandonada e ninguém me entende por eu ser uma criança abandonada e incompreendida e triste e eufórica como todas as crianças são.
E eu me esforço pra lembrar da minha mãe e da sua teta pequena que um dia me bastou pra continuar vivendo. Mas eu não consigo lembrar, embora eu saiba que um dia isso ocorreu porque existem fotos onde eu não pareço em nada comigo mesmo e minha mãe sorri olhando praquele vermezinho minúsculo que lhe suga as mamas.
E dá uma puta vontade de chorar porque eu ainda era uma promessa e não um ser humano propriamente dito.
E toda e qualquer mulher é sempre minha mãe e isso é patético e ridículo e também psicologia barata, mas quando converso com meu bom amigo ele entende o que eu falo e eu me dou por satisfeito.
E quando o mundo é mau minha mãe sempre se impõe porque ela é a única mulher que nunca me comparou com ninguém, nem mesmo com o meu pai que ela ama loucamente e mais do que ele imagina.
Então eu procuro outras tetas pra ver se consigo sobreviver só delas, mas essas tetas não me bastam e eu sofro e constato que sou mesmo uma criança esperando que a mãe volte do trabalho pra falar pra ela o que só ela poderá entender.
Mas mamãe tá distante e a teta dela tá murcha e as outras tetas não. E sei que nem sou mais criança, mas, mesmo assim, não consigo entender porque eu não posso me alimentar só de tetas.

boa-vidinha

Eu vejo as pessoas e me dou por satisfeito.
Saio, dou uma rodada, vejo um ou outro maluco que me dão trela e reparo que tem uma moça bunduda que olha pra mim como se eu fosse um objeto curioso. Eu entendo ela, eu também olho pros outros assim. Não se trata de tesão, mas de olhar gente como se fosse objeto.
Entendo porque eu olho pros outros assim, mas não entendo porque poderia ser olhado assim. Não por nada, mas porque sou mais comum. Uma barriga grande e uns olhos perdidos. Penso que talvez sejam meus óculos que são grandes demais e me fazem parecer sei lá o quê.
E eu vejo toda essa gente e o microfone aberto e me sinto bem. E gosto ou não gosto do que as pessoas fazem, mas mesmo assim repito pra mim enquanto vejo aquilo: é isso, a vida também acontece fora do meu apartamento.
E chego em casa e tomo a saidera e escrevo aqui e me dou por satisfeito. Não antes de lembrar do cara da cerveja:
- Vê uma cerveja?
- Porra...acho que acabou a grande...(ele caça uma no isopor)...aqui.
- A última...!
- A última não! A saidera!( tempo) A gente não vai morrer agora, vai?
- Tá certo....