É quase impossível resistir. As palavrinhas me chamando.
A organização do meu mundinho e da minha confusão na tela brilhante do computador.
Escreve-se para se salvar. Escreve-se para ser mais bonito, mais triste, mais doente, mais louco. Escreve-se para ser mais: para cometer pecadinhos infantis e para forjar controle nas coisas incontroláveis.
(Escrever, pra mim, é a tortinha de limão lambuzando sua boca e te deixando risonha.)
A escrita como fuga e salvação. É diferente do cara que diz cheio de culhão - como um Mirisola: eu sou um escritor.
Eu sou bundão pra isso. Me peguei emocionado, veja só, em ver virar papel 45 págs que eu tinha escrito. E fiquei tão feliz. E sabia que aquela felicidade era tão besta, mesquinha e infantil. E tava alí, orgulhoso de ver as 45 págs escritas transformadas em papel.
Olhei aquilo e disse pra mim mesmo: bonito!
E morri de medo ao pensar em dizer: eu sou escritor. Sou bundão, eu repito.
Ser blogueiro de alguma maneira me satisafaz. Vez em quando um comenta e penso: que ótimo, nem tinha essa intenção.
Talvez seja meu apego ao controle, talvez seja meu medo dos que leêm, talvez seja só mais uma pretensão que tenha receio de se arriscar.
Então, pelo sim pelo não, eu escrevo: cartas, arquivos secretos, contos e peças inacabadas. Tanto faz. Minha fuga-escrita e meu tédio ansioso. Eu sou minha merda sendo eu mesmo, Mirisola me ensina. Que seja.
Cada um tem a terapia que merece. Mais ou menos eficaz é apenas uma tentativa de se salvar.
Seja pela escrita, pela foda ou pelo especialista que te diz o que fazer. Desespero materializado em formas diversas: a mesma jogada.
Por isso rôo meu osso sem tentar me afobar. O mundo tá rodando e, pra minha infelicidade, eu tô nele.
Sou triste e sou feliz e sei que triste/feliz não é importante. A mesma moeda e o cara e coroa da mesma moeda: acho bom assim, aprendi assim e me sinto mais esperto por saber disso assim.
As palavrinhas escritas e brilhantes: minha satisfação secreta e minha ambição velada.
Sou discreto, eu insisto. Sou bundão, eu novamente repito.
"30 vezes em 1 dia e nenhuma comoção. 30 x 1 é 30 e 30 é o que será. Confundir 30 com 300 é tão idiota quanto ver 3 e pensar em 30. E que fique claro que ninguém falou de 1.000."
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