Os ônibus estão lotados e todos vão para a praia.
Me repito como há muito tempo não fazia: cerveja no boteco enquanto leio o jornal de domingo. Ler o jornal é uma atividade. Claro que não é o sentido da vida, mas, mesmo assim, é objetivo e simples.
As compras do mercado na cadeira vazia e eu mesmo alí. Calmo, sem pressa e observando o mundo entre uma virada ou outra de página.
A Emília fala comigo:
- Como é, bonitão?
- Opa.
- Tava sumido...
- É...tava com os meus...
- Casa de mamãe, né?
- Isso mesmo...em Curitiba...
- É bom, é bom mesmo. Pena eu não ter mais mãe...
- Pena mesmo...E no mais?...tudo bem...???
- Sim..., vou comer alí. Frango. Que bom que tá bem, bonitão. Beijo.
- Beijo.
- Se quiser eu tô alí.
- Tô lendo o jornal...
- Ah...
A Emília se vai e espera seu frango. As vezes me olha e dá tchau, eu sorrio e respondo o tchau. Continuo no jornal e observo alguns ônibus. Sempre que você olha prum ônibus lotado algum desconhecido lhe dá tchau. Reparo nisso e olho a Emília de novo que, de novo, me dá tchau. Um mistério.
A Emília é louca e sabe disso. Ela não bebe porque, segundo ela, não dá certo beber tomando os remédios. Ela já é avó e tem 3 filhos no orfanato que visita sempre que pode. Diz que o marido morreu de alcoolismo sem ela notar, que ela vende as coisinhas dela e que, mesmo sem criar os filhos, dá sempre conselhos pra eles.
- Eu não tenho as condições, entende? Mas eu sou a mãe deles...
A Emília come seu frango e para de me dar tchau.
Eu tomo a segunda e sigo pra casa. Empadão e salada, eu me lembro e sorrio sozinho.
Na casa verde a saideira e alguns preparos: louça lavada com cbn, salada picada e forno em pré aquecimento.
Tudo bem normal, enfim.
Quisera eu não saber que a normalidade é sempre assim.
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