Havia todas as histórias que eu poderia contar, mas a minha cabeça não estava tão boa.
A cidade cinza me trazia aquelas lembranças perversas: alegres ou tristes, mas sempre perversas.
A vida tava passando e eu me sentia velho porque eu tinha essa eterna sensação de que minha vida ainda não tinha começado.
26 anos de delírio e sonho. As mentiras eram maiores que as verdades e eram melhores também. Eu gostava cada vez mais delas.
Tudo aquilo que eu poderia inventar sozinho sem influência de ninguém. Era fácil ser imbatível na casa verde. É por isso que eu gosto dela, da solidão dela, das músicas que eu ponho nela. A rotina que eu invento pra mim mesmo pra parecer útil. A rotina que eu invento e não sigo pra me sentir culpado - a culpa não deixa de ser uma manifestação de vitalidade.
26 anos de nuvem e um ou outro acontecimento: 1 gostosa que queria me dar e eu não comi, 1 teatrinho relâmpago na hora em que tudo parece ter sentido, 1 boa história que eu tinha escrito pra atingir uma mulher ruim que eu queria comer. Eram as migalhas amigas tornando a farsa mais dinâmica: kit de sobrevivência, gargalhada pra morte, metáforas imbecilizadas, etc.
*
E vem minha sobrinha:
- O que você tá fazendo?
- Escrevendo...
- O que?
- 1 história.
- (lendo) casa verde...por que não é casa vermelha?
- Porque a minha casa é verde. (TEMPO) Por que você tá rindo?
- Porque você escreveu coisa que eu falei.
- Você quer terminar a história?
- (letra dela) Sim.
- Então termina!
- (letra dela) Está bem, vou terminar.
- Termina pra gente ir almoçar.
- (letra dela) Então sua casa é verde né.
(fim.)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário