- Acordo cedo, mas me enrolo um cadinho. Passear pela cama é um prazer de bicho. Os gatos ensinam suas lições.
- Há um mal humor sem razão de ser. Explico fácil: coriza e vias aéreas entupidas. Depois de expelir meus mucos, acendo a luz: um jeito caipira e cristão de não voltar a dormir. Vejo o envelope embaixo da porta.
- Volto para o quentinho da cama com o envelope na mão. Acendo e leio. É ancestral: entendo tudo, tudo mesmo, que está escrito.
- O vício pede café e o mal humor se acalma. Cagar depois do 2° café é um tipo de benção. Imagino essa gente que precisa de activia e dou graças por ser um bom cagão.
- (O cigarro é bom, é sempre bom. O grande erro dos não fumantes e das campanhas anti tabaco é só um: achar que o cigarro não é bom. [ E ser bom e fazer mal são coisas distintas. Como sexo sem camisinha, por exemplo. É mal, mas é sempre melhor do que com camisinha. Até o Papa concorda.] )
- O mundo é cheio de gracinhas. A professora me dá atenção porque conheço a palavra 'espístola'. Na sequência me junta com a pior americana do mundo e da América: incapaz de olhar pros lados e centrada em si e suas dificuldades. Tento explicar que traduzir ao pé da letra é impossível, mas ela não entende porque nunca entende. Ela tem esse defeito: jamais entende ou entenderá e, muito possivelmente, acha que os outros são muito intolerantes com ela.
- Estar em grupo é fácil. É coisa de animal, da natureza. Grupos sólidos impõem indivíduos. Aproveito isso, mas, cá comigo, confirmo meu preconceito: os de mil amigos ainda são os mais solitários.
- Outra americana, agora a melhor da América e de outra turma, usa meu grupo para falar comigo. Sinto-me bem, falo com ela e lembro da música que representa nossa nação atualmente: delícia, delícia, assim você me mata.
- Penso em ficar aqui por mais um mês. Sinto a atração irresistivél e concluo: nada a perder, tudo a ganhar. Isso não vale pra dinheiro, mas... Aqui é melhor, simples assim. Porque aqui não é lá - onde meus demônios têm força e não admitem tranquilidade.
- Não estar lá melhor do que estar aqui. Quero dizer: o mundo é vasto, enorme, e, a bem da verdade, não o conheço. Veja: conhecer não é fazer turismo de dias em cada capital. É outra coisa: ficar mais de mês e notar que existem outros jeitos de viver. Quiçá tenha começado isso muito velho.
- A biblioteca é linda e tem a peça que quero ler. Leio um pouco, mas meu nariz entupido me intimida. Sou o tipo de pessoa que tem vergonha de assuar o nariz em público. Volto, volto logo: a biblioteca é linda e tem a peça que quero ler.
- Ficar mais é ganhar mais tempo. Ganhar mais tempo é brigar com a morte. Morrer é natural e normal. Morrer não é desejo, é fato. Fatos são o que são e nos animalizam. Porque escolha é a lição humana e a briga Trágica. Édipo luta por isso, Antígona também. Até a Eva - mesmo que no caso dela a escolha já venha como erro. Quero dizer: escolher sempre será o prazer - por mais abstrato que seja.
17 de maio de 2012
relatinho
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