5 de outubro de 2009

#

Pra registrar:
A gente berrava e batia palma. Estávamos todos felizes e desempenhávamos um papel. Éramos machos, gostávamos da vulgaridade e éramos, todos, beberrões.
Machos estereotipados como manda a tradição: barrigas expostas, pêlos excessivos e disputas pra ver quem fala mais alto.
Gente ensurdecida e satisfeita, alegre de estar ali, fazendo aquilo, desempenhando a farsa e a jogada de maneira quase solene.
Pra lembrar:
É necessário se isolar pra ter alguma paz. O mundo é vasto e enorme e, portanto, perturbador. A paz não é ficar em casa feliz e cantando Mutantes. É esquecer que está ali e que a vida existe. Não se trata de ter calma, mas de separar algumas horas pra ser indiferente a absolutamente tudo.
Pra seduzir:
Ver você da onde eu vejo é um puta privilégio. Fico apenas com o mel e deixo toda merda pra quem convive com você. Daqui, suas loucuras são doçuras e suas manias manifestações de charme discreto.
Como sou eu que te invento, posso afirmar sem medo de errar: - você é m-i-n-h-a.
Pra terminar:
Gosto mais de ver do que de participar. Faz tempo isso. Lembro de mim, ainda criança, fascinado pela ideia: eles não sabem o que eu penso. Eu nem tinha 9 anos e isso me parecia mais importante do que a descoberta da América. E era.
As vezes, brincando de desvendar quem eu sou, me pego vendo à mim dentro da 'linha do tempo'. É bem bom se reconhecer, perceber um tipo de coerência que só você, sendo você, pode perceber. Porque só você sabe o que fez e o que pensou ao decidir fazer aquilo enquanto os outros apenas vêem o que foi feito.