Como dar conta de tudo aquilo que se vê? É impossível. Até me esforcei. Tentei reparar em tudo no tédio inicial da festa. Não uma simples festa. Não uma festa qualquer. Uma Festa do pai de um bom amigo que comemora seus 60 anos no planetinha. Uma festa que eu nem iria e que eu quase não fui. Porque tendo a ficar em casa. Eu, meus livros e minha pança. Mas fui e lá estava. Senti o tédio e o deslocamento inevitável. Mas é apenas parte da jogada. Não há queixas. Eu sabia onde estava e sei, para surpresa de idiotas que me acham idiota, quem eu sou.
Ao ver aquilo tudo tive a certeza que não dava pra escrever sobre aquilo. Porque não teria sentido. Seria besta. Diminuiria uma coisa que era o que era: uma festa de 60 anos do pai de um bom amigo. E era só isso. E foi só isso. E foi bom estar lá mesmo tendo pensado umas 30 vezes: o que to fazendo aqui? Simplesmente porque isso é uma coisa que eu sempre penso. No Coimbra, numa aula de mestrado e até numa buceta quente que se pretende muito generosa.
Podia falar do tombo da mulher, do velho que dançava pra escapar da morte e também da bela criança que dormia em paz como só uma criança dorme.
Mas nem. E menos agora. Há qualquer delírio de álcool que me berra: é o que é e nem é bom nem é ruim é apenas o que é.
Então me basto e vejo o relógio. É tarde. Há sono e cigarros em excesso. O Sérgio Sampaio sofre com suas canções e eu entendo de tudo que ele fala. E entendo porque sempre entendi e sempre entenderei. E isso não se explica. Assim como a bela festa que fui. Uma festa que não é minha e que nem é a que eu faria. Mas uma festa que era o que era e que não precisava de nenhuma aprovação de um gordo deslumbrado ou da turma do teatro pra existir.
Era uma festa e isso eu entendi. É o que basta.
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